terça-feira, 2 de junho de 2009

O negócio é sério

Há uma semana, quando tomei conhecimento do resultado da primeira etapa do Exame de Ordem, publiquei postagem demonstrando minha preocupação com o baixo desempenho dos aprovados. Agora me chega a informação de que o Pará obteve o quarto melhor desempenho em todo o país.
Se 80,39% de candidatos acertando até 60 questões é o quarto melhor resultado do país...
Medo.

5 comentários:

Frederico Guerreiro disse...

É sério, mesmo!
A prova é muitíssimo mais para medir a capacidade de memorização dos bacharéis e para reprová-los, regulando assim o excesso de advogados no mercado, do que propriamente medir a capacidade de raciocínio e as habilidades com a resolução de problemas práticos a partir de um conhecimento jurídico hábil a exercer o ofício. Isso sem contar nas maldades feitas pelo avaliador e pelo revisor. Afinal, é muito difícil o avaliador admitir que cometeu um erro grosseiro, que eliminou um candidato por deixar de computar os pontos absolutamente claros de uma questão inteirinha, e ainda declarar que esse mesmo candidato tem "baixa capacidade de exposição do problema, e que não é isso que a OAB espera de um 'candidato' a advogado". Traduzindo: burro, ignorante etc.
Vou contar a história e comprovar em momento oportuno. Alguém aqui em Belém lê meu blog e tornou isso pessoal.
Depois eu explico melhor.
É incrível como tudo presta, menos a faculdade e o aluno. Ô visão estreita...

Yúdice Andrade disse...

Verdade, verdade, verdade, Fred. Essa é a minha crítica ao Exame de Ordem, desde o seu nascedouro. Afora isso, sempre fui favorável a ele, desde meus tempos de acadêmico.
Contudo, mesmo que tomemos por premissa que a prova, como é, não mede conhecimento e sim memorização e certas habilidades menores (tais como o chute), podemos encará-la como um indicativo (note o termo cauteloso: um indicativo) negativo, ou seja, se o aluno se sai mal até numa avaliação medíocre, isso pode sugerir que ele igualmente se sairia mal numa avaliação bem elaborada e crítica. Seu bom desempenho nessa prova, porém, não demonstra que estaria apto a enfrentar uma avaliação criteriosa.
Pondera ainda, Fred, que uma prova escrita não é em si mesmo um mal. Os especialistas em educação e o MEC, que inferniza nossas vidas, não são contrários a ela. Mas existem regras para a sua elaboração. Em treinamento de que participei agora em abril, pude constatar que as regras podem tornar uma prova objetiva muito boa e séria. Só que os concursos públicos em geral não seguem esses procedimentos, como foi ressaltado durante a reunião.
Por fim, quanto à correção, nenhum reparo quanto à arrogância e descaso. Quando fiz o exame de Ordem, sofri desconto em minha peça processual por alegada omissão de uma preliminar essencial. E a preliminar estava lá! O título estava escrito em caixa alta, com destaque, e mesmo assim o corregedor não viu. Imaginamos por quê... Apesar de aprovado, recorri por causa da injustiça da nota e tive sucesso. Mas constatei como as coisas funcionam. E constatei de novo posteriormente, ajudando conhecidos a recorrer de suas reprovaçôes.
Enquanto essa mentalidade da OAB existir, o exame não gozará da respeitabilidade que almeja. E agora unificado, é ainda mais difícil obter sucesso nesses recursos, segundo penso.

Frederico Guerreiro disse...

