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terça-feira, 23 de março de 2021

Lockdown de verdade

Enquanto, por estas bandas, pessoas seriamente preocupadas com o sustento próprio e familiar precisam ir às ruas lutar pela sobrevivência; pessoas permanecem nas ruas porque ali já estavam, mesmo; muitos trabalhadores se expõem diariamente porque não lhes deram alternativa; e uma raça especial de felasdiputa de classe média reclama de não poder socializar por aí ou malhar a bundinha nas academias e vivem na internet bradando contra a violação de seus direitos fundamentais, em outros países do mundo as populações foram submetidas a restrições de locomoção realmente pesadas. Não esse lockdown de meia pataca praticado aqui, ainda por cima quase sem fiscalização.

Nesta reportagem aqui, é possível ver como outros países lidaram com a pandemia do novo coronavírus. Entre eles não há nenhuma nação considerada ditadura. Todos são países proclamados democráticos e a maioria países centrais, idolatrados pelo viralatismo tupiniquim. Multas severas, fechamento generalizado de serviços, limitação de saída a apenas 1 hora por dia e com limitação territorial, mesmo para fins relevantes (como ir ao médico), há várias providências impensáveis para os brasileiros. Com o detalhe de que, por lá, as restrições já duram meses.

Uma coisa me chamou a atenção: a proibição de ir mais longe do que um raio de 10 quilômetros. Compreendo a lógica. Se houver um doente nesse setor, a possibilidade de contágio de terceiros fica limitada no espaço, não apenas prevenindo maior disseminação do vírus, mas também ajudando a identificar a região onde o vírus circula. Se as pessoas podem transitar por qualquer lugar, como saber onde os esforços sanitários devem ser incrementados?

Enfim, eu tinha curiosidade de saber como países que possuem governantes de verdade estão enfrentando a situação. Com sofrimento, com perdas, mas com bom senso e humanidade. Um detalhe: os países desenvolvidos concederam auxílio financeiro aos cidadãos retidos em casa. Então você, cidadão verde-e-amarelo, que "luta" tanto pela liberdade e pela economia do Brasil, com suas mensagens de WhatsApp, pensa o que disso? Está todo mundo errado, né? Certo, mesmo, só o presidente do Brasil, o infalível. Deve ser por isso que ele é um mito.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

VACINA CHEGANDO!

Apenas 3 dias após perder um grande amigo para essa maldita covid-19, vejo a emoção tomando conta da internet com o anúncio da eficácia da Coronavac, pelos pesquisadores do Instituto Butantan, em São Paulo.

Existem outras vacinas, bem o sabemos. E pouco me importa qual será aplicada na população. Pode ser um pouco de cada, desde que haja a eficiência reconhecida pelas autoridades sanitárias. O importante é a vacinação massiva começar o mais rápido possível, apesar de todos os percalços dolosamente impostos pelo governo genocida.

A notícia conta com a emoção particular de ser uma pesquisa parcialmente realizada no Brasil, por uma instituição de pesquisa séria, relembrando a todos a importância da ciência. E essa instituição atua com recursos do SUS, lembrando a todos a imprescindibilidade desse nosso sistema, reconhecido mundialmente.

Que notícias boas! Pena que eu, por não ter prioridades, demorarei para ser vacinado. Mas o importante é ver essa esperança se materializar em realidade.

Saúde, meu povo!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Eterna vigilância contra o inimigo

Ontem eu me deparei com uma reportagem considerando inadmissível mulheres ainda terem câncer de colo de útero. Considerei a manchete contundente e, por razões pessoais, decidi ler o texto. Por sinal, um exemplo cada vez menos frequente de matéria bem feita, porque devidamente explicada (e não reduzida a dois parágrafos, para os preguiçosos fazerem um esforço de ler), detalhada, subsidiada na Medicina e, mesmo assim, com uma linguagem leve, talvez para reduzir o incômodo do assunto. Abaixo o link:

https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/lucia-helena/2020/12/03/nao-e-aceitavel-que-tantas-mulheres-ainda-tenham-cancer-de-colo-de-utero.htm

Como disse acima, tenho razões pessoais para me sentir mexido por esse tema.

Minha mãe morreu em decorrência de um câncer uterino. Faz 5 anos e 2 meses, agora. Ela tinha pavor de câncer. Sequer pronunciava o termo. Chamava de "aquela doença feia". A mãe dela morreu de câncer no estômago e isso aumentou o medo que ela já sentia. Ela se cuidava, fazia preventivo todos os anos. Mas só depois do diagnóstico descobrimos que o preventivo investiga apenas câncer de colo do útero, não da cavidade uterina. E o tumor dela surgiu no fundo (que, contraintuitivamente, é a parte de cima). Eis a ironia: passou anos se protegendo, mas não sabia que a proteção era meramente parcial. 

Pessoas como eu, estudadas em alguma área e com acesso às internets da vida, supõem compreender razoavelmente bem diversos assuntos. Aí vem a realidade e nos atropela, mostrando que somos bem mais ignorantes do que pensávamos. Diante disso, resolvi compartilhar a reportagem com amigos e aqui no blog, pois realmente nunca mais quero ver alguém passar por aquilo.

Cuidem-se. Saúde. Abraços.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

A vida do pobre

A diarista que nos ajuda aqui em casa tem andado preocupada. Sua nora, moça muito jovem e também sem grandes níveis de instrução, estava em fase final de gestação. Na semana passada, começou a se sentir mal, com alguns sinais sugestivos de que a criança talvez estivesse pedindo para nascer, como diz a gente simples que conheci ao longo da vida. Mas como já havia uma cesariana marcada (claro!) para a última segunda-feira, dia 9, a médica que a atendeu em hospital público seguiu o protocolo clandestino (atendimento de pobre regra n. 1) e decidiu que o quadro era normal, provavelmente consequência de o bebê estar se reposicionando no útero. Disse isso no primeiro atendimento e, de novo, à noite, quando a gestante retornou após uma piora.

Ao ser informado, recomendei que a família tentasse um contato direto com o médico que fez o pré-natal e pedisse providências. Até onde sei, não conseguiram falar com ele (atendimento de pobre regra n. 2). A moça passou todo o final de semana se sentindo mal e, na manhã de segunda-feira, como agendado, foi ao hospital para o parto. Lá, foi surpreendida com a notícia de que seria internada, mas o parto somente seria feito à tarde. Na verdade, o médico tinha 20 partos para fazer e iniciaria o que chamo de linha de produção às 14 horas (atendimento de pobre regra n. 3). Ela deveria esperar. E esperou.

