sexta-feira, 30 de julho de 2010
quinta-feira, 29 de julho de 2010
De volta a Floripa
Retornamos a Florianópolis ontem à noite. Novamente, uma jornada de oito horas, desta feita mais desgastante, porque se a ida oferece a motivação do passeio, a volta só tem a motivação de chegar em casa. E eu sou assim: se é para sair, que saiamos logo; se é para chegar, que cheguemos de uma vez. Portanto, em geral só aproveito o começo da viagem, ainda mais porque não estava dirigindo (pude, enfim, admirar a paisagem com mais atenção).
Na outra postagem, comentei que o Rio Grande do Sul está cobrando pedágio para trafegar em estradas ruins. Mas devo dizer que, dois dias mais tarde, no retorno, como as obras de recapeamento asfáltico estão em andamento, a situação já era melhor. Em alguns trechos, apenas um tapa buraco cafajeste, mas em outros o serviço parecia ser criterioso.
Em Gramado e Canela, tivemos a sorte de ver dias de sol durante toda a nossa estadia. Não fosse assim, alguns passeios importantes se teriam inviabilizado, já que os espaços em questão eram abertos. De longe, os que mais apreciei foram o Minimundo e o Museu do Automóvel. O Mundo a Vapor pode ser considerado mais instrutivo, para crianças em idade escolar. Infelizmente, a Lei de Murphy aplicada ao Yúdice funcionou e o teleférico do Parque do Caracol estava fechado para manutenção. Admito que nessa hora me deu uma frustração danada, mas fazer o quê?
Agora usufruiremos do ambiente citadino, mas sempre encantador, da capital catarinense — que hoje oferece um dia bastante ensolarado, com aquele delicioso ventinho frio —, até a nossa volta para casa.
Agradeço os comentários que me foram deixados e, como já disse antes, tentarei responder a eles qualquer hora dessas. Um abraço forte.
segunda-feira, 26 de julho de 2010
Primeiras impressões de Gramado
A cidade é linda, limpa e parece muito consciente de suas peculiaridades regionais. Está acontecendo a 17ª Festa Colonial e, por isso, as ruas e os canteiros centrais estão enfeitados com espantalhos e diversos outros elementos que remetem à vida no campo e às inúmeras atividades rurais desenvolvidas por aqui. Tudo caprichado e bem cuidado.
As pessoas nos atendem aqui como em Santa Catarina: são calorosas, prestativas e muito educadas. Os primeiros contatos foram bastante positivos.
E a constatação dramática: paraenses não podem dirigir por aqui! A cidade não possui semáforos (ou sinaleiras, como eles chamam). Tudo funciona na base do respeito às vias preferenciais, com um detalhe importantíssimo: a prioridade é do pedestre. Você entra na rotatória (rótula, como se diz aqui) e, portanto, tem a preferencial, mas dá de cara com uma faixa de pedestres. Então você para, mesmo que deixando o veículo exposto à transversal, até que os cidadãos atravessem. Vários deles agradecem, cordialmente. É como se a cidade conservasse, apesar de toda a badalação, a gentileza da boa gente do campo.
Vou parar por aqui, a fim de prevenir uma depressão. Afinal, daqui a exatamente uma semana eu estarei em casa, após o primeiro dia de batente, de volta à minha jornada dupla diária.
As pessoas nos atendem aqui como em Santa Catarina: são calorosas, prestativas e muito educadas. Os primeiros contatos foram bastante positivos.
E a constatação dramática: paraenses não podem dirigir por aqui! A cidade não possui semáforos (ou sinaleiras, como eles chamam). Tudo funciona na base do respeito às vias preferenciais, com um detalhe importantíssimo: a prioridade é do pedestre. Você entra na rotatória (rótula, como se diz aqui) e, portanto, tem a preferencial, mas dá de cara com uma faixa de pedestres. Então você para, mesmo que deixando o veículo exposto à transversal, até que os cidadãos atravessem. Vários deles agradecem, cordialmente. É como se a cidade conservasse, apesar de toda a badalação, a gentileza da boa gente do campo.
Vou parar por aqui, a fim de prevenir uma depressão. Afinal, daqui a exatamente uma semana eu estarei em casa, após o primeiro dia de batente, de volta à minha jornada dupla diária.
Primeiras impressões do mundo gaúcho
Talvez vocês já tenham percebido que eu elogio demais Santa Catarina e o seu povo. Jamais faria isso como expressão de um complexo de inferioridade, como se os paraenses estivessem em um degrau de desenvolvimento abaixo do dos catarinenses. Eu não penso assim. Trata-se, apenas, de reconhecer o que merece ser elogiado. E isso fica claro quando você cruza a fronteira entre os dois Estados mais meridionais do Brasil. Quando isso se deu, exatamente, não foi possível saber, porque simplesmente não existe placa ou qualquer outro indicativo da fronteira.
Esta é a primeira constatação que fazemos quando ingressamos no Rio Grande do Sul por via rodoviária: o zelo com a sinalização se desvanece. Rodamos muitos quilômetros sem nenhuma indicação geográfica, confiando apenas no fato de que permanecíamos na BR-101. Isso nos custou perder o acesso para a chamada "Rota do Sol", nome pomposo que não faz jus ao que é oferecido ao viajante. A única placa indicativa fica imediatamente antes da estrada e por isso rodamos cerca de oito quilômetros até confirmarmos o erro, sendo forçados a retornar.
Uma vez na rodovia estadual, usufruímos do deslumbrante cenário natural. As serras e a vegetação são lindíssimas. Mas a estrada exige cuidados. Ao fazer uma curva, topei com um túnel nigérrimo, porque sem nenhuma iluminação. Nenhuma! E isso num trajeto circular que nos dá a impressão de que estamos girando 360º. É bem ruim. Para completar, há uma ligação com o túnel de retorno que, por uma fração de segundo, passa a absurda impressão de que existe uma bifurcação dentro do túnel. E tudo isso sem sinalização. Perigosíssimo e irresponsável.
Ao longo de toda a "Rota do Sol", há inúmeras placas informando sobre "áreas críticas para poluição" e sobre travessia de animais pela pista ou por passagens subterrâneas. Sucedem-se acessos a pequenos Municípios que eu me pergunto se deviam mesmo ter-se emancipado.
Saindo da "Rota do Sol" rumo a Canela, entramos numa outra rodovia estadual em péssimas condições. Não tétricas, como as estradas do Maranhão pelas quais dirigi em 2001, chegando bem perto de capotar. Mas bem ruins. E isso pagando escorchantes R$ 6,80 de pedágio! Sim, o poder público gaúcho já está cobrando para trafegarmos por estradas que ameaçam as nossas vidas.
A certa altura, tendo que frear constantemente por causa do leito carroçável degradado, lembrei-me que Yeda Crusius foi apontada como a pior governadora do Brasil, com índices de rejeição superiores aos de nossa Ana Júlia. De repente, comecei a entender os motivos. Aliás, as mulheres precisam acender o sinal vermelho, porque o Brasil possui três governadoras: Yeda Crusius, Ana Júlia Carepa e Roseana Sarney. Preciso complementar?
Enfim, chegamos vivos. Modéstia à parte, agradeça ao motorista...
Esta é a primeira constatação que fazemos quando ingressamos no Rio Grande do Sul por via rodoviária: o zelo com a sinalização se desvanece. Rodamos muitos quilômetros sem nenhuma indicação geográfica, confiando apenas no fato de que permanecíamos na BR-101. Isso nos custou perder o acesso para a chamada "Rota do Sol", nome pomposo que não faz jus ao que é oferecido ao viajante. A única placa indicativa fica imediatamente antes da estrada e por isso rodamos cerca de oito quilômetros até confirmarmos o erro, sendo forçados a retornar.
Uma vez na rodovia estadual, usufruímos do deslumbrante cenário natural. As serras e a vegetação são lindíssimas. Mas a estrada exige cuidados. Ao fazer uma curva, topei com um túnel nigérrimo, porque sem nenhuma iluminação. Nenhuma! E isso num trajeto circular que nos dá a impressão de que estamos girando 360º. É bem ruim. Para completar, há uma ligação com o túnel de retorno que, por uma fração de segundo, passa a absurda impressão de que existe uma bifurcação dentro do túnel. E tudo isso sem sinalização. Perigosíssimo e irresponsável.
Ao longo de toda a "Rota do Sol", há inúmeras placas informando sobre "áreas críticas para poluição" e sobre travessia de animais pela pista ou por passagens subterrâneas. Sucedem-se acessos a pequenos Municípios que eu me pergunto se deviam mesmo ter-se emancipado.
Saindo da "Rota do Sol" rumo a Canela, entramos numa outra rodovia estadual em péssimas condições. Não tétricas, como as estradas do Maranhão pelas quais dirigi em 2001, chegando bem perto de capotar. Mas bem ruins. E isso pagando escorchantes R$ 6,80 de pedágio! Sim, o poder público gaúcho já está cobrando para trafegarmos por estradas que ameaçam as nossas vidas.
A certa altura, tendo que frear constantemente por causa do leito carroçável degradado, lembrei-me que Yeda Crusius foi apontada como a pior governadora do Brasil, com índices de rejeição superiores aos de nossa Ana Júlia. De repente, comecei a entender os motivos. Aliás, as mulheres precisam acender o sinal vermelho, porque o Brasil possui três governadoras: Yeda Crusius, Ana Júlia Carepa e Roseana Sarney. Preciso complementar?
Enfim, chegamos vivos. Modéstia à parte, agradeça ao motorista...
De Gramado
Meus queridos, escrevo-lhes estas mal traçadas linhas diretamente da linda cidade de Gramado, Rio Grande do Sul, onde estamos passando as férias das férias, já que as férias mesmo estamos passando em Florianópolis. Isto graças à cortesia de nosso hotel, que nos disponibiliza conexão sem fio à Internet com uma velocidade bem superior à que tenho em casa.
Aliás, como as nossas fotos ainda estão restritas à câmera fotográfica, não lhes posso mostrar ainda as imagens da viagem, mas vocês podem conhecer o Hotel Alpestre por meio de seu site oficial. Desde logo, informo que fomos acolhidos carinhosamente. O hotel é muito bonito e repleto de itens capazes de tornar a nossa estada confortável e quente, considerando os 7ºC que fazia há mais de uma hora, que me leva a supor que o frio já aumentou.
Embora o Google Maps calcule em cerca de 6 horas e meia o tempo de viagem entre a rua em que estamos em Florianópolis e Gramado, levamos oito horas para chegar. A BR-101, uma das mais importantes do país, que liga a região Sul à Nordeste, está loteada entre diversas empreiteiras, para fins de duplicação, em obra incluída no PAC que, para variar, não fica pronta nunca. Não à toa, o candidato José Serra se aproveitou dela para malhar o governo Lula quando visitou Santa Catarina, na semana passada. Disse ser inaceitável tal obra não ficar pronta em oito anos e disse que a finalizará. Disse que tal afirmação não era uma promessa, mas um "anúncio".
Enfim, viajar pela BR-101 é uma experiência curiosa. Você pega um quilômetro de estrada duplicada, depois vários quilômetros em pista única, de mão dupla, com uma infinidade de desvios espremidos entre placas sinalizadoras. Depois mais um trecho duplicado (o maior deles tinha 17,5 Km) e assim por diante. É preciso atenção total ou você se acidenta ou, ao menos, entra no acesso errado.
Quando a obra estiver pronta, a estrada será magnífica: larga, bem asfaltada (alguns trechos, contudo, estavam bem bisonhos), cheia de elevados e retornos em nível, proporcionando uma viagem segura em todas as direções. O tipo de obra que eu nem espero ver no Pará...
Aliás, como as nossas fotos ainda estão restritas à câmera fotográfica, não lhes posso mostrar ainda as imagens da viagem, mas vocês podem conhecer o Hotel Alpestre por meio de seu site oficial. Desde logo, informo que fomos acolhidos carinhosamente. O hotel é muito bonito e repleto de itens capazes de tornar a nossa estada confortável e quente, considerando os 7ºC que fazia há mais de uma hora, que me leva a supor que o frio já aumentou.
Embora o Google Maps calcule em cerca de 6 horas e meia o tempo de viagem entre a rua em que estamos em Florianópolis e Gramado, levamos oito horas para chegar. A BR-101, uma das mais importantes do país, que liga a região Sul à Nordeste, está loteada entre diversas empreiteiras, para fins de duplicação, em obra incluída no PAC que, para variar, não fica pronta nunca. Não à toa, o candidato José Serra se aproveitou dela para malhar o governo Lula quando visitou Santa Catarina, na semana passada. Disse ser inaceitável tal obra não ficar pronta em oito anos e disse que a finalizará. Disse que tal afirmação não era uma promessa, mas um "anúncio".
Enfim, viajar pela BR-101 é uma experiência curiosa. Você pega um quilômetro de estrada duplicada, depois vários quilômetros em pista única, de mão dupla, com uma infinidade de desvios espremidos entre placas sinalizadoras. Depois mais um trecho duplicado (o maior deles tinha 17,5 Km) e assim por diante. É preciso atenção total ou você se acidenta ou, ao menos, entra no acesso errado.
Quando a obra estiver pronta, a estrada será magnífica: larga, bem asfaltada (alguns trechos, contudo, estavam bem bisonhos), cheia de elevados e retornos em nível, proporcionando uma viagem segura em todas as direções. O tipo de obra que eu nem espero ver no Pará...
domingo, 25 de julho de 2010
Comemorando os dois aninhos
Mesmo muito longe de casa, como estamos hospedados em família, foi possível fazer uma festinha para comemorar o segundo aniversário de Júlia. Nós nos reunimos em torno dela ontem à noite. Só a expressão de deslumbramento dela quando começaram a cantar parabéns valeu o dia inteiro! Foi realmente adorável.
Amanhã, viajaremos por via rodoviária para Gramado, Rio Grande do Sul. Três dias de exploração por outras plagas. Ficará ainda mais complicado acessar a internet mas, como sempre, na medida do possível...
Hoje é domingo, é? Uma coisa que me diverte nas férias é perder a noção do tempo e me atrapalhar quanto ao dia em que estamos. Uma ótima semana para vocês.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
Dois deliciosos anos
Clicando no marcador "paternidade", você verá algumas dezenas de postagens que fiz desde que minha esposa descobriu sua gestação. A maior de todas as aventuras começava. E embora a aventura comece desde a gestação, considerando que ela foi planejada e desejada, nada se compara a ter o bebê nos braços, sobretudo para o pai, que não vive fisicamente a experiência da gestação.
Deixo aqui um registro do meu beijo, do meu amor e das preces que fiz pela saúde e felicidade da melhor coisa que já aconteceu em nossas vidas.
Te amo, filhotinha.
