segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Novos shoppings na cidade

Shopping Parque Belém — esse projeto arquitetônico medonho que você vê aí ao lado — já possui um site próprio, lojas confirmadas e jura, pela fé da mucura, que será inaugurado às dez horas da manhã de 25 de abril de 2012, portanto daqui a menos de 1 ano e 3 meses. Quanto a esta promessa, convém botar fé, porque o empreendimento é da Aliansce Shopping Centers, a mesma que prometeu erguer o Boulevard em um ano, apenas, e cumpriu.
Enquanto isso, o Shopping Bosque Belém, muito bonito e previsto para localização atualmente bem menos saturada, não fornece nenhuma informação. Não há um site sobre ele, nem notícias na imprensa ou blogosfera posteriores a agosto do ano passado. Anunciado com alguma antecedência em relação ao concorrente, parece ter sumido de cena, exceto pelo imenso outdoor erguido em frente ao local que lhe é destinado. Também não temos ouvido falar do "Cidade Cristal", autoproclamado novo bairro nobre da cidade, a ser construído no entorno. E olha que para viabilizar esses empreendimentos uma grande área de mata foi prejudicada, com danos ambientais importantes e uma comunidade inteira furiosa.
Afinal, o Bosque vai sair ou ficar na promessa? Quem souber, por favor, conte para nós.

Educação moral

Para refletir:

Estado não deve enfraquecer autoridade dos pais
Por Luiz Carlos Faria da Silva e Miguel Francisco Urbano Nagib
[Artigo originalmente publicado na coluna Tendências/Debates do jornal Folha de S. Paulo do dia 30/1/2011]


No começo de 2010, pais de alunos da rede pública de Recife protestaram contra o livro de orientação sexual adotado pelas escolas. Destinada a crianças de sete a dez anos, a obra "Mamãe, Como Eu Nasci?", do professor Marcos Ribeiro, tem trechos como estes: "Olha, ele fica duro! O pênis do papai fica duro também? Algumas vezes, e o papai acha muito gostoso. Os homens gostam quando o seu pênis fica duro." "Se você abrir um pouquinho as pernas e olhar por um espelhinho, vai ver bem melhor. Aqui em cima está o seu clitóris, que faz as mulheres sentirem muito prazer ao ser tocado, porque é gostoso."
Inadequado? Bem, não é disso que vamos tratar no momento. O ponto que interessa está aqui: "Alguns meninos gostam de brincar com o seu pênis, e algumas meninas com a sua vulva, porque é gostoso. As pessoas grandes dizem que isso vicia ou 'tira a mão daí que é feio'. Só sabem abrir a boca para proibir. Mas a verdade é que essa brincadeira não causa nenhum problema".
Considerando que entre as pessoas que "só sabem abrir a boca para proibir" estão os pais dos pequenos leitores dessa cartilha, pergunta-se: têm as escolas o direito de dizer aos nossos filhos o que é "a verdade" em matéria de moral?
De acordo com a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (CADH), a resposta é negativa. O artigo 12 da CADH reconhece expressamente o direito dos pais a que seus filhos "recebam a educação religiosa e moral que esteja de acordo com suas próprias convicções". É fato notório, todavia, que esse direito não tem sido respeitado em nosso país.
Apesar de o Brasil ter aderido à CADH, o MEC não só não impede que o direito dos pais seja usurpado pelas escolas como concorre decisivamente para essa usurpação, ao prescrever a abordagem transversal de questões morais em todas as disciplinas do ensino básico.
Atendendo ao chamado, professores que não conseguem dar conta de sua principal obrigação - conforme demonstrado ano após ano por avaliações de desempenho escolar como o Saeb e o Pisa -, usam o tempo precioso de suas aulas para influenciar o juízo moral dos alunos sobre temas como sexualidade, homossexualismo, contracepção, relações e modelos familiares etc. Quando não afirmam em tom categórico determinada verdade moral, induzem os alunos a duvidar "criticamente" das que lhes são ensinadas em casa, solapando a confiança dos filhos em seus pais.
A ilegalidade é patente. Ainda que se reconhecesse ao Estado - não a seus agentes - o direito de usar o sistema de ensino para difundir uma agenda moral, esse direito não poderia inviabilizar o exercício da prerrogativa assegurada aos pais pela CADH, e isso fatalmente ocorrerá se os tópicos dessa agenda estiverem presentes nas disciplinas obrigatórias.
Além disso, se a família deve desfrutar da "especial proteção do Estado", como prevê a Constituição, o mínimo que se pode esperar desse Estado é que não contribua para enfraquecer a autoridade moral dos pais sobre seus filhos.
Impõe-se, portanto, que as questões morais sejam varridas dos programas das disciplinas obrigatórias. Quando muito, poderão ser veiculadas em disciplina facultativa, como ocorre com o ensino religioso. Assim, conhecendo previamente o conteúdo de tal disciplina, os pais decidirão se querem ou não compartilhar a educação moral de seus filhos com especialistas de mente aberta como o professor Marcos Ribeiro.

O fim do primeiro mês

O dia 31 de janeiro normalmente me provoca um certo incômodo. Ainda estamos (ou pelo menos eu estou, já que em janeiro ainda estou de férias acadêmicas) com o rescaldo da sensação de ano novo e, de repente, o primeiro mês termina, fazendo-nos lembrar que o tempo não para, que o tempo urge, ruge e nos morde, se não segurarmos nossas rédeas.
Esta é a última semana antes das aulas, mas ainda temos dois dias de reuniões e é a hora de, em casa, sentar para planejar o que farei com cada uma de minhas turmas. Algumas ideias já estão alinhavadas, resultantes do planejamento da semana passada. Mas é preciso escrever, definir temas, objetivos das atividades, critérios de avaliação, pontuação, etc. É preciso ter tudo isso pronto para ser dado por escrito aos interessados, já que a transparência do processo avaliativo se tornou a minha maior obsessão nos últimos anos.
No mais, esta é a semana que tenho para me livrar de minha tosse de guariba de estimação. Ela já me é mais familiar que meu cachorro mas, ao contrário dele, eu adoraria vê-la desaparecer.
Desejo a todos uma ótima semana.

domingo, 30 de janeiro de 2011

Impressões iniciais

No meu outro blog, impressões iniciais sobre o desabamento do Edifício "Real Class", no viés da eventual responsabilidade penal.

Mais um marco do blog


Para animar a minha manhã, constato que o blog acaba de passar da marca dos 250 mil acessos, como demonstra o print screen do contador. Ontem à noite, observei que ainda faltavam 15 acessos para esse quantitativo. Na dúvida, entenderei que a marca foi alcançada já neste dia 30 de janeiro. Assim, foram necessários quatro anos e cinco meses para obtê-la (início das atividades em 31.8.2006). Daí resulta que, se eu obtiver a ambicionada marca de um milhão antes de 30 de abril de 2024, estarei no lucro!
Se o blog chegar até lá (não dá para saber nem se eu chegarei lá), o seu perfil estará completamente diferente. Eu não terei mais, p. ex., a presença de comentaristas queridas, como a Ana Miranda e a Luiza Leão. A primeira estará ocupada com seus netos e a segunda, com seus filhos pré-adolescentes. O Bruno Brasil estará prometendo enfrentar um número maior de Círios na corda... O Adrian Barbosa, profissional há cerca de uma década, já será um homem bem sucedido. Quanta coisa terá mudado!
Mas enquanto isso, quero lhes dar abraços agradecidos e calorosos, em reconhecimento a condescendência que os faz voltar aqui, tantas vezes, permitindo-me a sensação de que valeu a pena achar que alguém estava interessado na minha opinião. E isso vale também, claro, para os visitantes que não escrevem, mas que me ajudaram a gostar desses números que, como todo blogueiro, sempre valorizo.
Valeu, gente!

sábado, 29 de janeiro de 2011

Uma noite com os meninos

Para desanuviar um pouco esse sentimento estranho relativo ao acontecimento mais comentado do dia em nossa cidade, quero registrar que, ontem, assisti à cerimônia de colação de grau de 105 novos bachareis em Direito do CESUPA. Pelo menos dois terços deles foram meus alunos, o que me levou, novamente, àquela sensação gostosa, paternal, que hoje consigo interpretar melhor, já que agora sou pai de verdade. Foi uma solenidade bonita, com destaque para o discurso do orador, que foi muito simpático ao falar sobre "ser vencedor", usando palavras que eram, acima de tudo, carregadas de um profundo sentimento de gratidão. Gostei da ênfase dada ao papel das famílias na trajetória de cada qual. Também merece destaque o discurso da "paraninfa geral", Profa. Célia Tourinho, que soube congregar os formandos de dois cursos diferentes e, dirigindo-se aos que foram seus alunos, emocionou-se vivamente, arrancando aplausos da plateia. Imagino como ela se sentiu. Numa hora de despedida como essa, a vontade que temos é mesmo de abraçar calorosamente cada um desses meninos e meninas, dar algum conselho útil e, por meio disso, dar um significado à saudade que sentiremos.
Uma coisa de que gosto muito especialmente é de ter contato com os familiares dos alunos. Gosto, sobretudo, quando o pai ou mãe reage com familiaridade ao ouvir meu nome, como se eu fosse um velho conhecido. Em geral, nessas horas, os pais me agradecem por ter apertado seus filhos. Tem lógica. Todos querem filhos bem encaminhados na vida, principalmente num mundo repleto de falsas seduções...
Terminou, assim, mais uma etapa. É a sucessão dos acontecimentos, que ficamos felizes de ver e, particularmente, por fazer parte deles, de algum modo.
Felicidades aos novos colegas de profissão!