Em algum momento da tarde de segunda, o parto foi feito. A criança nasceu cianótica e pouco responsiva. Mamou uma única vez e passou toda a noite quieta, emitindo um gemido baixo. Com a troca de plantão, apareceu por lá um auxiliar de enfermagem que prestou atenção ao bebê e constatou que ele não estava bem (atendimento de pobre regra n. 4, também conhecida como "cláusula da sorte"). Acionou a enfermeira e o bebê foi levado para a UTI, ou seja, o quadro era grave! E aqui identificamos mais um lance de sorte: havia UTI neonatal, disponível.

Eis que, então, a família descobre que o parto não fora realizado pelo médico que acompanhava a gestação, mas pelo irmão dele. Juro que, nessa hora, perguntei: "Mas o irmão dele pelo menos era médico?" Parece que era. E aí temos atendimento de pobre regra n. 4: ser atendido pelo profissional que conhece o seu caso e em quem você talvez confie é muita pretensão sua.

O médico que deveria estar à frente de tudo se interessou pelo caso, enfim, e prestou as primeiras informações à família. Disse que a criança passou do momento certo de nascer. Isso eu, como leigo porém não ignorante, havia considerado na sexta-feira passada, mas a médica que atendeu a paciente por duas vezes, não. O grave comprometimento pulmonar do bebê era consequência da aspiração de líquido amniótico (esta eu também acertaria). Agora está marcada uma reunião com a equipe médica, para discutir o caso. A família aguarda para saber se a criança ficará bem, se terá sequelas, etc. O pai já avisou: se acontecer algo, vai processar. De minha parte, afirmo que "algo" já aconteceu.

E assim passou mais uma semana na vida do pobre: enfrentando dramas perfeitamente evitáveis e não sabendo como será o futuro.

domingo, 22 de novembro de 2015

Serei eu um impostor?

Enquanto muitas pessoas fazem de tudo por parecer o que não são, em relação a qualquer coisa ― inteligência, beleza física, felicidade pessoal, realização profissional, harmonia no casamento, prosperidade financeira, etc. ―, outras têm motivos reais para comemorar suas conquistas. No entanto, não comemoram. E não o fazem simplesmente porque duvidam de seu merecimento em relação a elas.

Pode ser modéstia, mas também pode ser coisa mais séria. Você já ouviu falar na síndrome do impostor (ou fenômeno impostor)?

Trata-se de um transtorno psicológico basicamente de autoquestionamento intelectual, descrito ainda na década de 1978 pelas psicólogas Suzanne Imes e Pauline Rose Clance, então pesquisadoras da Universidade Estadual da Geórgia, a partir da observação de grandes empreendedores que não se mostravam capazes de internalizar e de aceitar o próprio sucesso. Como consequência, atribuíam seus avanços à sorte e desenvolviam o temor de serem desmascarados, o que pode conduzir a um quadro de ansiedade e de depressão. Os impostores tendem a ser perfeccionistas e não gostam de pedir ajuda para realizar suas tarefas. Podem chegar ao ponto de não perceber que é possível viver sem esse tipo de angústia.

Quem se acha uma fraude duvida de suas habilidades e, até mesmo, de seu pertencimento ao ambiente em que se encontra. Resulta daí que essas pessoas têm dificuldades até de falar sobre o problema, já que padecem de um medo abrangente de ser descobertas como farsantes. A questão é confundir a aprovação pelo sucesso como amor ou reconhecimento da dignidade.

O tema tem sido objeto de pesquisas e de publicações recentes, embora ainda não reúna condições para ser catalogado como transtorno mental pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM). Segundo as psicólogas que o analisaram primeiro, e que inicialmente consideraram as mulheres como mais propensas, uma causa pode estar na criação por famílias extremamente preocupadas com o sucesso, mormente se incorrerem em práticas de excesso de elogios ou de críticas. Pressões sociais potencializam o problema. Enquadrar-se em um grupo vulnerável, como uma minoria étnica, também foi considerado. Será que você foi ajudado por questões de simpatia? Outra questão relevante é você estar envolvido com algum tipo de novo empreendimento, como iniciar um curso superior.

Posso dizer que, no universo acadêmico, sofrer da síndrome do impostor é previsível, já que estamos o tempo inteiro sob alguma espécie de fiscalização. Imagino que, nos dias correntes, todos nós, professores, vivenciamos um pouco disso, de ambos os lados do balcão: o problema está em nós mesmos e em nossos alunos, que devemos ajudar, na medida do possível.

A American Psychological Association, responsável pela matéria que baseou esta postagem (link abaixo), lista algumas medidas para enfrentar a síndrome:

Conversar com os mentores. Eles podem oferecer suporte por meio da supervisão dos trabalhos, além de tentar convencer o pupilo da irracionalidade de seus sentimentos. De minha parte, sendo professor da graduação, penso que desvincular o aluno da obsessão por notas pode ser um caminho útil.

Admitir os próprios conhecimentos. Além de olhar para os que estão à frente, o impostor deve trabalhar com quem está em posição menos privilegiada, p. ex. realizando tutorias, o que pode ajudá-lo a perceber que já avançou em sua caminhada e que pode ajudar outros. De quebra, isso ainda permite ajudar outras pessoas, o que sempre vale a pena.

Identificar as próprias habilidades. Obviamente, ninguém é bom em tudo, então o impostor deve avaliar honestamente suas habilidades, a fim de separar aquelas em que já é bom e aquelas outras, que realmente lhe pedem dedicação para o aprimoramento.

Admitir que ninguém é perfeito. Não adianta buscar a perfeição; o seu compromisso deve ser fazer suas tarefas bem o suficiente e, ainda, reservar um tempo para apreciar os frutos do seu trabalho árduo, inventar recompensas para o sucesso e aprender a comemorar. Como sempre digo, nenhum trabalho se justifica por si mesmo. Não é saudável trabalhar por trabalhar: usufruir é humano.

Mudar de ideia acerca das próprias realizações. O impostor precisa romper com o ciclo supersticioso acerca de suas realizações, reduzindo expectativas ou compartilhando responsabilidades (pedindo ajuda para cumprir compromissos).

Procurar ajuda. Sim, procurar ajuda profissional é uma grande ideia.

Fonte: http://www.apa.org/gradpsych/2013/11/fraud.aspx

Mais:

  • Página de Pauline Clance (em que se pode ver que, como boa americana, ela já inventou uma escala para mensurar o transtorno): http://paulineroseclance.com/impostor_phenomenon.html
  • Em português: http://ihjtkent.org.br/pdf/anexo-salixfragilis.pdf

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Alguém sabe disso?

