Li na imprensa comum, hoje, matéria com um tom algo debochado, informando que um adolescente de 17 anos e "pouco mais de um metro e meio" conseguiu fugir dos policiais militares que o perseguiam por mais de quatro horas. Envolvido em dois arrombamentos para furtar computadores de um laboratório da Universidade Federal do Pará, o garoto esmirrado correu, pulou muros e nadou num igarapé antes de ser finalmente agarrado.
Não sei qual a moral da história que a reportagem pretendia vender, mas ao lê-la só consegui pensar em algo que me inquieta há bastante tempo: a circunferência abdominal da tropa. Qualquer pessoa que dê uma volta por Belém e repare nos policiais militares perceberá que boa parte deles, inclusive das mulheres, está muito fora de forma, o que compromete de forma direta e imediata a qualidade do serviço que prestam, que impõe óbvias exigências físicas.
Não é minha intenção fazer críticas aos policiais, mas ao governo, de cuja ação depende o funcionamento das polícias. Deveria o governo assegurar aos policiais espaços onde pudessem exercer atividades físicas regulares, devidamente supervisionadas por profissionais qualificados. Deveria manter políticas de controle da saúde da tropa, inclusive incentivando a atenção quanto ao peso. Duvido que qualquer uma dessas medidas seja implementada. Vale lembrar, ainda, o tema da remuneração do policial. Todos sabemos que alimentos saudáveis são caros. Não todos, claro, mas não se pode manter uma dieta saudável sem alguns ônus. Que o digam o sal e o óleo de cozinhar que usamos aqui em casa. Com o soldo de fome pago aos policiais, não se pode pensar em alimentação saudável. Na hora do fome, vai um compreto, mesmo1. Daqueles que só de pensar já me embrulha o estômago.
Enquanto a conjuntura for essa, os garotinhos continuarão dando canseiras de fazer vergonha na nossa briosa Polícia Militar.
1 Se você não sabe o que é um compreto, passeie por Belém. Você descobrirá rapidamente. Vou dar uma panôramica: numa barraquinha de rua ou numa bicicleta, o sujeito vende salgados (coxinha de galinha, p. ex.) aos quais se adicionam maionese, catchup, pimenta e o que mais rolar. O vendedor pega uma faca que dá medo de olhar, abre o salgado e enfia os complementos dentro. Normalmente, ajudando com o dedo. O lanche se torna um compreto quando acompanhado de um copo plástico do mais suspeito suco. Ah, sim, Belém é a capital brasileira com o maior índice de câncer de estômago. Por que será?
4 comentários:
O mais incrível é que as placas dizem "Completo R$1,00". O que pode ser completo custando 1 real?!!
Abs
Edyr
Muito obrigado, Harrygoaz. Desejo-lhe o mesmo, se não for spam.
O câncer de estômago, Edyr. Esse é completíssimo!
O sentido do "completo" é que vem tudo : bactérias dos mais variados tipos, larvas de alguns invertebrados, etc, etc.
Quanto à circunferência dos nossos robustos PMs, o que me surpreende , e não só na PM, mas em outras instituições, é a exigência de testes físicos nos concursos públicos. Ou seja, exigem um preparo físico excepcional do candidato , que meses depois de aprovado pode estar completamente "gordinho", não conseguindo desempenhar suas funções.
Nessa linha ainda, e o que acho mais absurdo ainda, é exigir que os PMs usem coturno(só aí vão uns 3 kg) e essas fardas de brim ou sei lá que material grosso e calorento é. Acho que PM em Belém deveria usar tênis, bermuda e camiseta.
Sentir- se-iam bem mais confortáveis, e ninguém me convence que alguém usando um coturno correrá mais do que aquele usando um tênis. Até parecem aqueles "bólidos" da PM carioca. Tudo golzinho 1.0. Vão alcançar quem com aqueles carros? Nem esse moleque que fugiu a pé da PM aqui.
Kenneth Fleming
Ah, Yúdice, pelas bandas de cá, nós também temos o "compreto".
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