quinta-feira, 30 de junho de 2011

Oficina de leitura dramática (jabazinho)

INSTRUTOR: HUDSON ANDRADE.
Ator formado pela Escola de Teatro e Dança da UFPA, diretor e dramaturgo com textos premiados e publicados pela Fundação Nacional de Artes (FUNARTE) em 2003 e 2004. Fundador da Companhia Teatral Nós Outros, há 10 anos em atividade.

Na Casa da Atriz, foi o responsável pela dramaturgia dos espetáculos "A sétima peleja" e "Como se fosse", além do Curta a Cena "Carnaval", que também dirigiu.
Coordena a ação Leituras Dramáticas na Casa e dirigiu, nos meses de janeiro e junho de 2011, respectivamente, "Nossa vida não vale um Chevrolet", de Mário Bortolotto, e "Édipo-Rei", de Sófocles, tendo atuado ainda nas leituras "Fica comigo esta noite" (Flávio de Souza), "Novas diretrizes em tempos de paz" (Bosco Brasil) e "A gaivota" (Anton Tchekhov).

PERÍODO: 10 de agosto a 30 de setembro de 2011. Quartas e sextas, de 19h30 às 22h00.
40 horas/aula

Aulas teóricas, práticas e resultado ao público.
Material apostilado.
Certificado.
15 (quinze) participantes
INVESTIMENTO: R$ 100,00 (50% na inscrição e 50% em 30 dias)

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO RESUMIDO
TEÓRICO
01. As origens da linguagem
02. As origens da palavra escrita
03. Texto dramatúrgico e texto não dramatúrgico
04. A supremacia do texto
05. Dramaturgia contemporânea: o pré-texto

PRÁTICO
01. Aquecimento e alongamento corporal
02. Aquecimento vocal
03. Respiração
04. Dicção
05. Entonação
06. Noções de tempo e ritmo
07. Noções de percussão

RESULTADO
Leitura dramática nA Casa da Atriz: "A maldição do Vale Negro" ou "Reunião de família" (a escolha é do grupo), de Caio Fernando Abreu.
Dias 29 e 30 de setembro de 2011, 20h00, com entrada franca.

PS — A habilidade que pode ser adquirida por meio desta oficina não é útil apenas para aqueles que, eventualmente, desejarem uma carreira artística. Ao contrário, é de grande utilidade para estudantes, mormente os do ensino superior, que têm a necessidade de apresentar trabalhos orais, seminários, etc., ao longo do curso. É uma forma de vencer obstáculos corriqueiros na vida acadêmica, como inibição, falta de postura ou mau uso do próprio corpo.
Se você tem problemas para falar em público, ou simplesmente para se expressar em situações cotidianas, aproveite.

Futuro do pretérito

Júlia foi acostumada (diz a mãe que por culpa minha) a que alguém a fizesse adormecer, deitado ao seu lado. Às vezes isso se torna um problema, quando estamos muito ocupados (professor entra pela madrugada trabalhando) e ela se recusa a dormir. Justamente por conta desses dias de maior agitação, desenvolvi uma tênica: sento-me ao lado da cama dizendo que só me deitarei com ela quando estiver sossegada. Devido a isso, é comum ela dizer coisas do tipo "eu já me comportei", "já estou quietinha", etc.

Ontem, apaguei a luz e me sentei. Júlia ficou um tempo calada e por fim anunciou que está estava quieta.

— E o que isso significa?

— Que você deveria deitar aqui comigo.

Obedeci imediatamente. Notaram? "Que você deveria deitar aqui comigo." Ela conjugou o verbo no futuro do pretérito e eu sempre adorei o futuro do pretérito.

Como pode essa criança, meu futuro do futuro, me surpreender e arrebatar tanto?

Remição da pena pelo estudo

Remição (pelo amor de Deus, escreve-se com ç!!!) é o abatimento de uma parte da pena como retribuição pelo trabalho desenvolvido pelo preso. É um mecanismo para estimulá-lo a ocupações úteis e à disciplina, estratégias que se acredita serem capazes de ressocializar aquele que violou a lei penal. No sistema brasileiro, a regra é abater um dia de pena para cada três dias trabalhados. Munido de uma certidão carcerária que comprove o efetivo exercício do trabalho, o interessado pode pleitear a remição ao juiz da execução penal.
Por razões lógicas e também principiológicas, muitos defendem que o preso tenha direito à remição também pelo estudo. Não havia previsão legal para isso, mas como negar que a educação é um instrumento muito mais poderoso de (res)socialização do que o exercício de atividades laborais que, muitas vezes, são meramente braçais? Atento a isso, finalmente, o legislador brasileiro sanou a omissão e, a partir de hoje, a Lei n. 12.433, de 29.6.2001, passa a prever expressamente o direito.
Agora, a Lei de Execução Penal passa a estatuir o seguinte:

“Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena.

§ 1º A contagem de tempo referida no caput será feita à razão de:
I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de frequência escolar - atividade de ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional - divididas, no mínimo, em 3 (três) dias;
II - 1 (um) dia de pena a cada 3 (três) dias de trabalho.

§ 2º As atividades de estudo a que se refere o § 1º deste artigo poderão ser desenvolvidas de forma presencial ou por metodologia de ensino a distância e deverão ser certificadas pelas autoridades educacionais competentes dos cursos frequentados.

§ 3º Para fins de cumulação dos casos de remição, as horas diárias de trabalho e de estudo serão definidas de forma a se compatibilizarem.

§ 4º O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará a beneficiar-se com a remição.

§ 5º O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de 1/3 (um terço) no caso de conclusão do ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.

§ 6º O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto e o que usufrui liberdade condicional poderão remir, pela frequência a curso de ensino regular ou de educação profissional, parte do tempo de execução da pena ou do período de prova, observado o disposto no inciso I do § 1º deste artigo.

§ 7º O disposto neste artigo aplica-se às hipóteses de prisão cautelar.

§ 8º A remição será declarada pelo juiz da execução, ouvidos o Ministério Público e a defesa.” (NR)

A lei prevê, ainda, que a prática de falta grave provocará a perda de, no máximo, um terço do tempo remido (e não mais de todo o tempo remido, como antes) e que o condenado pode ser autorizado a estudar fora da casa penal.
Confesso que fiquei surpreso, porque a lei não se limitou a incluir um direito que já vinha sendo, aqui e ali, admitido; ela realmente foi sensata em seus termos e teve a preocupação em ser mais benéfica, tanto que reduziu as consequências da prática de falta grave e previu algo completamente novo, que não poderia existir sem previsão legal: o acréscimo de um terço sobre os dias remidos, como bônus pela conclusão de uma das etapas do ensino formal (fundamental, médio ou superior).
É muito raro eu dizer isso, mas desta vez o legislador brasileiro está de parabéns.

Contraponto:
Leia aqui uma crítica abalizada à lei. Não concordo com as conclusões do professor, mas suas premissas são firmes e, em todo caso, é importante debater.

O poder do sonho

Nada de poético. O inusitado desta história é que os sonhos recorrentes de uma menina de 9 anos levaram as autoridades francesas a processar um indivíduo pela morte da esposa. Segundo a criança, ela sempre sonha com o pai cravando uma faca no pescoço da mãe, desaparecida há sete anos.
Não podemos ter a pachorra de dizer que o sujeito será condenado por causa de sonhos, mas sim pelo conjunto das provas, que a esta altura incluem a confissão do acusado. Mas que o caso é curioso, é.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Qualidade da notícia

Povo evoluído aquele que pode conviver com demonstrações éticas como esta:

Povo evoluído aquele cuja imprensa conhece o seu papel social, escolhe bem as suas pautas e dá dignidade a suas abordagens.

