sábado, 15 de março de 2008

Um legado para a História

Há quem defenda que o maior legado de um ser humano à sua espécie é a própria perpetuação dela — hipótese mais palatável àquelas pessoas que sempre acalentaram o ideal da paternidade ou maternidade. Não sei dizer quanto eu cultivei esse ideal. Mas, com certeza, sempre quis ser pai.
Após o casamento, a ideia assumiu ares mais concretos, porém com o tempo passei a sentir uma espécie de frio na espinha — obviamente medo da responsabilidade. Não que eu não quisesse assumi-la; era apenas um medo de não estar apto a oferecer à criança o melhor de que eu mesmo seria capaz, numa outra conjuntura. À medida que o instinto maternal de minha esposa crescia, mais reticente eu ficava. A despeito disso, fui eu que, em meados do ano passado, coloquei-a sentada à minha frente e disparei:

Vamos ter um filho?

Não mais uma hipótese: um projeto — algo real, para já. Proposta prontamente aceita, apesar de ainda não termos resolvido algumas questões que, até então, pareciam-nos antecedentes necessários, especialmente a nossa casa.

Como professores, precisamos calcular o calendário da gestação de acordo com o ano letivo, a fim de assegurar que nosso bebê contasse com a mãe o máximo de tempo possível. Era preciso que Polyana estivesse grávida no final do ano. Isso mexe com a cabeça de um homem. Afinal, os mais primitivos instintos de masculinidade são postos à prova, mediante convocação do próprio testado. Seria eu tão fértil assim? Tão favorecido pela genética, sabendo que tantos casais tentam anos a fio, em vão?

Algumas semanas depois, Polyana começou a mencionar sinais iniciais de gravidez. Queria fazer um teste de farmácia. Minimizei. Acreditava que, de tão desejosa de ser mãe, estava somatizando. Os tais sinais, contudo, prosseguiram e, cada vez mais, ela pedia o teste de farmácia. Um dia nós o compramos. Ela quis chegar em casa e fazer, mas as orientações pediam que o teste fosse feito usando a primeira urina do dia. A ansiedade perduraria mais algumas horas. Fomos dormir.
Durante a madrugada, naquela primeira semana de dezembro, fui acordado. Com olhos tão brilhantes quanto possível na penumbra, ela disse sem rodeios e muito suspirosa:

— Você vai ser papai.

— Tá falando sério? — foi tudo o que pude dizer.

Não foi um susto nem um choque. A informação foi imediatamente processada pelo racional e pelo emocional. Impactado, não sabia exatamente como agir. Fui ao banheiro e vi a fita com marca dupla do teste positivo. Mesmo convencido do fato, pedi que não comentássemos nada com ninguém até termos uma confirmação laboratorial (que nem seria necessária). Eu mesmo precisava dela. A confirmação veio no dia seguinte. Começamos a divulgação. Para minha família (os pais de Polyana moram em Santarém), feita por meio de um minúsculo par de sapatos que eu exibia e esperava para ver a reação. A partir daí, ficamos imersos numa poderosa onde de carinho, com pessoas — amigas e desconhecidas — nos fazendo festas, graças ao bebê vindouro. É maravilhoso estar assim tão cercados de amor.

A gestação veio como eu sempre quis: pensada, amadurecida, desejada. Veio inclusive cronometrada!
Vinte semanas se passaram. Nosso filho, agora, é uma criatura de 315 gramas. Metade da gestação para se formar, crescendo tão pouco. E a outra metade para crescer até aumentar quase dez vezes!

Tudo nele está absolutamente normal, tanto quanto a tecnologia da ultrassonografia morfológica permite que se saiba. Cabeça, cérebro, face, coluna, nuca, pele, tórax e coração normais. Parede abdominal, estômago, intestinos, rins e bexiga sem indícios de anormalidades. Membros superiores e inferiores visualizados, inclusive suas extremidades.

Uma gestação saudável e feliz, como uma verdadeira bênção.

Senhoras e senhores, eu lhes apresento


Júlia.

18 comentários:

morenocris disse...

Muito prazer, Júlia. Eu já sabia que você estava no planeta Terra. Sei que a vida está boa por aí, mas, aqui, é melhor, amiguinha. Você vai ver! Você vai viver!

Caramba, Júlia...você é o máximo, garota...rsrs

Beijinhos.
Cuide de sua mãe por aí.
Olhe a Lua! rsrs

Parabéns, Yúdice. Ter filho é maravilhoso. Ser pai, mãe, é melhor ainda! Você vai ver! Você vai viver!

