domingo, 31 de agosto de 2014

Sempre a vitória dos canalhas

Já vi isso várias vezes e você já viu também, a menos que seja um daqueles afortunados que não precisam ir a supermercados. O sujeito entra na fila do caixa rápido, que é limitado a 10 itens, em alguns estabelecimentos, ou 15, em outros, portando uma quantidade superior de mercadorias. Ele simplesmente para na fila e fica lá, de boa.

Somente por isso ele já está prejudicando as pessoas que, respeitando o limite, demorarão mais tempo para ser atendidas. O fato de não ir para uma fila normal mostra que o cara se julga melhor do que os outros: os outros podem esperar; ele não. O tempo dele vale mais do que o seu. E regras não existem para ele, só para o rebutalho do mundo, ou seja, eu e você. Mas a coisa piora.

Se o funcionário do caixa pondera alguma coisa, invariavelmente o cliente cresce para cima. Sabe por quê? Porque quem faz uma coisa dessas é um feladiputa. Simples assim. Não é uma pessoa equivocada, necessitada de orientação ou em um dia ruim. É um feladiputa e, como todos os de sua laia, decidem agir de maneira calhorda e covarde em 100% dos casos e sob todos os aspectos. Então ele impõe a sua vontade soberana. Já presenciei ocasiões em que um supervisor foi chamado, mas não adianta: aconteça o que acontecer, o feladiputa sempre sai vitorioso.

E assim chegamos ao ponto que mais me dá ódio: o funcionário do caixa, ou mesmo o supervisor, não enfrentam o feladiputa porque temem por seus empregos. O cliente sabe disso e ameaça, debocha, sapateia em cima. Ele sempre tem razão. Ele está pagando. Mas o fato é que você também está pagando e o seu dinheiro vale tanto quanto, mas provavelmente você não saiu em defesa do funcionário que, frise-se, estava fazendo o que era certo! Ninguém intercede por quem está certo.

No final das contas, se o dono do supermercado fosse chamado, ele resolveria o problema contemporizando: deixaria o feladiputa passar suas compras no caixa rápido, para dissolver logo o conflito, como se aquela fosse a única vez. Como se o feladiputa fosse compreender que lhe fizeram uma concessão ilegítima e aprender com o seu erro. Muito ao contrário, ele se fortalecerá em seu mau caratismo e sentirá um prazer ainda maior amanhã, quando repetir a mesma falcatrua. Ou outras. Porque estará provado por A+B que ele realmente está acima das regras.

É isso que me consome de ódio: quem faz o que é certo, não tem reconhecimento e corre sério risco de sofrer humilhações e punições. Mas para os canalhas sempre há condescendência. Não consigo compreender como não se enxerga a mensagem que se passa com esse tipo de comportamento.

Queremos que reconheçam os nossos direitos de cidadania, mas não somos cidadãos. A começar quando o problema não é meu. Será mesmo que não é seu? Você é omisso, então compactua; se compactua, é culpado. Se cada pessoa na fila proibisse o atendimento do feladiputa, não haveria dono que remasse contra a maré do bem. Ao canalha só restaria cair fora, derrotado.

Essa coisa prosaica é a luta do bem contra o mal que podemos travar, e vencer, todos os dias. Se quisermos.

O blog chega aos 8 anos

E não é que este pequeno blog conseguiu durar até completar, hoje, oito anos? Se bem que "durar", no contexto atual, soa meio irônico. O declínio começou em 2012, quando iniciei o mestrado e o turbilhão tomou conta de minha vida. Existe também a concorrência do Facebook, onde postamos textos mais para promover reações mais rápidas de algum público. E como sabemos, no mundo da internet, há muito impulso: certas ideias que nos ocorrem, se não extravasadas instantaneamente, tornam-se desinteressantes para nós mesmos.

Reservo para o blog opiniões que procuro desenvolver um pouco melhor, mas isso pede checar a informação, procurar fontes, fundamentar o pensamento. Ou seja, toma tempo. E tempo se tornou um artigo de luxo para mim, no último biênio. Sem falar em graves preocupações, notadamente a saúde de minha mãe, que me deixou sem ânimo para essa faina.