Quando perto de nós

Naturalmente, não farei nenhuma postagem jornalística sobre o desabamento do Edifício "Real Class", na tarde de hoje, aqui em Belém. Para isso existem os jornalistas, através dos sítios informativos (âmbito nacional, como p. ex. na home page do Globo.com, destaque que prosseguiu no dia seguinte), e diversos blogueiros locais, que estão postando a respeito, inclusive o Carlos Barretto, companheiro de Flanar, onde postou fotos da mesma paisagem, uma mostrando o edifício e outra, já sem ele.
Sempre digo que os acontecimentos extraordinários nos provocam efeitos mais intensos quando perto de nós. O fato de o desabamento ser em minha cidade já me causaria maior impressão, mas há mais do que isso.
Eu me dirigia ao supermercado quando tomei conhecimento do sinistro. Meu irmão, que sabia de minha movimentação, telefonou para minha esposa, a fim de nos prevenir quanto à obstrução do trânsito. Mas tão logo estacionei no supermercado — e de onde estava podia ver claramente os três edifícios, onde deveria haver quatro —, telefonei para um amigo, antigo morador do Edifício "Blumenau", o mais próximo do desastre e o único já habitado. Não sabia que ele já se mudara de lá, o que me deixou aliviado quando o próprio me deu a notícia, muito tenso, pensando nas amizades que por lá deixou.
O alívio é relativo, porém, porque tenho um casal amigo no "Blumenau", pais de um bebê mais novo que minha Júlia.
Impossível ignorar, também, que passei pela Rua 3 de Maio, bem na frente do "Real Class", cerca de quatro horas antes de ele se tornar um montanha de escombros. Naquele momento, eu conversava com Polyana, dizendo-lhe que uma colega nossa de docência vai se mudar no próximo mês para um desses edifícios aí. Não sabia qual deles. No supermercado, sem o telefone da colega, afligia-me pensar que ela poderia ter perdido o seu futuro lar. Agora sei que não, posto que o "Real Class" só seria entregue em dezembro. Mas não creio que algum morador de edifício esteja se sentindo confortável hoje. E essa sensação ruim não deve diminuir enquanto não se conhecerem as causas reais da tragédia. Seja como for, mudar-se para um prédio ao lado do que caiu não deverá ser, também, no contexto, tão bom assim.
Além do mais, se a minha colega não perdeu seu futuro lar, outros tantos perderam. Lamento por eles e espero que tenham a assistência necessária para recomeçar.
Uma última palavra: como pai, não posso deixar de estremecer um pouco pensando que o prédio poderia ter desabado exatamente no instante em que passávamos, com nossa filha dentro do carro. Pensar nela em perigo maltrata, mesmo que, neste momento, ela esteja dormindo tranquilamente em sua cama.
Infelizmente, esta noite alguns pais passarão a noite sem notícias de seus filhos. E sem chance de tê-los novamente.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Desembargador

Fausto Martin De Sanctis, juiz federal há 19 anos, tomará posse às 17 horas de hoje no cargo de desembargador do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, que abrange os Estados de São Paulo e do Mato Grosso do Sul. De Sanctis vem a ser o juiz que, na titularidade da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, comandou as ações penais contra o banqueiro e multiacusado Daniel Dantas, que nessa época provou ser um dos homens mais poderosos do Brasil, no pior e mais pragmático sentido. O ex-delegado de Polícia Federal e hoje deputado federal Protógenes Queiroz, que presidia os inquéritos, caiu em desgraça por se meter com o dito cujo. E o próprio De Sanctis se viu em maus lençois, sendo ameaçado de irregularidades na condução dos processos contra Dantas, que poderia ter inclusive repercussões criminais. Felizmente, para ele a tempestade passou e veio a recompensa, através da promoção ao desembargo.
O nome de De Sanctis também consta de uma lista que a Associação dos Juízes Federais do Brasil AJUFE encaminhou à presidente da República, Dilma Rousseff, agora em janeiro, sugerindo a nomeação de um juiz federal para ocupar a 11ª vaga do Supremo Tribunal Federal, ainda aberta, porque há tempos não se indica para a Corte Suprema um juiz de carreira.
Já pensou, De Sanctis no mesmo patamar que Gilmar Mendes? Eu adoraria ver isso acontecer.
O magistrado é doutor em Direito Penal pela Universidade de São Paulo e professor universitário. Foi promotor de justiça e juiz estadual.
Infelizmente, De Sanctis já emite sinais preocupantes. Para sua posse, ele quis pompa (solenidade na Sala São Paulo ou no Salão Nobre da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ambos os espaços reconhecidos por sua suntuosidade) e circunstância (que o tribunal pagasse as despesas do evento). Não conseguiu nada e me causou uma impressão bem ruim.

Leia mais: http://www.conjur.com.br/2011-jan-28/trf-nega-pedido-fausto-sanctis-posse-gala; http://colunistas.ig.com.br/leisenegocios/2011/01/20/ajufe-encaminha-a-presidente-dilma-lista-para-ministro-do-stf/

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Mosley Lane

Todos consideravam Sarah Hillridge
apenas uma alcoólatra enlouquecida
Quem gosta e acompanha seriados, como eu, sabe que existem episódios bons e ruins, uns mais ou menos, assim como existem os excelentes e os péssimos e existem os espetaculares. É sempre gratificante quando você assiste a um programa ao qual já se acostumou e se sente recompensado por algo que excedeu a suas expectativas.
Atualmente, um dos meus seriados favoritos é Criminal minds e ontem assisti ao melhor episódio da série, em minha opinião.
A simples leitura da sinopse já perturbou Polyana, porque as vítimas eram crianças. Mosley Lane conta a história de uma mulher e seu marido submisso que, juntos, sequestram crianças na faixa dos oito anos e passam a criá-los, mantendo-os presos em um porão e mudando seus nomes. Em caso de insubordinação, os reféns eram mandados para um forno crematório e terminavam adubando as rosas do jardim.

Aimee Lynch, no cativeiro: seu desaparecimento leva
à descoberta de uma trama muito mais trágica
 A primeira cena do episódio é perturbadora, pelo menos para quem já é pai. Pode perguntar para qualquer pai ou mãe: todos temos verdadeiro terror ante a ideia de nossos filhos desaparecerem. Um filho desaparecido pode ser muito mais horrível do que morto. Como descrito pela personagem Barbara Lynch, você para de respirar. E o sequestro da pequena Aimee é absurdamente rápido, o tempo de sua mãe olhar para uma mulher que gritava por sua filha (essa encenação era o modus operandi dos sequestradores e permite que os agentes da Unidade de Análise Comportamental descubram tratar-se de criminosos seriais).
Enquanto os agentes do FBI iniciam os trabalhos, Sarah Hillridge os procura e diz que os sequestradores de Aimee também levaram seu filho Charlie. A agente Jareau fica irritada, pois Sarah é uma bêbada que aparece todas as vezes que a imprensa noticia o desaparecimento de uma criança da idade de Charlie. Mas a agente Prentiss leva a sério a versão, que se revelará verdadeira. Nada menos do que 12 crianças foram sequestradas pelo casal.

A vilã: impressionante como a atriz conseguiu transmitir,
no olhar, toda a malignidade da personagem
Obcecada por reencontrar o filho que ela, de algum modo, sabia estar vivo, Sarah colecionou tudo o que pode sobre crianças desaparecidas nos últimos oito anos e montou um imenso mural. De uma hora para outra, a desacreditada mulher se torna uma informante do FBI e, graças a ela, os moradores da rua Mosley Lane, 2150, são identificados. Mas a trama não termina aí nem eu direi como termina. Faço questão de ressaltar, contudo, que em meio a uma imensidão de sofrimento, os roteiristas se esforçam por enfatizar aspectos bonitos que se podem extrair: o abraço agradecido que o ex-marido de Sarah lhe dá, após ter ido embora levando a outra filha do casal, por considerar a esposa alucinada; o esforço do adolescente Charlie em proteger os "irmãos"; a emoção do reencontro de algumas crianças com suas famílias; o sentimento de recompensa dos agentes por terem libertado ao menos alguns reféns.

Matthew Gray Gubler
 Um aspecto interessante é que o episódio foi dirigido por Matthew Gray Gubler, de apenas 30 anos, intérprete do personagem Dr. Spencer Reid. Como investigações criminais complexas precisam caber no tempo do seriado, às vezes os roteiristas engendram personagens como Reid, um gênio que sabe muito sobre quase tudo (menos relações interpessoais, claro) e economiza, com suas respostas automáticas, o tempo que seria gasto com pesquisas sobre assuntos diversos. Um personagem fascinante, com uma bonita história pessoal, já explorada na série.
É comum atores assumirem a direção de seus seriados e, não raro, quando isso acontece, os episódios são especialmente bons. Gubler surpreendeu e fez um trabalho magnífico, sem perder a humildade: seu personagem tem bem pouco destaque nessa história, que se concentra mais em Jareau e Prentiss.
Se você gosta do gênero de programa, não deixe de assistir.

