quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Tempo contra a mente

É comum vermos blogueiros comentarem sobre falta de assunto. Talvez seja algo mais psicológico do que real ou talvez a pessoa esteja muito exigente com a própria pauta. Talvez receie ser considerada boba se postar algo abaixo do seu nível usual. Mas se estamos aqui apenas para relaxar e falar, não creio que precisemos ir tão fundo assim na autocrítica.
O meu problema atual é o contrário: tenho lido tantas coisas interessantes, em livros, revistas e na Internet, que a cabeça fervilha de coisas para dizer. Coisas como expulsão reflexa fótica. Mas quem acompanha o blog sabe que tenho uma tendência terrível a ser prolixo. Costumo brincar dizendo que demoro um pouco até para informar as horas. Às vezes quero checar informações e ilustrar o texto com imagens. Tudo isso, claro, demanda tempo e é justamente aí que reside o meu problema atual. Ele anda algo escasso. Ando, p. ex., com uma enorme vontade de escrever sobre o filme Distrito 9, em exibição na cidade e que desde logo recomendo, mas as questões existenciais nele abordadas merecem uma reflexão melhor do que o simples afogadilho.
Por isso, ainda não retornei ao ritmo normal. Se é que existe um. Mas a coisa está melhorando.

9 comentários:

Léo Nóvoa disse...

Eras professor, o senhor falou sobre este filme. Achei excelente, queria até escrever algo. Seja pelas reflexões sobre direitos humanos, sobre a ótica original do filme, enfim, achei muito bom. Daqueles que a gente sai do cinema com a sensação de que o dinheiro foi bem gasto. Há muito não via um filme tão bom de ficção científica, com efeitos excelentes e orçamento tão barato.

Abraços

Yúdice Andrade disse...

Caro Léo, cheguei a propor a alguns colegas professores que vissem o filme, porque tenho grande interesse em conversar com eles a respeito. Pessoas como o André Coelho, de Filosofia, que pode refletir sobre a obra num nível que eu jamais poderia.
Decerto que voltaremos a falar disso.

Frederico Guerreiro disse...

Na mosca, Yúdice! Também me sinto assim, tanto que por vezes passo muito tempo sem publicar. Minha autocrítica não me permite "vazar" muito. E não quero tranformar o blog num diário de leituras de livros de direito, e deixar fluir um conhecimento que me custou muito caro.
Mas minha preocupação está realmente na qualidade do que escrevo. Por isso escrevi que às vezes é melhor ficar quieto, aquele velho provérbio que diz que "é melhor ficar calado e deixar que as pessoas pensem que você é um tolo, do que abrir a boca e acabar com a dúvida". É isso.

Luiza Montenegro Duarte disse...

Li uma crítica excelente sobre esse filme, falando justamente sobre a inquietação que causava, as referências ao apartheid, o simbolismo que tinham os "camarões" (acho que era assim que o chamavam) e a percepção de que eles eram reais, tamanha era a realidade do filme na nossa sociedade desigual.
Ainda não tive a oportunidade de assistir, mas me assustei demais quando li algum colunista imbecilóide d'O Liberal descrevendo o filme como mais uma ficção americana, com alielígenas toscos e caricatos. Segundo o colunista, apesar disso, era um bom entretenimento.
A impressão que eu tive, na primeira crítica, era que de entretenimento não tinha nada. Que todos sairiam do cinema com aquela sensação incômoda de quem acabou de ser exposto à miséria humana (os alielígenas representariam os humanos excluídos). Acho que entendi errado, pois pelo visto, nem todo mundo é capaz de compreender...

Claudia disse...

Não é questão de auto-crítica... também é... nem de vício... mas 'blogar' é um exercício de equilíbrio e auto-conhecimento, além da necessidade de construir algo que satisfaça, ao menos, a nós mesmos.
Sinto falta de escrever, de repassar conhecimento e/ou o que passa pela minha cabeça. Mas também sinto falta de me alimentar da produção alheia. Mas na falta do que dizer, ou como dizer, prefiro o silêncio a um monte de bobagens soltas... como esse comentário! [desculpe o ato falho!]

Yúdice Andrade disse...

De modo geral, Fred, preocupo-me com a qualidade da postagem até quando a intenção declarada é produzir uma bobagem. Frequentemente, tenho a impressão de que isso me impede de ser mais feliz.

Luiza, quanta saudade! Fico feliz de saber que ainda andas por aqui.
A crítica deve ter sido imbeciloide, mesmo, pois o filme nada ou quase nada tem do padrão americano. Basta ver que, em vez de uma torrente de cenas de ação gratuitas, com lutas coreografadas, sangue e explosões, o que temos é uma atenção maior aos dramas de cada personagem, com cenas de ação bastante plausíveis no contexto. Além disso, a narrativa foge dos clichês de final feliz e redenção que Hollyood ama - e mais não digo em respeito a quem não viu o filme.
Recomendo: vai assistir.

Claudia, gostei de todos os referenciais que sugeriste sobre os motivos de se blogar. Acredito que todos eles perpassem também a minha cabeça, nessas horas.
Agradeço o teu comentário e a tua visita. Tomara que seja frequente. As duas coisas, aliás.

Luiza Montenegro Duarte disse...

Professor, tenha certeza que sempre ando por aqui, mesmo que às vezes passe um período longo sem comentar.

Bem, assiti o filme ontem. De fato em nada se parece a uma produção americana típica e as cenas de ação são pertinentes e até necessárias. As questões éticas que emergem dele são realmente profundas e tudo ali cria um clima meio sombrio (como de fato é a miséria "humana"): o cenário, poucas cores, pouca luz, quase zero de música, etc. É definitivamente um filme que nos deixa com uma sensação incômoda. Gostei, mas se pudesse voltar atrás, não teria ido em um domingo à noite. Só o fiz porque minha primeira opção (o novo do Tarantino - mais "cinema-entretenimento") já estava esgotada.

Depois, tive que aturar meus companheiros de cinema me convidando pra comer um caranguejo toc-toc ou jantar na "Vivenda do Camarão", em uma clara referência à aparência horrorosa dos aliens. Ah, também disseram que não escolho mais o filme! :)

Yúdice Andrade disse...

Por diversas experiências, querida Luiza, hoje em dia o que eu escolho muito bem são os amigos com os quais aceito ir ao cinema!
Realmente, pelo seu ar desesperançado, "Distrito 9" não é um filme para ver, voltar para casa e botar a cabeça no travesseiro. É preciso espairecer depois dele. Tive tempo de fazer outras coisas após o filme e, mesmo assim, quando me deitei, só pensava nele. Demorei a dormir revendo cenas e pensando em suas implicações.
Penso que se ele provocou tudo isso, então é uma grande obra do cinema.

Belenâmbulo disse...

Valeu pela dica, Yúdice!
Andava meio desanimado com os filmes em exibição na cidade. Não sabia nada a respeito do "Distrito 9" até ler essa singela postagem. Pensei: "se o Yúdice recomendou, deve ser bom". Não me arrependi.

Abraço