Cabeça de burro

Quem está doente desta vez é o meu computador. Teve um colapso súbito e inexplicável, encontrando-se em coma neste momento. Coisas da informática, essa notável ciência que cria problemas, em vez de resolvê-los.
Estou de saída para tentar resolver o caso. Quando conseguir, ou se, retomarei as postagens.

terça-feira, 28 de junho de 2011

You don't know Jack — o filme

Há 25 dias, publiquei uma postagem mencionando a morte da polêmica figura que foi o médico estadunidense Jack Kevorkian, que passou à posteridade conhecido pela alcunha "Dr. Morte", eis que auxiliava doentes terminais a fazerem a passagem, voluntariamente, o que despertou um intenso debate nos Estados Unidos, até porque o protagonista decidiu ser um ativista da causa. Por isso, enfrentou as ações criminais como forma de convencer as pessoas de que tinha razão. Mas o plano não seguiu exatamente como ele pretendia.

Ouvi falar de Kevorkian muitos anos atrás, numa época em que eu era mais romântico e idealista, características que frequentemente se atrelam, como em mim se atrelaram, à mania de julgar os outros. Minha antipatia por ele foi imediata. Afinal, naquela época eu não tinha a menor condição de entender a gravidade de um tema como o direito de morrer. Por isso, You don't know Jack, telefilme de 2010, dirigido por Barry Levinson, mais uma grande produção da HBO, teve o mérito de lançar luzes sobre esse personagem sombrio, permitindo que eu o conhecesse e entendesse melhor.

O filme é estrelado por Al Pacino, que dispensa apresentações. Como meu interesse foi despertado pelo tema, comecei a assistir sem nenhuma informação acerca da obra cinematográfica. Assim, levei um bom tempo para reconhecer o grande ator no papel principal. Como esperado, ele dá um show e é auxiliado com muita competência pelo elenco, em que também se destaca Susan Sarandon, intérprete de Janet Good, ativista pró-eutanásia que, adiante, se torna uma das pacientes de Kevorkian. É a conversa que tem com ele, no instante final, que dá nome ao filme.


Não há como ficar impassível ao que acontece na tela. E é preciso, ainda, ter o bom senso de entender que a intenção desta produção não é fazer apologia do suicídio assistido, nem sequer do indivíduo retratado. Kevorkian nunca aparece como um heroi ou um altruísta por excelência, embora chame a atenção que em momento algum falamos de pagamento pelos serviços prestados, mas eles com certeza existiam, porque o protagonista agia profissionalmente, já que encarava o seu trabalho como um atendimento médico igual a qualquer outro.

Kevorkian é retratado como um homem obstinado, turrão, de trato difícil. Não casou nem teve filhos, mantendo vínculos apenas com a irmã, que o ajuda em sua missão, mas não sem confrontos. Ele aparece com um médico fora de atividade e sem dinheiro, que certo dia resolve assumir a luta por uma morte digna, nos casos em que doenças irreversíveis tornaram a existência insuportável. Assume essa bandeira com tamanho ardor que não hesita em tornar-se réu em ações criminais (que vence todas, humilhando a promotoria, até o processo final, quando acaba condenado), em fazer greve de fome, em se expor na mídia (a divulgação dos vídeos de seus pacientes pela grande imprensa era um de seus trunfos) e, por fim, em ultrapassar todo e qualquer limite, praticando a eutanásia ativa. Ele quer convencer toda e qualquer pessoa de que o ser humano tem o direito de decidir a própria morte, se estiver lúcido.

Segundo o filme, Kevorkian não era obcecado pela morte. Além de se arrepender de não ter constituído família, ele se abala com a morte súbita da irmã a ponto de se recusar a ver o corpo. Fica perturbado ao saber que sua colaboradora (e amiga, a seu modo, suponho) Janet está com câncer no pâncreas. Quando ela fala pela primeira vez em morrer, ele foge do assunto e se apressa a dizer que ainda não é o momento para falarem a respeito (ela não estava terminal). Quando, por fim, chega a hora apropriada, ele não permanece ao seu lado, como fazia com os demais pacientes. Mas pede que ela mande um beijo para sua irmã.

Duas cenas me impressionaram bastante. Na primeira, Kevorkian se revolta quando falam que já existe a possibilidade de simplesmente desligar os aparelhos (ortotanásia). Ele brada que, nesse caso, o doente morre de fome, como um bicho, o que não tem nada a ver com dignidade. Na segunda, o advogado Geoffrey Fleger (Danny Huston), que defende Kevorkian, convence a corte recursal a absolvê-lo alegando, dentre outras razões, que se a sociedade admite o desligamento de aparelhos quando o paciente está inconsciente, como se pode negar o direito de morrer a uma pessoa lúcida, que assim deseja? Considero esta pergunta irrespondível, até o presente momento.

No final da cinebiografia (não me preocupei com spoilers ao escrever este texto porque, em se tratando de eventos reais, as informações poderiam ser obtidas de outros modos), Kevorkian perde seu advogado, empenhado numa malfadada campanha ao governo do Estado. Decidido a realizar a própria defesa, mantém um advogado que pouco lhe adianta. Há, por sinal, uma cena contundente, em que Fleger questiona seu sucessor sobre providências não tomadas e dispara: "Afinal, você passou no exame de Ordem?!"

Incapaz de vencer as tecnicalidades jurídicas, Kevorkian não percebe uma manobra da promotoria, a essa altura convencida de que suas diversas derrotas anteriores haviam sido motivadas pela empatia dos jurados com os familiares dos pacientes mortos. Assim, ao impedir que parentes chorosos relatassem o sofrimento de seus entes queridos, restou apenas a acusação de homicídio e de utilização de substâncias proibidas. O veredito: condenação pelos dois crimes, a até 25 anos de prisão.

O filme termina com o protagonista entrando em sua cela. Sabemos que passou oito anos preso, até obter liberdade condicional em 2007. Não perdeu a notoriedade. Virou tema de um documentário cinematográfico em 2005 dirigido por Barbara Kopple, que passou há poucos dias na TV fechada e eu perdi. Cinco anos mais tarde, veio este telefilme.

No último dia 3, aos 83 anos, Kevorkian foi defender suas convicções para outras e mais delicadas plateias.

Mais:
  • No site adorocinema, uma coletânea dos cartazes do filme, mostrando uma corajosa divulgação da obra. Veja as fotos.
  • Pacino foi laureado com o Globo de Ouro de melhor ator de filme para a TV e o Emmy de melhor ator. A produção também concorreu na categoria melhor filme. O roteirista Adam Mazer também ganhou o Emmy e o filme concorreu em outras dez categorias.
  • O cineasta Barry Levinson tem uma respeitável carreira no cinema. Entre seus trabalhos mais conhecidos está Rain man (1988), que lhe rendeu o Oscar.

Que morram minhas filhas

É de cortar o coração o caso das indianas Saba e Farah Shakeel, que nasceram unidas pelo crânio e compartilham órgãos e componentes do sistema vascular. Em 2005, o príncipe herdeiro de Abu Dhabi se sensibilizou com o drama das garotas e se ofereceu para pagar as despesas da cirurgia de separação, com as maiores autoridades do mundo em procedimentos dessa natureza. No entanto, a família recusou porque havia elevado risco de morte de uma das meninas. O tempo passou e agora as meninas, com 15 anos (parece menos; veja seus corpos frágeis), tiveram uma deterioração do quadro global, com fortes e constantes dores.
Os pais querem ajuda para tratá-las, o que o governo da Índia não dá (ou não dá a contento). Agora eles querem que o governo ou o Poder Judiciário de seu país autorize a morte das meninas, para libertá-las de seu sofrimento. E nem é o caso de aplicar-se o letting die, posto que as meninas não são doentes terminais e, pelo que pude entender, poderiam viver por tempo indeterminado, com alguma dignidade, se tivessem acesso a medicamentos e infraestrutura adequados. Trata-se, portanto, de um pedido de eutanásia ativa com características de execução sumária, coisa que me gela a espinha.
Não faço críticas à decisão da família. Só Deus sabe o que se passa na cabeça de um pai ou mãe que pede às autoridades a morte de suas filhas. Mas lembro que a Índia é um dos países de maior nível de distorção social do mundo. Ali convivem opulência e miséria de um jeito que consegue impressionar mesmo quem está acostumado à realidade brasileira. De um lado, há um grande desenvolvimento científico em certas áreas, mas de outro esses benefícios não parecem chegar ao povo em geral, ainda mais porque o país continua estruturado sobre castas, o que torna a desigualdade uma condição natural.
O caso da família Shakeel é desses dramas que nos custa crer que pertença à vida real.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ai

Não é a primeira vez que declaro, aqui no blog, minha predileção pelo touro, mas...

