E o Papa Bento XVI foi embora, após provocar cinco dias de um estado de euforia que eu chamaria, sem qualquer intenção desrespeitosa, de catolicachaça. Não chamam de "cachaça", na gíria, tudo aquilo que deixa as pessoas muito agitadas, mesmo que no bom sentido, ou realizadas?
O fato é que o cara é muito bom de marketing pessoal. Soube fazer-se querido pelo público, que só queria um pezinho para isso. Distribuiu sorrisos, passou horas de braços levantados, recebeu de bom grado os contatos físicos que teve, misturou agenda de compromissos institucionais da Igreja com eventos ligados a organizações não governamentais de benemerência, apareceu mais de uma vez na janela do Mosteiro de São Bento de surpresa... Ufa! Decididamente, este papa também é pop.
Mas, por baixo dos sorrisos, a mensagem de que nada mudou e nada mudará foi dada. Durante a sucessão papal, foi amplamente divulgado que Joseph Ratzinger fora um dos mais importantes teólogos da Igreja no pontificado de João Paulo II, um homem de sua confiança que chegou a presidir a Congregação para a Doutrina da Fé. Nessa condição, mostrou sua face mais reacionária. Tanto que, ao ser eleito, matérias de capa de revistas de circulação nacional informaram que a Igreja se fechava.
Enfim, a doutrina católica está igualzinha e hermeticamente fechada. O papa deixa o país dizendo que os anticoncepcionais e o divórcio são ameaças ao mundo. Nem me darei ao trabalho de comentar tais assertivas.
Só gostaria de saber se, hoje, ainda existe algum narcotraficante no Brasil. Porque depois de essa catigoria ser ameaçada pelo papa com o fogo do inferno, imagino que todos se tremeram e viraram homens de Deus. Ou será que preferirão correr o risco?
Infelizmente, se os narcotraficantes não se renderem, imagino que os políticos corruptos também não o farão. Ou seja, tudo como dantes.
6 comentários:
O Brasil tem que cumprir a sua constituição em todos os aspectos.
Já que o país é laico, não podemos sofrer nenhuma interveção na leis de qualquer religião.
Acho um desreipeito com os seguidores de Testemunho de Jeová, que não permite transfusão de sangue e portanto não são ouvidos, já a igreja católica manda e desmanda no nosso país.
Cada pessoa é que deve seguir aqueles preceitos que mais lhe convir, mesmo sendo possível determinada ação pelas leis brasileiras, se acho que não devo fazer, não faço.
Este preceito deveria ser seguido pelo Lula, que sempre foi contra a reeleição, mas como era possivel se reelegeu, fala sério.
É verdade. O estado de êxtase é tamanho, que eu estou até agora me perguntando qual a importância de ter uma paraense que cozinha biscoitos para o papa.
O zero nunca foi tão zero. O nada nunca foi tão vazio, amigo.
Só uma objeção, doutor, "mostrou sua face mais reacionária": Joseph Ratzinger, vulgo Bento XVI, só tem essa face para mostrar. Inquisidor-mór durante muitos e muitos anos, mandou para a fogueira moral muitos religiosos de estofo, muitos cristãos que ele detesta, quando estes preferem seguir Cristo às diatribes da cúpula do Vaticano. Ratzinger pertenceu À Juventude Nazista e anos mais tarde, já príncipe da Igreja Católica Romana, disseminou a versão de que havia fugido do exército de Hitler, a quem defendia. Quanto aos traficantes, agora vão mudar de droga, vão vender as pílulas de Frei Galvão...
Anônimo das 10h25, só posso concordar.
Fred, temos que lembrar que este é um país em que até o Louro José - até o Louro José - se tornou comentarista da visita do papa - e ele estava falando sério! Num país desses, cozinhar biscoitos para o papa só pode ser, mesmo, uma atividade de grande destaque social.
Anônimo das 11h57, você deve ser a mesma pessoa que fez comentários em postagens anteriores, sobre assunto análogo. Concordo em boa parte com as suas idéias, mas ainda assim precisamos baixar um pouco o tom. Se não por nada, para não ofender pessoas queridas que se sentiriam melindradas com certas afirmações.
Acho importante trazer à tona as verdades sobre todas as pessoas influentes, mas podemos fazer isso em tom mais brando, até para não corrermos o risco de perder a credibilidade.
Veja o caso das pílulas de Frei Galvão. Penso que a elas se aplica o raciocínio de que, se não fazem bem, mal não fazem. Se auxiliarem alguém com base no efeito placebo, que seja, já terão cumprido um bom papel.
Peço que leve em conta, ao ler estas minhas palavras, que eu sou espírita e, com grande freqüência, ouço desaforos de todo tipo por conta de minhas convicções. Aborrece-me a incompreensão das pessoas quanto ao Espiritismo, por isso não gostaria de incorrer no mesmo erro em relação às outras religiões.
Pôxa, Yúdice! Se você ouve desaforos por conta da incompreensão das pessoas acerca de suas convicções espíritas, faça idéia eu que respeito as religiões mas sou ateu.
Outro dia, caro Fred, uma aluna fez comentário semelhante, por ser judia. Realmente, ateus devem levar mais pancadas do que judeus e espíritas, nesta nossa sociedade democrática em que todos têm direito a crenças, desde que Deus esteja incluído.
Faço a crítica mesmo sendo cristão. Afinal, acredito que Deus não faz a menor questão que acreditemos Nele, muito menos que O adoremos; deseja, isto sim, que vivamos todos em harmonia com o mundo e com nossos semelhantes, mesmo que acreditemos no nada. Esse sentimento antropomórfico de necessitar ser adorado é coisa de instituições religiosas. Esperam elas, assim, ser as porta-vozes de Deus na Terra e, por conseqüência, titulares na prática das honras e benesses que tal adoração produz.
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