Se nenhum imprevisto ocorrer, em menos de um dia minha mãe voltará para casa após mais uma temporada de internação hospitalar. Desde novembro passado, já é a terceira vez, totalizando 34 dias.

A cada nova jornada nessas casas de sofrimento que são os hospitais, alguma coisa nova aprendemos. Por exemplo: minha mãe sofreu um edema agudo de pulmão e precisou instalar um dreno no local. Os dias subsequentes ao procedimento cirúrgico são de muita dor, o que levou o médico a prescrever o medicamento Dimorf (morfina), administrado por via oral. O resultado foram dois dias de vômitos e incapacidade de alimentação. Já muito debilitada, pelas doenças e pelos tratamentos, minha mãe obviamente se fragilizou ainda mais.

A via oral foi substituída pela injetável e o Dimorf foi trocado pelo Tramal, que é mais leve, porém tem o mesmo princípio ativo. As violentas náuseas prosseguiram. Até que apareceu uma farmacêutica e informou que o analgésico deve ser administrado no soro, muito lentamente, ao longo de uma hora e meia. Se adotado esse procedimento, com Dimorf ou Tramal, não haveria enjoo. E... voilà: as náuseas passaram e minha mãe voltou a se alimentar. Muito pouco, que é só o que consegue, mas pelo menos voltou a sustentar no estômago o alimento ingerido. Sem falar que o mal-estar foi eliminado.

O primeiro sentimento diante disso é de alívio, naturalmente. Mas depois bate uma revolta, sabe? Tantos profissionais de saúde, equipes de enfermagem se revezando dia após dia e ninguém sabia que ministrar o analgésico lentamente poderia ser a solução simplória de um problema grave? Ninguém? Será que estamos lidando com uma informação assim tão restrita? Será que minha mãe, em 2015, foi o primeiro ser humano no mundo a enfrentar problema semelhante? Será que a persistência de um quadro desfavorável, ao longo de dois dias, não poderia mobilizar os profissionais a buscar uma solução? A ser mais proativos?

Os sentimentos são muito contraditórios, além de intensos. Este episódio entra na longa lista de perguntas que poderíamos fazer aos responsáveis, no dia do Juízo Final. Mas como não estamos lá, eu me pergunto se vale a pena comprar essa briga. Qual seria a utilidade, agora? Seja como for, eu realmente não estou em condições de pensar nisso por enquanto.

Neste momento, tudo o que quero é tomar minha mãe pelo braço e levá-la para casa. Depois penso no resto.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Coquetelzinho para resolver certas coisas

Uma pequena curiosidade para quem gosta de rock.

A banda californiana de heavy metal Avenged Sevenfold possui, em seu álbum autointitulado (que é um desses raros exemplos de disco excelente da primeira à última faixa; é só colocar e deixar rolar, inclusive em looping), uma canção chamada "Brompton cocktail", que fala sobre alguém muito doente querendo exercer o direito de morrer. Como neste semestre letivo abordei o tema com meus alunos, um dia, escutando a canção, fiquei curioso para saber o significado desse título.

A canção remete ao Royal Brompton Hospital (anteriormente conhecido como Royal Brompton National Heart and Lung Hospital e mais remotamente como Hospital for Consumption and Diseases of the Chest), maior centro de tratamento de doenças do coração e do pulmão, no Reino Unido. Fundado na década de 1840, atendia portadores de doenças infecciosas para as quais não se conhecia cura, como a tuberculose, pacientes esses que deveriam ser mantidos isolados. Trata-se de um hospital histórico e com larga respeitabilidade, hoje um centro de referência também no âmbito da pesquisa.

O "coquetel Brompton" é um elixir usado no âmbito dos cuidados paliativos, ministrado a doentes terminais, mormente os de câncer, para lhes aliviar o sofrimento e permitir alguma interação social no ocaso da existência. É feito com morfina (ou heroína), cocaína, álcool etílico altamente puro e antieméticos (drogas contra náuseas) como clorpromazina. A receita original, surgida no período entre-guerras, foi descrita por Richardson & Baker no livro "A gestão da doença terminal na prática da Medicina" (1956): cloridrato de morfina, cloridrato de cocaína, tintura de cannabis, gim, xarope e clorofórmio.

Pelo que vi nas buscas pela internet que fiz, o coquetel já foi bastante famoso, mas seu uso entrou em declínio à medida que mudava o modo como a Medicina encarava os cuidados paliativos. Talvez para povos de língua inglesa ele seja mais conhecido do que para nós, tornando mais acessível o significado da canção.

Segue um link para um videozinho com a letra: https://www.youtube.com/watch?v=ZPIrGXybLYU

Fontes: 

  • http://apps.nationalarchives.gov.uk/hospitalrecords/details.asp?id=151
  • http://en.wikipedia.org/wiki/Royal_Brompton_Hospital
  • http://en.wikipedia.org/wiki/Brompton_cocktail
  • http://endoflifestudies.academicblogs.co.uk/the-brompton-cocktail-19th-century-origins-to-20th-century-demise/

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Cuidando dos olhos

Vale a pena prestar atenção nestas dicas, para cuidar bem da saúde de nossos olhos.

Matéria publicada em: http://www.ormnews.com.br/noticia/descubra-dez-habitos-que-fazem-mal-a-visao#.VAXJ5sVdX3Q

Sobre passar mãos sujas nos olhos, lembro que fômites são quaisquer partículas capazes de transportar germes patogênicos. Estamos sujeitos a eles o tempo inteiro e, ainda por cima, segundo pesquisas, passamos as mãos no rosto em média 2 mil vezes por dia!

Se o estrago já está grande, lembre que a maioria das pessoas, hoje, mantêm hábitos como digitar em teclados de computadores e de celulares, que pelo uso contínuo são particularmente sujos. Para quem dirige, é pior ainda: volante e alavanca de câmbio apavoram, se vistos ao microscópio.

Portanto, disciplina e atenção. Melhor para os nossos olhos.

E para acrescentar: http://saude.terra.com.br/luz-do-computador-pode-levar-a-danos-irreversiveis-de-visao,b109e93e22148410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Utilidade pública: os dentes do seu bebê

Clínica Odontológica do Cesupa oferece tratamento para bebês


Mais de 300 pacientes já foram atendidos
Desde agosto de 2002, a Clínica Odontológica do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa) oferece atendimento especializado a bebês de 0 até 3 anos. Os atendimentos fazem parte da grade curricular do curso de Odontologia do Cesupa na disciplina ‘Unidade Odontológica Infantil’. As atividades são feitas pelos alunos do 10° semestre do curso, sempre com o acompanhamento de professores.