Dois anos atrás, a esta hora, eu estava no trabalho, mas a cabeça estava em outra dimensão. Na noite de 23 de julho de 2008, nascia a pequena Júlia. E então fomos totalmente transportados para outra dimensão. A vida recomeçou, em vários sentidos.
Hoje, comemoramos os dois anos de nossa garotinha. Aparentemente uma nova frente fria está chegando em Santa Catarina, por isso o sol foi substituído por nuvens espessas e um tempo bem mais frio. Isto limita as opções de passeio, quando se tem uma criança. Mas não impede de todo e sempre podemos curtir a data no aconchego de uma família carinhosa.
Deixo aqui um registro do meu beijo, do meu amor e das preces que fiz pela saúde e felicidade da melhor coisa que já aconteceu em nossas vidas.
Te amo, filhotinha.
quinta-feira, 22 de julho de 2010
Querida, a culpa é do cartão de crédito!
A vida real sempre nos proporciona acontecimentos pitorescos. O que você, mulher, faria se deparasse com a cobrança de uma estadia em motel no cartão de crédito de seu marido? Cartão que, por sinal, é adicional do seu? E que tal se ele jurasse de pés juntos que jamais esteve no tal motel? Como explicar a cobrança? Simples: tudo não passou de um erro da financeira que administra o serviço de crédito!
Desculpa esfarrapada de marido pilantra? Negativo. Trata-se de um caso real, ocorrido em Belo Horizonte. No final das contas, a financeira foi condenada a apagar 16 mil reais ao casal, a título de danos morais por haver abalado a relação conjugal, ao criar suspeitas de infidelidade do marido.
Mas se a notícia correr, é possível que os pilantras comecem a colecionar esses causos jurídicos na carteira...
Desculpa esfarrapada de marido pilantra? Negativo. Trata-se de um caso real, ocorrido em Belo Horizonte. No final das contas, a financeira foi condenada a apagar 16 mil reais ao casal, a título de danos morais por haver abalado a relação conjugal, ao criar suspeitas de infidelidade do marido.
Mas se a notícia correr, é possível que os pilantras comecem a colecionar esses causos jurídicos na carteira...
Estatuto da Igualdade Racial
Como tenho acessado a Internet de modo incipiente, não sei quanta repercussão foi dada ao fato. Não deve ter sido muita, tanto que somente agora tomei conhecimento da Lei n. 12.288, de 20.7.2010, que institui o Estatuto da Igualdade Racial e que entrará em vigor em outubro.
A despeito da abrangência que o termo "igualdade racial" possui, bastam alguns instantes para perceber que a nova lei tem endereço certo e se destina, acima de tudo, a criar mecanismos de proteção — e resgate histórico — aos negros brasileiros. Para tanto, além de estabelecer conceitos como "discriminação racial", "desigualdade racial" e "população negra", prevê uma série de mecanismos, relacionados aos âmbitos do Direito Administrativo, Trabalhista, Civil (p. ex. direitos das populações quilombolas) e, obviamente, Penal — neste caso, somando novas incriminações às que já constam da Lei n. 7.716, de 1989, que define os crimes de racismo.
Como de praxe nas diversas leis tutelares que este país possui (Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto do Idoso e Lei Maria da Penha, dentre outras), o novel diploma traz uma vastidão de direitos (à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, à liberdade de crença e culto religioso, acesso à terra e à moradia, etc.), o que serve para desvelar o paradoxo da sociedade brasileira, afinal tais direitos já são previstos na Constituição de 1988 para todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país (consoante redação do art. 5º, aqui tomada genericamente, porque nem todos os direitos supramencionados comparecem no aludido dispositivo).
Assim, se precisamos de novas leis para prometer as mesmíssimas coisas às crianças e adolescentes, aos consumidores, aos idosos, às mulheres e, agora, aos negros, é porque tacitamente o Estado reconhece o seu fracasso em promover as ações necessárias para tanto. Podemos esperar alguma melhora apenas porque as tais ações afirmativas agora possuem um conceito legal? Pelo menos, a lei manda que, no prazo de cinco anos, os órgãos federais incumbidos de ações afirmativas passem a discriminar, em seus orçamentos, as verbas destinadas a elas. Vale lembrar que uma coisa é o orçamentário, outra é o financeiro...
Outra característica típica das leis brasileiras é burocratizar aos extremos. A lei sob comento institui um Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a fim de assegurar que haja uma plêiade de órgãos para cuidar das atribuições específicas, gerando mais cargos DAS, mais títulos administrativos, mais cartões corporativos e tudo quanto faz a festa da boa gente que contrata com o governo. Não faço nenhuma crítica ao SINAPIR em si, que ainda está em vias de criação, mas sim ao modelo caro e ineficiente que se insiste em repetir, mesmo com os exemplos diários dos diversos outros sistemas que funcionam porcamente. A lei menciona a criação de conselhos de promoção da igualdade racial nos níveis municipal, estadual ou federal. Ou seja, mais conselhos...
Enfim, não quero estragar a festa da imensa população negra brasileira, que tem o que comemorar. No mínimo, ganhou um instrumento enérgico para combater o crônico problema de invisibilidade institucional em nosso país. Deixemos que o tempo mostre o que funciona e o que não. Nesse meio tempo, fico com uma curiosidade acerca das previsões expressas no sentido de resguardar as práticas religiosas dos negros. Ou seja, o poder público será obrigado a olhar com outros olhos os cultos afrobrasileiros, ainda hoje bastante discriminados por uma sociedade preconceituosa e por um Estado laico que insiste em ser acima de tudo católico.
Tenho a impressão que é nesse campo que teremos as primeiras notícias sobre o que mudou com o Estatuto da Igualdade Racial.
A despeito da abrangência que o termo "igualdade racial" possui, bastam alguns instantes para perceber que a nova lei tem endereço certo e se destina, acima de tudo, a criar mecanismos de proteção — e resgate histórico — aos negros brasileiros. Para tanto, além de estabelecer conceitos como "discriminação racial", "desigualdade racial" e "população negra", prevê uma série de mecanismos, relacionados aos âmbitos do Direito Administrativo, Trabalhista, Civil (p. ex. direitos das populações quilombolas) e, obviamente, Penal — neste caso, somando novas incriminações às que já constam da Lei n. 7.716, de 1989, que define os crimes de racismo.
Como de praxe nas diversas leis tutelares que este país possui (Estatuto da Criança e do Adolescente, Código de Defesa do Consumidor, Estatuto do Idoso e Lei Maria da Penha, dentre outras), o novel diploma traz uma vastidão de direitos (à saúde, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, à liberdade de crença e culto religioso, acesso à terra e à moradia, etc.), o que serve para desvelar o paradoxo da sociedade brasileira, afinal tais direitos já são previstos na Constituição de 1988 para todos os brasileiros e estrangeiros residentes no país (consoante redação do art. 5º, aqui tomada genericamente, porque nem todos os direitos supramencionados comparecem no aludido dispositivo).
Assim, se precisamos de novas leis para prometer as mesmíssimas coisas às crianças e adolescentes, aos consumidores, aos idosos, às mulheres e, agora, aos negros, é porque tacitamente o Estado reconhece o seu fracasso em promover as ações necessárias para tanto. Podemos esperar alguma melhora apenas porque as tais ações afirmativas agora possuem um conceito legal? Pelo menos, a lei manda que, no prazo de cinco anos, os órgãos federais incumbidos de ações afirmativas passem a discriminar, em seus orçamentos, as verbas destinadas a elas. Vale lembrar que uma coisa é o orçamentário, outra é o financeiro...
Outra característica típica das leis brasileiras é burocratizar aos extremos. A lei sob comento institui um Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a fim de assegurar que haja uma plêiade de órgãos para cuidar das atribuições específicas, gerando mais cargos DAS, mais títulos administrativos, mais cartões corporativos e tudo quanto faz a festa da boa gente que contrata com o governo. Não faço nenhuma crítica ao SINAPIR em si, que ainda está em vias de criação, mas sim ao modelo caro e ineficiente que se insiste em repetir, mesmo com os exemplos diários dos diversos outros sistemas que funcionam porcamente. A lei menciona a criação de conselhos de promoção da igualdade racial nos níveis municipal, estadual ou federal. Ou seja, mais conselhos...
Enfim, não quero estragar a festa da imensa população negra brasileira, que tem o que comemorar. No mínimo, ganhou um instrumento enérgico para combater o crônico problema de invisibilidade institucional em nosso país. Deixemos que o tempo mostre o que funciona e o que não. Nesse meio tempo, fico com uma curiosidade acerca das previsões expressas no sentido de resguardar as práticas religiosas dos negros. Ou seja, o poder público será obrigado a olhar com outros olhos os cultos afrobrasileiros, ainda hoje bastante discriminados por uma sociedade preconceituosa e por um Estado laico que insiste em ser acima de tudo católico.
Tenho a impressão que é nesse campo que teremos as primeiras notícias sobre o que mudou com o Estatuto da Igualdade Racial.
quarta-feira, 21 de julho de 2010
Conchinhas e pinguim
Hoje foi, sem dúvida alguma, o melhor dia de nossas férias até aqui. Após uma temporada de chuva, o sol abriu ontem e, hoje, estava ainda mais vistoso. Foi o tipo de inverno que adoramos: sol forte, dia claro, mar intensamente azul, mas você continua confortável vestindo um casaco — se bem que, em alguns horários, fez calor de verdade, com direito a ligar o ar condicionado do carro.
Tivemos um excelente almoço (depois escreverei sobre o lado gastronômico) e Júlia passeou numa praiazinha, catando conchas. Na continuidade do passeio, num local da ilha chamado Barra da Lagoa, ela se divertiu vendo um pinguim pela primeira vez. Postarei as fotos numa outra oportunidade. Neste momento, a preguiça não permite.
Qualquer hora dessas, mais notícias de uma família em férias.
Tivemos um excelente almoço (depois escreverei sobre o lado gastronômico) e Júlia passeou numa praiazinha, catando conchas. Na continuidade do passeio, num local da ilha chamado Barra da Lagoa, ela se divertiu vendo um pinguim pela primeira vez. Postarei as fotos numa outra oportunidade. Neste momento, a preguiça não permite.
Qualquer hora dessas, mais notícias de uma família em férias.
Punição com finalidade clara
A 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça [do Estado de Santa Catarina] negou recurso de um homem que solicitava a conversão da pena de prestação de serviços comunitários no pagamento de cestas básicas. Ele foi condenado por agredir sua irmã ao chegar embriagado em casa e enquadrado na Lei Maria da Penha.
O desembargador Rui Fortes disse que a banalização da cesta básica acabou por incentivar a violência contra a mulher, fundada no princípio de que, por bater na esposa ou companheira, basta pagar em seguida. Bela decisão.
Nota publicada no Diário Catarinense de hoje.
É interessante observar como somente quando a questão de fundo é violência contra a mulher as pessoas se lembram de criticar o mau uso das cestas básicas como pena criminal. Quando o crime é outro, essa medida é aplicada com tanta sem-vergonhice que, hoje, já está entranhado na mente do cidadão comum a expressão "pena de cesta básica". Mas saiba que — por Deus, Alá, Buda e todos os orixás! — não existe pena de cesta básica! O que existe, na lei, é a possibilidade de transformar a chamada prestação pecuniária em prestação de outra natureza, o que desperta críticas em alguns penalistas.
Como se não bastasse ser duvidosa, desde o aspecto da legalidade, a condenação ao pagamento de cestas básicas, a utilização desse artifício tem sido ilegal na forma de aplicação e irresponsável, em relação aos seus efeitos sociais. É só pensar: se um motorista embriagado matar a sua mãe e, condenado por homicídio culposo, tiver que pagar apenas algumas cestas básicas, você se sentirá justiçado? E numa hipótese de erro médico, p. ex.?
Já está na hora de repensar, com bastante atenção, essa história de cesta básica como pena.
O desembargador Rui Fortes disse que a banalização da cesta básica acabou por incentivar a violência contra a mulher, fundada no princípio de que, por bater na esposa ou companheira, basta pagar em seguida. Bela decisão.
Nota publicada no Diário Catarinense de hoje.
É interessante observar como somente quando a questão de fundo é violência contra a mulher as pessoas se lembram de criticar o mau uso das cestas básicas como pena criminal. Quando o crime é outro, essa medida é aplicada com tanta sem-vergonhice que, hoje, já está entranhado na mente do cidadão comum a expressão "pena de cesta básica". Mas saiba que — por Deus, Alá, Buda e todos os orixás! — não existe pena de cesta básica! O que existe, na lei, é a possibilidade de transformar a chamada prestação pecuniária em prestação de outra natureza, o que desperta críticas em alguns penalistas.
Como se não bastasse ser duvidosa, desde o aspecto da legalidade, a condenação ao pagamento de cestas básicas, a utilização desse artifício tem sido ilegal na forma de aplicação e irresponsável, em relação aos seus efeitos sociais. É só pensar: se um motorista embriagado matar a sua mãe e, condenado por homicídio culposo, tiver que pagar apenas algumas cestas básicas, você se sentirá justiçado? E numa hipótese de erro médico, p. ex.?
Já está na hora de repensar, com bastante atenção, essa história de cesta básica como pena.
terça-feira, 20 de julho de 2010
Os ecos do ENEM
Nos últimos dias, a diuturna cobertura sobre o "caso Bruno" sofreu um abalo: a mídia começou a dar atenção ao resultado do ENEM. Como era de se esperar, quem tem de que se orgulhar, orgulha-se. Quem muito pelo contrário, ou se explica ou faz cara de paisagem. No Pará, cujos indicadores de desempenho, mais uma vez, foram tétricos, optou-se por fazer cara de paisagem de manguezal degradado.
Nosso Estado não possui nenhuma escola bem cotada no ranking do ENEM. Nenhuma. De novo. E não adianta usar o velho argumento de perseguição, de que somente instituições do Centro-Sul são bem avaliadas, porque a segunda melhor escola do país, segundo o último ENEM, é do Piauí. Sim, do Piauí, o Estado mais pobre da federação. Entre as 20 melhores aparece o Maranhão, também — outro Estado paupérrimo e dominado por politiqueiros pós-graduados em malinagens com a coisa pública. Mas não o Pará.
Para aqueles que não se conformam em ficar de fora de uma lista, lá vai: a pior escola privada do país é do Pará, especificamente de Altamira. Se eles já se explicaram, não sei. Mas pensando bem, por que se explicariam, se o governo do Estado nada tem a dizer senão que a culpa pelo mau desempenho é dos estudantes?
Meu Deus, quanta vergonha para nós!
Um pouco de sol
Após mais uma semana de dias cinzentos e muita chuva, hoje, finalmente, o sol abriu em Florianópolis. Há um clima de alívio entre os moradores locais. Para nós também, é claro, porque enfrentar frio e chuva com uma criança de menos de dois anos impõe uma série de limitações. Esta manhã pudemos visitar uma praça com parquinho e deixar Júlia correr um pouco, como está acostumada. Ela estava precisando.
