O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, atualmente o maior telhado de vidro do governo federal, teria declarado à imprensa que "Se homem engravidasse, pensaria diferente sobre o aborto".
Ele está correto. É só reparar nos argumentos sempre suscitados pelos debatedores. Note que somente as mulheres tratam o abortamento como uma questão de direito de disponibilidade da mulher sobre o próprio corpo. Podemos ver homens favoráveis ao abortamento sob a alegação de interesse da saúde pública, ou fatores sociais, psicológicos, etc. Todavia, nunca escutei um homem dizer que a mulher tem o direito de dispor do próprio corpo. Você já escutou? Tal assertiva é feita por quem sabe onde o calo aperta. Portanto, ainda que inconscientemente, o debate ganha contornos sexistas.
Pessoalmente, sou contrário ao abortamento voluntário e defendo que a mulher, obviamente, dispõe do próprio corpo, desde que não haja, dentro dele, uma outra vida. Porém, negar que o abortamento é um drama de saúde pública nacional constitui uma irracionalidade. O problema não está nesse diagnóstico, que é indesmentível, mas na conclusão sobre o que faremos a partir dele. Legalizar ou não, eis a questão.
Admiro a coragem do ministro de defender seus pontos de vista no momento menos propício. E admiro sobretudo ele saber a distinção entre suas convicções pessoais e o seu papel como titular da função pública em que se encontra, mérito que, por sinal, Lula também teve.
Quero fazer uma provocação final, especialmente para os que já estão cheios de argumentos religiosos na cabeça: não é verdade que um número imenso de pessoas que, abertamente, bradam a plenos pulmões contrariedade ao abortamento se mostrariam menos contrários se estivessem pessoalmente envolvidos com uma gestação indesejada?
Em apoio, recorro à estatística da própria Igreja Católica, de que o Brasil tem mais de 70% de sua população católica. Seria razoável supor que as milhares de gestantes que abortam anualmente são ateias ou agnósticas (considerando que espíritas, evangélicos, muçulmanos, etc. também são contrários ao abortamento)? Seria razoável supor que são adeptas de segmentos religiosos menos persuasivos? Creio que não.
Suponho, por minha conta e risco, que 70% dos abortamentos clandestinos são realizados por gestantes católicas. E ainda por minha conta e risco, suponho que a maior parte delas jogará o assunto para debaixo do tapete e engrossará as palavras de ordem de Bento XVI. Mas se entender que precisa abortar...
Faz sentido ou estou alucinando?
5 comentários:
Realmente, Yúdice, a hipocrisia domina esse assunto. Hipocrisia dos políticos, da Igreja Católica, e das próprias mulheres. Sou favorável a legalização total do aborto. Quando eu vejo, nas ruas de BELÉM, um monte de crianças cheirando cola, sem nenhuma perspectiva de vida, acabando por recorrer à bandidagem, penso que um aborto teria sido melhor para eles. A Igreja Católica se diz a favor da vida. Que vida? Essa instituição que é especialista em matar (vide Inquisição, que inclusive, sua sucessora a Congregação para Doutrina da fé, que foi presidida por muitos anos pelo atual papa, que até pertenceu a Juventude Hitlerista) não tem autoridade moral para exigir nada de ninguém. Muito menos do governo brasileiro. O Brasil é um país laico. Pelo menos, teóricamente. Portanto, o papa não pode impor seu pensamento. Reconheço que a minha opinião é chocante. Mas, penso que a mulher tem o direito de fazer o que bem entender com seu corpo. Inclusive, abortar, se não tiver meios de sustentar a criança. Porque deixar viver? Pra virar mais um marginal? Mais um Champinha? Negativo. É claro, que uma política de planejamento familiar, com distribuição ampla de preservativos, por exemplo, seria um bom começo. Mas até isso, a Igreja de Roma é contra. O obscurantismo católico é o que atrasa o Brasil. Se nós tivessemos sido colonizados pelos protestantes anglo-saxões ou pelos holandeses, seriamos a maior potência do mundo. Mas, não caímos nas mãos dos portugueses e dos jesuítas. Aí fica difícil...Mas me admira os portugueses terem aprovado o direito ao aborto.Eles que são tão católicos...
Por falar em religião, tudo bem, não nego a importância que a mesma tem para a humanidade como um todo. Muito do que temos hoje em dia como certo e errado já vem sendo enraizado em nossas mentes ao longo de séculos. A igreja inegavelmente exerceu, e exerce até hoje (por que não?) um controle muito forte sobre a sociedade, bom em alguns pontos, como alguns mandamentos, por exemplo (alguns defendem que o ser humano é bom por natureza, o que diminuiria um pouco o valor da igreja nessa "educação", outros já acreditam que o homem é um ser mal por natureza, o que elevaria a importância desta instituição, mas de qualquer forma, creio que nesse ponto a mesmo foi de fato importante). Pois bem, antes que eu esqueça o ponto que queria criticar, abordar-lo-ei sem mais demora. A igreja também tem seu lado negativo. Muitas vezes a mesma, relembrando seus tempos áureos tenta interferir na vida de seus fiéis, desde o uso de preservativos até a opção sexual de seus fiéis. O primeiro ponto é o que mais interessa, haja vista que o segundo é tão absurdo que nem vale a pena criticá-la. No mundo de hoje, se formos dar ouvidos a tudo que Bento XVI e sua turma fala, tudo seria muito diferente. Sendo um pouco pessimista, darei enfoque para algumas conseqüências negativas. Crianças acéfalas, por exemplo, teriam de esperar 9 meses de sofrimento (para mãe principalmente) para só assim serem veladas e sepultadas (ou cremadas como prefere nosso professor), os índices de AIDS, sífilis, gonorréia, entre outras DST's só aumentariam, sem falar é claro da elevação das taxas de natalidade, o que, em países como o Brasil, não seria nada feliz.
O que quero dizer com isso: a religião é importante? É, não nego. Mas será que devemos fundamentar as discussões em torno desse tema tão importante sob o prisma da religião, seja ela qual for?
Creio que deveríamos tomar uma postura mais laica, até por que, como o senhor bem lembrou, muitos "religiosos" que criticam fervorosamente o abortamento, talvez o fizesse caso se encontrasse nas circunstâncias que normalmente o precedem.
O tema é muito complexo, seria um ótimo tema a ser tratado em palestras, abordando o lado civil, penal, constitucional. Uma mesa redonda seria melhor ainda. fica a dica (quase pedido hehehe).
abraços, professor.
A questão é a seguinte: a Empresa Católica não consegue controlar seus associados e por isso quer se intrometer na legislação dos países, exigindo que adotem seus dogmas primitivos e criminosos. O Brasil é um país com liberdade de culto e por isso nenhuma denominação religiosa, nenhuma empresa com fins mais que lucrativos como a igreja de Roma pode impor seus dogmas. Ela que exija a obediência de seus fiéis e nos deixe em paz! É absurdo que um empresário nazista, adepto da inquisição e (agora ele nega, claro) de Hitler venha querer impor seu primitivismo a todos os brasileiros!
Eita, que tem gente mais aborrecida com essa visita do papa do que eu... Mas, naturalmente, não posso tirar-lhes a razão.
Há muito de bom na instituição Igreja Católica. Mas enquanto ela insistir em jogar suas mazelas para baixo do tapete, criará para si mesma um telhado de vidro.
Falando nisso, a visita do papa por si só já mostra que o momento escolhido para a discussão está com cartas marcadas. Ou será que a presença do papa no país não vai mexer com os brios das pessoas? Com certeza a discussão tomará outro rumo, e isso, na minha opinião foi proposital.
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