Mas estamos aqui. Aos trancos e barrancos, respirando por aparelhos que seja, o blog completa mais um ano de vida. Segundo percebo, a fase áurea dos blogs já passou. A menos que você faça humor ou escreva sobre tolices como moda ou astrologia, a maior parte do público não quer mais saber de blogs. As redes sociais se impuseram, provavelmente por serem locais onde você apenas lança suas opiniões, sem refletir, sem aprofundar, sem justificar. Sinais dos tempos. Quem persiste, fica arbitrando assim como eu, o mais das vezes só para mim mesmo; ou então publicando o link da postagem no Facebook, para atrair um pouco mais de atenção. Às vezes funciona.

Seja como for, gosto de pensar que o blog chegou até aqui. Se Deus quiser, terei mais tempo e cabeça para escrever alguma coisa que sirva para alguém, além de mim mesmo. E mais do que nunca, deixo um abraço forte para aqueles que ainda passam por aqui. Quem sabe os tempos vindouros nos reservem coisas boas.

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Parou, esperou e convidou

Dizem os antigos que o cavalo só passa selado na nossa frente uma vez. Por isso, quando ele passa, convém agarrá-lo com convicção. Dia desses, escutei uma pessoa dizer que, quando Deus quer uma coisa, dá um jeito para que aconteça. Naturalmente, trata-se de um argumento de fé, com implicações instigantes.

Veja-se o caso de Marina Silva. Candidatou-se à presidência da República no último pleito e teve um bom desempenho, sobretudo considerando ser sua primeira tentativa e estar fora da panelinha dos que loteiam o país.

Este ano, ela queria concorrer novamente, mas para tanto quis criar o seu próprio partido, para chegar como novidade. A despeito de seus esforços, não conseguiu o número mínimo de subscrições para registrar a agremiação junto ao Tribunal Superior Eleitoral. Somente por isso, no apagar das luzes, filiou-se ao PSB, para manter-se elegível. Não conseguiu, porém, ser a cabeça da chapa, porque o PSB já tinha seu plano montado.

Mas aí veio o inesperado e o dramático: o avião caiu e Eduardo Campos morreu. Marina era a sucessora natural e ficou com a missão. Mas não apenas isso: já chegou com ótimas intenções de voto e, segundo a última pesquisa, tem chances reais de vencer. Como pretendia mesmo ser candidata, não foi pega de surpresa. Somando tudo isso a seu temperamento agradável, sua fala precisa e seu enorme jogo de cintura, está fazendo miséria com os dois concorrentes principais.

Soa estranho pensar que Deus ajeitou as peças para que Marina se tornasse não apenas candidata, mas efetivamente chegasse à presidência. No entanto, sem sombra de dúvida, ela está mais perto disso do que nunca. Talvez até que estivesse concorrendo pela sua Rede, que não chegou a nascer.

Sinceramente, não conheço exemplo mais contundente de cavalo selado parar na frente de alguém e fazer aquela pose ali da foto: "Venha cá, pode subir".

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A cor do ódio

E não é assim também no Brasil?

Últimas palavras de homens negros que foram executados sumariamente pela polícia

No começo deste mês, um garoto desarmado foi morto por policiais em Ferguson, Missouri (EUA). Enquanto a polícia alega que a vítima tenha reagido, testemunhas afirmam o contrário e tópicos como a desmilitarização da polícia e o preconceito racial voltam à tona nas pautas dos jornais do mundo.

Nem é preciso ir tão longe, até Ferguson, para presenciar situações que instiguem esse tipo de debate. No Brasil, linchamentos públicos e assassinatos de garotos negros são muito mais comuns do que gostaríamos – e relevados.

Abaixo, temos 10 frases ditas por homens negros que foram mortos por policiais. Todos eles estavam desarmados e não ofereciam nenhum risco à vida do policial. São frases e situações que nos fazem pensar sobre o preconceito que ainda vive em nossas sociedades ditas modernas. Nas imagens, aparecem também as idades dos atingidos.