Atividade pioneira
A primeira universidade a instituir a Odontologia para bebês no Brasil foi a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no estado do Paraná. Após realizar diversas pesquisas na área de Odontologia infantil, a UEL constatou que o atendimento deveria iniciar antes do primeiro ano de vida do bebê para evitar a manifestação da cárie. A Odontologia para bebês foi reconhecida como um direito de cidadania na 2ª Conferência Nacional de Saúde Bucal realizada em Brasília em 1993. No Pará, o Cesupa foi a instituição pioneira em incluir o atendimento para bebês de 0 a 36 meses já no curso de graduação. Segundo a professora Dóris Miranda, uma das orientadoras da clínica da universidade, a disciplina de atendimento infantil só era ofertada em cursos de pós-graduação.

Número de atendimentos
O número de atendimentos de bebês na clínica chega a cerca de 352 pacientes desde o início do funcionamento em 2002. Deste número, 295 bebês estavam recebendo pela primeira vez um serviço Odontológico e 19 bebês já apresentavam a cárie instalada. Segundo a professora Dóris Miranda, as principais causas de cárie em bebês é a higiene inadequada e a introdução do açúcar na alimentação da criança.  

“Ao invés de aguardar que a criança procure o serviço já com a cavidade de cárie, é importante que a gente se antecipe a esse problema, então antes de aparecer com esse problem, a criança já precisa receber esse atendimento.”, ressalta a professora Dóris Miranda, alertando para os cuidados com a prevenção da cárie.

Serviço
O atendimento para bebês na Clínica Odontologia do Cesupa é feito todas as quartas feiras, de 8 até 10 da manhã. O agendamento para consultas é realizado diretamente na clínica que fica localizada na travessa Nove de Janeiro, nº 927 entre José Malcher e João Balbi. Outras informações podem ser obtidas nos telefones 3266-2041 e 3266-2044.

Texto de Igor Augusto com supervisão de Lali Mareco

Fonte: http://www.cesupa.br/saibamais/informe/informe.asp?Cod=2641&tipo=nota

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Definitivamente, não precisávamos disso

Há muitos anos aprendi que o Brasil havia erradicado a poliomielite, um grande passo da saúde pública. As campanhas de vacinação eram feitas para manter esse estado de coisas.

No entanto, em um mundo onde ainda grassa a pobreza, novas doenças a ela relacionadas surgem e outras, antigas, podem ressurgir. O vírus da pólio ainda está por aí, na natureza. Só não sabíamos que já no Brasil. Mas ele acabou de ser descoberto, em um importante centro urbano: Campinas.

Por enquanto, nenhuma notícia de contaminados. Mas, de repente, já não dá mais vontade de cantar uma linda canção.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Reflexões sobre obras particulares na cidade

Acordar às 5h10 da madrugada para levar a mãe à hemodiálise e, de lá, conduzi-la imediatamente à radioterapia me fez abdicar de qualquer bom humor e o faria mesmo que hoje não fosse feriado. Decidi, assim, praticar um de meus esportes favoritos. Lá vai.

Conheço o Hospital Porto Dias de outros carnavais. A despeito dos investimentos para construir um prédio enorme, dotado de luxuosas suítes para clientes VIP, maiores do que muitos apartamentos por aí, aspectos muito mais elementares, fundamentais mesmo, não parecem ter mudado ao longo dos anos.

Quando entrei no estacionamento do prédio mais novo, perguntei-me imediatamente: "O Corpo de Bombeiros liberou isto aqui?" ― pergunta que, em se tratando de Belém do Pará, está longe de ser retórica. Construído claramente em aproveitamento de espaços disponíveis, é irregular, com rampas íngremes e, no trecho que usei, estreito e repleto de colunas próximas. Um exercício de paciência para quem, se precisou ir a um hospital, não está exatamente num momento muito bacana.

Chamou-me a atenção, particularmente, o fato de, em toda a extensão do corredor onde entrei, haver uns buracos no chão, conectados a uma tubulação que, confesso, não sei para que serve. Talvez para escoar água, evitando alagamentos. Ocorre que esses buracos, tendo a bitola de tubos de esgoto, constituem ameaça para qualquer pessoa que caminhe por ali, especialmente por não haver nenhuma sinalização e a própria iluminação do lugar ser um pouco fraca. Ninguém anda por estacionamentos procurando buracos, então mesmo uma pessoa cuidadosa poderia ser traída pela desatenção.

Embora leigo, tenho certeza de que existe uma NR em algum lugar obrigando que esses buracos sejam tampados, e com tampas presas, impedindo que pessoas tropecem neles, sofrendo quedas ou torções. Eles são especialmente perigosos para crianças, cujos pezinhos podem cair neles, produzindo até fraturas.

Desnecessário destacar que o estacionamento é pago, não é?

Depois de estacionar, fizemos o que era certo: procuramos uma saída pelo elevador, embora estivéssemos ao lado da rampa destinada aos veículos. Nada de correr riscos, claro. Um hospital daquele porte nos oferece dois elevadores, um dos quais estava desligado. Após esperar uma estação inteira até o bicho descer do 17º andar, a porta se abriu e aí nos deparamos com o velho padrão de qualidade Porto Dias: dentro, havia um simpático funcionário transportando um imenso carrinho com roupas usadas.

Naquela casa sempre foi assim: visitantes, funcionários, doentes, operados, cestos de roupa suja e carrinhos com bandejas de alimentação dividem o mesmo elevador! Depois ocorrem surtos de infecção hospitalar e ninguém sabe por quê. Mas veja bem: a recepcionista impediu um rapaz de subir porque ele estava... de bermuda. É isso, mesmo: o hospital que coloca gente com o sistema imunológico prejudicado, roupas sujas e comida no mesmo cubículo proíbe o acesso de homens usando bermudas. Afinal, homens de bermudas são um atentado à moral e aos bons costumes, além de constituírem grave ameaça à saúde pública. Sobretudo numa cidade com o clima nórdico de Belém.