Contagem

Faltam só 475. Legal.

É preciso olhar por mais de um ângulo

Pressa e desinformação são inimigas do bom senso. Sempre tento mostrar a meus alunos que não devem assumir como verdades informações soltas, não submetidas à crítica, e que na interpretação de certas normas devem imaginar qual deve ter sido o motivo de sua criação. Quando não agimos assim, ficamos iguais a esses apresentadores de programas televisivos mundo-cão, vociferando contra tudo, mesmo sem saber o por quê.
Dia desses, fui questionado sobre o fato de autos processuais e documentos que podem ser acessados pela Internet apresentarem apenas as iniciais e não o nome completo dos envolvidos. Esclareci que, naquele caso, tratava-se de um processo relacionado ao crime de estupro de vulnerável. Meu interlocutor ficou indignado. Argumentou que o nome do réu devia estar ostensivamente indicado, porque gente assim tem mais é que ser exposta, a bem da segurança de outras pessoas. Expliquei que existe lei impondo expressamente essa restrição (art. 234-B do Código Penal, acrescentado pela Lei n 12.015, de 2009: “Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.”). Não deu outra: passou a bradar contra a lei e contra a irresponsabilidade dos legisladores.
— Acontece, meu amigo — ponderei —, que essa norma foi pensada para proteger a privacidade da vítima, não do criminoso.
Olhou-me com surpresa. Expliquei que, às vezes, a identificação do agressor pode levar, por dedução, à identificação da vítima, p. ex. nos casos de violência intrafamiliar. Por isso, o legislador foi sensato ao estabelecer uma vedação geral, que tem o poder de minimizar esse risco.
— Ah, tá... — foi só o que me respondeu a pessoa, a partir daí sem mais críticas a fazer.
Vale a antiga advertência dos sábios: pense antes de falar.

A persistência

Uma pessoa deve corrigir os seus erros, certo? Mas há jeitos e jeitos para isso. Definitivamente, resolver o erro de exercer ilegalmente a Medicina tentando se matricular numa universidade, no curso de Medicina, com um laudo médico falso não é um jeito correto, principalmente se a intenção for provar uma falsa deficiência auditiva, para conseguir uma vaga na cota dos portadores de deficiência. Tanto é que um jovem de apenas 27 anos acabou preso, dada a sua persistência em cometer fraudes.
Engraçado: um falso otorrinolaringologista tenta cursar Medicina graças a uma falsa deficiência auditiva. Tanta persistência já é quase uma reincidência.

PS Depois que resolver suas pendências na Bahia, o jovem em apreço pode tentar a carreira política em uma certa cidade brasileira, onde o eleitorado tem simpatia por falsários.

Por um mundo sem escudos

Para entender, clique aqui.

Acréscimo em 28.1.2011:
Não me surpreende que a rede de supermercados tenha amarelado.

Outras formas de interação

Ao longo de mais de 11 anos de docência, já observei muitos alunos em atitudes consideradas aversivas dentro de sala de aula. É comum ver alguns deles presentes de corpo, para assegurar a presença — já que faço um rigoroso controle de frequência —, mas estudando para provas de outras disciplinas ou fazendo trabalhos. Já tive alunas que lixavam as unhas ou se maquiavam. Já tive alunos dormindo, desenhando, mandando bilhetinhos, alcoolizados e brincando no celular. Felizmente, essas coisas acontecem muito pouco comigo, mas às vezes tenho que lidar com elas. Meu normal é não interferir. Não sou babá e, além de um olhar de desaprovação, prefiro investir na continuidade da aula para os que a desejam, a menos que o comportamento inadequado esteja, de fato, prejudicando a tarefa.
Com o aprimoramento e a acessibilidade da tecnologia, esse problema se intensificou. Trabalhando numa instituição privada, lido com um público cheio de celulares com acesso à Internet e notebooks, sendo que a instituição disponibiliza uma rede wireless.
É o caso de perguntar: o aluno que utiliza um recurso desses durante a aula está faltando com o respeito ao professor?
Meu primeiro impulso seria responder que sim e estou certo de que a esmagadora maioria de meus colegas seria bem enfática nesse sentido. Mas ontem à tarde, em uma das reuniões do planejamento docente do ano de 2011, lançaram um olhar diferente sobre a questão. Dizer que o mundo está mudando não é apenas um clichê: é a realidade. E não se trata apenas de uma mudança de comportamentos: o próprio organismo humano se adapta aos novos tempos. Ontem, éramos orientados a ter atenção concentrada na tarefa do momento. Bom aluno era aquele capaz de se fixar horas em uma leitura, p. ex., num ambiente calmo e convidativo à reflexão. Hoje, o mérito é a atenção difusa, a capacidade de processar várias informações simultaneamente, mesmo que no ritmo frenético de nossos dias.
Some-se a isso o fato de que a atual geração se comporta em relação aos gadgets com a mesma naturalidade com que a minha lidava com a caneta. É um recurso óbvio. O professor não se sente ofendido por um estudante escrever enquanto ele fala; deveria ofender-se por ele usar o celular?
Pus-me a pensar na questão. Acredito, agora, que o juízo de valor não pode mais ser feito focando a conduta em si, isoladamente considerada. O problema não é navegar na Internet durante a aula, mas o modo e os objetivos de fazê-lo. Um aluno já checou uma informação importante e me ajudou a tirar a dúvida de um colega, o que foi ótimo. Mas há também o desinteresse abusado e há aqueles que gostam de testar o professor. Da última vez em que isso me aconteceu, o rapaz teve a infelicidade de confundir dois assuntos diferentes e ficou constrangido quando eu lhe disse que o seu exemplo não se aplicava ao tema da aula. O feitiço virou contra o feiticeiro, mas não é nada impossível que o professor seja posto numa situação desagradável, já que ninguém é computador para ter, na ponta da língua, exatamente a particularidade obscura que o aluno encontrou na Internet.
Não sei quantos concordarão com a alegação de que os professores devem se adequar aos novos meios de ser e de viver, no que tange às traquitanas tecnológicas e suas potencialidades. Mas penso que o processo é irreversível e que devemos aprender a usar esses recursos em favor da aula do dia; vale dizer, em favor dos nossos objetivos educacionais.

PS — Pode ser birra minha, mas lixar unha em sala de aula, para mim, é inadmissível.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

O mais badalado

O Oscar não é o mais importante muito menos o mais sério festival de cinema do mundo, mas é o mais badalado. Quem gosta de cinema se mobiliza em torno. Para estes, a novidade é que os indicados para a premiação deste ano, em sua 83ª edição, acabaram de ser conhecidos e, ao contrário do que a maioria das pessoas sabe, há um brasileiro no meio. São eles:

"O discurso do rei": há tempos não
havia um tão favorito (12 indicações)
Filme (pelo segundo ano consecutivo, a polêmica indicação de dez filmes, de variados estilos, à categoria principal)

"Cisne Negro"
"O Vencedor"
"A Origem"
"Minhas Mães e Meu Pai" (vencedor do Globo de Ouro na categoria musical ou comédia)
"O Discurso do Rei"
"127 Horas"
"A Rede Social" (vencedor do Globo de Ouro na categoria drama)
"Toy Story 3"
"Bravura Indômita"
"Inverno da Alma"

Ator
Colin Firth - "O Discurso do Rei" (vencedor do Globo de Ouro na categoria drama)
Javier Bardem - "Biutiful"
Jeff bridges - "Bravura Indômita"
Jesse Eisenberg - "A Rede Social"
James Franco - "127 Horas"

Atriz
Annette Bening - "Minhas Mães e Meu Pai" (vencedora do Globo de Ouro na categoria musical ou comédia)
Nicole Kidman - "Reencontrando a Felicidade"
Michele Williams - "Namorados para Sempre"
Jennifer Lawrence - "Inverno da Alma"
Natalie Portman - "Cisne Negro" (vencedora do Globo de Ouro na categoria drama)

Ator coadjuvante
Christian Bale - "O Vencedor" (vencedor do Globo de Ouro)
John Hawkes - "Iverno da Alma"
Jeremy Renner - "Atração Perigosa"
Mark Ruffalo - "Minhas Mães e Meu Pai"
Geoffrey Rush - "O Discurso do Rei"

Atriz coadjuvante
Amy Adams - "O Vencedor"
Helena Bonham Carter - "O Discurso do Rei"
Melissa Leo - "O Vencedor" (vencedora do Globo de Ouro)
Hailee Steinfeld - "Bravura Indômita"
Jacki Weaver - "Animal Kingdom"

Diretor
Daren Aronofsky - "Cisne Negro"
David Fincher - "A Rede Social" (vencedor do Globo de Ouro)
Tom Hooper - "O Discurso do Rei"
David O. Russell - "O Vencedor"
Joel Coen e Ethan Coen - "Bravura Indômita"

Roteiro original (O Globo de Ouro tem apenas a categoria "melhor roteiro" e premiou A rede social)
"A Origem"
"Minhas Mães e Meu Pai"
"O Discurso do Rei"
"Another Year"
"O Vencedor"

Roteiro adaptado
"A rede social"
"127 Horas"
"Toy Story 3"
"Bravura Indômita"
"Inverno da Alma"


"Toy Story 3": brinquedos mais
humanos do que muita gente
 Animação
"Como Treinar Seu Dragão"
"O Mágico"
"Toy Story 3" (vencedor do Globo de Ouro e favorito da Júlia!)

