terça-feira, 22 de setembro de 2009

Deixa a fumaça entrar

O cantor e compositor (!) Marcelo D2, gênio da raça, concedeu entrevista ao controverso programa Irritando Fernanda Young, aquela dita cuja que prometeu posar nua para provar que o erotismo pode ser inteligente (!, de novo). Numa demonstração de sapiência, pés no chão e preocupação social, saiu-se com esta pérola:


"É difícil dizer que o usuário financia o tráfico. As armas que são usadas nas favelas do Rio de Janeiro, por exemplo, são russas, iraquianas e americanas. Não tem um usuário que leva lá. A gente tem uma polícia corrupta. Todo mundo tem culpa nisso. O usuário também."

O cara não consegue ser coerente nem com a própria opinião. Mas considerando o teor do comentário arrematado pela apresentadora, para quem Amsterdã é a Disney deles , melhor não procurar explicações, lógicas ou bom senso.
Lembremos, ainda, que D2 responde a nada menos do que 18 processos por apologia de crime, por estimular as pessoas a fumar maconha, desde os tempos da banda Planet Hemp.
Aliás, alguém saberia dizer alguma música que esse moço tenha composto?

PS Quem foi que disse que os mauricinhos cariocas pagam a droga de suas baladas com metralhadoras estrangeiras? Nem o Capitão Nascimento. Os traficantes compram armas de qualquer origem porque têm dinheiro para isso. E têm dinheiro porque...

Acréscimo em 23.9.2009:
Para elevar o nível, recomendo-lhes a leitura deste artigo do médico Itajaí de Albuquerque, muito bem chamado de "A rapina da verdade".

5 comentários:

Dr. Paulo Marçal disse...

Em princípio, sou contra a liberação da maconha ou de qualquer outro tipo de alucinógeno/entorpecente, salvo, obviamente, para uso medicinal. Mesmo nos pouquíssimos países que permitem o uso da maconha, existem graves problemas decorrentes da liberação, principalmente relacionados ao controle e a venda da maconha, e olha que são países minúsculos e ricos, de tal modo que na Holanda estão revendo alguns conceitos sobre a liberação do uso da maconha. Li que vários especialistas temem uma explosão no número de viciados na Argentina que, mesmo antes da decisão da Corte Constitucional, é o país latino-americano que mais consome drogas. Agora o que mais me intriga é o seguinte: muitos defendem a liberação da maconha no Brasil, muitas pessoas de prestígio, respeitadas, intelectuais, et cetera; podemos então chegar ao seguinte quadro: liberação da maconha e quase-proibição do tabaco.Durma-se com um barulho desses!!! Aliás, essas leis antifumo têm um claro viés político, a começar pela lei paulista, patrocinada por José Serra, pré-candidato à Presidência da República. É um belo palanque para as eleições de 2010. Até porque é mais fácil dar uma canetada contra os fumantes do que resolver ou minorar problemas como o saneamento básico (mais de 80% das residências brasileiras não têm rede de coleta e tratamento de esgoto). Só um dado: o cólera, doença medieval, mata mais no Brasil do que câncer e aids. O mesmo se diga em relação ao sarampo e a meningite.

Frederico Guerreiro disse...

Yúdice, não dê bolas para o Marcelo D2, 'falow'. Ele só aprendeu a bolar o baseado.

Em relação à descriminalização, tudo indica que o que tem sido feito até então não tem dado resultado algum. O tráfico só aumenta. É preciso uma nova moral para lidar com o problema. Dizer-se que se é contra ou a favor, com base no senso comum e nas informações divulgadas pela mídia não leva obrigatoriamente à verdade ou solução. O problema tem suas raízes muito mais profundas do que experimentos governamentais que podem dar certo ali e não dar certo acolá. A política antidrogas, nos moldes como tem sido feita, ruiu. Nada mais, para não polemizar seu blog.
Abraço

Yúdice Andrade disse...

Caros Paulo e Fred, agradeço as suas manifestações. Com efeito, o que esses espertalhões mal intencionados nunca se lembram de dizer é quais são os efeitos sociais da descriminalização. A assim chamada Disney dos viciados ostenta bairros onde se veem jovens e adultos caídos pelas ruas, amargando a aflição orgânica provocada pelas drogas, num cenário deprimente e nada primeiro mundo. Ou será que alguém pensa que, onde a droga é liberada, ninguém passa mal?
Outrossim, a liberação não é absoluta e sempre está aquém dos desejos dos viciados. Por conseguinte, o tráfico continua operante, ou seja, o problema não é solucionado.
Eles deveriam dizer isso também, não acham?

Nilson Soares disse...

Prezado Yudice,

Quando vejo esses caras falando minha preocupação maior é com milhões de adolescentes que assistem os mtvs da vida... são facilmente influenciados por pessoas como o sr D2. Aliás, é muito interessante a tensão existente entre liberdades civis e interesse público, liberdade de se achar livre para tomar a decisão de se drogar e por outro lado os imensos custos sociais da droga. Geralmente quem assume esses custos são os mais pobres. Fiz mestrado num instituto federal no RJ e o que mais vi por lá foi maconheiros. Ao ponto de um dia o professor ter que convidá-los a se retirarem da sala de aula para podermos estudar. EStou com você Yudice, abomino essa gente, consideram-se muito inteligentes, à frente de seu tempo, e todos nós reacionários e ultrapassados. Pior de tudo é que hoje em dia nossa noval lei de drogas despenalizou o uso de entorpecente, por pressão da classe média que não quer ver seus maconheirozinhos irem para prisão como bandidos comuns que são. Nâo posso deixar de registrar ainda minha enorme tristeza, esse ano fui enterrar um parente querido numa cidade do interior de Ceará e vi o lugar que sustentava minhas mais preciosas lembranças estar gravemente contaminado pelo vício do crak, uma cidade com 10 mil habitantes, baixíssima renda per capita e alto desemprego, imaginem o resultado... abraço,

p.s. cara, como você escreve... onde consegue tanto tempo?

NIlson

Yúdice Andrade disse...

Caro Nilson, diante do que já foi escrito, só posso ratificar sua manifestação e agradecer pelo apoio.
Já no que toca ao quanto escrevo, a explicação é menos glamourosa: sou prolixo, mesmo. Não gostaria, mas não consigo libertar-me desse vício. Sento na frente do teclado e produzo num instante duas laudas para dizer que horas são. Não à toa acabei no Direito...
Mas há outro fator, que a prudência me recomenda não revelar aqui. Um abraço.