Crianças são indivíduos de hábitos. Dê a eles uma rotina previsível e segura e eles ficarão bem. A Juju tem uma rotina estável e por isso é uma criança boazinha. Obviamente que sua personalidade influencia bastante.
A história da fada do pipo começa há cerca de duas semanas, quando a Júlia caiu no chão de boca e machucou feio o dente. Nada quebrado, mas tinha muito sangue e ficaram cortes nos lábios. Eu não estava em casa, mas estes foram os relatos do papai e da tia Jose. No dia seguinte eu percebi que ela não conseguia morder o pão. Mas passaram mais dois dias e ela voltou a se comportar normalmente em relação às comidas e nós esquecemos.
Na quinta passada percebemos que o dente (incisivo central, que azar) estava ficando escuro. Aí bateu o desespero, pensei em um monte de coisas, na autoestima dela, numa possível cirurgia para corrigir, na anestesia, no choque anafilático (o Yúdice pensou logo que o dente pudesse cair, mas confesso que quando ele me disse fiquei chocada, porque nem tinha passado pela minha cabeça essa possibilidade, vai saber como funciona cabeça de mãe, o choque anafilático é bem pior, mas minha filha sem dente nem faz parte do meu mundo).
Depois de uma consulta à odontopediatra (cujos detalhes não vou comentar, porque não é o foco deste post), descobrimos que o dente estava ficando mole e, para não piorar a lesão ela teria que largar o pipo. Naquela noite.
Sabem, eu sou uma pessoa perfeccionista. Fico tempos imaginando como fazer determinadas coisas, como proceder em momentos cruciais da vida da Júlia, e é claro que já tinha pensado em como faríamos a retirada do pipo. Mas ainda assim a notícia me pegou desprevenida, e me deixou muito angustiada. Faltavam somente algumas horas para a hora de dormir (que é a única hora do dia que a Juju chupava pipo), e o que eu faria? Como conversaria com ela? Que artifícios usaria?
Momento cultural: de todos os objetos de sucção que a criança pode usar, entre mamadeira, pipo, dedo, pano, o menos danoso à formação dos dentes e estabelecimento da oclusão correta é o pipo. Isso, claro, se for um pipo ortodôntico (minha preferência é a marca NUK), que é arredondado em cima e achatado embaixo, para imitar o formato que o seio da mãe toma dentro da boca da criança. Sugar realmente faz parte da vida do bebê nos primeiros anos (fase oral) e, se houver necessidade, é melhor usar o pipo para que ele se acalme do que acostumá-lo a fazer isso no seio da mãe, o que pode causar distúrbios alimentares futuros, pela associação de comida com conforto. O melhor momento de descontinuar o uso do pipo é por volta dos dois anos, quando a criança já consegue construir para si outras maneiras de se acalmar e quando qualquer má colocação dos dentes ainda pode voltar sozinha para o lugar. Depois disso, uma vez dentuça, a criança ficará dentuça.
Bem, a Juju já está com 1 ano e 11 meses, e pensamos em tirar o pipo na volta da viagem a Floripa, ou seja, em agosto. Mas houve esta mudança de planos e precisávamos lidar com ela.
Sorte a nossa termos visto, alguns dias antes da visita à odontopediatra, um episódio do seriado Supernanny (o original britânico) em que ela mostrava a dinâmica da fada do pipo. A idéia é fazer com que a própria criança dê seu pipo à fada, que o levará para nenéns pequenos que ainda precisam de pipo. No dia seguinte, semelhantemente à técnica da fada do dente, a fada do pipo deixa um brinde para a criança que conseguir dormir a noite toda sem pipo.
Então fomos ao shopping e compramos uma boneca que parecesse uma fada, e alguns bonequinhos do Toy Story. Pedimos à tia Tércia que costurasse um saquinho que serviria para guardar os pipos e posteriormente os prêmios. E começou o diálogo, mais ou menos assim:
— Filha, hoje recebemos uma visita especial! A fada do pipoooo!
— Fada do pipo? (pergunta ela com uma carinha de desconfiança)
— É, ela veio pedir seus pipos para levar para os nenéns pequeninos, que ainda precisam de pipo. Você não precisa mais, porque já é mocinha, né? Olha, lá vem ela (e mostramos a fada, segurando o saquinho)
— (ela pensa um pouco) ... ééé....
— Então você dá todos os seus pipos para a fada, tá bom? (e, com voz da fada:) Vou levar os pipinhos para um neném bem pequeno! Você me ajuda?
