Existem alguns setores que apostam muito alto na ignorância do povo. A grande imprensa local, p. ex. O Diário do Pará vem tratando como "barrigada" (publicação de informação falsa por erro ou descuido), desde ontem, a capa de sua edição na qual estampou fotografias de bebês recém-nascidos acomodados em caixas de papelão, dizendo que era a situação atual da Santa Casa de Misericórdia do Pará.
Sem demora, leitores cuja memória não é tão falha se recordaram das imagens e descobriram que as mesmas constituem registros de ..., feitas em um hospital de Honduras. As redes sociais ferveram. Independentemente do descalabro que é a saúde pública no Pará, não podemos admitir uma mentira tão descarada. À noite, em seu site, aquele jornal já publicara uma nota informando que estava checando a veracidade das imagens e que não via problema algum em admitir seu "erro", caso comprovado. Àquela altura, porém, as fotografias reais, associadas aos jornais estrangeiros da época, já estampavam as redes sociais e eram intensamente exploradas pelo grupo concorrente.
Esta manhã, o Diário do Pará publicou um editorial em plena capa. Começa pedindo desculpas pela publicação das fotos e persiste na tese do erro, que afirma estar sendo apurado. Alguém nos tapeou, sabe? E esses "erros lamentáveis" acontecem nos "melhores jornais do mundo". É verdade, isso pode acontecer em qualquer lugar. Mas também é verdade que o pretenso erro deflagrou uma campanha de fustigação do governo do Estado, iniciada imediatamente após o PMDB deixar a barca que vinha apoiando até aqui, como sempre em troca de cargos estratégicos e rentáveis, financeira e politicamente.
Será que o grupo RBA, de propriedade do Senador Jader Barbalho, maior quadro do PMDB paraense, realmente acredita que vamos engolir essa? Estou certo de que não, mas convém manter o personagem, persistir no jogo de cena, como sempre fazem por aqui os caciques da imprensa e da política. E digo mais: não é apenas o público mais informado e informatizado que percebe isso. O cidadão menos escolarizado também reúne condições mais do que suficientes para identificar a manipulação envolvida nessa história. Hoje em dia, tapear não é mais tão simples quanto antes.
Em países sérios, por muito menos do que isso, jornalistas já abdicaram de suas carreiras ou delas foram defenestrados. Por aqui, claro, será apenas uma questão de deixar a poeira baixar. Até porque o Diário do Pará conta com uma causa de peso para sustentar as suas baterias. Veja como, passadas apenas seis linhas, o editorial volta ao ataque e, aí sim, explorando fatos verídicos. Uma estratégia retórica para fazer o leitor se esquecer da "barrigada" e se concentrar apenas na situação de Santa Casa. Obviamente, as pessoas darão muito mais atenção a estes fatos e aí o próprio cérebro se encarregará de formar o convencimento. É mais ou menos como o promotor de justiça que exibe uma prova não autorizada ao tribunal do júri. A defesa protesta e o juiz manda aos jurados que desconsiderem aquela prova, por ser ilícita. Mas os jurados já viram a tal prova e não se esquecerão dela. Ao final, decidirão com base nela, mesmo sem o declarar.
Fique claro, contudo, que a conjuntura desesperadora da saúde paraense é real e não pode ser mitigada, muito menos pelas desculpas sempre evasivas e inócuas de Simão Jatene. Em uma coisa, por sinal, o editorial da família Barbalho está absolutamente correto, verbis: "O povo do Pará espera que o governador assuma suas responsabilidades. Passados quase três anos de administração, o governo sequer começou."
Essa é uma grande verdade, opinião da qual este humilde crítico compartilha. Basta que se consulte o histórico do blog, em postagens combinando os marcadores "Pará" e "governo", para ver a mesmíssima assertiva: Jatene ainda não fez nada neste seu mandato. Nada. Não que tenha feito muita coisa no anterior, de modo que não se trata exatamente de uma novidade. Mas o imobilismo do governador-cantor rivaliza com a inércia da gestão precedente e chega mesmo a destoar do estilo tucano, que adora uma obra grandiosa e caríssima, para turista ver, mesmo que isso não altere em nada a vida do povo.
Ao final, a constatação rotineira e exaustiva: neste imbróglio, não há nenhum santo. E enquanto os envolvidos se engalfinham em torno de seus interesses particulares mais mesquinhos, a realidade social continua torturante. Pior para os peões do tabuleiro, que são as peças mais numerosas e, segundo muitos enxadristas, as mais importantes. Só não sabem disso. Ainda, se Deus quiser.
2 comentários:
É nesse jogo podre que todos eles deixam cair sua máscaras. Todos BANDIDOS, LADRÕES do erário público, assaltando a honra e dignidade do povo. Ainda tenho a esperança de que haverá uma resposta nas urnas, senão pra todos, pra alguns desses vermes.
Enquanto essa resposta das urnas não vier, Zizi, nada mudará. Por isso mesmo, fico arrasado quando chegam os processos eleitorais e o povo começa a se mover em torno de promessas de emprego, cargos, camisetas, cestas básicas, etc.
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