Filme estrangeiro
"Biutiful" (México), de Alejandro Iñarritu
"Incendies" (Canadá), de Denis Villeneuve
"Em um Mundo Melhor" (Dinamarca), de Susanne Bier (vencedor do Globo de Ouro)
"Dente Canino" (Grécia), de Yorgos Lanthimos
"Fora da Lei" (Argélia), de Rachid Bouchareb.


Vik Muniz se deu melhor
do que Lula
 Documentário
"Exit through the Gift Shop"
"Gasland"
"Trabalho Interno"
"Restrepo"
"Lixo extraordinário" (uma produção anglobrasileira sobre a qual você pode saber mais clicando aqui)

Documentário em curtametragem
"Killing in the name"
"Poster girl"
"Strangers no more"
"Sun come up"
"The warriors of Qiugang"

Trilha sonora
John Powell - "Como Treinar Seu Dragão"
Hans Zimmer - "A Origem"
Alexandre Desplat - "O Discurso do Rei"
A. R. Rhaman - "127 Horas"
Trent Reznor & Atticus Ross - "A Rede Social" (vencedor do Globo de Ouro)

Canção original
"Cooming Home", de "Country Song"
"I See the Light", de "Enrolados"
"If I Rise", de "127 Horas"
"We Belong Together", de "Toy Story 3"

Melhor direção de arte
"Alice no País das Maravilhas"
"Harry Potter e as relíquias da morte - Parte I"
"A origem"
"O discurso do rei"
"Bravura indômita"

Melhor fotografia
"Cisne negro"
"A origem"
"O discurso do rei"
"A rede social"
"Bravura indômita"

Melhores efeitos visuais
"Alice no País das Maravilhas"
"Harry Potter e as relíquias da morte - Parte I"
"Além da vida"
"A origem"
"Homem de Ferro 2"

Melhor figurino
"Alice no País das Maravilhas"
"I am love"
"O discurso do rei"
"The tempest"
"Bravura indômita"

Melhor montagem
"Cisne negro"
"O vencedor"
"O discurso do rei"
"A rede social"
"127 horas"

Melhor maquiagem
"O lobisomem"
"Caminho da liberdade"
"Minha versão para o amor"

Curtametragem
"The confession"
"The crush"
"God of love"
"Na Wewe"
"Wish 143"

Animação em curtametragem
"Day & night" (exibido nos trailers de "Toy Story 3")
"The gruffalo"
"Let's pollute"
"The lost thing"
"Madagascar, carnet de voyage"

Edição de som
"A origem"
"Toy  Story 3"
"Tron - O legado"
"Bravura indômita"
"Incontrolável"

Mixagem de som
"A origem"
"Bravura indômita"
"O discurso do rei"
"A rede social"
"Salt"

Ao todo, "O discurso do rei" lidera com 12 indicações, seguido por "Bravura indômita", com 10. "A origem" e o badalado de primeira hora "A rede social" têm 8, cada um. Agora é aguardar o dia 27 de fevereiro para conhecer os vencedores.

Tchékov

No fundo, se refletirmos bem, tudo neste mundo é maravilhoso; tudo, exceto aquilo que nós mesmos pensamos e fazemos quando esquecemos das finalidades supremas da existência e da nossa dignidade como homens.

Como tantas outras pessoas, foi através do delicado filme O leitor que tomei conhecimento do conto "A dama do cachorrinho", do escritor russo Anton Tchékhov (1860-1904), de onde extraí o excerto acima. A estória se revela muito importante naquela narrativa cinematográfica e é a leitura de suas primeiras palavras que provoca na personagem Hanna (por sinal, o mesmo nome da personagem do conto, apenas em outro idioma) uma reação surpreendente e, no contexto do filme, muito eficiente em emocionar o público.
Tchékhov nasceu na cidade portuária de Taganrog, até hoje pequena, com menos de 300 mil habitantes, mas transformada num importante centro cultural e industrial, dotada de importantes instituições de ensino e pesquisa, além de vários teatros e museus. E explora a memória de seu ilustre filho.
De origem humilde, Tchékhov se formou em Medicina pela Universidade de Moscou, trabalhando arduamente para sustentar a si e a sua família. Posteriormente, tornou-se escritor em tempo integral e se aperfeiçoou no formato conto, de certa forma empurrado pela rígida censura da época. Na apresentação da edição de bolso que comprei (L&PM Pocket, 2010), ele é descrito como dono de uma visão de mundo "ética e democrática, voltada para o combate das injustiças e para a sátira contra a sociedade. Apontado pela crítica como criador do conto sem enredo ou de atmosfera, sua obra veicula simpatia e compaixão pelos homens, sendo considerado o intérprete dos intelectuais, das mulheres e das crianças. Dramaturgo, romancista e contista, seus textos influenciaram toda a literatura ocidental."
Com um perfil desses, torna-se um acinte que eu tenha demorado tanto para lê-lo. A escrita de Tchékhov é doce, agradável, levemente bem humorada e profundamente centrada nas emoções de seus personagens. Para dar uma brevíssima demonstração, eis a bela descrição do momento em que o protagonista do conto "A dama do cachorrinho" se descobre apaixonado:


Para quem não conhece:
lorgnons.
 Entrou também Anna Serguêievna. Sentou-se na terceira fila, e quando Gúrov olhou para ela sentiu um aperto no coração, compreendendo claramente que, para ele, naquele momento não existia no mundo ninguém mais próximo, caro e importante. Perdida na multidão provinciana, aquela pequena mulher, sem nada de especial, com um lorgnon vulgar na mão, enchia agora toda a sua vida, era a sua dor, a sua alegria, a única felicidade que ele desejava para si; e, ao som de uma orquestra ruim, de violinos mal tocados e simplórios, ele pensava em como ela era bonita. Pensava e sonhava.

De arrebatar, não?

Deixa chover

Pode não ser lá muito saudável acordar e pensar logo no Guilherme Arantes, mas admito que, ao me levantar da cama, hoje, só pensava em seus versos:

Certos dias, de chuva
Nem é bom sair
De casa, agitar
É melhor dormir...
Se você tentou
E não aconteceu
Valeu!
Infelizmente nem tudo é
Exatamente como a gente quer...

Júlia teve febre o dia inteiro, ontem, controlada por antitérmicos. Mas, passado o efeito do medicamento, a hipertermia voltava. Pelo menos dormiu um pouco melhor. Espero que ao longo do dia se recupere. Contando com hoje, já são quatro dias fora da escola e nos preocupa a possibilidade de se perderem as conquistas da semana passada, quanto à adaptação escolar.

Mas, como dito acima, nem tudo sai exatamente como a gente quer.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Enquanto isso, na UTI...

No último domingo, o prefeito de Belém estampou no caderno de negócios do jornal Diário do Pará, em matéria naturalmente espontânea, os seus grandes feitos na área de saúde, envolvendo ampliação e modernização da rede, notadamente no sempre polêmico Pronto Socorro Municial Mário Pinotti. Mas talvez por não ter sido informado desses avanços, o Portal Terra noticiou isto aqui.
Felizmente ninguém se feriu. Desta vez.

Nano-inimigo

O mês de dezembro ainda estava no começo quando ele entrou em nossas vidas. Veio como quem não quer nada e se depositou em Júlia. Remédios, aerossol, soro fisiológico, Atrovent, Berotec & cia. Júlia melhorou, mas Polyana sucumbiu.

Foram dias e dias (ou mais exatamente noites e noites) das piores crises de tosse que já presenciei. Dignas de um tuberculoso.

A essa altura, eu já fora atingido, também, mas de forma branda. Ia levando. Procuramos orientação médica e soubemos que o talzinho era um "circulante". Passaria de um para outro até ser eliminado. Só não nos disseram que ele não seria eliminado tão facilmente.

Polyana melhorou e ficamos naquela chatice até a última semana, quando voltei a piorar. A tosse foi-se intensificando e a coriza, à noite, incomodava. Honestamente, não me recordo mais como é a vida sem tossir. Algo assim me parece um sonho distante. Estive despreocupado, porque era óbvio que eu ficaria bom antes de as aulas recomeçaram. Mas o semestre letivo se avizinha e eu, em vez da cura, enfrento a recidiva. Os últimos três dias foram particularmente ruins.

Preocupei-me em não circular o desgraçado de volta para Júlia. Não a tenho feito dormir, p. ex. Mas eis que um obstáculo surgiu em nosso caminho no último sábado. Um obstáculo que, sabemos, deveria ser evitado, mas não tivemos como impedir que a pequena se atirasse com vontade nele. Um obstáculo que atende pelo nome de piscina de bolinhas.


