domingo, 1 de janeiro de 2012

Presciência

Em casa, era uma piada quando uma novela chegava ao seu final e, exibido o capítulo derradeiro, minha mãe dizia que já sabia como seriam os desfechos. Isso nos levou a um chiste que mantemos até hoje (de fato, esta manhã ele foi lembrado): dizemos que os autores das novelas são amigos dela e telefonam para informá-la, com grande antecedência, de tudo que vai acontecer, quando não para pedir-lhe opiniões. Mas d. Jacimar não manteve seus "dons" restritos ao mundo da ficção: muitos acontecimentos da vida real ela sabia exatamente como seriam, mas talvez por timidez só tocava no assunto depois que eles se tornavam do conhecimento geral.

Devo dizer que não levo a sério vidências em geral, ainda mais por me definir, do ponto de vista intelectual, acima de tudo como um homem de ciência. Nada mais natural, portanto, que sempre tenha considerado ridícula essa atenção absurda que a mídia confere às previsões para o ano que começa. A desconfiança está longe de ser exclusivamente minha: são abundantes as pilhérias feitas com as obviedades e chutes que os videntes de todo tipo anunciam. Por isso, não pude deixar de sorrir ao ler que em 2012 as mulheres terão um papel de comando na economia e na política. Sei. Dilma Rousseff completou hoje seu primeiro ano na presidência da República e encheu o governo federal de mulheres, por isso não creio que eu precisasse de poderes extrassensoriais para chegar a essa brilhante conclusão.

Somando-se a isso a total incredibilidade da imprensa local, chamou minha atenção que um dos jornalões da cidade tenha atribuído a um desses videntes a afirmação taxativa de que, nas eleições municipais de outubro, uma mulher será eleita para a prefeitura. Considerando as ligações que tal empresa possui com um certo grupo político e com uma certa cidadã que, por sinal, já concorreu ao cargo com vergonhoso desempenho, vislumbrei ali o começo da pavimentação artificial do trajeto da senhora em apreço. Feudos de comunicação construindo candidatos. Já vimos esse filme.

Mas para não dizerem que não acreditei em nada, acredito piamente que o Pará terá um ano horroroso, por conta de desacertos entre os políticos. Isso eu acho que é uma previsão acertadíssima. Mas também para ela ninguém precisaria de poderes sobrenaturais.

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