É, meu amigo. Só que comigo foram três erros estúpidos, na minha opinião.
1- coloquei: "...indica as seguintes testemunhas:..." e as enumerei. Mas na correção apareceu como se eu não tivesse pedido a oitiva das testemunhas, pois não estava escrito "pedido de oitiva". Ora, ora, ora, pois, argumentei (em outros termos): quem indica testemunhas para que não sejam ouvidas?
2- Que "não arguí a ilegitimidade da parte e a falta do exame pericial", e os dois quesitos foram atendidos.
3- Que eu sequer indiquei o crime de corrupção passiva (art. 317) enquanto que essa mer... está todinha lá na minha resposta, com todas as letras.
4- Que eu tenho "baixa capacidade de exposição de problemas" (essa foi na pessoa), enquanto para mim foi banal decrever os fatos dados no problema; e eu o fiz, ora pois. Ainda assim, fiquei com nota cinco.
Será que eu não sei mais nem organizar minhas ideias?
Não fui dos teus mais brilhantes alunos, Yúdice. Mais evoluí um pouquinho desde lá. Estudei. Sou responsável e não negligenciei meus estudos, assim como faço com meu trabalho e minhas responsabilidades de pai de família. Com que cara você acha que esse tipo de avaliador deixa o candidato perante as pessoas? O que vai reparar isso? Quem me restabelecerá o decoro íntimo?
Pelo que recebi de resposta, me pareceu algo mais pessoal do que objetivo.
E aí? Quem paga os meus prejuízos por ter de esperar mais quatro meses sem poder tocar mais de duas dezenas de processo com prazos fatais em curso?
Quem acha que é o "senhor justo" que me negou o direito sagrado ao trabalho, pura e simplesmente? Fez-se justiça?
Vamos ver como vai ser a próxima. Isso não me pertence.
Ainda estou engasgado, mas vou aguardar um momento oportuno para escrever mais sobre isso.

Abraço

Yúdice Andrade disse...

Houve um ano, Fred, em que a OAB local cometeu uma presepada tão grande no exame que houve mandado de segurança e bate boca via imprensa, com participação do presidente Ophir Cavalcante Jr., por incrível que pareça. Faz algum tempo. Naquela época, os exames eram locais e não havia blogosfera para dar maior publicidade. O enfrentamento foi feio e, até onde sei, foi solucionado positivamente para os candidatos.
Diante de erros absurdos como esses que apontas, não seria o caso de mobilizar as vítimas dessas sandices? Submeter a misteriosa avaliação da OAB ao julgamento público, dos professores, dos estudantes, dois advogados, etc.?
Não proponho nada demais, apenas a divulgação dos erros. Algo como escanear as páginas das provas, sem indicação de nomes, e apontar as correções sumárias, mal explicadas, bem como a arrogância dos julgamentos de recursos?
Já te disse antes: só com exposição de suas mazelas as pessoas se preocupam em corrigi-las.

Frederico Guerreiro disse...

E como é que eu fico se tudo der em nada, meu amigo e mestre? Marcado como o advogado que ficou reprovado no Exame da Ordem? Não, meu amigo. Obrigado. Já dei muita atenção a isso no blog.
Vou continuar na minha humilde saga para passar na próxima prova e exercer a profissão; e escreverei sobre isso quando achar oportuno (escreverei mostrando as provas, não é assim que tem que ser?).
O dia que meu nome sair no listão será o dia mais igual de todos, exceto porque saberei que dias à frente terei de pagar a inscrição. Vai ver pagar é tudo o que eu preciso fazer para exercer a profissão pela qual estudei durante cinco anos de minha vida (e paguei muito caro por isso, e sem ter como - bendito seja o CADOM).
Se eu pudesse, não iria à cerimônia de juramento jurar para algo que tem em seu Estatuto a prerrogativa de defender os interesses dos advogados. E quer saber? Já até liguei para saber a respeito, e não tenho escapatória.

Deve haver uma seleção, um exame? Sim! Também concordo. Mas não dessa forma que, agora nacionalizada e mercantilizada, piorou para o pobre coitado do bacharel.
A Ordem não mede a capacitação profissional de nenhum bacharel com as provas que aplica, muito menos da forma como seus representantes corrigem as provas. Suspeita-se de que muitos Conselheiros não lograriam acertar metade da prova.
A Ordem, ela não quer aferir e conferir conhecimento jurídico. Ela quer reprovar o máximo que pode e fazer os bacharéis desistirem. Mas ela tem o salvo-conduto da sociedade. O bacharel em Direito não. Esse é 80% idiota. E eu sou um desses, com toda certeza.
Deveria ter estududo medicina. Quem sabe hoje já estaria trabalhando como médico em algum hospital do nosso fabuloso sistema de sáude pública e ajudando a salvar vidas?