Passadas uma poucas horas, porém, o dia já está nublado. Há previsão de novas chuvas na quinta-feira. Por isso, melhor levá-la para conhecer as praias hoje mesmo.
Espero que a semana esteja correndo tranquila e feliz para todos vocês. Abraços.
PS — Peço perdão por não estar respondendo os comentários que me deixam. Isto ocorre devido ao curto tempo que passo na Internet. Mas é claro que agradeço a atenção e, oportunamente, conversarei mais.
domingo, 18 de julho de 2010
desCasos
Dia desses, navegando em um site de comércio eletrônico na seção de livros, deparei-me com este desCasos: uma advogada às voltas com o direito dos excluídos, escrito pela advogada Alexandra Lebelson Szafir e publicado pela Editora Saraiva. A temática me interessou de imediato mas, sem poder manusear a obra, não pude dosar o meu interesse.
Ontem, em uma livraria do tipo que já existiu em Belém (e que está prestes a voltar a existir, espero), encontrei o opúsculo, de apenas 82 páginas, em tamanho pequeno. Uma folheada mínima me levou a adquiri-lo na hora. Hoje, passei à leitura e, de imediato, à vontade de escrever sobre ele aqui no blog.
A primeira coisa que me chamou a atenção no livro foi uma observação logo na terceira página. Trancrevo-a:
Em resposta à lição aprendida de que não é necessariamente por dinheiro que damos o nosso melhor, e em homenagem à autora desta obra, este livro foi produzido por meio de trabalho voluntário dos profissionais da Editora Saraiva, da Aero Comunicação e da Gráfica EGB.
Logo percebi que havia um ar de reverência em torno da autora, o que se confirmou no prefácio escrito pelo famoso advogado Alberto Zacharias Toron, que assinou como diretor do Conselho Federal da OAB, mas que é também colega de escritório da autora. A impressão inicial de que havia uma certa bajulação nessas atitudes se dissipou, contudo, quando entendi que Alexandra Szafir é tão admirada não apenas por seu trabalho (o que já bastaria), mas por realizá-lo em condições adversas. Ela sofre de esclerose lateral amiotrófica, a mesma doença que acomete o físico inglês Stephen Hawking.
Passamos a entender, então, por que uma pessoa com tanto para contar escreve tão pouco: Szafir somente pode produzir a sua obra porque se utilizou de softwares que, como ela mesma explica, utilizam uma webcam para focalizar o seu rosto e se fixar no ponto central (nariz), que comanda o mouse e permite a digitação em um teclado virtual.
Mas a minha intenção não era focalizar no aspecto pessoal da autora, e sim em suas ideias. Para ser bem honesto, o livro não traz novidades para quem trabalha com o sistema de justiça criminal. Mas ele é importante porque a esmagadora maioria das pessoas simplesmente não tem a menor noção de como é a realidade do crime neste país — e do sistema que, supostamente, tenta reagir a ele. Nesse sentido, o livro é bastante luminoso e didático e já está na minha lista de indicações de leitura para os meus alunos de Penal I.
Dando especial relevo ao papel do advogado criminalista na administração da Justiça, Szafir conta histórias que impactam e nos levam a refletir, fazendo duras (e merecidas!) críticas ao Judiciário, ao Ministério Público e às polícias. Isto sem deixar de criticar duramente, também, os advogados negligentes e clientelistas.
Para dar uma pequena mostra do espírito da obra, ela começa falando de um desembargador que dormia durante a sessão de julgamento e, ao ser acordado pelo advogado que chegava para fazer uma sustentação oral e estava sentado, adverte-o com virulência, pois na corte só se pode falar de pé. Ocorre que o advogado era paraplégico e sua resposta ecoa na alma: "Excelência, eu, mais do que ninguém, gostaria de falar em pé..."
Essas são as histórias de DesCasos. Leia e aprenda, com Alexandra Szafir, três princípios para advogados criminalistas:
1. Jamais deixar de defender alguém apenas porque não pode pagar.
2. Salvo em casos excepcionais, jamais defender alguém de graça pela segunda vez.
3. Sempre examinar o processo antes de decidir.
sábado, 17 de julho de 2010
Já que estou na frente do computador...
...resolvi dar um alô.
Ontem o dia foi de ficar em casa, não apenas para a adaptação da Júlia, mas também para descansar. Afinal, passei quase trinta horas em claro, com umas tentativas mal sucedidas de cochilar nos aviões brasileiros. Hoje o dia amanheceu como ontem: frio. Levantamos cedo, mas apenas porque fomos dormir antes das nove da noite (nosso normal é uma da manhã). Ou seja, não tínhamos mais sono para vencer. Contudo, sair das cobertas, nesse clima, sempre é uma tarefa a ser ponderada, se você tem escolha.
Fiquei pensando nas pessoas que precisam sair para o trabalho, cedinho. Imagine alguém que more no sul da ilha e trabalhe, p. ex., em São José, já no continente, e dependa de ônibus. Deve ser um sacrifício e tanto, sobretudo porque o sistema de transporte público de Florianópolis sempre foi alvo de críticas dos habitantes da cidade. Mas aqui os ônibus são bem melhores do que os de Belém. Contudo, as passagens custam R$ 2,95 na cidade e, no entorno imediato, há outros valores, que chegam a R$ 3,55. Caríssimo.
Logo mais começarei a registrar a vida na cidade. A qualquer hora, uma postagem sobre viver em Florianópolis, pelos olhos de um belenense de férias.
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Direto da capital catarinense
Uma pane em minha linha telefônica, descoberta ontem à tarde, me impediu de informar previamente, mas agora estou total e oficialmente de férias. Estas mal traçadas linhas são escritas de Florianópolis, a cidade que considero o meu segundo lar. Vim trazer Júlia para conhecer o inverno. E, desta vez, parece que o plano deu certo: nada de "veranico", como ocorreu da vez anterior. Agora, é frio de verdade!
Desci do avião sem vestir casaco e sem me incomodar. Passei a manhã bem, mas antes do meio dia foi perceptível a queda de temperatura. Vesti um casaco e meti os pés em pantufas. Pisar no chão de lajotas foi uma experiência ao mesmo tempo angustiante e hilária.
Devido à viagem de férias, a administração do blog ficará ainda mais lenta e incerta. Confesso que isto não é minha prioridade, agora. Quero me apartar um pouco da rotina e curtir vivências diferentes, tais como Júlia repleta de agasalhos, comendo morangos enormes!
Qualquer hora dessas venho dar um alô para vocês e registrar aspectos da vida desta cidade adorável, cujo maior risco é nos deixar com essa vontade de não mais ir embora. Abraços.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Adubo monetário
A edição de hoje do jornal Público, distribuído gratuitamente na cidade, estampa como principal manchete "DINHEIRO VIRA ADUBO NO PARÁ".
Escaldado com tantos escândalos de corrupção e ciente de que estamos em ano eleitoral, pensei logo que se tratava de alguma safadeza. Mas, na verdade, a matéria é sobre um projeto de reciclagem, que transforma cédulas em adubo orgânico mais barato para os pequenos produtores. Trata-se de um convênio de cooperação técnica e financeira entre o Banco Central, o governo do Pará e a Universidade Federal Rural da Amazônia.
A matéria, não assinada, explica o seguinte:
A idéia é usar as 11 toneladas de papel moeda retiradas de circulação, na região Norte, que são triturados todos os meses em Belém, para a produção de 10 toneladas de adubo orgânico que serão distribuídas para 20 pequenos produtores da Região Metropolitana. O Banco Central, que tritura 1 milhão e meio de quilos de papel moeda por ano, pretende usar o projeto piloto que será implantado em Belém como modelo para todas as suas regionais no país.
O projeto foi desenvolvido e será coordenado pelo professor Carlos Augusto Cordeiro Costa, da Ufra, que comprovou a eficácia do uso do papel moeda na produção do adubo. Segundo ele, o uso do composto orgânico, que tem 20% de papel moeda triturado em sua composição, é mais saudável para a população do que os adubos químicos que provocam intoxicações. Além do reaproveitamento das cédulas, que eram descartadas, como fonte de matéria orgânica, que pode se transformar num recurso simples e barato, diminuindo os gastos com adubos e insumos para o pequeno produtor.
Uma ótima notícia, sem dúvida. O custo de produção do dinheiro é muito elevado e, pelos péssimos hábitos do brasileiro, as cédulas se estragam rapidamente. Um desperdício absurdo, de que a grande maioria das pessoas simplesmente não toma conhecimento. Com este projeto, pelo menos se reduzem os danos e se cria uma nova oportunidade de crescimento para o pequeno produtor.
Crueldade, ambiguidade e crime
Na coluna "Repórter Diário", hoje:
Uma garça foi apedrejada por um jovem ontem à tarde no Canal da Caripunas entre 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, que rapidamente fugiu do local. Moradores do local prestaram os primeiros socorros à ave que aparentemente estava com a pata quebrada. Viatura do Corpo de Bombeiros foi acionada e levou a ave para ser socorrida.
A crueldade
Volta e meia, lemos notícias sobre crueldade contra os animais de nosso espaço urbano. Felizmente, no contexto de uma cidade que tem o privilégio de ver, à solta, animais silvestres convivendo com o bicho-homem, como ocorre na Praça Batista Campos, p. ex., esses atentados são pouco frequentes e sempre disparam reações de auxílio, além da inevitável indignação. Prova de que a gente simples de Belém ainda se reconhece como personagem de uma bonita história de interação com a natureza.
A ambiguidade
Repetindo: "Uma garça foi apedrejada por um jovem ontem à tarde no Canal da Caripunas entre 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, que rapidamente fugiu do local". Ou seja, quem fugiu do local foi o Canal da Caripunas! Como diria minha filha, muito estranho, isso...
Além da falta de duas vírgulas, o texto peca pela má construção, já que usou indevidamente o "que", produzindo um resultado inesperado e impossível, já que canais não fogem por aí. Talvez o da Caripunas, muito sensível, não tenha suportado ver o sofrimento da garça; ou talvez tenha se preocupado em ser envolvido no delito.
Falando em notícias mal redigidas, você se lembra do resgate do jacaré?
O crime
A conduta de "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos" constitui crime, passível de três meses a um ano de detenção, além de multa, segundo o art. 32 da Lei n. 9.605, de 1998 — Lei de Crimes Ambientais. A pena é aumentada de um sexto a um terço em caso de morte do animal. Do animal vítima, não do que praticou a agressão.
Uma garça foi apedrejada por um jovem ontem à tarde no Canal da Caripunas entre 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, que rapidamente fugiu do local. Moradores do local prestaram os primeiros socorros à ave que aparentemente estava com a pata quebrada. Viatura do Corpo de Bombeiros foi acionada e levou a ave para ser socorrida.
A crueldade
Volta e meia, lemos notícias sobre crueldade contra os animais de nosso espaço urbano. Felizmente, no contexto de uma cidade que tem o privilégio de ver, à solta, animais silvestres convivendo com o bicho-homem, como ocorre na Praça Batista Campos, p. ex., esses atentados são pouco frequentes e sempre disparam reações de auxílio, além da inevitável indignação. Prova de que a gente simples de Belém ainda se reconhece como personagem de uma bonita história de interação com a natureza.
A ambiguidade
Repetindo: "Uma garça foi apedrejada por um jovem ontem à tarde no Canal da Caripunas entre 14 de Março e Generalíssimo Deodoro, que rapidamente fugiu do local". Ou seja, quem fugiu do local foi o Canal da Caripunas! Como diria minha filha, muito estranho, isso...
Além da falta de duas vírgulas, o texto peca pela má construção, já que usou indevidamente o "que", produzindo um resultado inesperado e impossível, já que canais não fogem por aí. Talvez o da Caripunas, muito sensível, não tenha suportado ver o sofrimento da garça; ou talvez tenha se preocupado em ser envolvido no delito.
Falando em notícias mal redigidas, você se lembra do resgate do jacaré?
O crime
A conduta de "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos" constitui crime, passível de três meses a um ano de detenção, além de multa, segundo o art. 32 da Lei n. 9.605, de 1998 — Lei de Crimes Ambientais. A pena é aumentada de um sexto a um terço em caso de morte do animal. Do animal vítima, não do que praticou a agressão.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
O formal e o real
A atriz e escritora Maitê Proença não está em evidência somente por causa de seu polêmico papel de adúltera na atual novela global do horário nobre, ou porque seu namorado a teria proibido de posar nua novamente. Ela também ganhou a mídia especializada em questões jurídicas, por conta de uma querela na qual se envolveu contra a autarquia São Paulo Previdência (SPPrev).
O pai de Maitê era procurador de Justiça e, ao morrer, em 1989, deixou-lhe uma pensão vitalícia, que ela perderia na hipótese de se casar. Alguns setores privilegiados, como os militares, ainda possuem esses questionáveis benefícios, que por sinal desmerecem a mulher, pois remetem a um tempo em que elas eram dependentes em tudo de seus pais ou esposos. Daí as tais pensões vitalícias: em caso de morte de seus provedores, as inúteis teriam um meio decente de sobrevivência. A revolução feminina, entretanto, curiosamente, nunca se preocupou em derrubar tais privilégios, decerto porque não vê neles nenhum demérito à imagem da mulher contemporânea.
O fato é que Maitê nunca se casou oficialmente, mas constituiu família através de união estável. Por esse motivo, a SPPrev — que administra as folhas de pagamento de pensões e aposentadorias da Administração direta e indireta do Estado de São Paulo, Assembleia Legislativa, tribunais de contas, Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e universidades públicas — decidiu suspender, no ano passado, o pagamento da pensão de 13 mil reais que lhe fazia.
A atriz impetrou mandado de segurança e venceu a causa, em primeira instância. A SPPrev deve retomar os pagamentos e, claro, suportar o retroativo. Clique aqui para conhecer maiores detalhes.
A questão que motivou esta postagem é que a SPPrev, em sua decisão administrativa, privilegiou a realidade sobre as formalidades e equiparou união estável a casamento. O Judiciário paulista, contudo, argumentando com base em regras hermenêuticas bastante conhecidas, entendeu que essa equiparação era impossível e, privilegiando aspectos formais, restabeleceu o direito à pensão.
No geral, é alentador quando o Judiciário assegura os direitos do indivíduo frente ao Estado, que é o maior inimigo do cidadão, como várias vezes afirmei aqui no blog. Mas, às vezes, uma decisão pró indivíduo pode despertar inquietações. É o caso.