No momento que a Juju coloca o primeiro pipo na sacola, sacudo a fada e digo: êêêêê!!!!! E a cada pipo eu repito a sacudida e a comemoração. Ao final, eu digo com voz de fada:
— Tenho vários pipos para levar, eu estou muito feliz!
E qual não foi a minha surpresa quando a Júlia começa a pular na cama:
— Eu também!!!
Colocamos então a fada na estante e fomos para o quarto dela dormir. Devo dizer que ficamos muito satisfeitos com o resultado da primeira noite. A Júlia demorou mais para dormir, perguntou algumas vezes do pipo (e toda vez eu explicava o que ela tinha acabado de fazer), mas não chorou. E, depois que dormiu, dormiu a noite toda.
Fomos dormir pensando: bendita hora que decidimos parar pra ver aquele episódio. Mas a aventura estava só começando...
6 comentários:
Emocionei-me agora...
Por que todos os pais não são assim com seus filhos????
Com certeza teríamos um mundo com menos violência.
Parabéns a vocês dois Polyana pela maneira como lidam com a Júlia!!!
Lembrei-me de quando a Carol (o Rodrigo nunca chupou chupeta) entregou a dela para o Papai-Noel. Ela já tinha 3 aninhos. Ela chupava uma chupeta e dormia com 3 chupetas em cada mão. Era um total de 7 chupetas. Quando ela entregou as 7 para o Papai-Noel eu achei que à noite ela pediria, mas ela nunca tocou no assunto. Entregou e esqueceu.
Esses momentos são mágicos, não?!
Ei, eu nem pensei que o dente podia cair! Também não é assim... Pensei em perda a longo prazo, pela destruição do dente. Mas nada tão imediato.
Que história fofa, Polyana. Esses artifícios de mãe são sempre muito úteis. Como eu e meu irmão não gostávamos de tomar sopa de legumes, minha mãe usava pratos de plástico idênticos por fora, mas que, no fundo, tinham figuras distintas. Só saberíamos que prato estávamos usando (e, principalmente, se era o nosso favorito), se terminássemos a sopa!
Parabéns mais uma vez pela sensibilidade, preocupação e comprometimento irrestrito com a maternidade.
Que coisa legal essa "Fada do pipo". Estamos precisando de uma aqui, porque o Enzo já está com 2 anos e 8 meses e não conseguimos tirar o pipo ainda. Sempre usamos os ortodônticos, principalmente da Nuk, mas minha esposa é dentista e percebeu recentemente que o pálato dele está com a abertura pequena, e pensamos logo no pipo que ele usa, que ainda era o número 2, e pra idade dele já deveria ser o número 3 (que é uma coisa horrorosa, já viram o tamanho e a cor? rsrsrs...). Mudamos pro três, mas está difícil tirar na hora de dormir.
Quando ele completou 2 anos tentamos tirar o pipo, mas logo em seguida nasceu nossa Vitória, e ele via o pipo dela. Não teve jeito, ele não quis largar o dele, começou a fazer algumas tolices por ciúme, e até hoje ele ainda tem momentos de implicância com a irmã quando quer nossa atenção.
Então está realmente difícil tirar o pipo, mas com essa experiência que vocês estão dividindo com a gente, deu um novo ânimo pra tentar tirar.
Bem, até agora parece um final bem feliz... E ... Todos deveriam assistir super nanny(acho demais)
É Ana, a gente precisa ser criativo, né? A Juju tinha 4 pipos, e logo depois que os tirei do sauquinho, eu joguei no lixo, para não "cair em tentação".
Ah, meu bem, mesmo assim é uma perspectiva horrível nossa filha sem dente.
Luiza, adorei a idéia do prato de sopa! A Ju tem um pratinho dividido em 3 e cada um tem um desenho. Vou começar a desafiá-la a descobrir qual é o desenho que está embaixo da carne, o dos legumes, etc :)
Ivan, a nanny tinha dito algo do tipo "tem que ser um pouco mágico e um poco lúdico". Com estes dois elementos, normalmente funciona. Sugiro tirar o pipo dos dois juntos, assim um não influencia o outro. Fique atento aos próximos posts sobre a fada do pipo.
Também adoro a supernanny Waldréa, tem situações impressionantes e sempre pego uma dica ou outra que posso usar.
Daqui a alguns dias, a parte 2, a missão.
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