Uma piscina de bolinhas é um espaço cheio de... bolinhas e imundícies! Mandar as crianças tirarem os sapatos não adianta nada. Se pudéssemos ver a população que habita aquelas bolas, jamais deixaríamos nossas crianças entrar ali. Mas é justamente um dos brinquedos preferidos delas. Resultado? Tosse e coriza crescentes já durante a tarde do sábado. O domingo ela passou bem, mas amanheceu esta segunda-feira com 38,4º C de febre.

Sexto dia de escola e ela já faltou.
Não sei mais o que fazer para me livrar do vírus que se abateu sobre minha família. Mas estamos de acordo quanto a proscrever piscinas de bolinhas. Não temos mania de limpeza, mas como tudo indica que nossa menina, ainda por cima, é alérgica a poeira, essas bolinhas infernais estão fora de questão.

Que Oscar, que nada!

Bacana mesmo é acompanhar o Framboesa de Ouro, que há 31 anos premia os piores filmes do ano anterior. Os indicados de 2010 acabam de ser divulgados e os vencedores (ou perdedores, dependendo do contexto), serão conhecidos em 25 de fevereiro.
O que eu acho interessante no Framboesa é que quando eles implicam com uma pessoa e decidem indicá-lo na categoria pior ator/atriz, indicam-no por todos os filmes em que o cara atuou no período. Ou então indicam o elenco inteiro.
Eis as pérolas na disputa (parece até que eu votei...):

Pior filme

Caçador de Recompensas
O Último Mestre do Ar
Sex and the City 2
Saga Crepúsculo: Eclipse
Os Vampiros que se Mordam

Pior ator

Pattinson e sua convincente expressão.
Stewart e sua única - única! - expressão.
 Jack Black (As viagens de Gulliver)
Gerard Butler (Caçador de recompensas)
Ashton Kutcher (Par perfeito e Idas e vindas do amor)
Taylor Lautner (Saga Crepúsculo: Eclipse e Idas e vindas do amor)
Robert Pattinson (Lembranças e Saga Crepúsculo: Eclipse)

Pior atriz
Jennifer Aniston (Caçador de recompensas e Coincidências do amor)
Miley Cyrus (A última música)
Sarah Jessica Parker, Kim Cattrall, Kristin Davis & Cynthia Nixon (Sex and the city 2)
Megan Fox (Jonah Hex)
Kristen Stewart (Saga Crepúsculo: Eclipse)

Pior atriz coadjuvante
Jessica Alba (The killer inside me, Entrando numa fria maior ainda com a família, Machete e Idas e vindas do amor)
Cher (Burlesque)
Liza Minnelli (Sex and the city 2)
Nicola Peltz (O último mestre do ar)
Barbra Streisand (Entrando numa fria maior ainda com a família)

Pior ator coadjuvante
Billy Ray Cyrus (Missão quase impossível)
George Lopez (Marmaduke, Missão quase impossível e Idas e vindas do amor)
Dev Patel (O último mestre do ar)
Jackson Rathbone (O último mestre do ar e Saga Crepúsculo: Eclipse)
Rob Schneider (Gente grande)

Pior uso do 3D (categoria especial para 2010)
Como cães e gatos 2
Fúria de Titãs
O último mestre do ar
Nutcracker 3D
Jogos Mortais - O final

Pior casal/elenco
Jennifer Aniston & Gerard Butler (Caçador de Recompensas)
Josh Brolin’s Face & Megan Fox’s Accent (Jonah Hex)
Todo o elenco de O último mestre do ar
Todo o elenco de Sex and the city 2
Todo o elenco de Saga Crepúsculo: Eclipse

Pior diretor
Jason Friedberg & Aaron Seltzer (Os Vampiros que se Mordam)
Michael Patrick King (Sex and the City 2)
M. Night Shyamalan (O Último Mestre do Ar)
David Slade (Saga Crepúsculo: Eclipse)
Sylvester Stallone (Os Mercenários)

Pior roteiro
O último mestre do ar
Entrando numa fria maior ainda com a família
Sex and the City 2
Saga Crepúsculo: Eclipse
Os vampiros que se mordam

Pior prelúdio, refilmagem, paródia ou sequência (categoria combinada para 2010)
Fúrias de Titãs
O último mestre do ar
Sex and the city 2
Saga Crepúsculo: Eclipse
Os vampiros que se mordam

domingo, 23 de janeiro de 2011

A longa e interminável marcha das mulheres pelo mundo

Menina é eletrocutada no Paquistão por amar homem "errado"
Com 17 anos, jovem foi condenada à morte por líderes locais e familiares

Parentes de uma adolescente paquistanesa parecem tê-la eletrocutado porque ela se apaixonou por um homem que a família não aprovava, disse a polícia neste domingo.

Líderes locais e a família de Saima Bibi, de 17 anos, decidiram após um conselho de aldeia (chamado de "panchayat") que a punição por envergonhar a família deveria ser a morte.
- Há sinais de tortura e queimaduras em seu pescoço, suas costas e suas mãos, provavelmente causadas por eletrocussão - disse Zahoor Rabbani, policial do distrito de Bahawalpur, no leste do Paquistão, onde a menina teria sido morta.

O primeiro-ministro Yusuf Raza Gilani tomou conhecimento do "triste incidente da morte de uma menina por corrente elétrica às ordens do panchayat", e ordenou que a polícia submeta um relatório imediatamente, disse o gabinete paquistanês.
A morte de Saima parece ser o que é conhecido como "morte por honra", comum em áreas rurais onde, sob costumes tribais centenários, casar sem permissão dos parentes homens é considerado uma ofensa grave à honra da família.
Centenas de pessoas, especialmente mulheres, são mortas todo ano no Paquistão em nome da "honra", com a maioria das vítimas sendo de famílias pobres e rurais.
A Comissão de Direitos Humanos independente do Paquistão informou, em relatório recente, que ao menos 650 mulheres foram mortas dessa forma em 2009.
Copyright Thomson Reuters 2011

O caso de Sakineh Ashtiani mobilizou o mundo e, até hoje, é acompanhado com vivo interesse por toda parte. Mas quantos casos chegam à mídia como este, com tão pouca repercussão? E quantos mais — estes sim a esmagadora maioria, não duvide — sequer chegam ao conhecimento de quem não está no seu entorno imediato?
Dogmas de honra incompreensíveis para quem está de fora; confusão entre a esfera pública e a privada; desconsideração da autonomia da vontade; inferioridade sexual... Há lugares em que o mundo parece que não girou para as mulheres.

Criança é que sabe

Se você dispõe de uma praia com dunas, escorrega por elas até a água. Se não dispõe, sobe no Elevado Daniel Berg e escorrega pela grama, mesmo.
Esta tarde, vi dois garotinhos se divertindo nessa nova modalidade esportiva local. Confesso que não fico muito satisfeito de ver aquele gramado sendo utilizado como campinho para peladas, mas entendo porque essas coisas acontecem. E vendo aqueles dois garotos, tive que rir. Encontraram um jeito de ficar um pouco mais felizes.

sábado, 22 de janeiro de 2011

Eu adoraria estar em São Paulo

Eis o meu motivo:

Um romance adorável e um filme espetacular agora numa versão teatral. Mas lá no Brasil.

Oportunidade desperdiçada

Hoje foi o Dia D de Combate à Dengue, consoante largamente anunciado nos últimos dias. A caminhada do Bosque a São Brás aconteceu mas, como era de se esperar, o povo de Belém perdeu a oportunidade de limpar a cidade. A maior sujeira, a que mais precisa ser varrida, continua como dantes. E pelo que vi, a grande imprensa não deu maior atenção ao evento, pelo menos até agora. Quem sabe tenhamos alguma informação interessante amanhã.
Mas a diligente, eficiente e sempre presente prefeitura de Belém conseguiu mexer com a cidade — ou talvez parar de mexer fosse mais adequado. É que a caminhada provocou algo que conhecemos bem, mas que normalmente não acontece num sábado de manhã: um glorioso engarrafamento, que chegava à rodovia BR-316!
Eis, aí ao lado, uma pequena perspectiva dele, em foto de Rogério Uchôa.
Somando-se a isso à chuva que caiu desde a madrugada na cidade, muitos belenenses estão tendo um dia de cão. E com essa chuva toda, como eliminar a água empossada?
Pergunte ao prefeito. Só não me pergunte onde ele está agora.