...isso doeu em mim.
Felizmente, contudo, doeu mais nela. No final das contas, pode-se dizer que a moça teve sorte. Diante do que poderia ter acontecido, ela sofreu apenas danos musculares. Ainda assim, doeu.

Juízes do trabalho e idosos

I.
Muitas mudanças foram realizadas na estrutura da Justiça do Trabalho nos últimos dias. Nada menos do que oito leis foram promulgadas, com as seguintes finalidades:
  • criação de 68 Varas do Trabalho na jurisdição do TRT da 2ª Região; de 2, na do TRT da 16ª Região; de 3, na do TRT da 22ª Região; de 5 na do TRT da 23ª Região e de 6 na do TRT da 7ª Região (Leis nn. 12.427 e 12.426, ambas de 17.6.2011; Lei n. 12.423, de 16.6.2011; Lei n. 12.420, de 15.6.2011; Lei n. 12.411, de 27.5.2011, respectivamente);
  • aumento de 8 para 10 os cargos de juiz no TRT da 13ª Região e de 36 para 48, no TRT da 4ª Região (Leis nn. 12.422 e 12.421, de 16.6.2011).
Se você pretende fazer concurso para a magistratura trabalhista, anime-se. Afinal, são 98 novos cargos. Mas tenha paciência, pois a efetiva criação dos cargos depende de disponibilidade orçamentária, o que pode atrasar o sonho em vários anos. O último diploma a que me refiro é a Lei n. 12.410, de 26.5.2011, que abriu crédito extraordinário em favor da Justiça do Trabalho e diversos órgãos do Poder Executivo. Mas não é graças a essa ajudinha que os cargos sairão do papel.
Aos interessados: procure saber a jurisdição dos tribunais acima referidos. Vai que, de repente, você tem interesse em morar nas regiões correspondentes.

Acréscimo em 8.7.2011:
Não satisfeita com as mudanças acima, a Justiça do Trabalho, especificamente o Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, vai ganhar mais cargos e funções comissionadas, num total de 1.351. É o que determina a Lei n. 12.439, de 7.7.2011, publicada hoje.

II.
Os idosos também foram lembrados mais de uma vez pelos Poderes Legislativo e Executivo. Foram duas as alterações no art. 38 da Lei n. 10.741, de 2003 (Estatuto do Idoso). A primeira delas reserva 3% das unidades habitacionais residenciais* para atendimento a idosos,em programas habitacionais públicos ou subsidiados com recursos públicos (Lei n. 12.418, de 9.6.2011). E a segunda confere prioridade aos idosos na aquisição de unidades habitacionais térreas, naqueles mesmos tipos de empreendimento (Lei n. 12.419, 9.6.2001).
Medidas simpáticas, só não entendo porque duas leis diferentes para tratar de matérias afins.

* A expressão "habitacionais residenciais" parece redundante, mas nem toda habitação se destina a moradia. A redação é exatamente essa no texto da lei.

Nem o site

O que se dizer, então, do governo?
Saiba mais lendo aqui.

domingo, 26 de junho de 2011

Contra o emburrecimento doloso

No meu outro blog, um protesto contra gente que explora a desinformação para locupletamento próprio. Leia aqui.

Sinal de melhora

Ontem, por volta das 23 horas, foi a última vez que Júlia tomou antitérmico, quando o termômetro marcou 38ºC. A partir daí, sua temperatura se estabilizou abaixo do limite considerado como febre (37,8ºC), alcançando inclusive alguns níveis muito bons. Mesmo sem o remédio circulando em seu organismo, o quadro se mantém. A dificuldade continua sendo os acessos de tosse, a que ela reage com choro (o que aumenta a tosse), e a total falta de apetite.

Provavelmente, a razão dessa melhora atende pela classificação de antibiótico. Coincidência ou não, o primeiro sinal de melhora começou depois de introduzido o enésimo medicamento em sua dieta já repleta deles. Tentamos evitar essas porcarias, mas acabamos nelas e o pior é que dão resultado. E eu que nem gosto de tomar remédio...

Naturalmente, não menosprezamos as boas vibrações e orações que nos têm sido dispensadas, inclusive a visitinha de avós postiços, que deixaram a pequena mais bem disposta.

O dia de hoje será de observação criteriosa. E escola este semestre, nem pensar! Já chega...

sábado, 25 de junho de 2011

Rotina de febre

Júlia começou a apresentar sinais de febre e mal estar na terça-feira, mas até a quarta tudo parecia relativamente simples. Na quarta, houve o primeiro pico febril. A partir da quinta, a febre alta tornou-se rotina e assim tem sido. Ontem, precisei pedir que uma colega aplicasse prova a meus alunos e voltei correndo para casa. Encontrei Júlia com quase 39ºC e absolutamente prostrada, sem ânimo para nada e com uma inapetência absoluta. O jeito foi levá-la ao hospital e submetê-la a raio-X, soro, exame de sangue.

Júlia continua uma criança doce e colaboradora. Explicamos a ela tudo o que vai acontecer e não mentimos. Admitimos que vai doer, se for o caso, e esclarecemos a absoluta necessidade de passar por aquilo. Ela chora, porque sente dor, mas confia; não puxa o braço, não impede o procedimento, mesmo quando a auxiliar de enfermagem erra sua veia por sete vezes, levando-me quase à loucura. Só mesmo a preocupação em não deixar Júlia nervosa me levou a não protestar.

Enfim, temos feito uma sequência enorme de medicamentos. Acima de tudo, antitérmico, porque não há quem faça a febre ceder. Como o primeiro não funciona, intercalamos com outro a cada duas horas. E como mesmo assim não dá jeito, recorremos aos banhos e às compressas. E nem assim a febre passa. Os dias e noites têm sido difíceis. O sentimento de impotência e exaustão que isso provoca é terrível. É como estamos agora: demos o remédio, mas a febre continua em 38,9ºC.
E é assim que seguimos.

O fato é que já recorremos a remédio, médico, hospital, banho e fé em Deus. Por enquanto, continuamos na espera.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Belém, cartão postal

Quando a beleza espontânea do lugar se desnuda...







...até mesmo eu posso transformar imagens em poesia.

Postagem de n. 400 dedicada a Belém. Merecia que fosse um elogio.

Observação: Devido a uma reorganização geral que fiz no blog, esta deixou de ser a postagem de n. 400 dedicada a Belém. Mas tanto faz. A homenagem é o que importa.

Se eu acreditasse em mau olhado...

Em maio, foram duas semanas com minha filha doente. Broncopneumonia. Um inferno o que passamos. Mal virou o mês, uma nova crise, agora com sintomas atingindo o estômago. Supostamente, uma nova virose, que nos rendeu uma tarde no hospital, medicamentos injetáveis, soro e exames de sangue. Aí então pareceu que tudo ficaria bem. Mas eis que há dois dias chegamos em casa e encontramos a pequena com febre e um episódio de vômito. Resultado? Uma nova gripe ou sei lá o quê, com tosse forte e febre superior a 39ºC.

Honestamente, não sei mais o que fazer. Não aguentamos mais essa rotina de doença a cada duas semanas. Parece praga!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Parece sábado

Hoje o dia teve a maior cara de sábado. Mas o melhor de tudo neste sábado é que, na verdade, ele era uma quinta-feira e ainda teremos  bastante tempo para descansar, a despeito de algumas interrupções no meio do caminho.
Aproveite.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Uma outra utilidade para o Facebook

E o melhor: é prova lícita.