Mas faço questão de ressaltar que o setor de radioterapia do Hospital Porto Dias, recentemente inaugurado, funciona muito bem e tem um corpo funcional extremamente gentil e prestativo, uma necessidade absoluta considerando o estado emocional de quem passa por ali para fins de atendimento, pessoal ou em familiares. Médicos, grupo de enfermagem e atendentes estão de parabéns pela atenção que dispensam ao público e pela sinceridade dos sorrisos com que nos recebem.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Libertad interior de la cabeza

No site do Senado uruguaio, a notícia é modesta e meramente descritiva:

La Cámara de Senadores votó 16 en 29 el proyecto de ley por el que se establece el control y la regulación por parte del Estado de la importación, exportación, plantación, cultivo, cosecha, producción, adquisición, almacenamiento, comercialización, distribución y consumo de la marihuana y sus derivados. Informó en Sala el Senador Roberto Conde.

Seguem-se os nomes dos parlamentares que fizeram uso da palavra e a informação de que o projeto seguirá para o presidente da República, o admirável José Mujica, para promulgação. No site da presidência, nenhuma notícia, por enquanto.

O comedimento dos uruguaios não corresponde ao extremo interesse que a matéria desperta mundo afora. Afinal, trata-se do primeiro país a liberar o consumo de maconha em qualquer caso, estabelecendo apenas uma restrição no que tange à quantidade de droga a ser disponibilizado a cada pessoas.

O marco legal das drogas é um assunto palpitante para a Criminologia, há décadas, porque está fortemente relacionado a questões como princípio da lesividade (quem se droga prejudica apenas a si mesmo, não a terceiros, de modo que não poderia ser criminalizado); criminalização de estilos de vida e, em especial, de pessoas já vulneráveis; política criminal "higienizadora"; combate ao crime organizado e à corrupção policial; guerra ao tráfico, à frente, claro, os Estados Unidos; custos sociais da liberação; questões tributárias; políticas públicas de saúde, dentre outros. Ou seja, neste momento há muita gente de olho na República Oriental do Uruguai.

Dada a moderação dos hermanos cisplatinos, colho na imprensa comum maiores informações sobre as consequências da mudança legislativa sob comento:

Dez aspectos sobre as inovações legislativas uruguaias (http://oglobo.globo.com/mundo/a-legalizacao-da-maconha-no-uruguai-em-10-pontos-11025561):

Papel do Estado
O projeto estabelece que o Estado assumirá o controle a regulação, a importação, a exportação, a plantação, o cultivo, a colheita, a produção e a aquisição de todas as partes da comercialização e da distribuição da cannabis e de todos seus derivados.

Órgão supervisor
A lei cria o Instituto de Regulação e Controle de Cannabis, o IRCCA, que dará licenças e poderá aplicar multas e suspender o registro dos infratores. O órgão também pode destruir mercadorias. Participam desse controle os ministérios da Agricultura e da Saúde Pública e a Junta Nacional de Drogas.

Quem pode plantar
A planta pode ser cultivada para pesquisa científica e criação de produtos farmacêuticos. O cultivo para consumo próprio será limitado a seis plantas ou 480 gramas anuais. Cooperativas de maconha também podem plantar, para isso, devem ter no mínimo 15 e no máximo 45 membros, além de uma autorização do poder Executivo.

Pena
Os que plantarem, armazenarem ou comercializarem ilegalmente podem cumprir pena de 20 meses a 10 anos de prisão.

Farmácias
IRCCA dará licença para que farmácias possam vender a droga. O consumo mensal máximo por pessoa é de 40 gramas.

Uso medicinal
O uso medicinal de maconha também será liberado.

Onde não pode fumar
A lei de tabagismo se aplica, com isso, fica proibido fumar maconha em lugares fechados. Não se pode consumir a droga quando houver mais de 1% de THC no organismo.

Publicidade
Fica proibido fazer campanha da maconha e passa a ser obrigatório o ensino da matéria "prevenção do uso problemático de drogas” em escolas e universidades.

Tratamento
Em cidades com mais de 10 mil habitantes serão inaugurados centros de informação e diagnóstico para reabilitação de usuários problemáticos.

Regulamentação
O governo tem 120 dias, quatro meses, para regulamentar a lei. Entre os pontos que precisam ser resolvidos estão a aquisição das sementes e como será a venda nas farmácias.

Acostumados a menosprezar a América Latina da qual faz parte (a preferência seria fazer fronteira com os Estados Unidos, especialmente com a Flórida), o máximo de respeito que os brasileiros costumam demonstrar pelo Uruguai diz respeito a aspectos turísticos e, mesmo assim, apenas recentemente. Contudo, o país vizinho merece respeito por sua preocupação com os direitos humanos e por seus investimentos sociais.

Segundo a Wikipedia, citando fontes, o Uruguai foi o primeiro país sul-americano a legalizar uniões civis homoafetivas e a adoção por homossexuais. Em 2009, tornou-se o primeiro país do mundo a oferecer um laptop e internet sem fio, gratuitamente, para cada criança do ensino primário. Devagar, vão fazendo o que podem. Por aqui, mesmo os direitos dos homossexuais saem lentamente e com dificuldades, já que dão trela para uma tal de bancada evangélica. E os investimentos sociais são insuficientes, equivocados e prejudicados pelos desvios.

O Uruguai se torna, em relação à maconha — uma das drogas mais consumidas do mundo, inclusive pela convicção de muitos de que ela não faz tanto mal assim, do que obviamente eu discordo —, um laboratório. O próprio presidente Mujica considera essa nova lei como um teste. Sem dúvida alguma, um teste que será acompanhado com grande atenção.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Proficiência para futuros médicos

Má notícia para aqueles que estão convencidos de que o governo federal petista escolheu a sacrificada, heroica e perseguida classe médica para prejudicar a cada dia que nasce: segundo a enquete quinzenal do Senado, 90% dos brasileiros que emitiram opinião são a favor do projeto de lei que institui um exame de proficiência como condição para o exercício da Medicina no país.

Tudo bem que as enquetes do Senado não têm valor científico, como o próprio portal informa, e que até o momento apenas 201 brasileiros votaram, um número certamente pouco expressivo. Mas a enquete foi posta no ar ontem e será possível votar até o próximo dia 2 de dezembro. Dá tempo de os perseguidos se mobilizarem e votarem mil vezes contra, cada um.

Para reforçar convicções, o projeto foi proposto por um senador do PT (Tião Viana, do Acre). Só que data do ano de 2004, muito antes de o governo mirar nos médicos como forma de esconder todas as suas mazelas.