Dê uma olhada nessas histórias e lembre-se: Ferguson é na sua esquina, é no Rio, em São Paulo, é aqui.

1. John Crawford
ultimas-palavras9
Ele estava segurando uma arma de brinquedo na seção infantil de um supermercado quando a polícia atirou nele. Antes de cair, John disse: ”não é [uma arma] de verdade”.

2. Jonathan Ferrel
ultimas-palavras8
Ele sofreu um acidente de carro e bateu na porta de uma casa da vizinhança para pedir ajuda. Desarmado, ele foi abordado por policiais, que atiraram 12 vezes, acertando 10 balas em Jonathan que, enquanto agonizava, ainda foi algemado.

3. Amadou Diallo
ultimas-palavras7
Ele morreu na frente de seu apartamento, no Bronx, após receber 19 tiros. A polícia o confundiu com um estuprador. Momentos antes do incidente, ele havia ligado para sua mãe e dito suas últimas palavras: “mãe, eu estou indo para o colégio”.

4. Oscar Grant
ultimas-palavras6
Ele foi retirado à força de um vagão do metrô de Oakland por um policial. Enquanto estava no chão, imobilizado, um segundo policial atirou em suas costas. Enquanto ele morria, gritou: “você atirou em mim. Você atirou em mim!“. Segundo o autor do disparo, o objetivo era usar o taser, arma de choque, e não o revólver. Oscar estava desarmado e não havia feito nada que justificasse sua retirada do vagão.

5. Kendrec McDade
z_img 24
Após uma falsa denúncia para o telefone da polícia, Kendrec foi avistado em um beco por policias. Apesar de estar desarmado, foi alvejado e morreu. Suas últimas palavras: “Por que você atirou em mim?”

6. Eric Garner
ultimas-palavras3
Autuado pela venda ilegal de cigarros, Eric foi abordado por policiais, que o prenderam literalmente pelo pescoço. O homem, que sofria de asma, tentou avisar, dizendo “eu não consigo respirar”, mas o alerta foi em vão e ele morreu. Segundo o laudo, o sufocamento foi o fator determinante para sua morte.

7. Kimani Gray
ultimas-palavras4
Ao ser abordado por policiais em uma rua do Brooklyn, Kimani não portava nenhuma arma, segundo testemunhas. Mesmo assim, recebeu sete tiros. “Por favor, não me deixe morrer” foram as últimas palavras deste garoto de 16 anos.

8. Michael Brown
ultimas-palavras5
Sem portar arma alguma, Michael foi alvejado pela polícia, levando dois tiros na cabeça. “Eu não tenho arma nenhuma. Parem de atirar”, foi sua última tentativa de sobrevivência – em vão.

9. Sean Bell
ultimas-palavras2
Ele iria se casar e voltava de sua despedida de solteiro com os amigos Joseph e Trent. O grupo acabou batendo em uma minivan, de onde saíram quatro policiais à paisana. Sem se identificar, os policiais atiraram 50 vezes contra o carro dos amigos, atingindo-os. Joseph olhou para Sean e disse “Sean, eu te amo”. Sean respondeu “eu te amo também” e faleceu. Trent e Joseph sobreviveram.

10. Trayvon Martin
ultimas-palavras1
Ele estava falando no telefone quando foi atingido por uma bala de revólver. Rachel Jeantel, que estava do outro lado da linha, pode apenas ouvir: “Por que você está me seguindo?” antes do disparo.
Todas as fotos © Upworthy

Fonte: http://www.hypeness.com.br/2014/08/serie-emocionante-mostra-as-ultimas-palavras-de-pessoas-comuns-antes-de-morrerem/

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Utilidade pública: os dentes do seu bebê

Clínica Odontológica do Cesupa oferece tratamento para bebês


Mais de 300 pacientes já foram atendidos
Desde agosto de 2002, a Clínica Odontológica do Centro Universitário do Estado do Pará (Cesupa) oferece atendimento especializado a bebês de 0 até 3 anos. Os atendimentos fazem parte da grade curricular do curso de Odontologia do Cesupa na disciplina ‘Unidade Odontológica Infantil’. As atividades são feitas pelos alunos do 10° semestre do curso, sempre com o acompanhamento de professores.