A segunda mulher

Apenas 13 dias atrás, fiz uma postagem alusiva ao aniversário de minha mãe. Hoje, a homenagem fica para minha esposa, Polyana. Que receba os beijos e mimos que eu e Júlia lhe damos, nesta data em especial.
E olha a sina do professor: havendo prova hoje, só se conseguirmos nos liberar a tempo é que haverá um jantarzinho a dois! Senão, o jeito será adiar...
Em todo caso, feliz aniversário para ela!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Memória da loucura

Neste link, um registro sobre a antiga Colônia Juliano Moreira, onde hoje fica o campus de Ciências da Saúde da Universidade do Estado do Pará, capítulo importante de nossa história porque expressa a mentalidade de uma época sobre doença mental, um campo onde, curiosamente, as pessoas não eram tratadas numa perspectiva de dignidade e qualidade de vida.
Eu era muito criança quando o hospital psiquiátrico deixou de existir. Tenho lembranças vagas do que se falava daquele depósito de doidos. Levaria anos para ouvir falar da luta antimanicomial, bandeira que ainda nem foi compreendida pela sociedade em geral. Por isso mesmo, o livro "História, loucura e memória: o acervo do Hospital Psiquiátrico Juliano Moreira" entrou na minha mira. Afinal, adoro história e vivo aflito com o menosprezo com que as pessoas e o poder público costumam agir em relação aos eventos que levaram a nossa sociedade a ser o que é.

domingo, 19 de junho de 2011

Novidades nos futuros shoppings de Belém

Deve ter sido o poder da oração! Quando vi pela primeira vez o projeto do Parque Shopping Belém, novo empreendimento da Aliansce Shopping Centers em Belém (o primeiro é o Boulevard), fiquei horrorizado. Se construído daquele jeito, tornar-se-ia a edificação mais medonha de toda a cidade, que ao menor contato seria capaz de provocar mal estar superior ao imposto pela visão da réplica de Estátua da Liberdade com que a Belém Importados nos amaldiçoou, ali na Pedro Álvares Cabral, e quase tão medonha quanto a estátua do Menino Deus ali na BR-316 (mas, neste caso, o problema é de Marituba).
Veja o que era o mondrongo, cujo autor-arquiteto deve ter achado espetacular (assim como, certas pessoas, a mãe acha lindas, a despeito de todas as demais opiniões em contrário):

Linhas retrô e inspiração numa árvore: afinal, estamos na Amazônia. Original, não?
Minha vontade era mandar a cabeça do responsável por este crime para ser estudada pela ciência.

Eis que a misericórdia divina intercedeu e nossa já combalida cidade não será fustigada com mais esse castigo infernal. O bom senso prevaleceu e o empreendimento que já corre a grande velocidade, para gáudio de Edson Franco (a FEAPA ganhará um shopping inteirinho bem na sua ilharga!), foi redesenhado e ficou assim:

Agora limpo, funcional e sem causar a impressão de ser obra de alienígenas.

Alívio geral. O meio ambiente urbano penhoradamente agradece. O que, no entanto, não elimina a preocupação com o caos no trânsito, já que a Augusto Montenegro está à beira do colapso, sem que parem de ser lançados novos empreendimentos imobiliários, daquele tipo poleiro, com milhares de unidades residenciais em um só lugar. Afora o Projeto "Ação Metrópole", que parou na abertura de uma nova e importante via, porém uma só, não há no horizonte vislumbre de solução, já que a fase dois do dito programa, caríssima, não parece interessar ao atual governo do Estado, que paralisou até as passarelas do Complexo Júlio Cezar Ribeiro.

Em tempo: Segundo aquele colunista de negócios, o Grupo Jereissati lançará comercialmente o seu empreendimento na primeira quinzena de agosto (ou seja, adiado novamente). E ele ganhou novo nome, sabe-se lá por quê: Shopping Bosque do Guajará. Sem o menor contato com a baía, não sei o que determinou a mudança, mas Bosque Belém me agradava mais.
Vamos ver se agora a coisa vai.

Domingo morto

Uma tentativa frustrada de ir ao cinema me levou ao computador. Hábito natural, fiz uma rondinha pelos blogs que costumo visitar. E não é que está tudo parado?
O domingo acerta as pessoas de jeito...

sábado, 18 de junho de 2011

Twitterítica XX

Não foi culpa minha: foi o homem de um braço só!

Advogado-cão

O tempo passa, o mundo evolui, mas continuam acontecendo coisas como esta aqui. O interessante é que Israel não é um país associado a crendices e, talvez por isso, as autoridades se recusam a admitir o estranho passo dado. Fica tudo no oficioso.
Seja como for, acreditar que um cachorro foi possuído por um espírito mau só porque entrou num tribunal (de Assuntos Monetários, ainda por cima...), atacou pessoas e se recusou a sair, é coisa que exige uma dose extraordinária de paciência.
Mas, em favor dos autores da esdrúxula ordem, há pelos menos uma coisa: quando tentaram punir o cachorro, ele sumiu. Vai ver que era um advogado, mesmo...

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Prescritos?

Recentemente, dois casos criminais de enorme repercussão no país geraram pedidos, dos advogados de defesa, no sentido de que fosse declarada a prescrição. Como dei aula sobre esse assunto há poucos dias, chegaram-me alguns questionamentos.
Antes de mais nada, devo destacar minha relutância em me manifestar sobre aspectos específicos de processos reais porque, não conhecendo detalhes dos autos, posso fazer afirmações equivocadas. Assim, ponho em relevo desde logo a ausência de maiores informações e, até onde posso me arriscar, destaco o seguinte:

1. Caso Pimenta Neves
A defesa alegou que a punibilidade do jornalista está extinta, pela prescrição, porque ele é maior de 70 anos e, por isso, os prazos prescricionais são reduzidos pela metade. Com efeito, o art. 115 do Código Penal concede essa benesse aos maiores de 70. Todavia, o prazo prescricional não é contado de forma linear: ele se sujeita a interrupções, por motivos discriminados no art. 117 daquele mesmo diploma. E toda vez que um prazo é interrompido, ele começa a ser contado novamente do começo.
A última hipótese de interrupção do prazo prescricional, neste caso, foi a condenação do réu, em 5.5.2006. Depois disso, a pena foi reduzida em grau de recurso para 15 anos, o que transitou em julgado. Penas de 15 anos prescrevem em 20. Mesmo com a redução pela metade, teríamos 10 anos, contados da data da condenação. Por conseguinte, a prescrição se daria somente em 4.5.2016.
Esgotados os recursos perante o Supremo Tribunal Federal, o jornalista foi preso em 25 de maio último. O início do cumprimento da pena também interrompe a prescrição. Em suma, a menos que haja no processo algum detalhe extraordinário do qual não tenho conhecimento, a pretensão de ver declarada a prescrição é mero jus sperniandi.

2. Caso Edmundo
O jogador que não sabia bem a diferença entre futebol e vale-tudo dirigia embriagado numa noite de 1995 e provocou um acidente, matando três pessoas e ferindo outras três. Com isso, gerou seis delitos, metade de homicídio culposo, metade de lesão corporal culposa. O acidente ocorreu dois anos de entrar em vigor o atual Código de Trânsito.
Procurando na Internet as datas corretas dos fatos do processo, acabei me deparando com uma aula detalhada do Prof. Luiz Flávio Gomes sobre este caso específico. Como se trata de um caso mais complexo, porque envolve o tema do concurso de crimes, achei melhor me locupletar das lições do mestre. Clicando aqui, você poderá assistir ao vídeo dessa aula e entender o caso. Mas vou logo avisando que, a despeito da grande preocupação do professor em ser didático, os não iniciados em Direito Penal podem não entender tudo o que ele diz.
LFG também faz a ressalva de que não examinou os autos, mas falando em tese manifesta seu convencimento de que houve prescrição, sim. E com isso, o caso Edmundo se torna um símbolo de impunidade pior do que o de Pimenta Neves. Uma vergonha, típica dos endinheirados que podem pagar bons advogados e fugir de suas responsabilidades. E ainda tem gente que prestigia um cretino desses.

PS O juiz do caso Edmundo entende que não houve prescrição.

Abusada

Nunca mais publicara nenhuma historieta de minha pequena e atrevida filha. Já vinha sentindo falta e esta semana a danada me saiu com uma das suas. Estando na casa da avó, para que eu e minha esposa pudéssemos trabalhar, ela pediu para passear na rua.

— Você não pode demorar porque a sua comida já está pronto.