O PLS 217, de 2004, tem apenas três artigos. O primeiro altera o art. 17 da Lei n. 3.268, de 1957 (Dispõe sobre os Conselhos de Medicina e dá outras providências), condicionando a inscrição em conselho regional de Medicina aos indivíduos que, a par de preencherem os demais requisitos, houverem sido aprovados em exame nacional de proficiência, que deverá ser realizado, pelo Conselho Federal, ao menos uma vez por ano em todas as unidades federativas. Além disso, os serviços públicos de saúde funcionarão como "campo de prática para a realização das provas", mediante normas a serem elaboradas pelos ministério da Educação e da Saúde, conjuntamente.

O art. 2º altera a redação do art. 48 da Lei n. 9.394, de 1996 (Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional), dispondo que a legitimação do diploma expedido por universidade estrangeira não se dará por meio do chamado "Revalida", e sim deste mesmo exame de proficiência.

E o art. 3º apenas estabelece cláusulas de vigência (dois anos após a publicação da lei) e revogação.

Os perseguidos podem começar a espernear, mas o projeto não faz mais do que instituir, no âmbito da Medicina, regra análoga à que já se aplica ao campo do Direito desde 1994, o controverso Exame de Ordem. Lembrando que, para os juristas, há um efeito cascata, porque a grande maioria das carreiras jurídicas mais procuradas exige que o candidato comprove três anos de efetivo exercício da advocacia, para demonstrar experiência. Não vale a simples inscrição na OAB: o advogado precisa praticar ao menos cinco atos privativos de advogado por ano. Em suma, sem passar no Exame de Ordem, você não advogada e não pode fazer quase nada.

E convenhamos: a proficiência é muito mais necessária e urgente para os médicos, segundo penso. Sempre fui favorável ao Exame de Ordem, imagine à proficiência médica. Enfim, no tempo do parlamento brasileiro, o projeto está tramitando. Se não estivesse, não teriam feito uma enquete a respeito.

Este blog já noticiou protestos dos odontólogos contra proposta semelhante; e o veto da presidência da República à proposta de certificação prévia dos médicos veterinários.

Acréscimo em 20.11.2013:
Não vou ficar monitorando, não, mas só porque a informação me apareceu hoje, registro que, passado um dia, o número de votantes subiu para 438 e os favoráveis ao exame de proficiência são 88,8% deles.

Acréscimo em 28.11.2013:
Ainda há tempo para votar. Até agora, 1797 pessoas já o fizeram e, por enquanto, os favoráveis ao exame são 88,6%. Parece que uma tendência está mesmo estabelecida.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Saúde mental

Quando comecei a fazer terapia — lá se vão mais de 13 anos , após resistir por um bom tempo, cheguei à conclusão de que todas as pessoas deveriam ter a oportunidade de viver essa experiência. Digo "oportunidade" para destacar que a medida deveria ser totalmente voluntária, uma escolha esclarecida do cidadão que, a partir daí, poderia ter acesso a bons serviços de psicologia, psiquiatria e psicanálise, conforme necessidades e preferências.

Infelizmente, se neste país mal se consegue atenção à saúde para manter o corpo vivo e íntegro, imagine manter a sanidade mental! Os serviços públicos são sobrecarregados e se destinam, basicamente, a atender situações extremas, como as de pessoas direta ou indiretamente atingidas por violência ou por doenças ocupacionais que provocaram afastamento do trabalho.

Só Deus sabe como a demanda é infinitamente superior à oferta. E, com isso, muita gente necessitada deixa de se tratar, mergulhando em intenso sofrimento sem esperança, por anos a fio, às vezes até o final de suas vidas. Vidas que talvez acabem abreviadas ou que, em todo caso, foram suportadas em vez de vividas, sem a qualidade que todos merecemos, mas nem todos alcançamos.

O desembargador do Espírito Santo Pedro Valls Feu Rosa escreveu matéria na qual externa sua fé de que a psicologia pode mudar o mundo, citando uma série de exemplos de comportamentos absurdos ou abusivos, que poderiam ser mitigados se os seus protagonistas tivessem tratado a cabeça. Entendi que a premissa defendida é apenas uma aposta na ideia geral de que, se o indivíduo se conhece, pode agir melhor no mundo. Algo semelhante a se você se alimentar melhor, terá mais saúde e viverá mais. Uma conclusão bastante plausível, sem arroubos de certeza.

Nesse particular, concordo com o articulista e comungo da sua grande preocupação: a quantidade imensa de loucos de todo gênero e de sociopatas que estão aboletados em funções públicas, perpetrando toda sorte de malefícios às pessoas que não podem defender-se de sua opressão. Algo tão comum na realidade deste país — onde o crime de desacato está na ponta da língua desses sombrios personagens, mas nunca o de abuso de autoridade —, que me dou ao direito de não citar nenhum exemplo. Imagino que os leitores terão na memória, em uma fração de segundo, mais de um caso.

Em se tratando de serviço público, e particularmente em relação a funções que exprimam grande poder de ação, o acompanhamento psicológico não deveria ser voluntário. Esses servidores públicos deveriam entrevistar-se anualmente, no mínimo, com terapeutas, para um bate papo e, quem sabe, encaminhamento a terapia mais prolongada. Para certas carreiras, esse acompanhamento deveria ser condição de progressão. Em outras, de permanência na função.

Sei que a proposta é audaciosa e, claro, precisaríamos de muito debate para encontrar um modelo que atendesse às necessidades do país, sem engessar o serviço público e sem transformar os profissionais de saúde mental em déspotas com poderes titânicos sobre tudo e todos. Acima de tudo, sem enveredar por um novo modelo de sociedade de controle, sem incorrer no erro absurdo da psicologização de toda a vida. Mas que do jeito que a coisa está, não é bom. Ouso dizer que, definitivamente, não é bom.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Pará: uma ótima notícia

Foi realizado no último sábado o primeiro transplante de fígado em nosso Estado. A longa cirurgia, de mais de 10 horas de duração, transcorreu sem intercorrências e o paciente, de apenas 20 anos, passa bem. É cedo, no entanto, para maiores informações.

Seja como for, agora o Estado já dispõe de condições técnicas e de recursos humanos para cirurgias delicadas desse tipo (salvo engano, é o terceiro tipo de transplante realizado em território paraense), tornando mais acessível o transplante àqueles que dele necessitam. É sempre um alento saber disso. Vamos torcer para que, num futuro próximo, outros tipos de transplante sejam realizados aqui.

Fonte: http://www.diarioonline.com.br/noticia-258150-primeiro-transplante-de-figado-e-realizado-no-para.html?232902513

domingo, 29 de setembro de 2013

Sempre o problema do parto natural

Encerrada com sucesso a questão do parto de minha prima Rafaela, que deixou a Santa Casa de Misericórdia para o Hospital de Clínicas "Gaspar Viana", onde foi atendida com muito mais salubridade, além de elogiar a equipe profissional.

