sexta-feira, 25 de maio de 2007

Araceli, 34 anos depois

Graças à colaboração da amiga Profa. Lourdes Nogueira, apresento-lhes o artigo* abaixo, tratando sobre um dos maiores dramas deste país:

Mais de três décadas nos separam do emblemático caso Araceli. Muito provavelmente poucos se lembram da história da menina de apenas oito anos que, em 1973, num dia 18 de maio, recebeu destaque nos jornais, revistas e TVs por ter sido violentada e morta por agressores nunca punidos.
A memória brasileira, sabe-se, é curta e seletiva. Esquece-se com mais facilidade daquilo que provoca desconforto. Do episódio Araceli até os dias de hoje, o que se fez foi acrescentar outros tantos nomes de crianças a uma história já bastante conhecida que insiste em se repetir.
O número de adolescentes e crianças vítimas de abuso ou violência sexual cresce diariamente no Brasil, e muitos dos casos, escondidos pelo silêncio constrangido das vítimas e parentes, nem sequer chegam ao conhecimento público ou aos noticiários.
É claro que, nas últimas três décadas, houve avanços importantes na legislação brasileira voltada à criança e ao adolescente. Mas, embora esse capítulo da nossa legislação seja considerado um dos mais bem elaborados do mundo, na prática, ainda tem sido necessário derrubar resistências ao cumprimento do que prega a lei.
O preocupante quadro de abuso e exploração sexual infantil, pedofilia e pornografia envolvendo crianças e adolescentes exige providências firmes: elas e eles não podem continuar a ser mera estatística policial e muito menos pivôs de uma situação de impunidade que, para conforto ilusório de nossa consciência, preferimos achar que não nos atinge, simplesmente porque parece distante de nossa família ou convívio social. A sociedade brasileira precisa compreender que é dever de todos zelar pela proteção das crianças e adolescentes, e não apenas uma obrigação do Estado.
Sabe-se que o abuso sexual de crianças e adolescentes ocorre em todos os países do mundo e em todas as classes sociais. Ao contrário do que se pensa, o problema se dá em geral em ambientes em que crianças e adolescentes deveriam ser mais protegidos.
Segundo levantamento do Centro Nacional de Referência às Vítimas de Violência, 62% dos casos de abuso acontecem na própria família, e o pai biológico é o principal agressor em 52% das ocorrências -normalmente, o agressor é alguém próximo, em quem se confia. O abuso também ocorre em entidades governamentais e privadas responsáveis por prover cuidados substitutivos aos da família.
Se para os adultos já é difícil tratar de um assunto tão espinhoso, para uma criança ele pode representar o trauma de toda uma vida. Isso explica, em grande medida, o silêncio em torno dos casos. O pacto de medo velado colabora para que essas situações de violência se prolonguem, com sérias conseqüências para a vida de crianças e adolescentes vitimados.
Os meios de comunicação têm pelo menos dois papéis importantíssimos nessa luta: um é retirar o tema de uma "redoma de silêncio", conveniente para alguns, ruim para a sociedade e péssima para as crianças. O outro é sensibilizar os diferentes públicos - direta ou indiretamente envolvidos - para que não apenas denunciem qualquer tipo de ameaça ou violação dos direitos da criança e do adolescente mas também participem ativamente de ações de prevenção. Uma grande conquista nesse sentido foi a implantação do disque-denúncia nacional específico (disque 100) para casos de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes, que ainda precisa ter maior divulgação.
A denúncia representa o pontapé inicial para romper o ciclo de violência. Mas, tão importante quanto denunciar, é realizar todo o processo que se segue a ela, com um adequado atendimento às vítimas, de forma que elas não fiquem ainda mais vulneráveis, e, claro, a responsabilização criminal dos agressores. Nesse aspecto, as políticas públicas atuais têm se mostrado insuficientes.
Escolhida para lembrar a menina Araceli, a data de 18 de maio de 2007, hoje, representa o Dia Nacional de Enfrentamento ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes e será lembrada em nosso país por meio de importantes eventos previstos para acontecer em Santarém (PA), Brasília (DF) e São Paulo (SP).
Que ela sirva para uma grande reflexão nacional sobre o tema, os papéis de cada um na solução de um problema que nos diz respeito a todos. E, principalmente, para nos lembrar que proteger os direitos da criança é imperativo ético que exige sempre muito senso de urgência.
Ana Maria Drummond
(34, mestre em administração de empresas
pela Universidade Luigi Bocconi - Itália e
diretora-executiva do Instituto WCF-Brasil)

Neste momento, o tempo está contra mim. Mas prometo prosseguir esta postagem explicando a vocês o "Caso Araceli".

