sábado, 2 de setembro de 2017
Simpáticos e bem treinados predadores
Eles nos abordam e dizem que temos o perfil de casal que procuram. Convidam-nos para conhecer um empreendimento imobiliário, no modelo de propriedade compartilhada. Falam sobre qualidade de vida, renda complementar, união familiar, visão de futuro, felicidade, paz, amor. E nos prometem uma chance de ajudá-los com uma bolsa de estudos caso batam a meta. Ou, quem sabe, ajudar umas crianças doentes.
O convite para conhecer uma ideia então se transforma em uma proposta de assunção de dívida extremamente agressiva, que apela para as mais escandalosas técnicas de manipulação. O objetivo é nos fazer assinar o contrato naquele momento, a qualquer preço, sem chance de qualquer reflexão. Vale até simular que o casal da mesa ao lado fechou negócio, com direito a ritual de celebração, brinde com espumante e discurso ao estilo culto evangélico.
Um dia me deixei levar por esses meliantes, por curiosidade quanto ao empreendimento. Não tinha a menor intenção de contratar nada. Ao perceber que todos os sorrisos e gentilezas eram apenas uma cortina de fumaça e a cada recusa ou ponderação minha o vendedor puxava outra estratégia ainda mais voraz; ao ler em seus olhos uma frustração crescente; ao encerrar a questão e ele se levantar para chamar o seu gerente, como último recurso para me convencer; sobretudo, ao perceber que a estratégia era pegar pessoas vulneráveis para levá-las a assinar um contrato da maneira mais irresponsável possível, dei um basta.
Passado um bom tempo, esses abutres a serviço do capital estão à solta pelos shoppings. Sinal de que o empreendimento não vendeu como esperado. Abordam-nos do mesmo jeito. Tudo ensaiado, treinado, coreografado, cronometrado. Hoje, escutando pessoas amigas relatando a sua experiência com eles, que teve lances inacreditáveis, como a vendedora oferecendo o próprio cartão de crédito para que pagassem a entrada, um desejo nasceu em mim.
Quero voltar ao front com eles. Fingir-me de incauto com dinheiro disponível e ver tudo que o vendedor fará para me tomar o sangue. Só que, agora, com conhecimento de causa, além de prática advocatícia e alguma familiaridade com análise de comportamento. Quero dizer não a cada tática que o malfeitor utilizar. Admito: quero levá-lo ao desespero, triturá-lo, para fazer minha justiça com as próprias mãos em honra de cada pessoa que caiu nas mãos desses facínoras. Quero me levantar dizendo "você se esforçou muito, mas eu sei o que você está fazendo e não vai dar certo".
Sim, eu sei que é um desejo perverso. Mas nunca prometi ser um bom menino. Minha esposa não quer participar, então estou precisando de uma esposa de fachada para me ajudar a demolir essas ridículas e odiosas, porém eficientes, técnicas de marketing.
Alguém se habilita a fazer essa má ação?
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3 comentários:
Se a esposa não quer, leve um "esposo" a missão ficará ainda mais interessante. Como os predadores se comportarão frente a um casal homo?
E você sabia que aqueles "apartamentos mobiliados demonstrativos" , que são montados nos shoppings ou na frente do prédio em construção, em geral t~em os móveis(camas de casal, por exemplo) em um tamanho menor que o normal? Como os quartos são muito pequenos, colocam uma cama de casal menor que o padrão, e assim o comprador/incauto tem a impressão de que o quarto é maior. Quando chega com a mudança, a cama dele, tamanho padrão, não caberá ou o quarto ficará muito pequeno. Os caras não dão ponto sem nó.
Kenneth
Das 10h19, um amigo me sugeriu isso e se ofereceu para fazer o papel! Seria uma experiência adicionalmente interessante.
Meu amigo Kenneth, tenho um grande amigo que é arquiteto e ele me contou as mumunhas de que esse pessoal se utiliza. Até as dimensões do tijolo são fraudadas, de modo que na planta o espaço útil é maior do que na realidade, pois as paredes são mais grossas, no final das contas. Ou a contagem de certas áreas condominiais como privativas. É, companheiro, quem não tem acesso a essas informações pode ser enganado de todos os modos imagináveis e inimagináveis.
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