— Vovó, a senhora já está igual à tia Su [como ela chama nossa ex-empregada]: falando errado! — O tom de era de manifesta desaprovação.

— O que eu falei de errado?

— Não é "a comida está pronto"; é "a comida está pronta!"

E a avó nem replicou a marra da menina. Se aos 2 anos e 11 meses ela está assim, imagine adiante. Mas nada que uma boa disciplina paterna não resolva.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Cordel de canções

Tendo apostado em tantas inovações, a produção de Cordel encantado não fugiu à regra no CD e fez algo que não é comum para os padrões altamente comerciais da Globo: simplesmente ignorou esses artistas pé-no-saco que estão na moda, fazendo sucesso o mais das vezes sem merecer. Não há, na seleção musical, nenhuma duplinha breganeja dessas que hoje ocupam em nível quase totalizante as mentes dos jovens, principalmente das moçoilas universitárias. Não foi feita, também, nenhuma concessão a esses malas que a própria Globo promove acintosamente. Nada de Ivete Sangalo, Cláudia Leitte e Luan Santana, muito menos Fiuk.
O que vemos é a reunião de artistas que podem ser classificados em três categorias (por favor, não sou nenhum especialista):

1. Medalhões da MPB

Gilberto Gil: Divide com Roberta Sá o tema de abertura, “Minha princesa cordel”, composta numa única tarde a pedido da diretora da novela, que é filha do cantor e compositor Jorge Mautner, amigo e parceiro de Gil. Confesso que o arranjo me cansa um pouco, mas a letra é muito bonita e a presença de uma de minhas atuais cantoras favoritas me leva a aprovar o resultado.

Zé Ramalho: Faz uma releitura suave e sinfônica de um de seus maiores sucessos, “Chão de giz”, que premia o personagem Petrus, o homem da máscara de ferro. Uma preciosidade.

Caetano Veloso: Um dos maiores malas do país, porta-voz dos valores tucanos e há anos sem emplacar nenhum sucesso, tenta recuperar um pouco de seu antigo reconhecimento com “Circuladô de fulô”, uma incursão pelo gongorismo que ele mesmo já tentou em canções como “Qualquer coisa”, mas que não é de sua autoria (leia, na caixa de comentários, uma cuidadosa explicação sobre a origem do poema, feita pelo jornalista Elias Pinto, que me obrigou a modificar a redação original deste parágrafo). Apesar da voz bonita de Caetano, que cai bem num tema nordestino, a letra do autor renomado me aborreceu um tanto e, diante da explicação do Elias, não vejo outra alternativa senão ler o poema na íntegra e depois formar uma opinião a seu respeito. Quanto à canção, na voz de Caetano, até segunda ordem, classificarei como um saco.

Alceu Valença: Sua inconfundível voz sertaneja entoa “Na primeira manhã”, tema de Doralice. Árida e sofrida, pode parecer tediosa aos ouvidos agitados de hoje. Mas é uma belíssima poesia contemporânea.

Djavan: Nós gostamos de Djavan, mas temos que admitir que ele é desafinado. Mesmo assim, sua interpretação de “Melodia sentimental”, de ninguém menos que Heitor Villa-Lobos, ficou perfeita para o contexto da novela, com um lindíssimo piano ao fundo. Triste e apaixonada como a homenageada, a personagem Antônia. De ouvir repetidas vezes.

Maria Bethânia: Uma das maiores intérpretes brasileiras, de voz peculiaríssima, faz o trabalho ao qual já nos acostumamos com “Estrela miúda”, que embala o quadrado amoroso de Farid com seus três mulherzinhas. Profissional, enfático, simpático.

Luiz Gonzaga: A canção “Xamêgo” (escrito assim mesmo, fora do padrão) ficou famosa em 1984, como tema de abertura da minissérie Rabo de saia, na qual Ney Latorraca interpretava o caixeiro-viajante Quequé, que se dividia entre três esposas, vividas por Dina Sfat, Lucinha Lins e Tássia Camargo. Retorna, agora, na voz de seu autor, num forrozão danado de bom, com aquela alegria espontânea que Gonzagão externava quando cantava. Uma óbvia alusão ao trígamo de Brogodó.

2. Artistas com algum tempo de estrada, que já galgaram uma posição respeitável

Roberta Sá: Uma das mais belas vozes da nova geração, dada a sambas e experimentações, que eu infelizmente demorei a descobrir, mas que hoje não sai do meu carro. O CD, claro. Como já dito, faz dueto com Gil no tema de abertura. O curioso é que, no CD, ela canta uma segunda estrofe que não existe na letra original, como se percebe pelos sites que publicam letras e cifras, assim como pelo próprio encarte do CD. Confirma a doçura e a potência de sua voz.

Maria Gadú: O povo acostumado a falar mal se concentra em seu visual masculinizado e sua fama de pegadora, mas a cantora, compositora e violonista paulistana de 24 anos tem talento e uma linda voz. Aqui ela nos brinda com uma de suas composições próprias, “Bela flor”, tema dos protagonistas Açucena e Jesuíno.

Lenine: Além de suas múltiplas habilidades no mundo da música, o pernambucano de 53 anos também é escritor e membro da Academia Pernambucana de Letras. Ataca de “Candeeiro encantado”, tema dos cangaceiros, com uma letra-protesto sobre os preconceitos contra o nordestino. O arranjo é espetacular.

Otto: O pernambucano de 42 anos e jeito amalucado traz uma ótima versão para “Carcará”, grande sucesso que já foi gravado por diversos artistas.

Chico Science & Nação Zumbi: O revolucionário Chico Science é aclamado pela crítica e criador do chamado mangue beat. Pena que viveu pouco para usufruir dos louros com que o consagram. Aparece no CD com uma de suas canções mais conhecidas “Maracatu atômico”, que tem uma letra interessantíssima. A voz esquisita e o arranjo experimental pode incomodar os ouvidos mais sensíveis e acomodados.

3. Ilustres desconhecidos, adjetivo que aplico sem nenhum preconceito, mas apenas porque quase não se encontra informações sobre eles nem mesmo na frenética Internet. Por incrível que pareça, nem a onipresente Wikipedia se dedica a eles ou, ao menos, está longe de ser uma página relevante. Os links que surgem deixam claro que são artistas fora do circuito, não comerciais, que se dedicam a espetáculos menores e mais autorais. Bom para quem gosta de arte. São eles:

Núria Mallena: Pernambucana de Ouricuri, segundo sua amiga Célia Ferrer ela é uma "sertaneja cabra da peste, que toca, compõe e canta desde os dez anos" (e nas horas vagas pinta). Está há cinco no Rio de Janeiro, tentando firmar-se nesse mercado tão complicado e prepara o seu disco de estreia. Ela entoa “Quando assim”, de longe a mais bela faixa do CD. Sua voz é uma carícia e seu talento se revela também como compositora: esta comovente composição é de sua autoria. Maria Cesárea pode até não realizar seu sonho de amor com o rei de Seráfia, mas ficará eternizada por esta melodia maravilhosa.
PS Simpática, mandei-lhe uma mensagem pelo Facebook e ela me respondeu! Já somos até amigos. De infância.
Acréscimo em 29.7.2011: Entrevista da cantora no site da novela.

Filipe Catto: Acostumado a escutar canto lírico, não me impressiono quando o timbre da voz de um homem nos confunde como sendo o de uma mulher. Mas admito o susto ao pegar o CD e ler o nome do artista enquanto escutava o tango “Saga” (tema de Úrsula). Prestando mais atenção, percebe-se que é mesmo uma voz masculina aguda, educada e vigorosa. O pouco que se encontra sobre ele menciona comparações inevitáveis com Ney Matogrosso. É fato: ou ele é daquele jeito mesmo ou tenta copiar o grande Ney descaradamente. A voz, os trejeitos e os ritmos de sua preferência levam a pensar assim. O gaúcho tem um CD que disponibilizou pela Internet e é um compositor visceral, como se percebe pela canção aqui mencionada. Também encontrei um vídeo pelo YouTube e me interessei em escutar mais do seu trabalho.

