Dois dias atrás, durante uma aula sobre princípios do direito penal, desenvolvi um raciocínio baseado no conceito de masculinidade tóxica, hoje muito em voga ao menos nos setores, reais e virtuais, por onde transito. Então um aluno me recomendou o documentário acima.
A sala de aula é e deve ser um espaço de troca. Nunca ouvira falar do documentário e, graças à sugestão desse jovem, pude assistir a um belo trabalho, que estou repassando para meus contatos, a fim de que essas reflexões urgentes sejam feitas por um maior número de pessoas.
Centrado na sociedade estadunidense, que possui aquela doentia cultura do sucesso a todo custo (um dos entrevistados afirma isso expressamente), mas adaptável a um país como o nosso, o documentário mostra como os meninos são educados, ou forjados, desde os primeiros momentos, a calar sentimentos, ou mesmo a negar sua existência, e a se expressar sempre pela violência, pelo desejo de imposição. Homens devem estar no controle e são naturalmente superiores às mulheres. Ouvindo isso desde sempre, e recebendo demonstrações práticas dessa convicção, meninos crescem sem a percepção do respeito, da empatia, da bondade. Fácil perceber que uma fórmula assim não funciona. O mundo está aí para confirmar.
Obviamente, uma cultura de violência tem graves reflexos sobre a assim chamada criminalidade. Meninos são muito mais propensos à evasão escolar, ao suicídio e aos crimes violentos. O custo previsível disso é a destruição de vidas por toda parte: das vítimas desses atos de brutalidade, dos autores, das famílias de cada lado.
Um momento particularmente sensível do documentário, para mim, foi ver o depoimento de um jovem adulto confrontando sua realidade no passado e após o processo terapêutico. Ele finalmente entendeu que é digno e que merece ser amado. Só que ele está falando dentro de uma instituição prisional, onde cumpre prisão perpétua. Ou seja, um cadáver ficou para trás. E outro está falando. Alguém realmente acredita que esse modelo de sociedade pode dar certo?