Atividade pioneira
A primeira universidade a instituir a Odontologia para bebês no Brasil foi a Universidade Estadual de Londrina (UEL), no estado do Paraná. Após realizar diversas pesquisas na área de Odontologia infantil, a UEL constatou que o atendimento deveria iniciar antes do primeiro ano de vida do bebê para evitar a manifestação da cárie. A Odontologia para bebês foi reconhecida como um direito de cidadania na 2ª Conferência Nacional de Saúde Bucal realizada em Brasília em 1993. No Pará, o Cesupa foi a instituição pioneira em incluir o atendimento para bebês de 0 a 36 meses já no curso de graduação. Segundo a professora Dóris Miranda, uma das orientadoras da clínica da universidade, a disciplina de atendimento infantil só era ofertada em cursos de pós-graduação.

Número de atendimentos
O número de atendimentos de bebês na clínica chega a cerca de 352 pacientes desde o início do funcionamento em 2002. Deste número, 295 bebês estavam recebendo pela primeira vez um serviço Odontológico e 19 bebês já apresentavam a cárie instalada. Segundo a professora Dóris Miranda, as principais causas de cárie em bebês é a higiene inadequada e a introdução do açúcar na alimentação da criança.  

“Ao invés de aguardar que a criança procure o serviço já com a cavidade de cárie, é importante que a gente se antecipe a esse problema, então antes de aparecer com esse problem, a criança já precisa receber esse atendimento.”, ressalta a professora Dóris Miranda, alertando para os cuidados com a prevenção da cárie.

Serviço
O atendimento para bebês na Clínica Odontologia do Cesupa é feito todas as quartas feiras, de 8 até 10 da manhã. O agendamento para consultas é realizado diretamente na clínica que fica localizada na travessa Nove de Janeiro, nº 927 entre José Malcher e João Balbi. Outras informações podem ser obtidas nos telefones 3266-2041 e 3266-2044.

Texto de Igor Augusto com supervisão de Lali Mareco

Fonte: http://www.cesupa.br/saibamais/informe/informe.asp?Cod=2641&tipo=nota

Prontuário em vez de currículo: para o governo do Estado

Em mais um grande serviço à nação, a organização Transparência Brasil publicou, em seu sítio, uma seção que mostra a trajetória dos candidatos, dando destaque às acusações de irregularidades que pairam sobre eles. Acesse www.excelencias.org.br. Na home page há um campo para Quer quer virar Excelência (http://www.excelencias.org.br/quemquer/). Escolha o Estado, depois o cargo e desfrute.

Fui lá dar uma olhada e lhes ofereço uma síntese. Copiei diretamente as informações do sítio, observando a dobradinha governador e respectivo vice.

Quem se deu mal, mesmo, foi o candidato Helder Zahlouth Barbalho (PMDB), que responde ao Processo n. 0009421-71.2009.4.01.3900, na Justiça Federal, agora sem prerrogativa de foro. "É réu por improbidade administrativa, acusado de irregularidades na aplicação de recursos do Ministério da Saúde transferidos à cidade de Ananindeua de 2004 a 2007. O dinheiro teria sido usado para compra de equipamentos e medicamentos de empresas inexistentes e para cobrir despesas não relacionadas à saúde. Além disso, há indícios de fraudes em licitação para compra de ambulâncias."

Nos autos do Processo n. 0032990-62.2013.4.01.3900, também da Justiça Federal, responde a ação civil de improbidade administrativa.

Mas é o vice, Joaquim de Lira Maia (DEM) quem brilha longe. Já ouvi dizer que é o parlamentar com o maior número de rolos perante a Dona Justa. Veja a "listinha":

Ações Penais movidas pelo Ministério Público Federal por crimes de responsabilidade previstos na Lei de Licitações, todos perante o STF: (números) 484/2008, 517/2009, 518/2009 e 524/2007.