Karina Buhr: Mesmo através de sua página oficial, só consegui saber que nasceu em Salvador, tem um CD em sua carreira solo e adota um visual algo extravagante. Sua voz carregada de sotaque é aguda de um modo que me incomodou um tanto. A boba canção “Tum tum tum” não é de sua autoria e já foi gravada por Jackson do Pandeiro e Elba Ramalho. Mas parece ter sido composta por uma adolescente desejosa de ter um namorado. E tem um arranjo alegrinho duvidoso. Mas é grudenta: passei um dia inteiro sem conseguir espancá-la de minha cabeça. Na hora de dormir, virou um martírio. Ao primeiro acorde, meu dedo passa para a faixa seguinte.

Monique Kessous: Carioca de 27 anos, dona de uma voz bonita e educada, que facilmente leva a comparações com Marisa Monte. Resta saber se é de propósito. Sua “Coração” tem uma letra bonitinha. Vale a pena conhecer melhor. Já emplacou duas canções em trilhas de novelas globais antes.
Saiba mais: http://sombrasil.globo.com/platb/novosartistas/2010/09/24/monique-kessous/

Silvério Pessoa: Pernambucano de 49 anos, aparentemente só gravou um CD. Comparece com “Rei José”, com ritmo e letra tipicamente nordestinos. Uma pedida para quem aprecia folguedos populares.

Se você souber algo mais sobre esses artistas, apreciaria conhecê-los melhor. E se lhe interessou alguma coisa destas opiniões de leigo ouvinte de música, procure ler as letras das canções ou, mesmo escutá-las. Os vídeos do YouTube são uma boa opção.

Cordel sonoro

Acompanhando Cordel encantado há vários capítulos, chamou-me a atenção o fato de não escutar nenhum tema musical, além do de abertura. Isso não é nada comum, já que a Globo sempre manteve o padrão de duas trilhas sonoras, sendo uma nacional e outra de canções estrangeiras (o que não faz nenhum sentido senão a glorificação das coisas de fora). A depender do tipo de novela, como as rurais, as trilhas internacionais podiam não existir e, com o tempo, surgiram as trilhas temáticas (músicas relacionadas a um personagem ou de um estilo particularmente destacado na trama). E sempre as compilações de vários artistas, em vez de se chamar alguém para compor uma trilha específica, como faz o cinema.
A certa altura, nas cenas do Rei Augusto (Carmo Della Vecchia) com Maria Cesárea (Lucy Ramos), começamos a escutar uma voz maviosa entoando uma canção desconhecida. E só. Acessei o Teledramaturgia e observei que, mesmo lá, fonte principal de informações sobre a TV brasileira, nada havia no link “trilha sonora” senão a alusão ao tema de abertura. Isso me incomodou. Como uma obra tão especial não teria a sua identidade musical?
E eis que, de repente, com quase 40 capítulos exibidos, começaram a surgir canções. Em profusão, porque todo dia, literalmente, havia uma novidade. Voltei ao Teledramaturgia, que tem atualização eficiente, e encontrei a listagem de canções componentes da coletânea. Não era uma compilação comum: em vez do lugar comum dos cantores da moda, os produtores misturaram nomes consagrados da MPB com artistas desconhecidos do grande público. Com a ajuda do Google, procurei saber mais sobre esses cantores e li as letras das canções, algumas tão bonitas que me fizeram desejar o CD. Aí veio a segunda estranheza: não foi nada fácil consegui-lo.
De todos os portais de comércio eletrônico, o único que anunciava o disco era o da Saraiva. Em poucos dias, o produto se tornou indisponível. Quando retornou, tinha prazo de entrega de 4 dias para a Grande São Paulo, a depender da disponibilidade do fornecedor. Ou seja: não era um artigo tão acessível assim. O mais estranho de tudo, que soa a deboche, é que no site Globomarcas.com o produto não estava à venda. Pode?
Por curiosidade, já que não sou adepto dos downloads, procurei a trilha na Internet. Susto: indisponível. Os links que surgiam não conduziam a nada ou, pior, apontavam uma lista de canções totalmente diferentes do anunciado. Ainda mais ressabiado, tentei o eMule mas, através dele, eu só poderia baixar a canção “Quando assim”, justamente o tema do rei e da cozinheira. Eu realmente queria uma explicação para essa dificuldade toda.
Estive na Saraiva aqui de Belém e me informaram que o produto já constava do acervo, mas ainda não estava disponível na loja, por um atraso do fornecedor. Foi uma via crucis conseguir o CD. Até comemorei quando comprei o meu. Tendo-o em mãos, só resta comentar um pouco sobre o que escutei.

Cordel encantado

Já escrevi anteriormente que gosto de novela. Escrevi, inclusive, que as pessoas de um modo geral gostam de dramaturgia visual (cinema e TV), o que explica serem as novelas o principal produto televisivo de entretenimento no Brasil e em outros países, papel exercido pelos seriados nos Estados Unidos e que se completa — numa escala menor, por conta da curtíssima duração — nos filmes. Acredito que o público gosta de ver uma boa estória. Por “boa” entenda sob a perspectiva de cada um: há os que gostam de refletir, os que gostam de rir, os que gostam de sentir medo, os que gostam de mensagens e até os que gostam de desligar o cérebro para se divertir (categoria que me dá calafrios).
Pessoalmente, encaro com desconfiança essas opiniões-clichê dos que falam mal de novela, como se fossem necessariamente um produto imbecilizante. Já disse: o sujeito que quer posar de intelectual afirma detestar novela, adorar jazz e frequentar exposições de arte moderna. Eu gosto de novela, não suporto jazz e acho que uma boa parte da tal arte moderna não passa de engodo. E não me sinto nem um pouco imbecil por isso, até porque, no geral, o meu paladar cultural é até elitista demais.
Há novelas boas e ruins e eu até concordo que, hoje em dia, é bem mais difícil a produção de uma obra à altura das de antigamente. Mas elas surgem, aqui e ali. E quando surgem o público e a crítica reconhecem os seus méritos. É o que está acontecendo agora com Cordel encantado, produção global do horário inocente, escrita por Duca Rachid e Thelma Guedes, sob a direção geral de Amora Mautner.
Desde que ouvi falar pela primeira vez da novela, o título me chamou a atenção. A sinopse me pareceu curiosa e me levou a acompanhar as notícias da pré-produção. Quando começaram as chamadas na TV, graciosamente construídas sobre o folclore nordestino, meu interesse foi imediato. Há vários anos que não acompanho novela alguma, pelo fato de lecionar à noite. Mas eis que agora existe uma coisa chamada TV a cabo com possibilidade de gravação em HD e, para as eventualidades, pode-se ver também pelo YouTube. Então decidi que acompanharia Cordel capítulo a capítulo, religiosamente, como nos velhos tempos.
Sem trocadilhos, a novela é simplesmente encantadora. A constatação foi imediata, pela beleza das imagens gravadas em 24 quadros, como no cinema. O site Teledramaturgia informa que as novelas normalmente são gravadas em 30 quadros1. A jornalista Patrícia Kogut, que escreve sobre TV, referiu-se à novela como “a mais impressionante produção das 18h já apresentada pela Globo”2. E não importa o quão clichê você queira ser falando mal da Globo e seu imperialismo, mas ninguém faz novelas como a Globo. Gostando ou não disso, é um fato. Dispondo de mais recursos financeiros, técnicos, humanos e know how, além do currículo vastíssimo, a emissora investiu pesado em cenografia, figurinos e técnica, produzindo uma obra deslumbrante para os olhos. Público e crítica reagiram de imediato, com uma recepção calorosa, audiência elevada e elogios que não acabam mais.
Mas o grande mérito está mesmo no enredo. Determinada a ser uma estória romântica, fantasiosa, sem compromissos com o naturalismo, a trama bebe nas fábulas e na cultura popular para falar em reinos distantes, disputas pelo trono, intrigas palacianas e, ao mesmo tempo, coronelismo, cangaço e safadezas tipicamente brasileiras. Tudo ligado por uma estória de amor operística, de tão exagerada. Você se desliga dos aborrecimentos do dia, põe um sorriso no rosto e se diverte com o desfile de personagens interessantíssimos, defendidos por um elenco extraordinário, composto por veteranos do porte de Marcos Caruso, Zezé Polessa e Osmar Prado, ao lado de atores da nova geração que você até quer discriminar por conta do passado em Malhação, mas que estão dando um show, como Cauã Reymond (Jesuíno), Bianca Bin (Açucena), Bruno Gagliasso (Timóteo) e Luiza Valdetaro (Antônia). De quebra, ainda se delicia com atores menos conhecidos, alguns deles estreando na TV, como Ana Cecília Costa (Virtuosa), Domingos Montagner (Herculano) e João Miguel (Belarmino) e tem o prazer de ver brilhando de novo veteranos como Cláudia Ohana (Siá Benvinda), Débora Duarte (Amália), Ilva Niño (Cândida) e Berta Loran (rainha-mãe Efigênia).
O primeiro capítulo foi eficiente por resumir com maestria toda a trama central, mas me causou uma estranheza por amarrações mal feitas e implausibilidades. Depois me conformei que eu é que estava sendo marrento e a proposta é essa, mesmo: a realidade pode ficar um pouco de lado. Os excessos de interpretação nos personagens Patácio e Ternurinha deixaram de me aborrecer e hoje rio deles. E minha irritação com os cangaceiros mais frouxos do mundo cedeu ao ler que existe uma corrente, no folclore nordestino, que descreve os cangaceiros como homens bons, lutando por justiça. As autoras abraçaram essa vertente e por isso você acaba não entendendo porque o Capitão Herculano é tão temido, já que está sempre sendo generoso, condescendente com os inimigos e aceitando negociações, a ponto de cair numa óbvia armadilha (capítulo de ontem).
Destaco, por fim, uma das maiores qualidades de Cordel: seu ritmo. Enquanto as novelas em geral criam tensões que duram até o último capítulo, com o vilão sempre se dando bem e o mocinho sofrendo sem parar, até a reviravolta final, em Cordel os conflitos vão se sucedendo; uma situação termina para outra surgir. O vilão-mor, embora mau que nem pica-pau (uma interpretação impressionante de Bruno Gagliasso), vive levando o destempero, mas ataca de novo e, com isso, a correlação de forças com os justos pende ora para um lado, hora para o outro. Muito mais tolerável.
Em suma, estou satisfeitíssimo com esse programa levíssimo, divertido e bonito, que eu espero mantenha o mesmo nível até o final.