É muito difícil saber quanto ganha um ator da Rede Globo. Consultei umas tantas páginas pela Internet, ficando mais atrapalhado do que esclarecido. No entanto, pareceu-me plausível a afirmação de que um ator de primeiro escalão (como presumo possa ser classificada Maitê Proença), na Globo, tem um salário em torno de 100 mil reais quando está no ar (o que é o caso), com uma redução à metade quando fora do ar. Enfim, não há dúvida de que se trata de uma brasileira privilegiada. Ela realmente necessita receber 13 mil reais por mês, suportados pelos cofres públicos paulistas, os mesmos que sustentam milhões de velhinhos aposentados e pensionistas, de exíguos rendimentos?
Mesmo que a decisão administrativa da SPPrev lhe tenha sido altamente conveniente, ela não acaba por realizar uma melhor distribuição da riqueza, em favor de quem realmente necessita?
Não estou defendendo um ponto de vista; apenas suscito um questionamento, em relação ao qual eu mesmo ainda preciso refletir um pouco mais. A ideia central, porém, é a velha discussão entre legalidade e legitimidade das decisões judiciais.
O pai de Maitê era procurador de Justiça e, ao morrer, em 1989, deixou-lhe uma pensão vitalícia, que ela perderia na hipótese de se casar. Alguns setores privilegiados, como os militares, ainda possuem esses questionáveis benefícios, que por sinal desmerecem a mulher, pois remetem a um tempo em que elas eram dependentes em tudo de seus pais ou esposos. Daí as tais pensões vitalícias: em caso de morte de seus provedores, as inúteis teriam um meio decente de sobrevivência. A revolução feminina, entretanto, curiosamente, nunca se preocupou em derrubar tais privilégios, decerto porque não vê neles nenhum demérito à imagem da mulher contemporânea.
O fato é que Maitê nunca se casou oficialmente, mas constituiu família através de união estável. Por esse motivo, a SPPrev — que administra as folhas de pagamento de pensões e aposentadorias da Administração direta e indireta do Estado de São Paulo, Assembleia Legislativa, tribunais de contas, Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e universidades públicas — decidiu suspender, no ano passado, o pagamento da pensão de 13 mil reais que lhe fazia.
A atriz impetrou mandado de segurança e venceu a causa, em primeira instância. A SPPrev deve retomar os pagamentos e, claro, suportar o retroativo. Clique aqui para conhecer maiores detalhes.
A questão que motivou esta postagem é que a SPPrev, em sua decisão administrativa, privilegiou a realidade sobre as formalidades e equiparou união estável a casamento. O Judiciário paulista, contudo, argumentando com base em regras hermenêuticas bastante conhecidas, entendeu que essa equiparação era impossível e, privilegiando aspectos formais, restabeleceu o direito à pensão.
No geral, é alentador quando o Judiciário assegura os direitos do indivíduo frente ao Estado, que é o maior inimigo do cidadão, como várias vezes afirmei aqui no blog. Mas, às vezes, uma decisão pró indivíduo pode despertar inquietações. É o caso.
É muito difícil saber quanto ganha um ator da Rede Globo. Consultei umas tantas páginas pela Internet, ficando mais atrapalhado do que esclarecido. No entanto, pareceu-me plausível a afirmação de que um ator de primeiro escalão (como presumo possa ser classificada Maitê Proença), na Globo, tem um salário em torno de 100 mil reais quando está no ar (o que é o caso), com uma redução à metade quando fora do ar. Enfim, não há dúvida de que se trata de uma brasileira privilegiada. Ela realmente necessita receber 13 mil reais por mês, suportados pelos cofres públicos paulistas, os mesmos que sustentam milhões de velhinhos aposentados e pensionistas, de exíguos rendimentos?
Mesmo que a decisão administrativa da SPPrev lhe tenha sido altamente conveniente, ela não acaba por realizar uma melhor distribuição da riqueza, em favor de quem realmente necessita?
Não estou defendendo um ponto de vista; apenas suscito um questionamento, em relação ao qual eu mesmo ainda preciso refletir um pouco mais. A ideia central, porém, é a velha discussão entre legalidade e legitimidade das decisões judiciais.
terça-feira, 13 de julho de 2010
Nossos horríveis números
A reiteração com que assaltos com reféns têm ocorrido em Belém nos proporciona mais uma deplorável exposição nacional. Reportagem anunciada na página principal do portal R7 dá conta de que, somente este ano, já foram registrados 32 casos do gênero em nossa cidade. A matéria informa, ainda, que a maioria dos envolvidos é de adolescentes, concluindo que a população vive com medo.
Isto nos remete à antiga e novamente em voga discussão acerca da redução da maioridade penal. Tenho continuamente manifestado a minha objeção e há precedentes a esse respeito aqui no blog, como este e este. Mas penso que um amigo meu tem a razão: casado com uma psicóloga que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco, e naturalmente avessa a essa ideia, ele comentou comigo outro dia que, do jeito que as coisas andam, essa redução será um fenômeno natural, dentro em breve.
Começo a achar que será, mesmo. O que me angustia é que não se chegará a isso através de um debate sereno, e sim graças à urgência, que é compreensível mas perigosa, e à irracionalidade, que é a opção comportamental do brasileiro médio. E é isso que dá medo.
Num ano eleitoral, as cabeças provavelmente não estarão voltadas para isso. Mas sempre há uma vida após as eleições...
Isto nos remete à antiga e novamente em voga discussão acerca da redução da maioridade penal. Tenho continuamente manifestado a minha objeção e há precedentes a esse respeito aqui no blog, como este e este. Mas penso que um amigo meu tem a razão: casado com uma psicóloga que trabalha com crianças e adolescentes em situação de risco, e naturalmente avessa a essa ideia, ele comentou comigo outro dia que, do jeito que as coisas andam, essa redução será um fenômeno natural, dentro em breve.
Começo a achar que será, mesmo. O que me angustia é que não se chegará a isso através de um debate sereno, e sim graças à urgência, que é compreensível mas perigosa, e à irracionalidade, que é a opção comportamental do brasileiro médio. E é isso que dá medo.
Num ano eleitoral, as cabeças provavelmente não estarão voltadas para isso. Mas sempre há uma vida após as eleições...
Entendimentos contraditórios
Quando a Lei n. 12.015, de 2009, foi promulgada no ano passado, bastava uma rápida olhada para saber que ela nos daria muitos problemas. Escrevi algumas postagens comentando brevemente as inovações, mas estava claro que precisávamos de tempo para que a nova lei fosse interpretada, mediante aplicação a casos concretos. Afinal, trata-se de uma inovação grandiosa, incidente sobre crimes que constituem, ao lado dos homicídios, roubos e narcotráfico, a grande massa dos delitos praticados no país.
Você pode ler, aqui, uma reportagem sobre controvérsias geradas pela lei, nos tribunais. Uma pequena amostra dos desafios que temos pela frente.
Você pode ler, aqui, uma reportagem sobre controvérsias geradas pela lei, nos tribunais. Uma pequena amostra dos desafios que temos pela frente.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
E o pior é que ela tem razão
A pequena Júlia é apaixonada por Toy Story, de modo que o lançamento do terceiro filme da série veio muito a calhar. Decidimos que não haveria melhor oportunidade para levá-la para a sua primeira sessão de cinema.
Executamos tal tarefa na última quinta-feira. Júlia prestou muita atenção no começo mas, com o tempo, como era previsível em relação a uma criança tão pequena, foi-se cansando. Ficou agitada, passando de um colo a outro. Procurava algo para fazer, mas tentávamos manter a sua atenção, apontando aspectos chamativos na tela. Felizmente, ficou até o final da sessão, sem chorar nem pedir para sair.
Filme terminado, já do lado de fora, conversávamos a respeito e perguntei o que ela mais tinha gostado do cinema. Júlia ergueu o olhar, pensou um pouco e disparou:
— Quando a Juju saiu de lá!
Realmente, a resposta foi lapidar, considerando que estávamos na porcaria do Moviecom e, como sempre, o lazer foi prejudicado pelos maus tratos. Até a Júlia já sacou.
Executamos tal tarefa na última quinta-feira. Júlia prestou muita atenção no começo mas, com o tempo, como era previsível em relação a uma criança tão pequena, foi-se cansando. Ficou agitada, passando de um colo a outro. Procurava algo para fazer, mas tentávamos manter a sua atenção, apontando aspectos chamativos na tela. Felizmente, ficou até o final da sessão, sem chorar nem pedir para sair.
Filme terminado, já do lado de fora, conversávamos a respeito e perguntei o que ela mais tinha gostado do cinema. Júlia ergueu o olhar, pensou um pouco e disparou:
— Quando a Juju saiu de lá!
Realmente, a resposta foi lapidar, considerando que estávamos na porcaria do Moviecom e, como sempre, o lazer foi prejudicado pelos maus tratos. Até a Júlia já sacou.
domingo, 11 de julho de 2010
Amanhecer com 35
Eu hoje acordei com 35 anos de idade. Basicamente, essa foi a mudança em relação ao dia anterior. Não, hoje não é meu aniversário. Foi ontem. Mas é que nasci às nove da manhã, por isso este domingo foi o primeiro dia que despertei já com 35.
Obviamente, afora essa questão numérica, tudo estava exatamente igual. Mas o coração acaba acariciado com as lembranças, os telefonemas, as mensagens pelo Orkut (que faço questão de responder uma a uma, dever que cumpro há anos) e uma postagem que me foi dedicada no Flanar. Isto é o que mais vale no dia do nosso aniversário: ser lembrado com carinho por pessoas que, muitas vezes, sequer encontramos, que não vemos há anos, que se mudaram para o outro lado do mundo, etc.
Quieto, sem festas, em família — assim se passou este sábado, 10 de julho. Exatamente como gosto. Vou comemorar viajando. E hoje inicio a minha caminhada rumo aos próximos anos, pedindo a Deus que me dê saúde para acompanhar e educar a minha filhota, prioridade zero agora, para tudo.
Um bom e renovado começo de semana para todos vocês.
Obviamente, afora essa questão numérica, tudo estava exatamente igual. Mas o coração acaba acariciado com as lembranças, os telefonemas, as mensagens pelo Orkut (que faço questão de responder uma a uma, dever que cumpro há anos) e uma postagem que me foi dedicada no Flanar. Isto é o que mais vale no dia do nosso aniversário: ser lembrado com carinho por pessoas que, muitas vezes, sequer encontramos, que não vemos há anos, que se mudaram para o outro lado do mundo, etc.
Quieto, sem festas, em família — assim se passou este sábado, 10 de julho. Exatamente como gosto. Vou comemorar viajando. E hoje inicio a minha caminhada rumo aos próximos anos, pedindo a Deus que me dê saúde para acompanhar e educar a minha filhota, prioridade zero agora, para tudo.
Um bom e renovado começo de semana para todos vocês.
sábado, 10 de julho de 2010
Redescobrindo o mito
Gostando ou não da figura, não há como negar — ainda mais em tempos de filminho emo bombando nos cinemas pelo mundo todo — que os vampiros despertam um fascínio grandioso e imorredouro sobre as pessoas. Não há quem não tenha ouvido falar de Drácula, embora a lenda tenha sufocado a realidade.
Muita gente ignora ou até não acredita que existiu realmente um Conde Vlad Tepes, na Transilvânia, região da Romênia, Europa Oriental, local até hoje dado a crenças no sobrenatural e no assustador. Imagine-se então na Idade Média!
Não é difícil entender como esse tipo de dinâmica funciona. Aqui no Pará, até hoje existem pessoas que acreditam, pela fé da mucura, na existência das criaturas míticas da floresta. Uma tia falecida contava, com enorme convicção, do encontro que seu pai teve com a Cobra Grande. Em suma, o imaginário popular dá um jeito de transformar as lendas numa curiosa espécie de realidade alternativa, que funcionou em níveis superlativos com o Conde Drácula.
Agora, uma exposição no Museu Nacional de Arte da Romênia, em Bucareste, pretende estudar a fundo, e com seriedade, a lendária biografia de Vlad Tepes. A intenção é demonstrar que ele não era mais do que um nobre de sua época, lutando pela defesa do território de seu povo contra turcos e húngaros. Nada de sobrenatural. Nada além do trivial daquele momento histórico. E segundo as leituras atuais, Vlad era sanguinário, sim, mas nada além do que se podia esperar, considerando as práticas da época. Modifica-se, assim, uma antiga assertiva de que a lenda de Drácula teria recaído sobre Vlad Tepes por ele ser particularmente cruel.
Revisionismo histórico, com método científico e sem prevenções. Lamento profundamente que Bucareste seja tão longe.
Muita gente ignora ou até não acredita que existiu realmente um Conde Vlad Tepes, na Transilvânia, região da Romênia, Europa Oriental, local até hoje dado a crenças no sobrenatural e no assustador. Imagine-se então na Idade Média!
Não é difícil entender como esse tipo de dinâmica funciona. Aqui no Pará, até hoje existem pessoas que acreditam, pela fé da mucura, na existência das criaturas míticas da floresta. Uma tia falecida contava, com enorme convicção, do encontro que seu pai teve com a Cobra Grande. Em suma, o imaginário popular dá um jeito de transformar as lendas numa curiosa espécie de realidade alternativa, que funcionou em níveis superlativos com o Conde Drácula.
Agora, uma exposição no Museu Nacional de Arte da Romênia, em Bucareste, pretende estudar a fundo, e com seriedade, a lendária biografia de Vlad Tepes. A intenção é demonstrar que ele não era mais do que um nobre de sua época, lutando pela defesa do território de seu povo contra turcos e húngaros. Nada de sobrenatural. Nada além do trivial daquele momento histórico. E segundo as leituras atuais, Vlad era sanguinário, sim, mas nada além do que se podia esperar, considerando as práticas da época. Modifica-se, assim, uma antiga assertiva de que a lenda de Drácula teria recaído sobre Vlad Tepes por ele ser particularmente cruel.
Revisionismo histórico, com método científico e sem prevenções. Lamento profundamente que Bucareste seja tão longe.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
Blogger cheirou pó
Não é de hoje que noto irregularidades na contagem dos comentários que tenho para ponderar. O número real frequentemente não condiz com o que está indicado. Esta semana, vários blogueiros começaram a se queixar de dificuldades para publicar os comentários, problema que não tive aqui no Arbítrio. Acabo de perceber, porém, que o problema emocional do Blogger é mais amplo: a minha lista de leitura desapareceu, como se eu não seguisse blog nenhum, embora eu siga vários.
Nada farei. Claro, sequer saberia o que fazer para resolver a loucura. Mas quero crer que, qualquer hora dessas, a instabilidade passará e tudo voltará ao normal. Não seria a primeira vez, certo?
Nada farei. Claro, sequer saberia o que fazer para resolver a loucura. Mas quero crer que, qualquer hora dessas, a instabilidade passará e tudo voltará ao normal. Não seria a primeira vez, certo?
