domingo, 13 de maio de 2007

O educador institucionalizado e a premiação do ócio

Este é o título do artigo escrito pelo professor santareno Daniel Fernandes, doravante titular de minha admiração e solidariedade, cuja leitura considero essencial a todos que se preocupam com educação e que surrupiei do blog do Jeso Carneiro. Ei-lo:

Stephen Kanitz, articulista da Revista Semanal Veja, em um dos seus artigos semanais, fez o seguinte questionamento, para seus leitores. “Qual a profissão mais importante para o futuro de uma nação? O engenheiro, o advogado ou o administrador?” O mesmo respondeu “Vou decepcionar, infelizmente, os educadores, que seriam seguramente a profissão mais votada pela maior parte dos leitores. Na minha opinião, a profissão mais importante para definir uma nação é o arquiteto. Mais especificamente o arquiteto de salas de aula.” A educação buscada por Kanitz, é desejada por muitos educadores. Uma educação que leve o aluno a refletir, interpretar, comparar, para que possa formar sua própria opinião. Nossos alunos infelizmente foram doutrinados para não pensar, para não ter uma opinião própria, para repetirem o que está escrito nos livros didáticos. Muitos educadores acham que o bom aluno é aquele que não fala nada, que não questiona. Infelizmente o Estado, nas esferas federal, estadual ou municipal, criou uma fábrica de institucionalizar educadores. O leitor deve estar se perguntando. O que é institucionalizar educadores? Institucionalizar é quando o educador que tem iniciativas, que procura ser criativo, é levado pela constante e progressiva falta de apoio, de reconhecimento e pela desvalorização, por parte dos gestores públicos, a ser um educador de sala de aula. Aquele que está preocupado somente em cumprir ou mesmo fazer a leitura do seu conteúdo, pegar os seus alfarrábios e ir embora para casa, sem um envolvimento com a realidade do aluno ou da comunidade onde está inserida a escola. Há cerca de três anos quando fui aprovado em concurso público, para o cargo de professor na rede pública estadual, sem experiência, considerando o fato de que na universidade não tive aulas práticas, estava determinado a fazer diferente, logo quando cheguei à escola, desenvolvi em parceria com outra colega professora um projeto de coleta seletiva de recicláveis. Fui informado que as horas-aula que trabalharia no projeto não seriam contabilizadas na minha carga horária, ou seja, estaria fazendo um trabalho voluntário. Desde então fui alertado por colegas mais experientes que não adiantava fazer esse tipo de trabalho, pois não teria reconhecimento algum por parte do Estado, fato este que ainda assim não foi suficiente para me demover da idéia do projeto. Dois anos depois, conseguimos com o projeto instalar uma rádio interna na escola, mais fui derrotado pelas empresas de reciclagem da cidade que se recusavam a retirar os materiais recicláveis da escola. Após o fim desse projeto, resolvi mudar de foco, e desenvolver um trabalho na área de informática, pois percebi que o laboratório de informática da escola, como a grande maioria dos laboratórios das outras escolas era subutilizado. No estudo para elaborar o projeto descobri que de acordo com IBGE Censo 2000, em Santarém, dos 57.000 jovens da área urbana, somente 3,4% sabem manusear um computador. No ano passado desenvolvi esse projeto, ao longo do ano. Foram capacitados mais de 50 alunos, na ocasião também fui informado que a carga horária não seria contabilizada, assim eu estava praticando trabalho voluntário fora do meu horário de trabalho, pelas minhas contas foi mais de 300 horas-aula de trabalho voluntário, o que somado com os custos e horas aulas do outro projeto corresponderia no mínimo a quatro meses de trabalho remunerado. Depois de muitas reclamações da minha esposa e do meu filho de cinco anos, de que eu não parava em casa, de que nos finais de semana em vez de ficar com eles eu ia para a escola fazer trabalhar, resolvi mudar e fazer um projeto dentro da minha carga horária, estimulado pela Secretaria Executiva de Educação, através da 5 Unidade Regional de Educação, e gestores da escola, fiz o projeto que foi enviado para Belém (para variar) para decidirem pela aprovação ou não. Depois de dois meses do inicio das aulas, veio à resposta. Fui informado de que “o lugar do professor é dentro da sala de aula”, ai lembrei-me do colega professor que tem mais de 20 anos de experiência “não adianta tu fazer esse trabalho, eles nunca vão reconhecer”, quatro anos depois, o Estado, através da Seduc, me colocou diante da realidade nua e crua “o lugar de professor é na sala de aula”. Liguei a minha televisão e vi o Willam Bonner, apresentador do Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão, noticiando que o Juiz do Superior Tribunal de Justiça de nome Medina, acusado de corrupção, por vender sentença aos chefões da máfia dos bingos, como punição seria afastado e aposentado compulsoriamente. Para outros casos semelhantes envolvendo juízes e promotores a punição era a mesma, afastamento imediato e aposentadoria compulsória. Só tem um detalhe, o juiz iria pelo ganhar pelo resto da vida o seu salário da ativa, de R$ 23.000,00 – vinte e poucos mil reais. Esses fatos me fizeram pensar, que a punição para os servidores públicos que não fazem nada, que são pegos em atos de corrupção é o ócio premiado, ou seja, são afastados de sua função e ficam ganhando salário sem trabalhar. E infelizmente como afirmou Stephen Kanitz, “Não é por coincidência que somos uma nação facilmente controlada por políticos mentirosos e intelectuais espertos. Nossos arquitetos valorizam a autoridade, não o indivíduo. Nossas salas de aula geram alunos intelectualmente passivos, e não líderes; puxa sacos, e não colaboradores. Elas incentivam a ouvir e obedecer, a decorar, e jamais a ser criativos.” No Brasil, ser criativo é ganhar sem trabalhar, é ser corrupto sem ser pego pela Polícia Federal ou pelo Ministério Público. E para os leitores desse artigo, o laboratório de informática da minha escola, continua fechado, os 96% dos jovens santarenos da área urbana, que não sabem usar o computador vão continuar sendo uma estatística do IBGE, pois como fui informado “lugar de professor é na sala de aula”.

Já tive a oportunidade de comentar alguma coisa, aqui no blog, sobre o tratamento dado aos professores. Fica mais uma denúncia, de quem sentiu a violência na carne.
Este país não tem o menor futuro com a "educação" que nossos administradores querem. Pena que a estupidez deles, apesar de letal para os outros, não mate a eles mesmos. Adoraria vê-los asfixiados na própria mediocridade. Quem sabe seus cadáveres servissem à ciência, mas até disso duvido.

2 comentários:

Anônimo disse...

Yúdice, fico muito feliz em dar aula na FAZ. Os diretores são doutores, mestres e especialistas. Todos novos. Lá, nós professores, temos toda liberdade no artífice do saber. Passo mais tempo fora da sala de aula com os meus alunos, do que dentro das quatro paredes. Isso é uma benção. Meus alunos estão encantados. A aprendizagem flui naturalmente, absorvendo outros conhecimentos paralelos, de outras áreas.
O encontro com os blogueiros, na Jinkings(infelizmente você não pode ir), foi uma dessas atividades.
Lendo o artigo, infelizmente sinto-me privilegiada, pois deveria ser uma prática comum.
Bjs.

Yúdice Andrade disse...

Onde leciono, também, graças a Deus, temos grande liberdade para inovar. Naturalmente, uma instituição privada sempre terá algumas limitações. Mas até hoje não tive motivos para me aborrecer. Nossas decisões são endossadas, felizmente.