Moralidade, moralidade

Esse sujeito aí ao lado é Álvaro Fernandes Dias, 66 anos, nascido no Município paulista de Quatá, porém criado em Maringá, Paraná, Estado que o elegeu deputado estadual, deputado federal por dois mandatos, governador e senador também por dois mandatos. É afiliado ao PSDB e, nessa condição, tem sido uma das vozes mais combativas da oposição aos governos federais petistas. Uma de suas principais pautas? A moralidade administrativa, aquele velho tema de que todos os políticos gostam de falar, mas não de praticar.
Apeado do poder nas últimas eleições e estando a dez dias de ficar sem mandato, o honorável político encontrou um jeito de não perder a boquinha totalmente. A solução foi requerer, ao Estado do Paraná, que lhe pague valores alusivos a sua aposentadoria como ex-governador. Valores retroativos que importariam em 1,6 milhão de reais.
Não conheço a legislação que rege esses benefícios, ainda mais por se tratar em parte de legislação do Estado do Paraná, embora possa afirmar que ela normalmente é elaborada de modo a que, nas imprecisões e entrelinhas, favoreça a máxima acumulação de riquezas pelos espertos. Mas posso tentar uma crítica baseado, ao menos, no bom senso e em regras jurídicas mais gerais.
Quando a Constituição de 1988 veda a acumulação de cargos públicos, ela está, na verdade, vedando a acumulação de remunerações públicas (art. 37, XVI). Não se pode auferir rendimentos públicos cumulativos, salvo as hipóteses previstas naquele dispositivo, que envolvem atividades de magistério ou na área de saúde. Por isso, se Álvaro Dias tinha direito a proventos de aposentadoria como ex-governador, tudo bem, que recebesse seus haveres. Mas ao assumir um mandato de senador, precisaria optar entre aqueles proventos e o subsídio de senador. Obviamente, escolheria o que fosse maior, no caso, a remuneração paga pelo Senado.
Trata-se, portanto, de uma renúncia — temporária, é certo, mas uma renúncia — à aposentadoria, enquanto estivesse no Senado. Findo o seu mandato, poderia voltar a receber seus proventos. Não sofreria prejuízos, pois durante todo esse tempo o dindim esteve na conta. Ao pedir proventos retroativos, o espertíssimo ainda senador joga por terra duas vedações constitucionais: a de acumulação de rendas e a do teto máximo de remuneração a ser paga aos agentes públicos.
Contando com a burrice alheia (ou com a conivência de quem de direito), ele pensa que, recebendo tais valores num momento em que não tem mais o subsídio de senador, o óbice estaria superado. Mas, ora pois, se os valores são retroativos, isso significa que não apenas o dinheiro em si, mas o fato gerador de seu pagamento remonta ao passado. Se esse pagamento for feito, estarão dizendo, tacitamente, que Dias tinha direito a receber aposentadoria como ex-governador cumulativamente com o subsídio de senador.
Não podia no tempo presente, mas poderia se for assim, na base do arranjo?
Ah, eu adoro ver essa gente mostrando quem realmente é! Pena que esse tipo de informação circule pouco na imprensa e, ainda que tenha maior divulgação, não chegue a impressionar o cidadão comum que, no fundo, não vê tanto mal assim no patrimonialismo desenfreado dos políticos brasileiros. Até reclama, mas endossa os mesmos caras com o seu voto.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Aspectos de uma saudade

Tive uma noite agradável ontem, mas ela poderia ter sido diferente. Fosse outro o contexto, eu teria que comparecer a uma festa de aniversário. Alguém de uma importância extraordinária em minha vida teria completado 98 anos. E ela tinha tudo para alcançar essa idade, não fosse uma súbita e fatídica mudança de planos, que se consumou em 5.12.2004.
Não há ninguém que me faça tanta falta quanto ela, o que explica fazer-lhe menções volta e meia, aqui no blog. Se estivesse conosco, sei que eu seria bem mais feliz.
Ela jamais deixava de comemorar um aniversário e sempre na data exata. E ai de quem não comparecesse!
Eu sempre ia.

Despejado

Um dos maiores escândalos financeiros da História recente do Brasil acabou de ter um capítulo curioso: o banqueiro Edemar Cid Ferreira, antigo dono do falido Banco Santos, teve que cumprir uma ordem judicial de despejo, incidente sobre essa mansão de gosto altamente duvidoso aí ao lado, na qual vivia no elegante bairro do Morumbi, em São Paulo. O imóvel é avaliado em mais de 60 milhões de reais.
Gente rica não pagar suas contas é trivial (neste país, pagar conta é coisa de pobre). Mas surpreendente é ver um rico inadimplente se dar mal por causa disso. Ainda que reversível, em tese, a decisão judicial foi cumprida por um Edemar obediente e carregando só uma malinha.
Se eu estivesse lá, daria um trocado para ele comprar, ao menos, um compreto para matar a fome. Já os antigos clientes do Banco Santos (entre eles o Banco da Amazônia!), que viram seu dinheiro desaparecer no ar e estão no prejuízo até hoje devem ter uma opinião diferente.

Andamento da enquete

A regra é clara: botou uma safadeza na história, ela rende! A minha Enquete sem-vergonha, abaixo, tem rendido retorno dos nossos queridos leitores. Alguns não respondem a pergunta, deixando entretanto impressões assanhadas sobre a questão.
Dentre os que responderam, a situação atual é: Paola Oliveira, 7 votos; Fernanda Machado, 6 (computado o meu, claro).
A querida Rita Helena recordou (seria inevitável não recordar) o fato de Paola Oliveira ter assumido relacionamento público com um sujeito que acabara de retornar de lua-de-mel. A "vítima" (ou "mulher de sorte", segundo outras abordagens) foi a também atriz Thaís Fersoza (na verdade Thaís Cristina Soares dos Santos, carioca, 26), que é linda, com seu jeitinho de boneca. A fama de pistoleira e destruidora de lares de Paola foi reavivada pela novela, o que a levou a assumir uma postura defensiva esta semana. Mesmo assim, os comentários de leitores pelo Brasil afora são altamente crueis com a loura. Melhor que ela adote a filosofia de que praga de urubu não mata beija-flor.
A enquete continua no ar, mas o momento Contigo do blog acaba por aqui, senão pega mal.

Lá e cá

Esta é mais uma postagem da série (sim, acabei de transformar numa "série"; que pedante, não?) que compara comportamentos no exterior e no Brasil.
Primeiro, leia esta reportagem aqui.
Fosse no Brasil, não haveria pedido de desculpas. Por aqui, quem dispõe de uma câmera e/ou de um microfone está permanentemente com o botão do f... ligado. E se alguém decidisse processar os humoristas, seria acusado de... adivinhe? Cerceamento da liberdade de expressão! Fosse num programa da Globo, o William Bonner apareceria no Jornal Nacional com aquele ar contrito dizendo, com sua bela voz, que a luta pela democracia exige que nunca deixemos de lutar pela liberdade de expressão.
Enquanto isso, na Inglaterra, os humoristas aproveitaram a ocasião para se desculpar por todas as vezes em que ofenderam alguém. Tão britânico, isso...

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Acabar com o lixo de Belém

O poder executivo municipal está empreendendo mais uma de suas ações midiáticas sazonais (neste desgoverno, mesmo isso é raro). A bola da vez é o combate à dengue, que suscitou uma convocação para um ato público, com direito a caminhada, que partirá do Jardim Botânico "Bosque Rodrigues Alves" em direção a São Brás, na manhã do próximo sábado (22). É o "Dia D".
Estão anunciando aos quatro ventos que o prefeito da cidade estará presente. Sim, aqui em Belém! Difícil de acreditar, mas não impossível de todo.
O mais interessante é o que tal prefeito pretende conclamar cada cidadão belenense a fazer uma faxina em nossa cidade, removendo todo o lixo, onde o Aedes aegypti prolifera.
Estou pensando em comparecer. Já que é para remover o lixo da cidade, pode ser uma boa oportunidade. Entendeu ou quer que eu desenhe?

Regime aberto em caso de roubo majorado

Primeiro, vejamos a matéria publicada no Conjur:

A Justiça paulista fixou o regime inicial aberto para um acusado pelo crime de roubo qualificado, cuja pena foi estabelecida em cinco anos e quatro meses de reclusão. O Código Penal diz que só tem direito ao benefício os condenados não reincidentes com pena igual ou inferior a quatro anos. A decisão, por votação unânime, é da 12ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça.