Mudanças nos campos
Ontem publiquei uma postagem sobre três relevantes votações ocorridas no Senado, na véspera, realmente importantes para o país. Hoje, noticio uma votação ocorrida ontem, que como as demais também promete mexer com a sua vida. Tanto que, já soube, a informação está sendo repercutida pela imprensa comum.
Após quase cinco anos de tramitação, foi aprovado o Projeto de Lei Complementar 82/2009, que intensifica a punição a torcedores, por atos de violência física e moral dentro de estádios ou em seus arredores.
Evidentemente, qualquer pessoa que não seja psicopata tem interesse em coibir a violência nos estádios. Ninguém quer sair de casa para curtir o seu lazer e correr riscos a sua integridade física ou mesmo a sua vida. O bom torcedor quer ter a garantia de levar a família ao campo, sem temer nada além da derrota de seu time. No entanto, o projeto em apreço impõe algumas medidas no mínimo questionáveis.
De acordo com ele, aqueles famosos jingles ficam proibidos, se considerados ofensivos. Palavrões e xingamentos, nem pensar! A consequência pode ser a prisão do delinquente e a sua proibição de assistir a jogos por até três anos.
Mesmo sem dar a mínima para isso, penso que os xingamentos fazem parte do universo futebolístico. Não poder chamar um jogador ou o árbitro defilho da puta um nome feio é bloquear uma demanda emocional espontânea e inevitável. E aquelas musiquinhas que as galeras inventam são até divertidas, mesmo para mim, que não gosto de futebol.
Mas caso a tal lei efetivamente entre em vigor, sabe o que eu quero ver? A briosa Polícia Militar entrando no estádio e encarando uns 20 mil torcedores, entoando uma cantiga em termos impublicáveis, e dando um sonoro "teje preso!" para os caras. Estou doido para ver!
Há algum tempo, foi proibido o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, para a fúria de seus frequentadores. Eu acho corretíssimo. Agora, nem cerveja, nem cantoria. Como disse uma amiga, pelo visto eles querem transformar futebol em tênis, aquela coisa chaaaaaaaaata...
Dê a sua opinião sobre a nova movimentação do Senado da República.
PS — Como não entendo e nem quero entender nada de futebol, pedi orientação a terceiros acerca de uma imagem para ilustrar esta postagem. Ele me recomendou uma imagem com torcedores do Flamengo. Não sei qual a razão. Vocês que me digam.
Após quase cinco anos de tramitação, foi aprovado o Projeto de Lei Complementar 82/2009, que intensifica a punição a torcedores, por atos de violência física e moral dentro de estádios ou em seus arredores.
Evidentemente, qualquer pessoa que não seja psicopata tem interesse em coibir a violência nos estádios. Ninguém quer sair de casa para curtir o seu lazer e correr riscos a sua integridade física ou mesmo a sua vida. O bom torcedor quer ter a garantia de levar a família ao campo, sem temer nada além da derrota de seu time. No entanto, o projeto em apreço impõe algumas medidas no mínimo questionáveis.
De acordo com ele, aqueles famosos jingles ficam proibidos, se considerados ofensivos. Palavrões e xingamentos, nem pensar! A consequência pode ser a prisão do delinquente e a sua proibição de assistir a jogos por até três anos.
Mesmo sem dar a mínima para isso, penso que os xingamentos fazem parte do universo futebolístico. Não poder chamar um jogador ou o árbitro de
Mas caso a tal lei efetivamente entre em vigor, sabe o que eu quero ver? A briosa Polícia Militar entrando no estádio e encarando uns 20 mil torcedores, entoando uma cantiga em termos impublicáveis, e dando um sonoro "teje preso!" para os caras. Estou doido para ver!
Há algum tempo, foi proibido o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios, para a fúria de seus frequentadores. Eu acho corretíssimo. Agora, nem cerveja, nem cantoria. Como disse uma amiga, pelo visto eles querem transformar futebol em tênis, aquela coisa chaaaaaaaaata...
Dê a sua opinião sobre a nova movimentação do Senado da República.
PS — Como não entendo e nem quero entender nada de futebol, pedi orientação a terceiros acerca de uma imagem para ilustrar esta postagem. Ele me recomendou uma imagem com torcedores do Flamengo. Não sei qual a razão. Vocês que me digam.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Senado brasileiro trabalhando (e para o bem!)
Sob outras circunstâncias, eu diria que o brasileiro médio, envenenado por essa paixão doentia por futebol, deixou de tomar conhecimento de acontecimentos importantes do dia de ontem. Mas a seleção brasileira já foi eliminada e, mesmo assim, os brasileiros não tomaram conhecimento desses eventos, que mexem com a vida de todos nós. Ou seja, é muito difícil ter esperança de que esta porra grande nação um dia alcançará o seu tão decantado glorioso destino.
Mas, enquanto isso, alguns tímidos, porém valiosos, passos são dados.
O Senado Federal, que volta e meia se lembra de trabalhar em questões importantes para o país, ontem arregaçou as mangas e tomou algumas deliberações de nosso maior interesse:
Mas, enquanto isso, alguns tímidos, porém valiosos, passos são dados.
O Senado Federal, que volta e meia se lembra de trabalhar em questões importantes para o país, ontem arregaçou as mangas e tomou algumas deliberações de nosso maior interesse:
- Aprovou, em primeiro turno, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 64/2007, que aumenta para 180 dias a licença-maternidade para todas as brasileiras, independentemente da concessão de benefícios fiscais às empresas, como já autorizado pela Lei n. 11.770, de 2008. Este tema já foi mencionado várias vezes aqui no blog, em postagens sempre batizadas de "Seis meses para uma vida".
- Aprovou a PEC 28/2009, que dá aos brasileiros acesso ao divórcio direto, sem a necessária separação judicial prévia (com o interstício de um ano). Mais uma vez, os religiosos atrapalharam, mas no final a PEC foi aprovada já em segundo turno, de modo que falta apenas a sua promulgação para a nova regra entrar em vigor.
- Aprovou em segundo turno e por unanimidade, para gáudio dos brasileiros, a PEC 89/2003, que elimina uma das grandes imoralidades deste país. Hoje, a máxima punição que se pode aplicar sobre um magistrado infrator é a aposentadoria compulsória, com proventos proporcionais ao tempo de serviço. Uma punição que é um afago. Mas com a PEC, acaba essa hipótese de aposentadoria e o magistrado pode perder o cargo por simples decisão administrativa, com o quórum de dois terços do tribunal a que estiver vinculado. A mesma regra valerá para o Ministério Público.
O que há na mente
Minha mãe, que parece nunca ter compreendido plenamente as implicações do fato de eu ser um penalista, ficou incomodada, certa vez, ao ver a quantidade de livros que tenho sobre mentes criminosas, psicopatas, Medicina Legal (e suas fotografias!) e congêneres. Como boa mãezinha que é, preocupou-se com os efeitos desse tipo de leitura sobre o meu espírito. Ela não sabe para que preciso de tudo isso.
Pois bem, não tendo formação em Psicologia, preciso dessas leituras para tentar entender, minimamente, o que se passa dentro da cabeça de gente como esse tal de Bruno, protagonista do atual escândalo criminal do país. Não se trata de entender para fins estritamente profissionais — usar o episódio como exemplo em minhas aulas, ou mesmo fazer um estudo de caso. Algo com tamanha repercussão sempre motiva o alunado e facilita a abordagem de certos temas, tais como concurso de agentes, responsabilidade do adolescente infrator, o já demolido mito do sem-cadáver-não-há-crime e outros.
O meu interesse principal é tentar entender essas criaturas para a minha vida, mesmo. Para aprender a suspeitar de sinais e, quem sabe, conseguir proteger a mim e às pessoas que amo de gente parecida, quanto seja possível.
Suspeito n. 1 desde o primeiro momento, o sujeito sempre negou qualquer envolvimento com o desaparecimento e provável homicídio da vítima. E sempre manteve a calma, apesar de provas relevantes indicarem o contrário (sangue em seu automóvel, p. ex.). Passados vários dias de intensa exploração midiática, o sujeito concedeu uma coletiva negando tudo e se fazendo de desentendido. Aí surgiram as testemunhas, os coautores e as confissões. Mesmo assim, o advogado do goleiro ainda afirmava que seu constituinte estava "estarrecido" com a absurda versão do adolescente envolvido.
Com as mais recentes descobertas, que revelaram não apenas o homicídio, mas a destruição do cadáver em condições de violência superlativa, foi decretada a prisão temporária do suspeito que, por demais conhecido, não teria grandes condições de manter-se foragido. A solução foi negociar a entrega "espontânea", o que ocorreu ontem, no final da tarde. E após a prisão, em contato com a imprensa, o que declarou Bruno? Ele está preocupado com a sua provável futura condenação? Com a vítima? Com a criança órfã? Não. Ele está chateado porque sua esperança de jogar na copa do mundo de 2014 acabou...
Talvez Bruno não seja um psicopata. Talvez seja uma pessoa com desenvolvimento intelecto-emocional interrompido, uma espécie de adulto cuja mente estagnou na infância. Com isso, além de não saber lidar com a frustração e reagir fazendo tolices (que, no adulto, evoluem para violências), não compreende a extensão e as reais consequências de seus atos. Além disso, move-se com atenção voltada para objetivos imediatistas, p. ex. jogar na copa. A Psicologia pode explicar isso. Aprender o funcionamento dessa tortuosa dinâmica poderia ser útil para todos nós.
Instruído por seu advogado, Bruno não falou sobre o crime. Só falará em juízo. Melhor assim. Jogador de futebol, quando abre a boca, dá nisso.
Agora é aguardar o encerramento das investigações, conduzidas em Minas Gerais por um delegada arretada, e a futura ação penal. A supercobertura criminal da imprensa, que teve nos casos Isabella Nardoni e Eloá Pimentel grandes expoentes, já tem o seu novo filão.
Pois bem, não tendo formação em Psicologia, preciso dessas leituras para tentar entender, minimamente, o que se passa dentro da cabeça de gente como esse tal de Bruno, protagonista do atual escândalo criminal do país. Não se trata de entender para fins estritamente profissionais — usar o episódio como exemplo em minhas aulas, ou mesmo fazer um estudo de caso. Algo com tamanha repercussão sempre motiva o alunado e facilita a abordagem de certos temas, tais como concurso de agentes, responsabilidade do adolescente infrator, o já demolido mito do sem-cadáver-não-há-crime e outros.
O meu interesse principal é tentar entender essas criaturas para a minha vida, mesmo. Para aprender a suspeitar de sinais e, quem sabe, conseguir proteger a mim e às pessoas que amo de gente parecida, quanto seja possível.
Suspeito n. 1 desde o primeiro momento, o sujeito sempre negou qualquer envolvimento com o desaparecimento e provável homicídio da vítima. E sempre manteve a calma, apesar de provas relevantes indicarem o contrário (sangue em seu automóvel, p. ex.). Passados vários dias de intensa exploração midiática, o sujeito concedeu uma coletiva negando tudo e se fazendo de desentendido. Aí surgiram as testemunhas, os coautores e as confissões. Mesmo assim, o advogado do goleiro ainda afirmava que seu constituinte estava "estarrecido" com a absurda versão do adolescente envolvido.
Com as mais recentes descobertas, que revelaram não apenas o homicídio, mas a destruição do cadáver em condições de violência superlativa, foi decretada a prisão temporária do suspeito que, por demais conhecido, não teria grandes condições de manter-se foragido. A solução foi negociar a entrega "espontânea", o que ocorreu ontem, no final da tarde. E após a prisão, em contato com a imprensa, o que declarou Bruno? Ele está preocupado com a sua provável futura condenação? Com a vítima? Com a criança órfã? Não. Ele está chateado porque sua esperança de jogar na copa do mundo de 2014 acabou...
Talvez Bruno não seja um psicopata. Talvez seja uma pessoa com desenvolvimento intelecto-emocional interrompido, uma espécie de adulto cuja mente estagnou na infância. Com isso, além de não saber lidar com a frustração e reagir fazendo tolices (que, no adulto, evoluem para violências), não compreende a extensão e as reais consequências de seus atos. Além disso, move-se com atenção voltada para objetivos imediatistas, p. ex. jogar na copa. A Psicologia pode explicar isso. Aprender o funcionamento dessa tortuosa dinâmica poderia ser útil para todos nós.
Instruído por seu advogado, Bruno não falou sobre o crime. Só falará em juízo. Melhor assim. Jogador de futebol, quando abre a boca, dá nisso.
Agora é aguardar o encerramento das investigações, conduzidas em Minas Gerais por um delegada arretada, e a futura ação penal. A supercobertura criminal da imprensa, que teve nos casos Isabella Nardoni e Eloá Pimentel grandes expoentes, já tem o seu novo filão.
quarta-feira, 7 de julho de 2010
Brinquedos de verdade
Atualmente, vou pouco ao cinema. Desde que minha filha nasceu, meu tempo livre é reservado acima de tudo para ela, de modo que o prazer de uma boa sessão cinematográfica foi ficando para trás. Aliás, já ficara de qualquer forma, porque em Belém não existe cinema, só aquela bostaporcaria do Moviecom, já retratado em diversas postagens aqui do blog. Mas não falemos nisso. O foco, agora, consiste em deixar uma breve impressão sobre Toy Story 3, declaradamente o capítulo final de uma saga criada pela insuperável empresa de filmes de animação Pixar.
Toy Story 3 (dir. Lee Unkrich, 2010), cuja estreia mundial se deu em 18 de junho passado, é a prova da excelência de um projeto. Não se trata, como pensariam os incautos, de um simples conjunto de animações infantis, destinado a gerar renda para a esfomeada indústria cinematográfica estadunidense. É, de fato, uma saga, porque constroi detalhadamente personagens (os chamados personagens "redondos", dotados de complexidade psicológica), cujas trajetórias são mostradas no tempo, de modo coerente e com uma lucidez à primeira vista inesperada numa obra cujo público-alvo, em princípio, são crianças.
Frequentemente discordo das opiniões do crítico Pablo Villaça, que ficou muito marrento nos últimos anos (doença que parece acometer todos os críticos de cinema; aliás, de qualquer coisa), mas concordei com sua entusiasmada paixão por este filme.
Dois de seus comentários são irretocáveis: se você revê a cara de um personagem surgir na tela e isso lhe proporciona uma sensação de reencontro, de alegria, é porque aquele elemento ficcional foi bem sucedido na tarefa de cativá-lo. O segundo acerto está na afirmação de que a obra em apreço é "uma montanha-russa emocional de fazer inveja a muitos projetos voltados ao público adulto".
Vamos por partes.