Símbolo e direitos ignorados

Em 18.12.2007 publiquei uma postagem sobre o símbolo internacional da surdez, que até então desconhecia. Ontem, chegou-me um comentário da leitora Iara, que me deixou impressionado. Ei-lo:

Sou deficiente auditiva e, somente há bem pouco tempo (uns 3 anos) tomei conhecimento tanto do símbolo quanto dos direitos que me assistem enquanto deficiente auditiva (hipoacúsica).
Talvez eu seja a única pessoa, em Porto Alegre e, possivelmente em todo o Rio Grande do Sul, que utiliza este símbolo no carro. Ele é tão desprezado que o governo do RS eliminou a obrigatoriedade de ser mencionado em cursos direção ou mesmo utilizado em veículos.
A Lei Federal que determina seu uso, como tantas outras, é solenemente ignorada e quase que totalmente desconhecida, a não ser pela comunidade a que se refere.

Ou seja, não basta o cidadão comum ignorar direitos: o poder público os ignora também, mas em outro sentido, mais grave, que é o de deliberadamente os deixar de lado.
A lei que regulamenta a matéria é de janeiro de 1991, portanto lá se vão mais de 20 anos de sua vigência e... nada. Nunca vi esse símbolo em qualquer veículo, repartição pública, hospital ou consultório médico. E o interessante é que, no ano passado, estive numa clínica de otorrinolaringologia e lá também não o vi, apesar de haver uns tantos cartazes nas paredes. Igual omissão em outra clínica, famosíssima na cidade, onde levei minha filha para fazer o teste da orelhinha, em meados de 2008.
A Lei n. 8.160, de 1991, dispõe que "É obrigatória a colocação, de forma visível, do 'Símbolo Internacional de Surdez' em todos os locais que possibilitem acesso, circulação e utilização por pessoas portadoras de deficiência auditiva, e em todos os serviços que forem postos à sua disposição ou que possibilitem o seu uso". Dispõe, também, que "O 'Símbolo Internacional de Surdez' deverá ser colocado, obrigatoriamente, em local visível ao público, não sendo permitida nenhuma modificação ou adição ao desenho reproduzido no anexo a esta lei". Pois é...
Este é um país onde efetivar direitos é uma batalha hercúlea e o mais das vezes perdida.

PS Fiz uma busca pela Internet e não encontrei nenhum indício de que o governo federal haja regulamentado a lei em apreço, embora fosse obrigado a isso. Procurei nas páginas do governo, inclusive na da Secretaria de Direitos Humanos, que possui um link para pessoas portadoras de deficiência. Nada. Então mandei um e-mail para a SEDH, questionando a respeito. Vamos ver se me respondem (ainda nesta encarnação, de preferência).

Acréscimo em 3.8.2012:
Só para constar, jamais recebi qualquer resposta.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Uma passagem rápida

O blog continua imerso neste profundo marasmo, pelo mesmo motivo já sabido: provas e mais provas por corrigir. Entretanto, e felizmente, a parte mais intensa do trabalho já passou. Estou nos finalmentes da 2ª oportunidade (a odiosa) e ainda por adentrar na etapa final. Nesta, todavia, haverá poucos alunos e por conseguinte poucas provas a corrigir. Graças a isso, já sinto os primeiros sinais daquela sensação de alento que experimento em todos os semestres letivos.
A par disso, a solução de alguns problemas e pendências, e acima de tudo a forma extraordinariamente carinhosa como me despedi de duas turmas têm contribuído muito positivamente para essa sensação. Em relação a essas despedidas, por sinal, voltarei a falar, porque merecem uma atenção muito superior a estas mal traçadas linhas.
Só me deem mais um tempinho, que já estou voltando.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Dia dos compromissados

Conversávamos eu e minha esposa, mais cedo, sobre um possível novo sentido que se possa dar ao dia dos namorados. Afinal, a despeito das tentativas de buscar fundamentos históricos para a sua existência, no fundo se trata apenas de uma data comercial. Ao lado disso, hoje em dia existem tantas variações de relacionamentos — antes era o tal de ficar, depois surgiu o pegar e, agora, tenho medo de pensar no que mais já inventaram —, que namorar assumiu uma conotação totalmente diversa. Nas mais efêmeras e descompromissadas relações, o sexo frequentemente marca presença. Muitas pessoas que insistem em se considerar namorados levam uma vida conjugal, ocupando um lugar classicamente destinado ao casamento. Enfim, uma bagunça.
Então pensamos que uma alternativa justa seria pensar em namorados como sinônimo de compromissados: pessoas que se gostam de verdade, que se respeitam, que sentem prazer na companhia uma da outra e por isso não temem, muito menos se incomodam, em fazer planos, para o presente e para o futuro, nos quais o outro esteja, em local de destaque.
Nessa perspectiva, pouco importa a nomenclatura adotada. Os compromissados podem ser namorados tradicionais, ou casados, ou pessoas que juntaram seus trapinhos, mas em todo caso investindo nessa aventura extraordinária que é atirar-se numa vida em comum. Em suma, 12 de junho poderia ser o dia do amor consolidado, o dia do amor que deseja experimentar, o dia do amor que se renova, o dia do amor que ensaia os primeiros passos com toda boa fé e encantamento...
Eu chamaria, apenas, dia do amor sem medo.