Inquéritos perante o STF: 3036/2010, 2991/2010, 2762/2008 e 2742/2008 (apuram crimes de responsabilidade e contra a Administração Pública); 3049/2010, 3057/2010, 3058/2010 (apuram crimes contra organização do trabalho); e 3301/2011 (apura crime eleitoral de captação ilícita de votos ou corrupção eleitoral).

Ações civis públicas por improbidade administrativa (dano ao erário), movidas pelo Município de Santarém, pela União e pelo Ministério Público. São duas na Justiça Federal, Subseção Judiciária de Santarém: 0001836-74.2000.4.01.3902 e 0001305-17.2002.4.01.3902; e duas perante a Justiça estadual, na comarca de Santarém: 0009317-41.2008.814.0051 e 0009382-83.2007.814.0051.

Para arrematar, pareceres contrários do Tribunal de Contas dos Municípios à aprovação das contas da prefeitura de Santarém, quando o candidato a vice era o gestor: 200103811, 200203229 e 200304542.

O candidato à reeleição, Simão Robson Oliveira Jatene (PSDB), não apresenta registros (!!!). Seu vice, entretanto, José da Cruz Marinho (PSC), responde no STF ao Inquérito n. 3666/2013, que apura peculato e concussão. "O parlamentar é investigado por cobrança de percentual sobre remuneração de servidores comissionados em troca da manutenção dos cargos ocupados."

Os candidatos Marco Antônio Nascimento Ramos e Luís Alberto Menezes da Silva, ambos do PCB; Elton de Barros Braga e Jorge Carlos Gonçalves Vasconcelos, ambos do PRTB; José Carlos Lima da Costa e Raimundo Menezes Salame, ambos do PV; Marco Antônio Carrera Ferreira (PSOL) e Benedita Duarte do Amaral (PSTU) não são réus, indiciados ou investigados em nenhum procedimento.

Informe-se e vote com consciência.

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Dia do depósito

Passados dois anos desde o início das aulas, chegou enfim o momento de depositar a dissertação de mestrado. Esperei muito por este dia e ele, enfim, chegou. Está acontecendo.

Tudo prontinho, logo mais farei o depósito e, em menos de um mês, ocorrerá a defesa. São grandes o alívio e a alegria. Embora eu não seja de comemorar nada por antecipação, sei que agora falta pouco. E o que vem depois há de ser muito bom.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

The Knick

Estreou no Brasil na última sexta-feira (15) a nova série dramática do canal Max, The Knick, dirigida pelo respeitado cineasta Steven Soderbergh, que se tornou famoso com o filme Sexo, mentiras e videotape (1989) e traz em seu currículo títulos como Erin Brockovich (2000), Onze homens e um segredo (2001) e seus desobramentos (2004 e 2007), os dois filmes da cinebiografia de Che Guevara com Benício Del Toro no papel-título (2008) e Magic Mike (2012), além, obviamente, de Traffic (2000), pelo qual ganhou o Oscar de melhor direção.

O seriado também tem como chamariz o ator Clive Owen como protagonista, desta feita interpretando John Thackery, médico que assume o posto de cirurgião-chefe do Hospital Knickerbocker (vulgo "The Knick") após o suicídio de seu mentor, arrasado com uma sucessão de perdas de pacientes.

É preciso entender: a trama se passa na Nova Iorque de 1900, uma cidade sem os padrões de higiene que somente se disseminaram nas décadas seguintes e, por isso mesmo, um cenário fétido e repleto de doenças. Pode nos parecer muito estranho, mas naqueles tempos muitos médicos não apenas desconheciam como outros tantos resistiam à ideia de que organismos invisíveis pudessem causar doenças e matar pessoas, por isso lavar as mãos e trocar diariamente os curativos de doentes eram práticas pouco empregadas.

Mas a equipe do Knick se orgulha de sua modernidade. Thackery aprendeu com seu mentor a ser audacioso e seus esforços incluem testar técnicas inéditas, capazes de aterrorizar qualquer médico tradicional. E existe, entre aqueles profissionais, uma preocupação sincera com o bem-estar dos pacientes. Médicos e enfermeiros são muito conscientes de suas limitações e discutem qualquer coisa na frente dos pacientes, inclusive admitindo seus erros. Ficou-me a impressão de que ter acesso à saúde era tão difícil que as pessoas aceitavam de bom grado até o erro médico fatal, desde que tivessem uma chance de sobreviver. A alternativa seria morrer sofrendo.