O primeiro Toy Story (dir. John Lasseter) data de 1995. Oficialmente, é considerado como o primeiro longametragem totalmente feito por computação gráfica, porque Hollywood não toma conhecimento do brasileiro Cassiopeia (dir. Clóvis Vieira, lançado apenas em 1996). E é o primeiro filme feito pela Pixar em parceria com a Walt Disney Pictures. Esta última é mais famosa perante o público leigo, mas tenho minhas razões para afirmar que os méritos da agora trilogia são tributáveis à Pixar, esta sim boa em contar histórias.
Toy Story 2, também de Lasseter, é de 1999. Ou seja, não necessariamente com a intenção prévia de fazer uma trilogia (política da moda já há alguns anos), e sem se deixar dominar pelo objetivo de lucrar com o sucesso do primeiro filme e com as vendas de produtos licenciados, os produtores esperaram quatro anos para lançar o segundo. E esperaram mais de dez anos para lançar o terceiro. Tempo suficiente para maturar ideais e produzir um roteiro que é mais do que simples entretenimento. E o fato de, na trama, terem se passado justamente dez anos e vermos o principal personagem humano, Andy, aos 17, a caminho da universidade, dá uma curiosa veracidade ao enredo.
Como não sou crítico e nada entendo de cinema, o que me faz gostar ou não de um filme é um aspecto mais restrito: a história é boa? Nada sei sobre fotografia, cores, planos, movimentos de câmera e outros quetais. Posso avaliar, apenas, se a história é bem contada, se convence, se emociona. E aqui estamos diante de um espetáculo.
Aviso de spoilers: se não viu os filmes mencionados, não prossiga na leitura.
O roteirista Michael Arndt tem em seu currículo o adorável Pequena Miss Sunshine (dir. Jonathan Dayton e Valerie Faris, EUA, 2006), que mostra uma família quase arruinada pelos delírios de grandeza do pai, pelas bizarrices do filho adolescente e pela aparente incapacidade da mãe de lidar com a situação, além das dificuldades econômicas que enfrentam e pela inesperada chegada de um tio que acabou de tentar o suicídio devido a uma frustração amorosa homossexual. Em meio a isso, um avô sem noção permite que a pequena Olive conserve as fantasias da infância. Os dois doidinhos, assim, talvez sejam os mais lúcidos da história. E a obsessão pelo sucesso, imposta pelo american way of life, leva essa família, que não chega a se detestar, mas que com certeza não se reconhece, a uma improvável viagem de Kombi em torno de um objetivo comum. Ao final, ainda que derrotados e com uma importante baixa, a família se redescobriu.
Arndt, portanto, era perfeito para escrever Toy Story 3. O mundo improvável de brinquedos que são seres vivos e conscientes, dotados de personalidade claramente definida, ganha verossimilhança, chegando mesmo ao ponto de permitir oportunas análises sociológicas. Veja-se o caso de Lotso, ursinho de pelúcia com cheiro de morango (em destaque, no centro da imagem 3). É um autêntico sociopata: escondido sob uma capa amistosa, de uma liderança conquistada graças à pureza de seus ideais, vive um monstro, criado a partir de um trauma emocional decorrente de uma rejeição. E não é exatamente assim que acontece? Não é, também, graças a traumas, abandonos e violências que nasce boa parte dos criminosos nossos de todo dia?
Lotso divide os brinquedos que habitam a sala onde brincam as pacíficas crianças maiores e os condenados a padecer nas mãos das pequenas, que destroem, riscam, batem e babam. Não é essa uma metáfora das divisões de classe, que conhecemos na vida real? No filme, os pobres, os desvalidos, os menos instruídos são representados pelos brinquedos novos, que precisam viver uma longa provação até demonstrar mérito para mudar de sala, mas esse mérito na verdade consiste em cair nas graças do pequeno núcleo de poderosos: Lotso e seu séquito. É quase um esquema mafioso, no qual a elite segue sem questionar as ordens de quem arrebatou o poder e a maioria vive sem saber por quê, achando que as coisas são do jeito que são por alguma ordem natural do universo.
Não falta um personagem, o Bebezão, que representa o braço armado do capo. Uma espécie de polícia, que faz o trabalho sujo. Infradotado intelectualmente, mas grande e forte, é manipulado pelo líder, sem perceber que não passa de um joguete em suas mãos. No dia em que o contraria, é humilhado e descartado como todos os demais.
Acredite, Toy Story 3 permite uma grande reflexão sobre o mundo em que vivemos.
A certa altura, cumprindo a função de clímax emocional que consta da cartilha de roteiros de Hollywood, todos os nossos protagonistas são postos numa situação limite: a iminência da morte, que se apresenta como uma realidade inevitável e grotesca, porque serão incinerados. Numa cena que promete entrar para a história do cinema como uma das mais dramáticas já realizadas, eles aceitam o destino que não podem mudar e se dão as mãos. Nessa hora, confesso, irritei-me com o estilo Disney de contar histórias (chore, chore, chore sem parar!). E a receita funciona. Ao meu lado, Polyana chorava copiosamente. Mas, convenhamos, se tudo é ficção, qual a diferença entre um personagem brinquedo e um personagem humano? Se você realmente se importa com aquelas criaturas, por que não extravasar a angústia?
É óbvio que, no fim, os nossos queridos protagonistas são salvos, novos personagens graciosos são introduzidos (mais produtos licenciados...) e todos terminamos sorrindo. Mas há uma emoção final, grande, quando Andy rompe com sua infância, no sentido de aceitar o fato de estar se tornando adulto, e doa todos os seus brinquedos remanescentes, inclusive Woody, que pretendia levar para a universidade, para Bonnie, uma menina concebida para virar a nova paixão do público. Somente com uma Bonnie entrando em cena podemos suportar a dor de uma separação esperada, mas mesmo assim difícil de enfrentar.
Se não viu, veja. Se já viu, veja de novo, com um outro olhar. Toy Story 3 é uma experiência intensa e difícil de repetir. Uma autêntica obra-prima.
Férias... para planejar
Somente ontem à noite, e não sem atropelos, consegui vencer uma etapa de uma pendência chata que me ocupará por ainda algum tempo. Com isso, fico com a cabeça mais arejada e mais tempo disponível para, enfim, ocupar-me do planejamento de minha viagem de férias, que se iniciará daqui a apenas dez dias. Ou seja, estando no intervalo das atividades acadêmicas, à exceção das obrigações do outro emprego, tudo é lazer, certo?
Não exatamente. Durante o semestre letivo, executamos um planejamento que só pode ser feito antes, em geral nos meses de janeiro e de julho. Como passarei duas semanas fora e dois dias após o meu retorno à cidade já estarei de volta à sala de aula, adivinhe? O planejamento para o segundo semestre letivo de 2010 tem que ser feito já.
Daqui a 26 dias iniciarei um novo ciclo, com duas novas turmas de Penal I. Se tudo correr dentro do esperado, será o começo de uma convivência de dois anos, nas quais repetirei um conteúdo, mas não preciso e não quero, de modo algum, repetir o que já foi feito. Quero novos métodos, novos trabalhos, novas abordagens, novas referências bibliográficas. Quero muita coisa nova, principalmente o aspecto propriamente operacional, em sala de aula. Quero ser mais eficiente. Comprei livros novos, que tenho examinado sob duas perspectivas: para elaboração de aulas e para indicação de leituras de suporte.
Satisfeito com a conclusão do semestre passado, estou animado e cheio de ideias. Se conseguir realizar metade delas, valerá muito a pena.
Não exatamente. Durante o semestre letivo, executamos um planejamento que só pode ser feito antes, em geral nos meses de janeiro e de julho. Como passarei duas semanas fora e dois dias após o meu retorno à cidade já estarei de volta à sala de aula, adivinhe? O planejamento para o segundo semestre letivo de 2010 tem que ser feito já.
Daqui a 26 dias iniciarei um novo ciclo, com duas novas turmas de Penal I. Se tudo correr dentro do esperado, será o começo de uma convivência de dois anos, nas quais repetirei um conteúdo, mas não preciso e não quero, de modo algum, repetir o que já foi feito. Quero novos métodos, novos trabalhos, novas abordagens, novas referências bibliográficas. Quero muita coisa nova, principalmente o aspecto propriamente operacional, em sala de aula. Quero ser mais eficiente. Comprei livros novos, que tenho examinado sob duas perspectivas: para elaboração de aulas e para indicação de leituras de suporte.
Satisfeito com a conclusão do semestre passado, estou animado e cheio de ideias. Se conseguir realizar metade delas, valerá muito a pena.
terça-feira, 6 de julho de 2010
Fada do pipo — parte final
A quem tiver interesse em ler, esta postagem é continuação de uma outra.
Continuando a historinha-de-como-a-Júlia-largou-o-pipo, relembro que ela dormiu superbem na primeira noite, depois de dar seus pipos à fada, toda feliz e contente.
No dia seguinte, acordou às 6h da manhã (coisa que ela já não faz muito frequentemente) mas, ao ser colocada na nossa cama, adormeceu novamente (mesmo sem pipo, o que me surpreendeu!) até umas 7h45. Nesse momento, ela foi acordada pelo papai, que já estava de saída para o trabalho e queria ver a reação dela com o prêmio (que, diga-se de passagem, ela não sabia que ia ganhar; não acho certo subornar a criança assim tão descaradamente).
Perguntamos a Juju se ela lembrava da fada do pipo e apontamos a boneca em cima da estante. Trouxemos a boneca até ela, fazendo brincadeiras e dissemos a ela que, como ela conseguiu dormir a noite toda sem pipo, merecia um prêmio, que estava na sacola da fada. Incentivamos a Júlia a pôr a mão na sacola e quando ela descobriu os bonequinhos (Woody, Buzz Lightyear e outros do desenho Toy Story que ela a-do-ra) ficou toda serelepe, dizendo "oooolhaaaa, é o Woody!" e outras coisinhas assim.
Tudo corria às mil maravilhas, até chegar a hora da soneca da tarde. Nessa hora, ela pediu o pipo, chorou, jogou o paninho (uma fralda de pano com que ela dormia) e a Jessie (outra boneca do Toy Story que ela já tinha) no chão, não quis dormir de jeito nenhum. Normalmente, a Júlia dorme logo depois do almoço, lá pelas 13h, 13h30. Nesse dia, só a pusemos pra dormir de novo depois do lanche da tarde, às 16h30, e ela dormiu de cansaço, reclamando.
Foram dias difíceis, em que a Júlia, com o sono da tarde prejudicado, ficou de mau humor, reclamona, dizia "não!" pra tudo. Mas o que mais me preocupou foi que ela parou de querer o paninho e a Jessie pra dormir. Coisa estranha né, mas eu me explico. Toda criança tem objetos de segurança que usa pra se acalmar e adormecer na hora do sono. Os da Júlia eram o pipo, o pano e, mais recentemente, a Jessie. Com a ausência do pipo, ela parecia ter raiva dos outros e passou a jogar o paninho toda vez que oferecíamos, e se afastou da Jessie. Ela adormecia de cansada, "sozinha", e magoada. E aí acordava do mesmo jeito. Às vezes eu achava que tinham substituído a minha filha por outra. Também pensei na tal fase "terrível" dos 2 anos.
Uma semana depois da visita da fada do pipo, a Júlia já adormecia no seu horário normal, com o paninho e a boneca Jessie. Nunca mais tinha mencionado a fada, até este dia, quando falou que tinha dado o pipo pra fada do pipo e ganhado os bonecos. E, aparentemente, superou. Já acorda mais bem humorada, brinca melhor e dorme à tarde regularmente. Só ficou mais viciada em histórias pra dormir, e está com o humor mais sensível do que tinha antes.
Esperei este tempo para escrever de novo porque queria ver a evolução da situação. Mas, parece que tudo correu bem. A quem quiser aplicar o método da fada do pipo que descrevi nos dois post, dou alguns conselhos: faça-o num momento de tranquilidade, nas férias por exemplo (nada de aproveitar o início das aulas, principalmente se for a primeira vez, chegada de gente nova, ou partidas), e com a criança saudável (sem gripes, dores, etc.). E tenha paciência, sem achar que é bobagem, frescura ou exagero. O pipo é um objeto com o qual a criança tem uma relação muito intensa, é uma fonte de segurança e aconchego, é importante pra ela. Você só precisa mostrar a ela que não é a única.
Continuando a historinha-de-como-a-Júlia-largou-o-pipo, relembro que ela dormiu superbem na primeira noite, depois de dar seus pipos à fada, toda feliz e contente.
No dia seguinte, acordou às 6h da manhã (coisa que ela já não faz muito frequentemente) mas, ao ser colocada na nossa cama, adormeceu novamente (mesmo sem pipo, o que me surpreendeu!) até umas 7h45. Nesse momento, ela foi acordada pelo papai, que já estava de saída para o trabalho e queria ver a reação dela com o prêmio (que, diga-se de passagem, ela não sabia que ia ganhar; não acho certo subornar a criança assim tão descaradamente).
Perguntamos a Juju se ela lembrava da fada do pipo e apontamos a boneca em cima da estante. Trouxemos a boneca até ela, fazendo brincadeiras e dissemos a ela que, como ela conseguiu dormir a noite toda sem pipo, merecia um prêmio, que estava na sacola da fada. Incentivamos a Júlia a pôr a mão na sacola e quando ela descobriu os bonequinhos (Woody, Buzz Lightyear e outros do desenho Toy Story que ela a-do-ra) ficou toda serelepe, dizendo "oooolhaaaa, é o Woody!" e outras coisinhas assim.
Tudo corria às mil maravilhas, até chegar a hora da soneca da tarde. Nessa hora, ela pediu o pipo, chorou, jogou o paninho (uma fralda de pano com que ela dormia) e a Jessie (outra boneca do Toy Story que ela já tinha) no chão, não quis dormir de jeito nenhum. Normalmente, a Júlia dorme logo depois do almoço, lá pelas 13h, 13h30. Nesse dia, só a pusemos pra dormir de novo depois do lanche da tarde, às 16h30, e ela dormiu de cansaço, reclamando.
Foram dias difíceis, em que a Júlia, com o sono da tarde prejudicado, ficou de mau humor, reclamona, dizia "não!" pra tudo. Mas o que mais me preocupou foi que ela parou de querer o paninho e a Jessie pra dormir. Coisa estranha né, mas eu me explico. Toda criança tem objetos de segurança que usa pra se acalmar e adormecer na hora do sono. Os da Júlia eram o pipo, o pano e, mais recentemente, a Jessie. Com a ausência do pipo, ela parecia ter raiva dos outros e passou a jogar o paninho toda vez que oferecíamos, e se afastou da Jessie. Ela adormecia de cansada, "sozinha", e magoada. E aí acordava do mesmo jeito. Às vezes eu achava que tinham substituído a minha filha por outra. Também pensei na tal fase "terrível" dos 2 anos.