A turma julgadora entendeu que o regime inicial aberto se mostra suficiente para reprovar a conduta do acusado e prevenir que ele volte a cometer novos crimes. O Ministério Público deve apresentar Recurso Especial ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
A câmara impôs condições para o réu gozar do benefício, como não sair do local durante a noite e nos dias de folga, só sair de casa entre às 5h e às 21h para ir ao trabalho ou procurar emprego, não deixar a comarca onde cumpre a pena sem autorização do juiz e prestar serviços gratuitos à comunidade durante o tempo do cumprimento da pena.
Nilo Roberto Barbante foi condenado em primeira instância à pena de seis anos de reclusão, em regime fechado, com direito de apelar da sentença em liberdade. O juiz apontou como causa do aumento da pena as qualificadoras de emprego de arma e a participação de mais pessoas no crime de roubo.
Descontente, a defesa recorreu reclamando a absolvição de seu cliente acenando com a fragilidade da prova. Como alternativa pediu o afastamento das qualificadoras e a redução da pena.
De acordo com a denúncia, o roubo aconteceu em 13 de janeiro de 2002. O acusado, por meio de ameaça, exercida com emprego de arma, roubou dois malotes com dinheiro e cheques no total de R$ 3,9 mil. O valor era transportado por dois empregados e um segurança e era resultado do faturamento daquele dia de uma empresa.
O acusado negou o crime. Segundo ele, no dia do delito estava em outro lugar. As testemunhas apontam Nilo como autor do roubo. O dono da empresa também reconheceu o acusado.
A turma julgadora corrigiu o erro material da sentença que estabeleceu as qualificadoras de emprego de arma e concurso de duas ou mais pessoas. Com respeito à primeira, justificou que logo depois do roubo a Polícia apreendeu uma arma de brinquedo. E, no lugar da segunda, corrigiu a causa de aumento da pena para a prática do delito contra vítima que transporta dinheiro e o fato é de conhecimento do criminoso.
É pacífico o entendimento de que não é mais possível incidir a causa de aumento de pena se a arma for de brinquedo ou se ela está sem munição, porque não tem potencial lesivo.
Com esse entendimento, a câmara manteve a pena base de quatro anos prevista no crime de roubo, acrescida de um terço por conta da qualificadora. Ou seja, a sanção ficou em cinco anos e quatro meses de reclusão e fixado o regime inicial aberto.
"Deve a sanção penal se apresentar adequada à reprovabilidade da conduta e as condições apresentadas pelo acusado", afirmou a relatora do recurso, desembargadora Angélica de Almeida. A turma julgadora seguindo o voto da relatora entendeu que o peso da pena ao acusado basta quando a sanção atinge os objetivos de prevenção e repressão.
A desembargadora citou seu colega Dyrceu Aguiar Dias Cintra Júnior, que atua na Seção de Direito Privado, dizendo que acima desses dois objetivos (prevenção e repressão) a pena nada mais é que "uma legalidade meramente formal, vazia e cruel".
Para chegar à conclusão do estabelecimento do regime prisional, a turma julgadora se baseou em informações de que o réu, depois do delito de que é acusado, não se envolveu em qualquer outra conduta criminosa. "Mostra-se suficiente e adequado à reprovabilidade da conduta praticada, no caso presente, o regime inicial aberto, embora, com condições especiais", afirmou a desembargadora Angélica de Almeida.
O Código Penal estabelece que o regime aberto deve ser cumprido em casas de albergados ou estabelecimentos adequados. Os críticos desse tipo de regime prisional afirmam que por conta da falta dos locais estabelecidos na lei, na prática, preso em regime aberto cumpre a pena na própria casa, sem nenhum tipo de controle ou fiscalização.
O artigo 33 do Código Penal diz que o condenado a pena superior a oito anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado. Aquele não reincidente, com pena de mais de quatro e limite de oito anos, poderá, desde o princípio, cumprir o castigo em regime semiaberto. Aos não reincidentes, com pena igual ou inferior a quatro anos, é permitido o benefício do regime aberto.
Apelação 993.06.088339-9

O tribunal paulista me surpreendeu com essa deliberação, por dois motivos. O primeiro é a tradição jurídica brasileira, da supremacia da lei ordinária, frequentemente em detrimento da própria Constituição. Daí decorre a praxe judiciária de decidir de forma legalista, preciosista, com desconsideração p. ex. dos princípios que regem o Direito. O segundo é o fato de que o roubo é um crime que divide a sociedade em classes, pois a vítima é titular de patrimônio, ao passo que o criminoso, de regra, é um despossuído. Mesmo quando a vítima é pobre, a agressão a seu patrimônio alerta aos demais cidadãos, principalmente os mais afortunados e que, por isso, têm mais a perder.
Embora o discurso reinante fale muito em combater a violência, a prática demonstra que o objetivo de proteger bens materiais (e até estilos de vida centrados na cultura do ter) é o que preside a valoração sobre a gravidade do crime. É por isso que a sociedade tem sido leniente com as mortes e mutilações no trânsito (isso é violência), mas reage com uma fúria implacável em relação a assaltos e sequestros-relâmpagos, que também são violências, claro, mas que muitas vezes não produzem danos físicos ou psicológicos. Por outro lado, também há muita gana punitiva em relação a casos de furto e de receptação, embora esses delitos não envolvam violência contra a pessoa.
Por essas e outras razões, o judiciário paulista me surpreendeu ao colocar o autor de um roubo majorado (e não qualificado) em regime aberto. A despeito da argumentação fortemente centrada nos objetivos da pena — na ideia de que ela somente se legitima na medida de sua necessidade e que, por isso, não deve ser muito rigorosa —, pergunto-me se a deliberação não teve por finalidade criar uma nova mentalidade entre os juízes paulistas, que ajude a esvaziar as celas da eterna bomba-relógio que é o sistema penitenciário.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Enquete sem vergonha

Já que estou aqui à toa, procurando temas para uma postagem, vou baixar o nível do blog. Admito meus receios de comprometer minha imagem de politicamente correto, mas tinha me prometido ser mais eu mesmo em 2011, preocupar-me menos com as opiniões alheias; ser mais arbitrário, enfim (atenção: só no blog, não em sala de aula!). Então que se danem os pruridos! Segue-se uma postagem para os meninos (espero que a Luiza Duarte Leão continue me tendo algum respeito...).

A grande questão é: você trocaria Fernanda Machado...


por Paola Oliveira?


Atenção, rapazes: resistam à tentação de dizer que querem as duas. Isso não vale. A situação é clara: ou uma, ou outra.
Meu voto: Fernandinha. Adoro aquele nariz arrogante dela! Mas, obviamente, o nariz é uma peculiaridade, não uma prioridade.

Contraponto:
A paranaense de Maringá Fernanda Arrias Machado tem 30 anos. Está em sua quinta novela, mas também participou da minissérie Queridos amigos (2008) e de outros dois programas de televisão. Participou de dois filmes, dentre eles Tropa de elite, onde se destacou com a personagem Maria.
A paulistana Caroline Paola Oliveira da Silva tem 28 anos. Cursou Fisioterapia e depois Teatro. Começou fazendo comerciais e foi assistente de palco do programa "Passa ou repassa", do SBT. Está em sua sexta novela e já foi protagonista uma vez (O Profeta, 2006), voltando ao posto principal agora, em Insensato coração. Também participou de cinco outros programas de televisão e de seis filmes, sendo os dois primeiros de curtametragem. Já recebeu sete prêmios como atriz, mas nenhum deles expressivo.

Eu por aqui

Certamente que não era minha intenção ficar dois dias ausente do blog, mas estes últimos dois dias foram meio complicados. Nada de especial, apenas uma coisa aqui, outra ali; tudo junto acaba nos levando para lugares distantes. No meu caso, acabo ficando dispersivo e a mente não se fixa para produzir uma postagem coerente.
Espero que tenham sido dias bons para vocês. A qualquer momento, retorno à ativa.
Abraços.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Embromação intermunicipal

Em meio ao sofrimento com a tragédia provocada pelas chuvas no Estado do Rio de Janeiro, não falta quem tente tirar proveito da situação (p. ex., tentando saquear donativos ou aumentando excessivamente preços de alimentos). Mas quem está no olho do furacão trata logo de arrumar desculpas. Refiro-me aos titulares de funções públicas ligadas mais de perto à prevenção desses sinistros e, mais especificamente, aos prefeitos da cidade. Estes tentam escapar aos custos políticos de tantas mortes, desalojamentos e perdas materiais. É o caso dos prefeitos dos três Municípios mais afetados: Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo, que se reuniram num consórcio intermunicipal para enfrentar o drama. Mas adivinha o que eles alegaram? Que os governos anteriores têm culpa!
O interessante é que os três alcaides estão iniciando o terceiro ano de seus mandatos e já têm, no mínimo, a obrigação de explicar o que fizeram nos dois anos anteriores, considerando que, embora em nível nunca antes visto, a tragédia atual se repete todos os anos. Um olhar mais apurado, contudo, complica a situação dos três.
Petrópolis é governada por Paulo Roberto Mustrangi de Oliveira (PT), que em 2009 sucedeu Rubens José de França Bomtempo (PSB), prefeito por dois mandatos. Teresópolis é governada por Jorge Mário Sedlacek (PT), que em 2009 sucedeu Roberto Petto Gomes (PMDB). Nova Friburgo, por fim, é governada por Heródoto Bento de Mello (PSC), que em 2009 sucedeu Maria da Saudade Medeiros Braga (PSB), também prefeita por dois mandatos.
O PT governa o Brasil desde 2002. O Rio de Janeiro é governado por Sérgio Cabral, do PMDB, desde 2007, tendo sucedido Rosinha Garotinho, do mesmo partido. O PSB e o PSC foram aliados dos governos Lula e continuam na base de apoio, agora com Dilma Rousseff. Em suma, todo esse povo está ligado por laços de compadrio político que lhes retira, completamente, a possibilidade de alegar falta de apoio dos governos estadual e federal. E a culpa é do passado?
Claro que dos prefeitos passados também, porque se omitiram quanto à ocupação de encostas e outras áreas de risco. Mas rei morto, rei posto. Não admito o discurso da herança maldita. Os prefeitos atuais dispõem de recursos para agir e já tiveram tempo, ao menos, para começar.
Resta então culpar São Pedro. Não seria a primeira vez.

O primeiro dia

Enfim, Júlia foi à escola hoje pela primeira vez. O primeiro dia letivo pode ser encarado sob duas perspectivas: a da equipe escolar, que planeja, executa e encara a situação em seu contexto mais global, e a de cada família. No primeiro caso, perguntei a uma das coordenadoras, quando o dia terminou, que nota ela daria para ele, de 0 a 10. Ela respondeu 1.000. Ponderou que não ocorrera nenhum incidente e que pouquíssimas crianças choraram. Verdade. Nós mesmos já havíamos percebido isso.

