Um dia meu amigo Jesiel Lopes me disse que o
Parque Ambiental do Utinga, onde se localizam os lagos Bolonha e Água Preta, mananciais de água potável de Belém, era um ótimo lugar para passear, particularmente para andar de bicicleta — atividade que nós dois adoramos, mas que só ele pratica, devido ao meu sedentarismo.
Aceitando a sua sugestão, um dia fomos pedalar naquele lugar adorável. Sou absolutamente alucinado por estar em contato com a natureza, principalmente se tem água na história. Achei tudo tão bonito que voltei num domingo, já de carro, levando a família.
Ficamos todos encantados de contar com um lugar tão bonito (ainda que sem infraestrutura alguma), dentro da cidade, tão perto de tudo. Veja mais abaixo, à direita, que bucólico o lago e a vegetação em seu entorno, num dia nublado. Que paz se sente ali! Abria-se a possibilidade de um programinha saudável e tranquilo para todos. Saímos de lá com a intenção de voltar, tanto que levei um susto ao acessar as fotos que tiramos naquela oportunidade e descobrir que são de janeiro de 2004! Já faz quase cinco anos que estivemos lá. Tanto que meus primos, Rafaela e Mateus, que aparecem na última imagem, ainda estão jitinhos.
Em algum momento durante esses anos, sei que foi concebido, no âmbito da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SECTAM, na época), um projeto de transformar o parque em um espaço de visitação pública, com alguma infraestrutura. Seria uma estratégia para controlar o avanço das invasões que, volta e meia, ameaçam os lagos. Se o entorno for favelizado, além dos danos ambientais que toda favela produz, teríamos prejuízos muito mais concretos, intensos e generalizados, pois estaria comprometida a própria potabilidade da água. Seria um espaço de educação ambiental, para fazer a comunidade compreender a importância de preservar aquele recanto. Mas a ideia, claro, jamais saiu do papel.
Hoje, finalmente, retornei ao parque. Passeio pensado há tempos e marcado ao longo da semana, botei esposa, filha e dois primos no carro e rumamos para o local. Para a minha surpresa, contudo, o policial no portão me apontou um estacionamento ali mesmo, na entrada, e me disse para deixar o carro lá. Mesmo sabendo das distâncias, a perplexidade me fez saltar e colocar a família em marcha, com o sol das dez horas queimando o costado. Sentia-me um tolo e, alguns metros à frente, contemplei a estrada e o estirão absurdo que precisaríamos andar para chegar na beira do lago. Isso num lugar onde você não dispõe de banheiro, água para beber (que ironia, não?) ou sequer de um banquinho onde largar o corpo
maltratado. Sem falar que, segundo se diz à boca pequena, delinquentes das favelas próximas se escondem na mata e atacam visitantes distraídos, quando não há nenhum policial por perto (e raramente há). Ser assaltado ali — além de ridículo, já que estamos ao lado do quartel da Polícia Ambiental —, é estar entregue à própria sorte.
Repondo a cabeça no lugar, dei meia volta e levei minha família para o carro. Confirmando com o policial que não seria possível entrar senão a pé, fomos embora.
Evidentemente, compreendo que a restrição possa ser determinada por medidas de segurança ambiental. Sou civilizado o bastante para entender isso. Mas gostaria de explicações. Afinal, no Utinga não há nada em exposição, como no Goeldi, p. ex., a justificar uma série de providências para conforto dos animais. Ali, se algum animal se sentir incomodado, embrenha-se na floresta e pronto. Poderíamos fazer uma criteriosa limitação ao trânsito, mas um impedimento absoluto?
Também poderíamos proibir totalmente o trânsito de veículos automotores que não sejam da polícia ou da COSANPA. Desde que fosse ofertada aos visitantes alguma alternativa de transporte. Porque, afinal, o parque
está oficialmente aberto à visitação. Mas do jeito que a coisa foi feita, no melhor estilo Pará (sem pensar em coisa alguma), o programa foi cancelado para famílias, para quem tem crianças, idosos ou pessoas com dificuldade de locomoção. O Utinga é, nessas circunstâncias, passeio para quem pretende fazer uma caminhada ou andar de bicicleta. Fora isso, desista.
Esta postagem não é um protesto, porque tenho esperança de que haja uma boa explicação. Mas ela deveria ser dada à comunidade, não? E, claro, não foi.
PS — O jeito foi tomar o rumo da UFPA e mostrar o rio Guamá para a Júlia, naquela orla que eu amo tanto. Protegidos por árvores e curtindo um vento constante, ela adorou e começou a rir de tudo. Essa foi a parte boa do passeio dominical.
Acréscimo em 14.12.2011: A normalidade foi restaurada há algum tempo, como pude constatar pessoalmente há duas semanas. Visitei o parque com minha filha e pudemos entrar de carro, como outras famílias fizeram. Estou devendo uma postagem sobre isso.