Eu gosto do cartunista Laerte — digo, de seu trabalho, porque nada sei acerca de sua vida. Quando soube de sua decisão de somente se vestir como mulher, minha única reação foi sorrir. Desconheço sua orientação sexual e, qualquer que seja, achei que ele estava fazendo de si mesmo um personagem, chamando a atenção sobre si. Coisa de artista.
Somente agora soube que ele se tornou um cross dresser, um sujeito que se veste como alguém do sexo oposto e o faz por estilo de vida, com convicção, para exercitar suas liberdades civis e esse blá-blá-blá que, com as devidas adaptações, pretende justificar comportamentos mais ou menos esquisitos, como não comer nada que tenha rosto ou dormir dentro de caixões. Pessoalmente, sigo a regra elementar de que todos somos (ou deveríamos ser) livres para fazer tudo o que não prejudica terceiros e, quanto ao que prejudica o próprio indivíduo, sou bastante flexível. Não me interessa se o sujeito come cocô ou dorme num ninho de plástico-bolha no alto de uma torre de alta tensão. Admito, perverso que sou, que quando um tipo desses se dá mal, solto um sorrisinho malévolo, mas não torço para que isso ocorra.
Acima de tudo, acho que não devemos complicar a vida alheia. E esses alternativos, quando se tornam raivosos e querem lutar pelos direitos que possuem ou acreditam possuir, ensejam polêmicas inúteis. Volto, assim, a Laerte, que após ter sido proibido de usar um banheiro feminino numa pizzaria, decidiu contribuir para o emperramento do Poder Judiciário com mais uma ação equivocada — jurando, é claro, que se trata de uma ação afirmativa.
Não gosto de políticas de gênero, o que já me dificulta ter empatia pela iniciativa do cartunista. Mesmo correndo grandes perigos ao dizer isso, o fato é que rejeito o tratamento diferenciado a mulheres, idosos, negros, índios, homossexuais, deficientes, baixinhos-gordos-carecas, alienígenas, jogadores de futebol, fãs de música escrota ou de filmes sobre vampiros gays e adoradores da Veneranda Bromélia que Canta de Madrugada.
Acho que todos devemos ser regidos por regras comuns, admitidas tão somente particularidades ditadas pela efetiva necessidade, a ser resolvida com base no bom senso e no ideal de proteção da saúde e da segurança pública. Sei que isso é muito genérico, mas na minha cabeça legitima prioridade de atendimento em filas ou estabelecimentos em geral, para idosos e gestantes, mas não uma política de cotas para negros em universidades.
O tema é muito difícil e não estou aqui para inventar o fogo ou a roda. Sugiro que leiam este ótimo ensaio do blog Para entender Direito, sobre os banheiros de Laerte, que mesmo sem ter essa intenção chega a ser engraçado ao mostrar como, quando as pessoas decidem ser obtusas, criam situações absurdas, ridículas, que nos colocam em encruzilhadas ou becos totalmente sem saída.
Eu acredito na simplicidade e me irrito com as pessoas que tentam dificultar o mundo. E me parece que esse é o caso de Laerte, agora. Se eu fosse o juiz da causa, ele perderia. Sinto falta do mundo onde meninos e homens entravam no banheiro masculino, meninas e mulheres entravam no banheiro feminino, homossexuais entravam no banheiro correspondente ao seu sexo genético e isso era tão simples como deitar na cama, na hora de dormir. Você não pergunta porque deve deitar na cama. Você se deita e dorme, sem que isso vire uma acalorada discussão existencial.
6 comentários:
"Não gosto de políticas de gênero, o que já me dificulta ter empatia pela iniciativa do cartunista. Mesmo correndo grandes perigos ao dizer isso, o fato é que rejeito o tratamento diferenciado a mulheres, idosos, negros, índios, homossexuais, deficientes, baixinhos-gordos-carecas, alienígenas, jogadores de futebol, fãs de música escrota ou de filmes sobre vampiros gays e adoradores da Veneranda Bromélia que Canta de Madrugada. acho que todos devemos ser regidos por regras comuns, admitidas tão somente particularidades ditadas pela efetiva necessidade, a ser resolvida com base no bom senso e no ideal de proteção da saúde e da segurança pública".
Impecável.
Sem querer ser apocalíptico, mas sinto que os grupos políticos que ficaram órfãos do socialismo agora pretendem tornar a sociedade refém do "politicamente correto", ao pleitear "compensações" a supostas "minorias". Vi casos de indígenas que, após entrar em faculdades pelo sistema de cotas, passaram a se dizer alvo do preconceito etc. Ora bolas, vão estudar! E as pessoas que, apesar de serem pobres, são brancas, heterossexuais, cristãs, essas não têm que se matar pra ter alguma coisa? Esse caso do Laerte é mais preocupante porque o próprio dono do restaurante ficou achando que ele tinha razão. Então estamos caminhando para um sistema de castas, em que professor não vai poder dar nota baixa pra aluno gay, pra não ser acusado de homofobia? Não poderemos mais desejar "feliz natal", pra não ofender as suscetibilidades dos não cristãos? Porque é que eu tenho de achar bonito e aceitável os umbandistas lá do Júlia Seffer sacrificarem cabritos e ainda jogarem o sangue dos bichinhos na rua? Tenham paciência!!
Penso exatamente assim, Yúdice. De muito bom-senso, teu texto.
Abs.
Fico feliz de estar isolado nessa opinião, Victor e Francisco.
São questionamentos justos, Artur. Tenho sido politicamente correto ao longo da vida, por convicção, desde antes de essa expressão adquirir significado específico. Mas como tudo pode ser deturpado, isso parece estar correto e hoje já me questiono que caminho seguir.
Antes, jogavam pedras em quem era incorreto, hoje atiram para ambos os lados. Cada vez mais penso que o alienista, de Machado de Assis, era quem tinha razão.
pelo amor de deus diz logo morte aos homossexuais cara, não fica enchendo linguiça que hipocrisia isso que vc escreveu.
Das 16h03, como alguém imbecil como você sobreviveu à própria infância?
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