Beijos aos dois, papai e mamãe!

Estou emocionada, você acredita, Yúdice?

Pois é...

:)

morenocris disse...

Ah, levei a Júlia para o blog. Ela ficou linda.

Beijinhos.

Hellen Rêgo disse...

Parabéns Yudíce. Fico muuiiito feliz por vcs.
Adorei o nome tbm.
Q Deus continue abençoando tds vcs. Abraços!

Ivan Daniel disse...

Fiquei emocionado com a leitura do post. Tanto por lembrar da nossa experiência de engravidar, quanto por saber como foi a de vocês. Parabéns! Seja Bem-vinda Júlia!
Neste exato momento meu filho acorda lá no berço, fica me olhando, e mesmo à meia-luz reconhece meu rosto e abre um sorriso. Preciso preparar o leite dele. Volto daqui há pouco.

Frederico Guerreiro disse...

Rapaz, sinceramente eu não sei como os médicos conseguem ver alguma coisa nessas imagens de ultra-som. Da minha primeira vez de pai, perguntei ao doutor se era a Sigourney Weaver e o 8º passageiro, porque por mais que ele circundasse com a caneta a imagem, eu não via patavinas do moleque (que pode até ter sido o cabeção do Alien). Isso faz mais de vinte anos. Presumia eu hoje em dia que a tecnologia de TV digital, tela de cristal líquido, LCD, CDL, DLL, HDL etc. etc. etc., tivesse melhorado um pouquinho a qualidade da imagem. Vejo que não. Mas como todo pai e mãe de primeira viagem, nos sugestionamos até o Thiago (20) sorrindo, já na molecagem. A segunda, Thais (14) eu não quis saber, não vi, só vim a saber que era menina quando a vi pelo vidro da sala de parto do Hospital D. Luiz. Nos dois partos, foram os dois dias em que a minha mulher estava mais linda do que nunca. Foram os dois dias mais felizes da minha vida. Chegando e passando da adolescência as coisa mudam, é verdade, mas o amor é o mesmo, você vai ver.
Parabéns, amigo! Desejo, de coração, muita saúde à Júlia e ao casal de pombinhos.
Um abraço

Anônimo disse...

Parabéns, papai do ano!!!

Eu errei na previsão, não sou mãe e tb não consigo enxergar nada vezes nada nessas ultrasons, como o Fred; porém, talvez envolvida pela alegria estonteante dos papais, consigo ver, perfeitamente, a foto de uma menina iluminada, sapeca, inteligente, doce e com perfil de artista de cinema, ou seja, "uma linda mulher".

Bjs e muita paz pra vocês.

Luciane.

Anônimo disse...

Êi, Polica/Yúdice:
Então, a minha desconfiança de que seria mulher, estava certa.
Receberam a minha composição musical "Júlia", que enviei ontem?
Sentimos a falta de vocês na festa de meu aniversário. Até o Davi veio com o Tinhinho e a Eliane.
O meu netinho (VicNeto), também. Ele já está na escola de musicalização de bebês e apareceu na reportagem de ontem na TV Liberal ("É do Pará"). Vocês viram?
Dêem notícias...
Beijoca na Júlia.
Abraços do tio
Vicente.

Carlos Barretto  disse...

Querida Júlia

Bem vinda, menina, que tem a sorte de ter os pais que tem, para acolhê-la e orientá-la ao longo da vida.
Vc tem uma baita sorte, pequena criança. Muitos não tem o mesmo destino. E isso você mais tarde vai descobrir, quando perceber que o mundo é muito diferente daquilo que somos no maravilhoso período da infância.
Mas vc terá seus valiosos pais para ajudá-la a tirar o melhor proveito de tudo ao seu redor.
Com amor, carinho, inteligência, perseverança e acima de tudo, tolerância.

Bjs querida. O mundo, neste exato momento, já torce por vc.

Francisco Rocha Junior disse...

Já é linda a Júlia, amigo. Parabéns mais uma vez.

Unknown disse...

Parabénssss!!
:D

Um belo nome mesmo, ainda mais por que não tem o primeiro nome "Ana".
hehehehe


Nossa, que bom que está tudo bem com ela! (ELA).

:) Não disse que ia ser menina! rapá, tem um 6º, 7º, seja lá qual for, sentido.
(como se a probabilidade de acertar não fosse de 50% hehehe)

Abraços e, mais uma vez, parabéns, professor!

Yúdice Andrade disse...

Claro que acredito, Cris. Tu és pura emoção. E acertaste na mosca.