Uma semana depois da visita da fada do pipo, a Júlia já adormecia no seu horário normal, com o paninho e a boneca Jessie. Nunca mais tinha mencionado a fada, até este dia, quando falou que tinha dado o pipo pra fada do pipo e ganhado os bonecos. E, aparentemente, superou. Já acorda mais bem humorada, brinca melhor e dorme à tarde regularmente. Só ficou mais viciada em histórias pra dormir, e está com o humor mais sensível do que tinha antes.
Esperei este tempo para escrever de novo porque queria ver a evolução da situação. Mas, parece que tudo correu bem. A quem quiser aplicar o método da fada do pipo que descrevi nos dois post, dou alguns conselhos: faça-o num momento de tranquilidade, nas férias por exemplo (nada de aproveitar o início das aulas, principalmente se for a primeira vez, chegada de gente nova, ou partidas), e com a criança saudável (sem gripes, dores, etc.). E tenha paciência, sem achar que é bobagem, frescura ou exagero. O pipo é um objeto com o qual a criança tem uma relação muito intensa, é uma fonte de segurança e aconchego, é importante pra ela. Você só precisa mostrar a ela que não é a única.
Mulheres demais mortas
Entre 1997 e 2007, dez mulheres foram assassinadas no Brasil por dia. Não há razões para supormos que, de 2007 para cá, houve retração nos índices de violência contra a mulher, inclusive no que tange a homicídios. Não apenas por conta dos casos que estão na mídia neste momento (Eliza Samudio em Minas Gerais, Ana Karízia aqui no Pará), mas porque, se fizermos uma retrospectiva, encontraremos inúmeros casos, que passam por Eloá Pimentel mais recentemente, Sandra Gomide mais antigamente e Maria da Penha Maia Fernandes, ainda mais antigamente, sendo esta última a razão de ser do apelido dado à Lei n. 11.340, de 2006.
Se quisermos folhear as páginas policiais e dar atenção às anônimas, os números decerto nos maltratarão.
O fato é que, a despeito de tudo que se faz e diz, o brasileiro ainda está longe de abdicar de uma ideologia machista, inacreditavelmente presente e renovada todos os dias.
Quantas mulheres mais precisam morrer para que, enfim, comecemos a mudar?
Se quisermos folhear as páginas policiais e dar atenção às anônimas, os números decerto nos maltratarão.
O fato é que, a despeito de tudo que se faz e diz, o brasileiro ainda está longe de abdicar de uma ideologia machista, inacreditavelmente presente e renovada todos os dias.
Quantas mulheres mais precisam morrer para que, enfim, comecemos a mudar?
Esgotado
Sei que falar sempre da mesma coisa enche o saco, por isso me comprometo com vocês que esta será a minha última postagem sobre este tema.
A Rede Celpa, a energia do Pará, aprontou de novo. Ontem, por volta de 21h50, a luz apagou. Após um curto tempo, ela retornou, mas não completamente. Voltou apenas uma fase. E mesmo assim com uma oscilação absurda. Eu estava na cozinha e acompanhava o relógio do micro-ondas: os números ora apareciam nitidamente, ora pálidos, ora se apagavam. A lâmpada se fortalecia e depois reduzia. Essa palhaçada persistiu por mais de uma hora quando, enfim, a energia se foi de vez, para retornar somente a 1h10 da madrugada.
Em suma, 3 horas e 20 minutos de sufoco. E sufoco mesmo, já que a noite, quente e abafada, nos impôs um tremendo mal estar. Eu ainda tenho a sorte de morar numa casa de dois andares, cercada de casas térreas. Deixei todas as janelas e a portas de uma sacada aberta, para usufruir de minhas chances de receber ventilação e, mesmo assim, o sofrimento persistiu, porque em Belém quase não venta. À uma da madrugada estava eu de pé, escostado à janela, tentando receber uma réstia de vento, dominado por um ódio tal que me impedia de relaxar para tentar dormir.
Sofremos nossa primeira baixa: um estabilizador queimou. Pelo menos, só o estabilizador. Que eu saiba e por enquanto.
Júlia, resfriada, estava com dificuldade para respirar e sofreu bastante, por causa do calor. Cada vez que ela choramingava, eu pensava em matar algum diretor da Rede Celpa. Mas como sou civilizado demais para partir às vias de fato, a solução terá que ser republicana. A partir de hoje, estou em estudos para processar essa empresinha de quinta categoria. Nem que precise ser uma ação individual, eu contra a Rede Celpa. Que seja.
É isso ou é uma apoplexia.
Antecedentes criminais:
http://yudicerandol.blogspot.com/2010/07/sem-energia-so-para-variar.html
http://yudicerandol.blogspot.com/2010/03/sem-energia-de-novo.html
A Rede Celpa, a energia do Pará, aprontou de novo. Ontem, por volta de 21h50, a luz apagou. Após um curto tempo, ela retornou, mas não completamente. Voltou apenas uma fase. E mesmo assim com uma oscilação absurda. Eu estava na cozinha e acompanhava o relógio do micro-ondas: os números ora apareciam nitidamente, ora pálidos, ora se apagavam. A lâmpada se fortalecia e depois reduzia. Essa palhaçada persistiu por mais de uma hora quando, enfim, a energia se foi de vez, para retornar somente a 1h10 da madrugada.
Em suma, 3 horas e 20 minutos de sufoco. E sufoco mesmo, já que a noite, quente e abafada, nos impôs um tremendo mal estar. Eu ainda tenho a sorte de morar numa casa de dois andares, cercada de casas térreas. Deixei todas as janelas e a portas de uma sacada aberta, para usufruir de minhas chances de receber ventilação e, mesmo assim, o sofrimento persistiu, porque em Belém quase não venta. À uma da madrugada estava eu de pé, escostado à janela, tentando receber uma réstia de vento, dominado por um ódio tal que me impedia de relaxar para tentar dormir.
Sofremos nossa primeira baixa: um estabilizador queimou. Pelo menos, só o estabilizador. Que eu saiba e por enquanto.
Júlia, resfriada, estava com dificuldade para respirar e sofreu bastante, por causa do calor. Cada vez que ela choramingava, eu pensava em matar algum diretor da Rede Celpa. Mas como sou civilizado demais para partir às vias de fato, a solução terá que ser republicana. A partir de hoje, estou em estudos para processar essa empresinha de quinta categoria. Nem que precise ser uma ação individual, eu contra a Rede Celpa. Que seja.
É isso ou é uma apoplexia.
Antecedentes criminais:
http://yudicerandol.blogspot.com/2010/07/sem-energia-so-para-variar.html
http://yudicerandol.blogspot.com/2010/03/sem-energia-de-novo.html
Por um Exército mais humano
Este blog defende todas as causas verdadeiramente humanitárias. Hoje, acabou de encontrar mais uma.
Precisamos fazer uma mobilização internacional em favor dos seis soldados israelenses flagrados fazendo uma dancinha sobre um tal hit do momento, de uma cantora da qual jamais ouvi falar. Mas tanto faz. Impende considerar que os soldados são jovens de 18 e 19 anos. Soldados, sim, mas jovens, no começo da vida, oprimidos pela pressão de pertencer a um dos mais bem treinados e violentos exércitos do mundo — carreira que, em Israel, você não abraça porque quer.
Convenhamos: os rapazes apenas dançaram! Dançaram mal, sem o menor traquejo, com a desenvoltura de um tronco de árvore, mas ficou até engraçado. A imagem escolhida para ilustrar esta postagem é a parte final, quando eles saem de mãos dadas. Tão bonitinho...
Eu até entendo que os israelenses estejam indignados e temerosos de cair no ridículo, perante os palestinos, sobretudo. Mas tenho um milhão de prevenções contra as ideologias militares, por isso conclamo a comunidade internacional a defender esses garotos. Sabe lá o que é ser punido por indisciplina pelo Exército de Israel!
A comunidade internacional já se mobilizou contra o casamento arranjado de ciganos na pré-adolescência; já se mobilizou contra o Judiciário italiano quando ele decidiu que uma mulher vestindo calças jeans não pode ser estuprada. Então por que não defender os meninos soldados de Israel?
Precisamos fazer uma mobilização internacional em favor dos seis soldados israelenses flagrados fazendo uma dancinha sobre um tal hit do momento, de uma cantora da qual jamais ouvi falar. Mas tanto faz. Impende considerar que os soldados são jovens de 18 e 19 anos. Soldados, sim, mas jovens, no começo da vida, oprimidos pela pressão de pertencer a um dos mais bem treinados e violentos exércitos do mundo — carreira que, em Israel, você não abraça porque quer.
Convenhamos: os rapazes apenas dançaram! Dançaram mal, sem o menor traquejo, com a desenvoltura de um tronco de árvore, mas ficou até engraçado. A imagem escolhida para ilustrar esta postagem é a parte final, quando eles saem de mãos dadas. Tão bonitinho...
Eu até entendo que os israelenses estejam indignados e temerosos de cair no ridículo, perante os palestinos, sobretudo. Mas tenho um milhão de prevenções contra as ideologias militares, por isso conclamo a comunidade internacional a defender esses garotos. Sabe lá o que é ser punido por indisciplina pelo Exército de Israel!
A comunidade internacional já se mobilizou contra o casamento arranjado de ciganos na pré-adolescência; já se mobilizou contra o Judiciário italiano quando ele decidiu que uma mulher vestindo calças jeans não pode ser estuprada. Então por que não defender os meninos soldados de Israel?
Malinagens da CTBel
Finalmente o Ministério Público estadual resolveu ouvir a tal voz rouca das ruas e prestar atenção à Companhia de Trânsito de Belém, a famigerada CTBel. Através do combativo promotor de justiça Benedito Wilson Sá, foi instaurado um procedimento para averiguar como foi possível aumentar o número de agentes de trânsito, de 46 para 148, sem concurso público. Além do problema relativo à forma de ingresso no serviço público, há também a questão da qualificação técnica. Esses novos agentes não estariam capacitados para a função e, segundo notícias chegadas ao Parquet, alguns seriam semianalfabetos.
São de arrepiar os exemplos de supostas infrações, que foram objeto de multa. Coisas como multar carros estacionados em garagens!
A assessoria de comunicação da CTBel se pronunciou, afirmando que a fiscalização de trânsito é feita por agentes concursados ou por guardas municipais transferidos por meio de convênio, de modo que também são concursados. Com efeito, guardas municipais ingressaram no serviço público por via legal, mas essa não é toda a questão. Eles não têm competência (tanto no sentido jurídico quanto no usual) para exercer a missão precípua da CTBel. Filio-me à corrente que sustenta que autuações procedidas por guardas municipais são nulas de pleno direito e até já suscitei essa tese em um recurso contra autuação.
Além do mais, convênios são, em seu sentido técnico-jurídico, instrumentos por meio dos quais as partes convenentes estabelecem obrigações recíprocas para atingir objetivos comuns, relacionados a suas atividades-fim. Considerando este aspecto e mais o fato de que as Guardas Municipais, nos termos da Constituição Federal de 1988 e demais diplomas aplicáveis, existem para a finalidade precípua de proteger o patrimônio público municipal, constata-se que a GBel não possui nenhum interesse institucional em relação ao trânsito. Um convênio relacionado a isso simplesmente não se justifica, no plano da legalidade.
Portanto, antes tarde do que nunca. Que o MP passe logo à ação, em nome de um mínimo de moralidade pública.
As informações são do Diário do Pará, em reportagem publicada hoje no caderno "Belém", página A7.
São de arrepiar os exemplos de supostas infrações, que foram objeto de multa. Coisas como multar carros estacionados em garagens!
A assessoria de comunicação da CTBel se pronunciou, afirmando que a fiscalização de trânsito é feita por agentes concursados ou por guardas municipais transferidos por meio de convênio, de modo que também são concursados. Com efeito, guardas municipais ingressaram no serviço público por via legal, mas essa não é toda a questão. Eles não têm competência (tanto no sentido jurídico quanto no usual) para exercer a missão precípua da CTBel. Filio-me à corrente que sustenta que autuações procedidas por guardas municipais são nulas de pleno direito e até já suscitei essa tese em um recurso contra autuação.
Além do mais, convênios são, em seu sentido técnico-jurídico, instrumentos por meio dos quais as partes convenentes estabelecem obrigações recíprocas para atingir objetivos comuns, relacionados a suas atividades-fim. Considerando este aspecto e mais o fato de que as Guardas Municipais, nos termos da Constituição Federal de 1988 e demais diplomas aplicáveis, existem para a finalidade precípua de proteger o patrimônio público municipal, constata-se que a GBel não possui nenhum interesse institucional em relação ao trânsito. Um convênio relacionado a isso simplesmente não se justifica, no plano da legalidade.
Portanto, antes tarde do que nunca. Que o MP passe logo à ação, em nome de um mínimo de moralidade pública.
As informações são do Diário do Pará, em reportagem publicada hoje no caderno "Belém", página A7.
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Vote!
5 de julho, já posso começar a fazer campanha política. Eis aí o meu candidato:
Admito que é o fim da picada chegar a este ponto. Mas já me justifiquei muito sobre anular o voto. Agora, no máximo, apresento minhas razões para não votar nessa cambada que aí se encontra:
- Se você realmente acha que o PT é uma opção à esquerda, como pode engolir uma chapa composta com o PMDB?
- Serra, de novo? PSDB com DEM, de novo?
- Ana Júlia, que faz um péssimo governo, quer se reeleger com Anivaldo Vale (da curriola do prefeito-desastre) como vice?
- Jatene, de novo? PSDB com DEM, de novo? Aliás, ainda existe DEM por aqui?
- Você viu a lista de candidatos ao Senado?
Meu amigo, pense bem: o meu candidato é melhor.
Monitoramento eletrônico em São Paulo
O assunto já foi abordado antes, aqui no blog. Na última vez, tratei do fundamento legal.
Agora, estamos perto de ver a coisa acontecer e, mais uma vez, é o Estado de São Paulo que decide fazer o investimento pioneiro. Dentro de um mês, deve ser implantado o monitoramento eletrônico de presos, a alcançar, num primeiro momento, 4.800 condenados sem regime semiaberto.
Torço pelo sucesso da iniciativa, a fim de que ela seja estendida ao restante do país, desde que de forma consciente e humana, claro.
Agora, estamos perto de ver a coisa acontecer e, mais uma vez, é o Estado de São Paulo que decide fazer o investimento pioneiro. Dentro de um mês, deve ser implantado o monitoramento eletrônico de presos, a alcançar, num primeiro momento, 4.800 condenados sem regime semiaberto.
Torço pelo sucesso da iniciativa, a fim de que ela seja estendida ao restante do país, desde que de forma consciente e humana, claro.
Robofish
Normalmente quando encontro uma reportagem sobre tecnologia, mando pro Yúdice com os dizeres "legal pra pôr nor blog". Mas como agora posso publicar, resolvi colocar aqui eu mesma. Leiam a reportagem e meus comentários abaixo:
Cientistas da Universidade Leeds criaram um peixe robô que, de tão perfeito, engana os próprios cardumes.