O Knick é também um hospital-escola, de modo que as cirurgias são feitas diante de uma plateia, recurso interessante que permite ao telespectador entender o que está sendo feito e, consequentemente, o tamanho da ousadia de homens como Thackery, cuja sofisticação chegava ao ponto de manufaturar pessoalmente instrumentos cirúrgicos nunca antes vistos. Sem os benefícios das simulações em computador, restava ao próprio homem que segura o bisturi saber qual tipo de instrumento seria necessário para cada procedimento, dar um jeito de construí-lo e constatar, na prática, se dava certo ou não.

Se a descrição acima lhe passou uma perspectiva heroica e valorosa, saiba que nem tudo são flores em The Knick. Muito pelo contrário. Comecemos pelo protagonista, que é viciado em cocaína a tal ponto que injeta a droga entre os dedos dos pés, porque seus braços não suportam mais as agulhas. Quando nem os pés aguentam, vai na... artéria da uretra!!! Além disso, há uma imensa rede de corrupção em volta dos serviços de saúde. Pelo que entendi, os serviços de ambulância ganhavam por paciente e, assim, disputavam a bastão de beisebol quem transportaria o infeliz, além de extorquir os hospitais com argumentos como "você pode receber todos esses pacientes ou nenhum deles".

Mas a trama que vai movimentar a série é outra: o segundo personagem é Algernon Edwards (André Holland), um cirurgião com um impressionante currículo adquirido na Europa, imposto pelos ricos mantenedores do hospital. Mas o detalhe é que o rapaz é negro e, se de um lado certos pacientes não querem sequer ser tocados por ele, de outro o próprio Thackery o menospreza publicamente e declara não estar disposto a encampar uma questão racial em sua equipe. Como diz a Cornelia Robertson, assistente social filha do magnata que paga as contas por ali, o hospital não é um "experimento social". O arco dramático está lançado.

O primeiro episódio, único exibido até o momento, já mostrou a que veio, inclusive pelas cenas de cirurgia, mais explícitas do que o habitual. Para os fru-frus, pode ser incômodo ver. Eu fiquei impassível. Mas uma coisa é certa: vale muito a pena. Ao todo, serão dez episódios e a série já estreou renovada para a segunda temporada. Deguste.

domingo, 17 de agosto de 2014

Abastecimento: só até o limite

Em maio de 2009, reclamei da mania dos frentistas de abastecerem os veículos até quase transbordar o tanque de combustível (leia aqui). Parecia haver uma obsessão por vender a máxima quantidade possível de combustível, para aumentar os lucros. No entanto, esse comportamento pode ser danoso para a máquina.

Mas além disso, encher o tanque além do disparo do gatilho também prejudica a saúde do frentista, que respira mais intensamente a gasolina. Por isso, essa atitude tola talvez seja vantajosa para o dono do posto, mas certamente não beneficia mais ninguém. Por isso, no Distrito Federal, uma nova lei pretende acabar com isso (leia a notícia).

Ótima a notícia, porque protege o trabalhador de tomar uma decisão que possa soar desagradável para o patrão ou para clientes desinformados. Já está na hora de acabar com essa prática irritante.

Chegando ao fim

Foi por volta de abril de 2012 que o CESUPA lançou o edital para o seu primeiro processo seletivo de mestrado. Foi ali que começou a roda vida, com um volume enorme de leituras para fazer as provas já no mês de junho. Vale destacar, de saída, que esse processo seletivo não é simples, como demonstram alguns dados bem objetivos: não preenchimento de todas as vagas disponíveis, não aprovação de todos os candidatos que já figuravam como alunos especiais, desclassificação já na fase de entrevista. Quem achou que uma instituição privada colocaria todo mundo para dentro, enganou-se fragorosamente. Os objetivos são outros.

