sábado, 30 de novembro de 2019

Perder

Perder é uma experiência no mínimo curiosa. Ninguém quer passar por ela. Ninguém quer perder as pessoas que ama, as coisas que amealhou, a oportunidade de viver as experiências que lhe aprazem. Ninguém quer perder sequer os supérfluos. De um modo geral, somos todos acumuladores compulsivos, desesperados por nos agarrar em lembranças, sentimentos e sensações. Passamos a vida temendo o fantasma das perdas, porque sabemos que ele, inelutavelmente, mais cedo ou mais tarde nos visitará.

E a grande ironia é que as maiores perdas - as pessoas que amamos - são exatamente as mais certas e inevitáveis, a menos que partamos primeiro ou que sejamos tão espiritualizados a não enxergar nesses eventos uma verdadeira separação.

Quando uma perda realmente significativa se apresenta, de repente nos pegamos aceitando as pequenas, como se nos aliviassem diante da ideia do mal maior que ainda esperamos que não se consume. E nisso reside o curioso: é como se a grande perda nos protegesse de sofrer tanto pelas pequenas, ainda que várias.

Mesmo uma cabecinha pessimista consegue entender que, a despeito de tudo, você ainda está vivo e ainda está por aí. E que a vida continuará acontecendo, com suas novas experiências de toda ordem. Talvez isso seja melhor do que nada.