Deus nos tem abençoado tanto, Hellen, que nem sei mais como agradecer. Muitíssimo obrigado.

Estou numa fase de emotividade exacerbada, Ivan. A parte final do teu comentário é suficiente para me marejar os olhos. Mas, claro, isso é uma alma de poeta!

Fred, decerto que nos últimos anos a tecnologia melhorou bastante. Lembro-me de imagens antigas, indecifráveis. Hoje, contudo, são nítidas até para mim. Claro que não completamente. Posso te mostrar as imagens gravadas durante os exames. São impressionantes. Mesmo um leigo consegue ver com clareza os dedinhos das mãos. Já os órgãos internos, só o médico, mesmo. Os genitais, p. ex., ele disse que eram femininos. Nós não entendemos nada.
Grato pelas advertências quanto ao futuro. Por ora, só consigo pensar no bebê, não numa criança mais velha, muito menos numa adolescente. O que importa é que o amor só muda para melhor.

É uma bonequinha de nariz afilado, Lu, segundo o médico. Olhando a imagem, minha mente fervilha de idéias e devaneios...

Olá, tio Vicente. Infelizmente, não vimos a matéria, porque estávamos na rua, cuidando das coisas para a nossa casa. Mas quando chegamos, minha mãe falou que vira a reportagem. Mais à frente, nossa Júlia será colega do seu neto.
Quanto à música, é motivo de grande honra para nós. A Poly falava de sua tristeza porque nosso(a) filho(a) não teria uma composição do avô Isoca. Graças ao senhor, a lacuna será preenchida. Queremos escutar ao vivo.

O melhor do mundo torce por nossa menina, Bar. O melhor do mundo, como tu e essa gente boa que anda por aqui, espargindo perfume em nossas vidas.

Obrigado, Francisco. Muito bom ter te dado a notícia pessoalmente.

Ainda nos divertiramos muito com essa criança em sala de aula, CT. Valeu.
A propósito, isso não te inspira nada?

Eu sabia que esta postagem encheria a caixinha de comentários. Que delícia!

Unknown disse...

Hahahahahahaha!

Se acontecesse algo, não seria de forma dolosa. Seria, sim, mais próximo do preterdolo. hehehe.

Quando ela nascer, tem de levá-la pra fazer uma visitinha pra gente!
:D

Unknown disse...

Bem vinda, Julia!
Muita luz pra vc e parabéns à família.

Sergio Lopes disse...

Parabens amigo , sua princesa, tenho certeza, é uma criança de sorte, nasceu numa família de valor, que lhe dara as melhores referências. Só não deixa ela desejar o magistério, embora uma profissão valorosa e edificante, ser professor no Brasil é padecer no paraíso amigo, é logico que as escolhas devem ser dela, porém, mais uma professora na família seria para os alunos uma benção ,no entanto, para ela seria uma missão espinhosa e cansativa.Infelizmente no Brasil o professor não é valorizado, é preciso mudar.
abraço.

Polyana disse...

Sou suspeitíssima pra falar, mas este foi o post mais emocionante que já li no seu blog. Chorei do início ao fim e olha que a nossa filha ainda nem nasceu. Tens esse dom de me emocionar. E eu tenho sorte de ter vocês dois comigo. Eu e Julinha te amamos.

Yúdice Andrade disse...

Pode deixar que eu levo, CT. Mas deixa a pequenina crescer um pouquinho.

Obrigado, Juvêncio. Ela já tem muita luz, tanto que nos clareia imensamente.

Esperamos passar os melhores valores para ela, Sérgio. Tomara que sejamos capazes. Quanto a tornar-se professora, entendo a tua preocupação, mas como demovê-la da idéia, se verá os pais seguindo a docência, morrendo de trabalhar e mesmo assim amando?

Meu amor, tu chorares é uma terceira coisa óbvia. As duas primeiras já sabes quais são.

Anônimo disse...

Meus parabéns, caro Yúdice! Por acaso também esperamos por uma Júlia, minha sobrinha, e fiquei surpreso quando li seu post. Não pude deixar de parabenizá-lo. Grande abraço! Alexandre

Anônimo disse...

Bem-vinda Júlia , muita saúde pra ti e pra mamãe e paciência pro papai.
Pra não ficar tudo as mil maravilhas cuidado com Antonio e Francisco dois pimpões paulistas que crescem e crescerão sempre amando e respeitando as mulhers e se forem paraenses ,vixe!!.rsrsrs
Se Deus existe é mulher!
Abs
Tadeu