Gostaria de destacar apenas um aspecto. E sempre destacando que sou leigo no assunto e não pretendo falar do que não sei, muito menos ser mais realista que o rei.

O fato é que no primeiro hospital em que esteve, o Layr Maia, para utilizar os serviços do plano de saúde, minha prima fez uma ultrassonografia, cujo resultado deu 37 semanas de gestação, saco amniótico roto e bebê em boas condições. Por alguma razão que ninguém soube me explicar, a indicação era de parto cesariano, com envio da criança para uma UTI neonatal. Já na Santa Casa, houve um exame clínico e o parto cesariano foi sumariamente ignorado. A recomendação era uma injeção para induzir o parto normal. Ocorre que mais de três horas se passaram e ninguém apareceu para olhar a paciente. Ela já sentia dor e tinha 4 centímetros de dilatação, mas simplesmente não acontecia nada, no que tange a atendimento.

Transferida para o HC, foi instalada com muito mais conforto, apesar de já sentir bastante dor (que suportou com bastante coragem) e a enfermagem afirmou que o bebê provavelmente nasceria de madrugada. Com efeito, nasceu às 14h47, de parto normal, sem qualquer intercorrência. Mãe e filho passaram bem desde o primeiro momento e a alta hospitalar será amanhã, após aplicação de uma primeira vacina no bebê.

Aí eu pergunto: e por que, então, houve uma indicação de parto cesariano? Por quê? Espero que alguém me responda, porque do contrário ficarei com a resposta que cresce aqui dentro do meu coração.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Aterrorizante

Já falei muito bem da Santa Casa aqui no blog, por conhecimento pessoal (veja aqui e aqui). Mas não conheço a realidade daquele hospital, tendo-me referido a um serviço que vi, que utilizei, e que posso afiançar foi excelente. Mas eu não conhecia até esta noite o outro lado.

Circunstâncias burocráticas de planos de saúde e falta de compromisso da Marinha (o pior aspecto do serviço público...) levaram uma jovem de minha família à Santa Casa, hoje, para ter o seu bebê. Pelo que pude perceber, a equipe até se esforça por fornecer um atendimento humanizado, mas há dificuldades que não podem ser transpostas. Refiro-me à infraestrutura.

Precisei ir até à enfermaria onde a colocaram e, meus queridos, o que vi foi, em uma palavra, aterrorizante. Começo pelo estilo de acomodação dos hospitais de antigamente, nos quais os pacientes eram atendimentos em enfermarias enormes, para muitas pessoas simultaneamente. Não se tinha a percepção do grande perigo que representa reunir, no mesmo ambiente, pessoas em diferentes condições de saúde.

Caminhando por um labirinto de enfermarias, o que vi foi um cenário de guerra. O prédio, gravemente deteriorado, apresenta até infiltrações. As enfermarias abrigam mais de 20 pacientes e, devido às acompanhantes, o que resulta são salões cheios, barulhentos, abafados (nem todos os ventiladores funcionam) e com algo que sempre me incomodou demais em hospitais: um cheiro peculiar, ruim, angustiante. Só consigo pensar em cheiro de doença.

Juro para vocês, eu, que não sou dado a faniquitos, só queria sair dali o mais rápido possível. De preferência correndo. E agora desejo muito que minha prima possa sair de lá. Honestamente, não sei como uma criança pode nascer naquele ambiente tão profundamente insalubre e sobreviver.

Enquanto aguardava notícias do lado de fora (só um acompanhante por pessoa), fiquei olhando o prédio vistoso da "Nova Santa Casa", orgulho político do Sr. Governador Pescador, que nada mais tem a oferecer. O letreiro é iluminado, para ser visto de longe. Um funcionário, ao meu lado, telefonava insistentemente para diferentes pessoas tentando que alguém fosse buscar "os cadaverezinhos" (sic), porque já estavam em decomposição. Então me acerquei do segurança e perguntei se o novo hospital estava funcionando ou se era apenas propaganda do governo. Respondeu-me que está funcionando, que os pacientes estão sendo transferidos aos poucos.

Espero que sejam transferidos, mesmo. O quanto antes. Porque é absolutamente impossível encontrar dignidade numa estrutura que não se conserta com pintura nova. Não se conserta mais.

Esse é o Pará que não aparece na milionária publicidade institucional do governo do Estado. Uma realidade que você não vai querer conhecer.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Lei do Ato Médico

Uma batalha legislativa de mais de 11 anos chegou ao fim, embora isso não indique, obviamente, que a verdadeira batalha já esteja concluída. Foi publicada hoje e entrará em vigor daqui a 60 dias a Lei n. 12.842, de 10 de julho de 2013, que dispõe sobre o exercício da Medicina. A briga de foice entre médicos e outras categorias profissionais ligadas à saúde girava em torno da definição de atividades privativas da Medicina, ou seja, da caracterização do que seria um ato médico.

Diversas categorias lutavam por assegurar certas prerrogativas, por se entenderem capacitadas a fazê-lo e, também, como forma de atender melhor à demanda. Não faltava, é claro, o componente acusatório: médicos são arrogantes e querem reservar para si um poder decisório que pode menosprezar outros profissionais e dificultar o atendimento à população. Mas eles não estariam minimamente preocupados com isso.

Deixo claro que esta matéria é complexa e extrapola o meu conhecimento pessoal, por isso prefiro não tecer nenhum juízo de valor. Apenas me parece que a presidente Dilma Rousseff procurou uma solução conciliatória, vetando as previsões de atividades privativas que poderiam provocar maior descontentamento.  O Conselho Federal de Enfermagem, p. ex., está satisfeito porque os vetos incidem justamente sobre hipóteses que a categoria desejava ver excluída do texto legal. No Portal COFEN, há diversas notícias sobre o assunto. Desde a aprovação do projeto de lei havia um certo clamor pelo veto.

Também me parece que os profissionais não-médicos não devem considerar-se afagados pela presidência da República. Nas razões dos vetos, o Executivo deixou claro que os motivos determinantes de sua recusa estão sempre ligados à operacionalidade dos serviços públicos de saúde. Restringir a atuação das diversas categorias que atuam na área de saúde dificultará ainda mais o atendimento ao público e o governo, sensatamente, não quer piorar o que já é ruim (muito menos levar a culpa por isso).