* Disponível em http://www.denunciar.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia20070517181918

8 comentários:

nnn disse...

Lembro muito bem deste caso, morava em uma pequena cidade no interior do Ceará e tinha 14 anos na época, e fiquei muito chocada.
Nunca consegui esquecer.

Yúdice Andrade disse...

Nossa, Estrela, nem sei em que lugar do país (ou do mundo) você está e mesmo assim me achou, através de uma postagem de quase 11 meses atrás. Sempre ficou muito curioso sobre como pessoas desconhecidas me localizam. Estava fazendo alguma pesquisa específica?
Eu apreciaria se pudesse nos contar um pouco de como foi o caso na época, como as notícias correram, como as pessoas reagiram. Obrigado pela visita.

nnn disse...

Olá Yúdice!!!
Encontrei seu blog no google, justamente pesquisando sobre o caso Araceli.
Morava na época do crime, em Assaré-Ceará-Brasil,e este caso me impressionou muito na época, acho que foi o primeiro cado de violência contra criança que tomei conhecimento,não tínhamos televisão na época, fiquei sabendo através de revistas.
Na época, não tive maiores esclarecimentos devido a escassa rede de comunicação. Depois foi lançado o livro Araceli meu amor, do José Louzeiro, que li várias vezes.
Relembrando o caso, resolvi pesquisar agora.

Anônimo disse...

Olá Yúdice
Tenho lido sobre o Crime de Araceli, pois trabalho em um Programa que atende crianças e adolescentes vítimas de violências, abuso e exploração sexual e o dia 18 de maio, foi instituído devido este caso. Gostaria muito de ler o livro "Araceli Meu Amor, de José Louzeiro. Tem idéia como posso adquiri-lo? Tem como ajudar-me? Já busquei em inúmeras livrarias, porém não encontro. Grata

Neto - 3M disse...

eu vim morar em vitória no espirito santo, tenho só 18 anos não era nascido na epoca, mas ouvi falar sobre o caso araceli em uma musica do dead fish que é de vitória tb, mas nem ligue pq a musica não fala especificamente... e ontem quanto eu passava pela AVENIDA DANTE MICHELINI meu pai leu a placa em voz alta e me contou toda essa história monstruosa... não me conformei quando me vi em uma avenida cujo o nome é em homenagem a um dos mandantes de um dos crimes mais chocantes da história do país... que comprou a imprensa capixaba e mais sei lá quem que fez que ele fosse esquecido do caso junto com o SENHOR PAULO HELAL... dois milionários que mataram a indefesa meinina areceli...
espero que o caso isabela não caia no esquecimento como o caso araceli parece ter caido...

Yúdice Andrade disse...

Caro Neto, obrigado por sua atenção ao blog. E, no seu lugar, eu teria experimentado o mesmo sentimento de indignação. Afinal, sinto-me indignado com homenagens a pessoas cujos atos, apesar de reprováveis, não chegaram a ser o que esse estupro-homicídio foi.
É por isso que precisamos conhecer a História, inclusive a nossa, bem local. Para sabermos quem merece homenagens e quem deveria cair naquele esquecimento próprio dos facínoras.
Tenho dito aqui no blog que, lentamente e a duras penas, o país vai melhorando. As instituições, as leis e sobretudo as pessoas ganham nova mentalidade. O caso Isabela não cairá no esquecimento, certamente, como um dia a pequena Araceli caiu e como, aqui no Pará, foi o trágico destino das crianças emasculadas de Altamira.
Abraço fraterno.

Anônimo disse...

Eu tinha apenas 5 anos de idade e me lembro como se fosse hoje a barbárie com uma menina de apenas 8 anos de idade, mas o que mais me choca é ver que ainda acontece nos dias de hoje e mães continuam deixando seus filhos circularem sozinhos pela cidade. Gente vamos acordar aqui não é o paraiso.

Anônimo disse...

Olá,para quem quiser saber melhor sobre o Caso Araceli.
Basta ir apenas no youtube e digitar Araceli Crespo.Entrando no meu perfil vai ter meu link do meu orkut,onde se têm tudo sobre minha filha Araceli.

Meu perfil têm a foto da Araceli,no youtube.Eu postei os videos e muitas outras coisas.

Obrigado.