Já no que nos diz respeito, não ficamos exatamente satisfeitos. E a explicação exige uma contextualização.

O primeiro dia de aula de uma criança pode se tornar "um evento", como classificou uma avó, membro de um séquito que acompanhava uma simpática menina. Ela foi com os pais, a avó e uma empregada de longa data da família. Todos queriam participar. Esse fenômeno se dá, ao menos, entre pessoas que podem se dar ao luxo de sair do trabalho por algumas horas para introduzir o próprio filho na vida escolar. Esse tipo de pessoa sempre tem uma câmera fotográfica digital ou mesmo uma filmadora. E com esses artefatos, acompanhar o passo a passo da criança chega a se tornar obsessivo. A escola, ciente disso, reservou a primeira parte da manhã para a ambientação de todos.

Júlia estava feliz com a novidade. Entrou tranquila em sua sala e foi logo se familiarizando com o espaço. Arrumou umas comidinhas e ficou brincando de cozinhar. Nosso problema começou no fato de que eu e Polyana cumprimos regras. Como a recomendação aos pais era não permanecer dentro da sala, se a criança estivesse bem, aguardamos do lado de fora. O resto do povaréu se espremia na sala, inviabilizando qualquer atividade planejada. A certa altura, cumprindo o cronograma, a coordenadora geral convidou os pais a sair e deixar as crianças com as professoras e auxiliares. Daí que, de repente, Júlia olhou para os lados e viu um monte de crianças com seus pais e ela, sozinha. Veio o choro. A coordenadora pedagógica conseguiu acalmá-la e a levou para nós. Ela já chegou bem, mas a partir daí não quis mais que a mãe se afastasse para nada. Por conta da ansiedade alheia, erramos tentando acertar, porque nos afastamos sem avisar a ela.

Confesso que ficamos frustrados, mas a coordenadora considerou a reação de Júlia positiva, no geral. Preocupamo-nos com o dia de amanhã, mas não há jeito senão vivenciá-lo.

***

Os leitores habituais do blog sabem que a educação de Júlia é questão capital para nós. O marcador "escola" foi criado especificamente para esse acompanhamento. Mas ninguém se preocupe, pois não tenho a menor intenção de produzir um diário da escola de minha filha. Nem mesmo eu teria paciência para isso. O dia de hoje foi um marco, mas como todos os dias, acabou. A partir daqui, as postagens sobre o tema serão relacionadas a questões mais gerais, reflexões e dúvidas, numa tentativa de trocar experiências com outros pais, que porventura passem por aqui. Os relatos de acontecimentos particulares existirão, claro, quando for o caso. Mas não é o meu objetivo.

Agradeço àqueles que têm acompanhado meus textos sobre os temas relacionados a minha filha, reagindo e respondendo com carinho, respeito e espírito de colaboração. Essas posturas ajudam a internet a ser um espaço capaz de construir coisas boas em nossas vidas.

Tribunal Constitucional de Portugal

Para a turma do Direito.
O Direito Comparado é um campo pouco explorado entre nós, mas que nos permite boas reflexões sobre nossas práticas. Não se trata de eleger um modelo melhor ou pior, mas de pensar em como poderíamos melhorar as nossas instituições, tradições e mesmo nossas leis.
Nessa perspectiva, saiba um pouco sobre o Tribunal Constitucional de Portugal.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Estou vendo coisas

Aquele conhecido colunista de negócios publicou, hoje, que ontem (portanto, sábado) "um caminhão munck desmontou as árvores de Natal do Hangar" (sic). A nota me deixou preocupado. Juro para vocês que passei hoje pela frente do Hangar e as árvores estavam lá, assim como o presépio. Até pensei se não seria interesse do novo-velho governo retirar de uma vez lembranças da gestão passada.
Enfim, alguém está enxergando demais ou de menos nesta história.

PS Aliás, com essa mania dos políticos de apagar todos os símbolos dos governos anteriores, ficarei muito triste se no próximo Natal as belas árvores de metal retorcido criadas na gestão petista não forem mais usadas. Eram as únicas árvores de Natal bonitas que Belém teve, nos últimos anos.

Primeira reunião

Ontem de manhã, eu e Polyana fizemos nossa estreia no mundo das reuniões de pais, na escola. Durante cerca de 1 hora e 40 minutos, a equipe da educação infantil da Escola Santa Emília nos falou sobre o que pretende nos oferecer e quais colaborações espera de nós. De modo mais pragmático, o grande objetivo era tranquilizar as famílias para esta fase de introdução das crianças na escola, facilitar o processo de adaptação e evitar sofrimentos desnecessários — para crianças e adultos.
A reunião foi agradável e útil. E quem o afirma é uma pessoa que considera as reuniões como uma das principais causas de atraso da humanidade. Isto porque, além das abordagens emocionais e declarações de intenções, houve a preocupação em orientar questões objetivas com as quais precisaremos lidar, desde o cumprimento dos horários até mordidas e epidemias de piolhos. As profissionais já estão muito experientes e conhecem bem o que se passa nos corações dos pais e mães, tanto que, quando davam exemplos de atitudes inconvenientes (p. ex., a mãe que se despede da criança repetidas vezes, até que esta finalmente chora e a mãe, com isso, se convence de que é amada; fica aliviada, mas prejudica o filho), eu, que olhava de esguelha para a plateia, via mães rindo nervosas, reconhecendo-se na descrições de atitudes superprotetoras.
Ouvindo as professoras, fiquei impressionado com a constatação do quanto o mundo mudou. Sabemos disso, claro, mas chama a atenção lançar um olhar direto sobre o caso. Ver como mudamos, para pior, dos anos de minha infância para cá. Hoje, o ritmo de vida e de trabalho e as preocupações com segurança geram crianças inseguras e até mesmo fisicamente incompetentes para atividades simples (p. ex., crianças que, criadas em apartamentos, na escola têm dificuldade para pisar na areia, pois têm medo da textura desconhecida), além de gerar pais cada vez mais neuróticos, desesperados por compensações emocionais, cegos por senso de competição e com valores comprometidos. Daí que fiquei muito satisfeito com a promessa da escola de colocar, na base de sua atuação, o desenvolvimento da afetividade, como forma de ensinar cidadania aos pequenos. Ao menos nos discursos, todos os pais que se manifestaram na hora concordaram. Tomara que seja verdade.
Um aspecto particularmente interessante da reunião foi a explicação sobre psicomotricidade. É claro que você já escutou muita gente dizendo que, na pré-escola, a criança vai só para brincar. Uma manifestação não apenas de desdém, mas de desinformação (para ser educado). As professoras explicaram que essas brincadeiras (sim, são brincadeiras; afinal, é a forma de conquistar as crianças!) se destinam a desenvolver a consciência corporal, medida necessária para desenvolver certas habilidades, notadamente o letramento. Quando a criança tem problemas no uso do corpo, isso pode refletir-se em maiores dificuldades para identificar letras, notadamente para distinguir as que são parecidas ("b" e "d", p. ex.) , podendo escrever de forma espelhada (ou seja, ao contrário). Foi bastante didático.
Enfim, foi uma ótima reunião, que nos proporcionou uma grande sensação de escolha bem sucedida. Agora é esperar as próximas horas, para levar Júlia até a escola pela primeira vez. A mochilinha já está arrumada, porque mamãe é muito ansiosa.

Sangue

Como qualquer brasileiro que não esteja em órbita, tenho acompanhado o drama instalado no Estado do Rio de Janeiro, por causa das chuvas. Algumas coisas são absolutamente certas e inevitáveis. Sabemos que todo ano haverá um campeonato brasileiro de futebol. E sabemos que todo ano morrerá gente em decorrência de desabamentos de encostas e inundações. Mas daí a somar 627 mortos (número deste momento), vai uma longa distância, que ainda não havia sido ultrapassada.
Tragédias como essa geram coberturas exaustivas da imprensa, com abordagens intensamente emocionais. Como se precisasse, já que o assunto em si já maltrata qualquer espírito, mesmo os menos sensíveis. É difícil assistir a essas matérias. Mas, felizmente, algumas emissoras têm exibido o sofrimento em cotejo com a solidariedade, dando grande destaque ao esforço das pessoas em socorrer os desabrigados. Alivia-me profundamente, como ser humano, saber que a resposta do cidadão comum costuma ser imediata, nessas horas.
Mas de tudo que pode ser doado — alimentos, cobertores, roupas, remédios, etc. —, nada me sensibilizou mais do que ver a enorme quantidade de pessoas se espremendo no hemocentro, para doar sangue. Normalmente, os hemocentros imploram que haja doações e a maioria dos brasileiros não dá bola. E desta vez, eles compareceram, para doar algo de seu, literalmente. Numa metáfora que até os vampiros reconhecem como correta, para doar vida.
Infelizmente, o contador de mortes ainda não parou de girar. Mas a chuva deve dar uma trégua esta semana. Que isso seja suficiente para começar a reconstrução.