O Conselho Federal de Medicina ainda não se pronunciou sobre a nova lei. Está muito ocupado, no momento, com o anúncio de trabalho obrigatório no SUS, polêmica novidade trazida pelo governo nos últimos dias. O que não significa que não vá protestar adiante. Afinal, até os médicos, nestes tempos barulhentos, encontraram o caminho da rua.

Esta reportagem aqui fornece uma boa síntese sobre o assunto.

Acréscimo em 12.7.2013:
No site do CFM, já pode ser lida a promessa de trabalhar para a derrubada dos vetos apostos à lei. Quem achou que a confusão ia acabar?

Sai pra lá!

Existem alguns setores que apostam muito alto na ignorância do povo. A grande imprensa local, p. ex. O Diário do Pará vem tratando como "barrigada" (publicação de informação falsa por erro ou descuido), desde ontem, a capa de sua edição na qual estampou fotografias de bebês recém-nascidos acomodados em caixas de papelão, dizendo que era a situação atual da Santa Casa de Misericórdia do Pará.

Sem demora, leitores cuja memória não é tão falha se recordaram das imagens e descobriram que as mesmas constituem registros de ..., feitas em um hospital de Honduras. As redes sociais ferveram. Independentemente do descalabro que é a saúde pública no Pará, não podemos admitir uma mentira tão descarada. À noite, em seu site, aquele jornal já publicara uma nota informando que estava checando a veracidade das imagens e que não via problema algum em admitir seu "erro", caso comprovado. Àquela altura, porém, as fotografias reais, associadas aos jornais estrangeiros da época, já estampavam as redes sociais e eram intensamente exploradas pelo grupo concorrente.

Esta manhã, o Diário do Pará publicou um editorial em plena capa. Começa pedindo desculpas pela publicação das fotos e persiste na tese do erro, que afirma estar sendo apurado. Alguém nos tapeou, sabe? E esses "erros lamentáveis" acontecem nos "melhores jornais do mundo". É verdade, isso pode acontecer em qualquer lugar. Mas também é verdade que o pretenso erro deflagrou uma campanha de fustigação do governo do Estado, iniciada imediatamente após o PMDB deixar a barca que vinha apoiando até aqui, como sempre em troca de cargos estratégicos e rentáveis, financeira e politicamente.

Será que o grupo RBA, de propriedade do Senador Jader Barbalho, maior quadro do PMDB paraense, realmente acredita que vamos engolir essa? Estou certo de que não, mas convém manter o personagem, persistir no jogo de cena, como sempre fazem por aqui os caciques da imprensa e da política. E digo mais: não é apenas o público mais informado e informatizado que percebe isso. O cidadão menos escolarizado também reúne condições mais do que suficientes para identificar a manipulação envolvida nessa história. Hoje em dia, tapear não é mais tão simples quanto antes.

Em países sérios, por muito menos do que isso, jornalistas já abdicaram de suas carreiras ou delas foram defenestrados. Por aqui, claro, será apenas uma questão de deixar a poeira baixar. Até porque o Diário do Pará conta com uma causa de peso para sustentar as suas baterias. Veja como, passadas apenas seis linhas, o editorial volta ao ataque e, aí sim, explorando fatos verídicos. Uma estratégia retórica para fazer o leitor se esquecer da "barrigada" e se concentrar apenas na situação de Santa Casa. Obviamente, as pessoas darão muito mais atenção a estes fatos e aí o próprio cérebro se encarregará de formar o convencimento. É mais ou menos como o promotor de justiça que exibe uma prova não autorizada ao tribunal do júri. A defesa protesta e o juiz manda aos jurados que desconsiderem aquela prova, por ser ilícita. Mas os jurados já viram a tal prova e não se esquecerão dela. Ao final, decidirão com base nela, mesmo sem o declarar.

Fique claro, contudo, que a conjuntura desesperadora da saúde paraense é real e não pode ser mitigada, muito menos pelas desculpas sempre evasivas e inócuas de Simão Jatene. Em uma coisa, por sinal, o editorial da família Barbalho está absolutamente correto, verbis: "O povo do Pará espera que o governador assuma suas responsabilidades. Passados quase três anos de administração, o governo sequer começou."

Essa é uma grande verdade, opinião da qual este humilde crítico compartilha. Basta que se consulte o histórico do blog, em postagens combinando os marcadores "Pará" e "governo", para ver a mesmíssima assertiva: Jatene ainda não fez nada neste seu mandato. Nada. Não que tenha feito muita coisa no anterior, de modo que não se trata exatamente de uma novidade. Mas o imobilismo do governador-cantor rivaliza com a inércia da gestão precedente e chega mesmo a destoar do estilo tucano, que adora uma obra grandiosa e caríssima, para turista ver, mesmo que isso não altere em nada a vida do povo.

Ao final, a constatação rotineira e exaustiva: neste imbróglio, não há nenhum santo. E enquanto os envolvidos se engalfinham em torno de seus interesses particulares mais mesquinhos, a realidade social continua torturante. Pior para os peões do tabuleiro, que são as peças mais numerosas e, segundo muitos enxadristas, as mais importantes. Só não sabem disso. Ainda, se Deus quiser.

domingo, 30 de junho de 2013

Prioridades tucanas

Até porque, dia desses, fiz uma crítica ao modo de governar dos tucanos, que foi objeto de réplica, aqui vai o link para uma postagem de A Perereca da Vizinha, blog da jornalista Ana Célia Pinheiro, que, quando escreve, mata a cobra e mostra a cobra morta (já que o pau não é prova bastante):

http://pererecadavizinha.blogspot.com.br/2013/06/prefeitura-de-belem-nao-tem-dinheiro.html

Eu quis dizer que, quando Ana Célia escreve, sempre apresenta provas documentais, de origem oficial, para comprovar as suas alegações.

Belém não fez investimentos para a copa do mundo, mas nossa praia aqui é outra: publicidade. A velha questão da publicidade. Já são 3 milhões de reais empenhados, em apenas 6 meses da gestão de Zenaldo "Não Sou Mágico" Coutinho, em favor de uma única agência de publicidade, a Griffo, a oficial do tucanato paraense.

3 milhões de reais. Infinitamente menos do que seria necessário para evitar que estas cenas aqui tivessem ocorrido. Inventei de assistir a esse vídeo antes de me deitar e consegui uma boa hora de mal estar, na cama, pensando naquelas imagens. Sou pai, afinal de contas. Eu me ponho no lugar e me apavoro.

As notícias estão aí. Os fatos. Você os julga como achar que deve.