PS — O primeiro parágrafo deste texto não faz nenhum julgamento sobre as decisões tomadas pelas pessoas. Deixo-as livres para se relacionar do jeito que acharem que devem, torcendo para que sejam formas não lesivas sequer a elas mesmas. Tentei ser apenas descritivo.

domingo, 12 de junho de 2011

Dia dos namorados 2011

Dia dos namorados de pessoas casadas e com filhos é comemorado assim: na cama. Com a filha deitada entre os dois. E o pior é que todo mundo acha bom!
Feliz dia dos namorados para todos. Quanto a quem está avulso, perdão, sei como é. Mas quem sabe a roda da fortuna gira até o próximo ano! Boa sorte.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Sexta super

Claro que está tudo muito corrido, o que retira um pouco o sabor de viver. Mas eu imaginava que teria uma sexta-feira agradável hoje. E ela acabou se revelando muito melhor do que eu esperava. O motivo está relacionado à minha atividade docente e a um momento que foi tanto de trabalho quanto de confraternização, com uma de minhas turmas. O dia, assim, soma-se a uma segunda-feira onde experiência semelhante se deu com outra turma. Em comum, ambas têm o fato de que a minha disciplina está no fim e não mais estaremos juntos doravante.
Mas essas turmas merecem atenção maior do que estas mal traçadas e apressadas linhas. Então apenas enuncio minha alegria e, adiante, com mais calma, explicarei o que aconteceu.
Abraços.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Battisti

Existem alguns casos que se tornam emblemáticos para os estudiosos do Direito, porque neles algum tema precisa ser tão esmiuçado que, dali por diante, quando vamos dar uma aula sobre o aludido tema, exemplificá-lo com o caso se torna às vezes inevitável.
Erro judiciário? Irmãos Naves. Irretroatividade da lei penal mais gravosa? Guilherme de Pádua. Histeria da imprensa e destruição da vida de acusados inocentes? Escola Base. Diferença entre dolo eventual e culpa consciente? Assassinato do índio pataxó. E por aí vai. Com certeza, nunca mais as aulas de Direito Constitucional e Penal sobre extradição serão as mesmas depois de Cesare Battisti. Pela terceira vez, o Supremo Tribunal Federal está reunido para deliberar sobre o que será feito com esse rapaz. Até o presente momento, oito ministros já se pronunciaram. Seis deles convalidaram a decisão do Poder Executivo (na pessoa do então presidente da República, Lula), que negou a extradição por entender que Battisti foi condenado por crimes políticos.
O julgamento ainda não terminou e os ministros em tese podem mudar seus votos. Mas isso não deve acontecer. Se o veredito não se alterar, ficará sacramentada a tese que venho ensinando a meus alunos há quase 12 anos: o STF analisa apenas a legalidade do pedido de extradição, mas a decisão de mérito é do presidente da República, tem caráter político e fica fora do alcance da Corte Suprema. E Battisti ganhará a liberdade, para fixar residência no Brasil. Afinal, se ele viajar por aí, correrá o risco de ser preso novamente, graças a um outro pedido de extradição formulado à nação onde estiver.
Há muito o que examinar nesse instigante caso. Os meus alunos de Penal I do próximo semestre que comecem a se interessar por ele imediatamente.

Atualização às 23h08:
Seis votos contra três. Cesare Battisti está livre da prisão imposta pelo pedido de extradição formulado pela Itália.

Symbiosis

Uma artista paraense está se apresentando pelo Brasil e não é com música ruim, graças a Deus! Trata-se de Roberta Carvalho, que montou a exposição Symbiosis, caracterizada pela projeção de rostos em copas de árvores. O resultado é impressionante e belíssimo, tendo merecido destaque no site da revista Galileu, de onde tirei a referência e a imagem abaixo.


Seis anos atrás, em visita ao Museu Imperial, em Petrópolis, tive a oportunidade de assistir à exuberante apresentação de água, som e luz. Em meia hora, eles contam a história dos últimos tempos do Império no Brasil, projetando imagens nos jatos d'água que saem de chafarizes no imponente jardim do palácio. É simplesmente magnífico e existem poucos espetáculos do gênero no mundo (ou havia, na época). Lamentei tanto não termos algo parecido! E agora uma paraense resgata um pouco dessa ideia, usando árvores, um elemento que, para nós, é extremamente importante.
Parabéns à artista. Quem puder me dar maiores informações sobre ela, agradeço.

A primeira mulher


A primeira mulher de minha vida hoje faz aniversário. E eu quis mostrar-lhe a carinha para vocês.
Hoje é dia de lhe reservar um pouco de tempo e tirar uma outra foto dessas, para a posteridade. Afinal de contas, há coisas que precisam ser mantidas sempre em dia.
Feliz aniversário, mãe.

Mês de junho, sabe como é...

Achou que ia escrever sobre comidas juninas? Errou. Estou aqui só para dizer que o marasmo no blog se explica pelas provas e trabalhos a corrigir, trabalhos de conclusão de curso para ler, bancas para participar, pendências a resolver, requerimentos a despachar, registros administrativos por fazer e etc.
Em meio a tudo isso, ainda temos que viver, resolver problemas domésticos e, no meu caso, dar atenção para a minha gostosura (refiro-me a minha filha, bem entendido).
Em uma hora mais propícia, as postagens virão. Abraços.

domingo, 5 de junho de 2011

O crime na canção

Para começar, vamos esclarecer que existe uma cantora no mundo chamada Rihanna. Não faço ideia de quem seja, nem escutei qualquer coisa que ela gravou, mas parece que a moça causou polêmica com uma canção chamada "Man down", na qual diz ter matado um homem a tiros. A letra se divide entre uma certa necessidade de violência (como quando ela se refere à arma apelidada de Peggy Sue), o remorso e até o reconhecimento da autoridade divina. Veja a letra e a tradução aqui.
Não vejo razão para o alarde. Letras retratando crimes são antigas, como se pode ver, p. ex., na canção "Folsom Prison blues", de Johnny Cash (1932-2003). Nela, o ídolo country relata que matou um homem "apenas para vê-lo morrer", portanto um crime sem motivo, mas a consequência disso não é apenas a prisão, havendo também o remorso, inclusive por ter desobedecido às lições da mãe, que o instruíra a ser uma pessoa de bem. Veja a letra e o vídeo. Por causa de suas letras sobre crimes e expiação, e shows feitos na prisão numa época de decadência, Cash acabou se tornando uma referência para presidiários, dando-lhes esperança. Este aspecto é muito bem retratado na adorável cinebiografia Johnny e June (Walk the line, dir. James Mangold, 2005), que deu a Reese Whiterspoon, merecidamente, o Oscar de melhor atriz.
Wilson Batista (1913-1968)
Como não sou profundo conhecedor de música, o único exemplo que me ocorre neste momento, da experiência brasileira, é o samba "Mulato calado", que conheci na voz de Adriana Calcanhotto (álbum Senhas, 1992), mas que foi composto por Wilson, Benjamim e Marina Batista, gravado originalmente em 1947. Aqui, entretanto, uma grande diferença pode ser percebida.
Não sei se há mesmo alguma relação, mas o fato é que a sociedade estadunidense é armamentista e considera o porte de arma um direito, o que a meu ver a deixa mais propensa à violência e ao crime. Já no Brasil a conduta é ilícita, então os poetas tratam de justificar o crime do Zé da Conceição, dizendo que ele agiu em defesa da honra de sua amada, o que seria um motivo altamente tolerável na primeira metade do século XX.
Eis a letra:

Vocês estão vendo aquele mulato calado
Com o violão do lado

Já matou um, já matou um
Numa noite de sexta-feira
Defendendo sua companheira
A polícia procura o matador
Mas em Mangueira não existe delator
Estou com ele
É o Zé da Conceição
O outro atirou primeiro
Não houve traição
Quando a lua surgia
E acabava a batucada
Jazia um corpo no chão
E ninguém sabe de nada

O mais importante, penso, é que nas três composições acima o relato das histórias desses crimes, ainda quando sugerem o despropósito de seu cometimento, não soam, em princípio, como apologia da violência. É muito diferente de alguns raps (lamento se você gosta, mas para mim é um horror) que defendem abertamente ódios de cor, de classe social ou de outras ordens, propondo abertamente a vingança e o assassinato. Na experiência brasileira, temos setores do funk exercendo esse papel.
Apologia da violência não dá. Para começar, não é nem arte. Que dirá doutrina merecedora de atenção.