O experimento aumenta a possibilidade de estudar comportamento dos peixes e dinâmica de grupos. Além disso, as informações coletadas pelo Robofish, como foi batizado, podem ajudar nos cuidados com o meio ambiente, estudando as rotas migratórias dos animais e o impacto humano em seu habitat.
Liderada pelo pesquisador Jolyon Faria, a equipe criou um modelo com barbatanas de acetato, pintado de forma a se misturar com o cardume estudado. O objetivo era provar que robô poderia ser aceito pelo cardume e a principal preocupação era com o cheiro, já que os peixes usam químicos para se identificar.
No entanto, ao ser colocado em um tanque, o Robofish enganou o cardume e até mesmo liderou o grupo em movimentos. Programado para se locomover um pouco mais rápido do que a média, o robô foi visto como líder pelos outros peixes, que, em sua presença, deixaram o tanque em direção a uma outra área de experimento de forma muito mais rápida.
O trabalho foi publicado na Behavioural Ecology and Sociobiology
Nem é possível pra mim avaliar a grandiosidade deste feito. O estudo de metáforas computacionais para comportamentos naturais é uma das áreas mais fascinantes da computação, e também das mais difíceis. A própria competição Robocup, de futebol de robôs é muito subestimada pelo público em geral, que não consegue visualizar as dificuldades de se implementar um trabalho coordenado e cooperativo em uma equipe de agente robóticos. O estudo de como os animais fazem a coordenação de movimentos e alteração de rotas, e sobrevivência (o desafio último) é uma boa fonte de inspiração para quem estuda Inteligência Artificial. Bem, ainda preciso escrever um post específico sobre isso, mas este foi para compartilhar esta maravilhosa notícia. O fato de uma máquina poder enganar seres tão bem adaptado à vida coletiva, e tão seletivos na escolha de seus líderes mostra que estamos compreendendo cada vez melhor os mecanismos naturais. Isto nos permite tornar os mecanismos artificiais bem mais bem adaptados ao que precisamos que ele pareça: que sempre esteve lá.
Cientistas da Universidade Leeds criaram um peixe robô que, de tão perfeito, engana os próprios cardumes.
O experimento aumenta a possibilidade de estudar comportamento dos peixes e dinâmica de grupos. Além disso, as informações coletadas pelo Robofish, como foi batizado, podem ajudar nos cuidados com o meio ambiente, estudando as rotas migratórias dos animais e o impacto humano em seu habitat.
Liderada pelo pesquisador Jolyon Faria, a equipe criou um modelo com barbatanas de acetato, pintado de forma a se misturar com o cardume estudado. O objetivo era provar que robô poderia ser aceito pelo cardume e a principal preocupação era com o cheiro, já que os peixes usam químicos para se identificar.
No entanto, ao ser colocado em um tanque, o Robofish enganou o cardume e até mesmo liderou o grupo em movimentos. Programado para se locomover um pouco mais rápido do que a média, o robô foi visto como líder pelos outros peixes, que, em sua presença, deixaram o tanque em direção a uma outra área de experimento de forma muito mais rápida.
O trabalho foi publicado na Behavioural Ecology and Sociobiology
Nem é possível pra mim avaliar a grandiosidade deste feito. O estudo de metáforas computacionais para comportamentos naturais é uma das áreas mais fascinantes da computação, e também das mais difíceis. A própria competição Robocup, de futebol de robôs é muito subestimada pelo público em geral, que não consegue visualizar as dificuldades de se implementar um trabalho coordenado e cooperativo em uma equipe de agente robóticos. O estudo de como os animais fazem a coordenação de movimentos e alteração de rotas, e sobrevivência (o desafio último) é uma boa fonte de inspiração para quem estuda Inteligência Artificial. Bem, ainda preciso escrever um post específico sobre isso, mas este foi para compartilhar esta maravilhosa notícia. O fato de uma máquina poder enganar seres tão bem adaptado à vida coletiva, e tão seletivos na escolha de seus líderes mostra que estamos compreendendo cada vez melhor os mecanismos naturais. Isto nos permite tornar os mecanismos artificiais bem mais bem adaptados ao que precisamos que ele pareça: que sempre esteve lá.
Códigos Ocultos
Sempre gostei dessas histórias de mensagens sub-liminares e aprecio estudá-las tecnicamente. Aprender um pouco sobre um tema associando-o a um objeto de interesse pessoal torna tudo mais fácil e atrativo. Mais ou menos isso aconteceu com o publicitário Kleber Nogueira que, apaixonado por carros, dediciu escrever a coluna Códigos Ocultos, na qual analisa os filmes publicitários de automóveis.
Publicidade de carro, por si só, já merece uma atenção especial. É um ramo onde dinheiro disponível se aliou a uma peculiar inventividade, que já nos rendeu algumas peças memoráveis. Mas não se trata apenas de passar uma mensagem bonita e eficiente para a relação de consumo. Há algo mais. E Nogueira nos explica muito bem como funcionam as mensagens mais profundas, aquelas que quase ninguém percebe.
Vamos aprender um pouco, vendo as análises sobre o novo Chevrolet Classic (que eu particularmente considero medonho); Ford Focus; Peugeot Hoggar; Volkswagen CrossFox; e novo Fiat Uno, que achei a campanha mais legal.
Publicidade de carro, por si só, já merece uma atenção especial. É um ramo onde dinheiro disponível se aliou a uma peculiar inventividade, que já nos rendeu algumas peças memoráveis. Mas não se trata apenas de passar uma mensagem bonita e eficiente para a relação de consumo. Há algo mais. E Nogueira nos explica muito bem como funcionam as mensagens mais profundas, aquelas que quase ninguém percebe.
Vamos aprender um pouco, vendo as análises sobre o novo Chevrolet Classic (que eu particularmente considero medonho); Ford Focus; Peugeot Hoggar; Volkswagen CrossFox; e novo Fiat Uno, que achei a campanha mais legal.
Cesta básica em Belém
Segundo o DIEESE, o valor da cesta básica foi reduzido em até 3% em 16 capitais brasileiras, Belém entre elas. Eu, que sou absolutamente leigo em tudo quanto tenha a ver com economia, inclusive doméstica, não posso questionar as análises dos especialistas. Mas que o meu supermercado ainda não sentiu essa variação positiva, com certeza não! Aliás, o da minha mãe também não. E as compras delas são bem mais enxutas do que as minhas: eu e minha esposa compramos mais itens supérfluos e valorizamos qualidade sobre o preço.
Na feira, onde não lidamos com produtos industrializados ou marcas, as coisas também não melhoraram.
Belém, apesar do baixo nível de renda, sempre teve um dos custos de vida mais elevados do país. Se houve alguma melhoria concreta, por favor alguém me informe onde encontrá-la.
Na feira, onde não lidamos com produtos industrializados ou marcas, as coisas também não melhoraram.
Belém, apesar do baixo nível de renda, sempre teve um dos custos de vida mais elevados do país. Se houve alguma melhoria concreta, por favor alguém me informe onde encontrá-la.
Vamos começar a semana
Apesar de que as férias começaram, passei quase três dias sem postar. Admito que, no final de semana, estive envolvido em ociosidades úteis, das quais falarei melhor em postagens que farei ainda hoje, se puder. Nesta segunda-feira, contudo, estou envolvido com uma questão pessoal importante.
Mas esta não será uma semana perdida. Logo mais, o blog voltará à ativa.
Mas esta não será uma semana perdida. Logo mais, o blog voltará à ativa.
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Blog Crimes no Brasil
Volta e meia, navegando na Internet, acabamos topando por acaso com páginas de nosso interesse, que desconhecíamos. Acabei de encontrar um blog jornalístico chamado Crimes no Brasil, cujo conteúdo me pareceu bem interessante. Destaque para os links que nos remetem a diversas outras páginas de conteúdo análogo.
Ainda não examinei o conteúdo a fundo, mas fica a recomendação aos interessados pelo temário do crime neste país.
Ainda não examinei o conteúdo a fundo, mas fica a recomendação aos interessados pelo temário do crime neste país.
Cavaillé-Coll
Ainda embevecido pela noite musical de ontem, quis saber um pouco mais sobre Aristide Cavaillé-Coll, o homem de aparência austera que você vê na imagem ao lado.
Nascido em Montpellier aos 4 de janeiro de 1811, tornou-se, na opinião de muitos, o maior organeiro do século XIX. Não foi apenas um construtor, mas um inovador, que introduziu diversos melhoramentos na técnica de construir esses fantásticos engenhos, tais como a "paleta sonora" e o desenvolvimento de um modelo para produção em série. É considerado o criador do órgão sinfônico. Além de artista, era também um cientista (o que de certa forma é até uma afirmação óbvia), tanto que publicou diversos artigos científicos sobre seus inúmeros experimentos e pesquisas, aplicados ao universo da música. Morreu em 13 de outubro de 1899, tendo seu corpo sido enterrado no cemitério de Montparnasse, em Paris.
Felizmente para todos, seu legado prosseguiu através do restaurador Charles Mutin (1861-1931).
Em 1975 foi fundada a Association Cavaillé-Coll. Organizados e cientes do enorme valor dos órgãos produzidos pelo mestre — que mais do que instrumentos musicais são prodígios da arquitetura acústica e verdadeiras obras de arte —, os responsáveis pela associação mantêm uma lista detalhada de todos os existentes no mundo. Graças a ela, soube que no Brasil existem doze deles, sendo cinco no Rio de Janeiro, quatro em São Paulo (capital, Campinas, Itu e Jundiaí), um na Bahia, um em Minas Gerais (Município de Monte Carmelo) e o nosso, cujo registro é este:
Lieferdatum: 22 de setembro de 1882. Temos um prodígio de quase 128 anos de existência, funcionando maravilhosamente. É nosso dever assegurar que seja preservado para as futuras gerações. E que seja utilizado, para o nosso deleite.
quinta-feira, 1 de julho de 2010
Férias — Beleza e espiritualidade
Hoje foi o primeiro dia de efetivas férias acadêmicas para mim e Polyana. Por isso, decidimos usufruir um pouco do dever cumprido e tiramos uma noite para nós. Ou seja, Júlia foi para a casa da avó.
A primeira parte da noite serviu para resgatar uma alegria que há tempos não experimentávamos: assistir a um concerto. Informado pelo Blog da Franssinete Florenzano, sabia que nesta quinta-feira seria realizada uma edição do projeto "Música na Catedral — Quintas musicais", um evento da Universidade Federal do Pará em parceria com a Catedral Metropolitana de Belém.
Quem teve a oportunidade de ver a catedral após a longa reforma que a manteve fechada, sabe que ela está absolutamente magnífica. A sua visão é de enternecer e maravilhar os olhos. Mas o evento de hoje levou esses bons sentimentos a níveis ainda mais espirituais.
O concerto era uma homenagem ao majestoso órgão Cavaillé-Coll que habita aquele templo. Se você mora nesta cidade e desconhece o órgão — uma jóia única (há vários exemplares no país, mas o nosso é o único mecânico, além de ser o mais antigo) —, merece um puxãozinho de orelha. No programa do espetáculo, há um histórico sobre o instrumento, que transcrevo a seguir. Antes, porém, a imagem do monumento:
"Órgão Cavaillé-Coll
Inaugurado em primeira audição no dia 09 de setembro de 1882 por dois organeiros e organistas franceses, Veerckamp e Moor, funcionou durante quase 70 anos. O rei dos instrumentos foi comprado ao preço de 15 contos de réis por D. Antônio de Macedo Costa. A inauguração pelo então bispo do Pará, D. Antônio de Macedo Costa, teve caráter solene. Foram convidadas as mais graduadas autoridades do Império. O Órgão Cavaillé-Coll da Catedral, instalado no coro, mede 8m de altura por 5,5m de largura e 3,5m de profundidade. E possui 25 mil peças para funcionar dois manuais e pedaleira.
O Grande Órgão ficou parado por 45 anos e ameaçava desabar. Em 1995, iniciou-se uma forte campanha em toda a Cidade de Belém que perdurou o ano inteiro. A restauração aconteceu na França, por sugestão do então organista de Notre Dame de Paris. A Firma Theo Haerpfer de Boulay-França foi escolhida. A reinauguração, com a presença de autoridades, se deu a 14 de junho de 1996, festa do Sagrado Coração de Jesus, sob a presidência de D. Vicente Joaquim Zico, Arcebispo Metropolitano. O Órgão da Sé de Belém é o maior Cavaillé-Coll da América Latina. O buffet do órgão foi restaurado em Belém com madeira paraense por Verbicaro Giestas e Cia. Ltda. A cidade de Belém, capital do Estado do Pará (Brasil), viveu dias esplendorosos de cultura, por ocasião da reinauguração do Grande Órgão de Tubos Cavaillé-Coll, construído pelo maior organeiro do mundo, do século passado, Aristide Cavaillé-Coll. Em 1882, a Igreja era unida ao Estado e a Catedral tinha 60 funcionários mantidos pela Coroa Imperial. Com a separação Igreja-Estado, houve declínio no que se refere a conservação. No ciclo da borracha ela permaneceu em equilíbrio, mas depois foi quase impossível mantê-la esplendorosa. O tempo, por sua vez, a fez corroer e o Grande Órgão por quase cinco décadas permaneceu silencioso. Os organistas da reinauguração foram Hans Bönish (alemão) e Paulo José Campos de Melo (paraense), com especialização na Europa e Superintendente da Fundação Carlos Gomes de Belém/PA. A Schola Cantorum da Catedral e os Pequenos Cantores da Sé apresentaram números em gregoriano e polifonia. No coro da Catedral, placas estão fixadas. A Cidade de Belém, o Estado do Pará e o Brasil podem orgulhar-se da reinauguração proclamada como a RESTAURAÇÃO DO SÉCULO."
Os próprios organizadores do evento esperavam menos pessoas do que as efetivamente presentes, a julgar pela quantidade de bancos virados na direção do coro. Uma pena, porque umas tantas pessoas acabaram indo embora. Mas quem ficou teve o deleite de escutar peças de Renner, Albinoni, Schubert, Franck, Costamagna e principalmente Bach. Os momentos mais impactantes foram a execução da "Ave Maria" de Schubert (arranjo para órgão, saxofone e trompete), a "Toccata e fuga em ré menor", de Bach (poderosamente executada pelo Prof. Guido Oddenino) e, para mim, o "Adágio", de Albinoni, uma das minhas músicas favoritas, arranjada para órgão e trompete (este último executado por um antigo colega de escola, Moisés Gonçalves).
O encerramento do evento teve a interpretação de quatro peças pela Schola Cantorum.
Foi uma noite bela e cheia de espiritualidade, que comemoramos termos presenciado.
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