Em agosto de 2012, começaram as aulas. Três disciplinas por semestre ao longo de três semestres, com o turbilhão de leituras e a sucessão de resumos, questionários, seminários, etc., tudo com prazos antipáticos. Sentíamos claramente a lógica de que quem quer fazer, arruma um jeito; quem não quer, arruma uma desculpa. Claro que não endosso integralmente esse aforismo irreal, mas assumi desde o começo, a bem de minha sanidade, que me esforçaria muito, mas não faria o que estivesse além de minhas possibilidades. Mestrado é algo incompatível com dois empregos e uma família. Mas se você já tem os dois empregos e a família, vai ter que dar conta assim mesmo.

No último semestre letivo, veio a qualificação, dura para muitos. E chegou a hora de produzir a dissertação. Naturalmente, quem pensar em começar do zero após a qualificação não vai conseguir. Por isso a exigência de qualificar com ao menos 50 páginas escritas. Sorte de quem aproveitou o máximo delas, o que não foi o meu caso. Mas seja como for, também dispomos dos artigos escritos ao longo das disciplinas. A recomendação sempre é escrever sobre temas que possam servir para a dissertação. Tive dificuldade com isso, mas pude aproveitar de forma muito direta alguns deles.

As últimas semanas foram bastante penosas, porque exigiam um esforço concentrado, impossível diante do trabalho e de todos os demais compromissos que temos. Eu, por exemplo, enfrentei um ano difícil após descobrir que minha mãe tinha um câncer no útero e vê-la passar por cirurgia e radioterapia, tudo entremeado com a hemodiálise, devido a um problema de saúde autônomo, que é para a vida toda. Chegou um momento em que, com a filha adoentada e o corpo dando sinais de exaustão, olhei minha cara no espelho e disse: Tu não vais adoecer! Nem adianta argumentar: não vai rolar e pronto!

Não adoeci. Passaram as "férias", que não serviram de férias, e recomeçou mais um semestre letivo. E finalmente ontem coloquei um ponto final em minha dissertação. Estou, claro, em processo de orientação. Minha orientadora já me posicionou acerca de uma parte do trabalho e, no dia de hoje, analisa a parte final. Amanhã temos o nosso cara a cara. Aí eu volto para a frente do computador e até a próxima sexta-feira tudo precisa estar pronto, para depósito.

Faltam meios de externar o alívio e a alegria que sinto ao chegar a este momento. Talvez possa sugerir como seja com isto: quando disse a minha filha que o tal trabalho graças ao qual ela me vê sempre sentado neste canto, sem brincar com ela, finalmente acabou (tecnicamente, ainda não acabou), ela correu e me abraçou pelo pescoço, com força. Ontem saímos para comemorar e mais tarde daremos um passeio. É como se a vida estivesse sendo reinjetada na veia.

Outro que tem motivos para comemorar é o blog. Finalmente ele ganha uma chance de ser atualizado em níveis decentes. Uma nova época está começando para todos nós. E confio que ela será muito boa.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Naturalização da violência policial

A polícia que mais mata no mundo em situações cotidianas, a brasileira, aprontou de novo, desta vez na Baixada Fluminense, provocando a morte de uma jovem de apenas 22 anos.

Segundo consta, quatro tiros de fuzil para disparados contra um automóvel da marca HB20, portanto um carro compacto (não que fizesse muita diferença, porque um carro maior seria atravessado pelos projéteis do mesmo jeito). O inusitado do caso está na afirmação dos peritos de que os equipamentos de som instalados no veículo retiveram as balas, impedindo que os dois rapazes também a bordo morressem.

Não discutirei fatos controversos. Atenho-me, tão somente, à versão contada pelos próprios policiais, segundo os quais estavam à procura de dois automóveis, também brancos, onde supostamente viajariam criminosos. Eles então avistaram o dito HB20 e fizeram sinal para que parasse. Como o motorista não obedeceu, os castrenses o perseguiram e efetuaram disparos. Ponto.

Perceberam? Simplesmente porque os suspeitos não pararam, abriram fogo. Nem nas normas internacionais sobre guerra é permitido alvejar o inimigo que foge. Mas para a polícia brasileira é perfeitamente natural disparar contra (e consequentemente matar) suspeitos, mesmo que estes não pratiquem atos violentos, o que justificaria a legítima defesa ou o estrito cumprimento do dever legal. A coisa piora, naturalmente, porque estamos falando de meros suspeitos.

Se admitimos um procedimento desses, matar "licitamente" deixa de ser consequência da provocação de uma violência e passa a ser mera reação à desobediência! Policiais seriam autoridades tão absolutas que a simples negativa a suas ordens autorizaria a medida capital. E isso no mesmo país que consolidou jurisprudência no sentido de que não existe crime quando o indivíduo resiste de maneira meramente passiva à ação da autoridade. Se o policial dá voz de prisão e o sujeito tenta esmurrá-lo, há crime de resistência, em tese. Mas se o sujeito se agarra a uma grade para impedir a sua remoção, não há crime, porque a autoproteção é uma inclinação natural do ser humano. Jurisprudência nova? Nem um pouco.

Por conseguinte, em caso de fuga, o estrito cumprimento do dever legal se esgotaria nas ações destinadas a parar o criminoso ou suspeito e, caso isso não fosse possível, seria forçoso deixá-lo fugir. Há quem admita tiros de advertência. Eu sou contra, porque a bala que sobe, desce, tendo eu aprendido nas aulas de Física, numa outra vida, que a bala desacelera pelo atrito com o ar, chega à velocidade zero e retorna, sendo acelerada pela gravidade e, com isso, atinge o chão com a mesma velocidade do disparo. Mais ou menos isso. Corrijam-me se eu estiver errado. Por via das dúvidas, sou contra o tiro de advertência. Nunca se sabe quando há um cidadão incauto passando pelo local.

Mas de tanto a polícia dizer que o bandido (termo que legitima tudo) fugiu e por isso atiraram, acabou que todo mundo passou a acreditar que isso é normal. A arbitrariedade foi naturalizada e a sociedade perdeu a noção do absurdo que isso representa. O soldado fala isso na frente do superior e não é punido. A corporação fala isso perante a mídia, e portanto o Ministério Público toma conhecimento, mas ninguém é denunciado. Aí um belo dia um Fiat Stilo preto e peliculado, com suspeitos a bordo, é alvejado e um bebê morre. A mãe disse que gritou pedindo que não atirassem. Obviamente, não foi atendida. E desta vez foi a garota de 22 anos. Nestes casos, é possível que haja punições, porque são exemplares. E os outros? E a rotina de arbitrariedade policial banalizada?

Necessário que se diga, ainda, que essas coisas acontecem por culpa de toda a sociedade. As instituições espelham o imaginário coletivo. Pode ser que nem sempre, mas frequentemente. De tanto repetirem o clichê de que bandido bom é bandido morto, ninguém questiona mais quando a polícia mata. Afinal, era só um bandido. Melhor assim. Se não era o bandido certo, mesmo assim tudo bem, porque serve de aviso.

E se, como no caso, não havia bandidos? Há resposta para isso? Há, sim: eles erraram ao não obedecer aos policiais, parando e se identificando. Permitindo a revista pessoal e veicular. Afinal de contas, a polícia brasileira é extremamente correta quando aborda suspeitos. Ela não constrange, humilha, ameaça nem espanca. Nem extorque. Ela escuta explicações, confere documentos e libera os inocentes. É uma engrenagem que funciona com perfeição. Logo, se você morre, a culpa é exclusivamente sua, porque desobedeceu às regras. E isso merece punição.

Sabe o que é mais triste? Aconteça o que acontecer neste caso, outros iguais continuarão acontecendo. E quase todo mundo vai achar normal. Possivelmente, até você.

Fonte: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/08/som-de-carro-salvou-de-tiros-amigos-de-morta-em-acao-da-pm-diz-laudo.html

sábado, 2 de agosto de 2014

Twitterítica XXXII

Nem na adolescência eu sofri tanto à espera da resposta de uma mulher.

Ou:

Orientadora do mestrado: a mulher que manda em mim.