sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Twitterítica XXXII

Sempre chega a hora em que precisamos recomeçar e nos reinventar. Esse tempo chegou para mim.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Nosso DNA

Muita boa a matéria do Uol sobre DNA. Mostra que, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, as características genéticas estão muito longe de ser determinantes no comportamento humano, havendo imperiosa necessidade de complementação por fatores ambientais. Assim, violência, comportamento antissocial, homossexualidade e outros temas polêmicos sem dúvida possuem um fundo genético, mas os genes não impõem esses atributos. A ciência reabilita o livre arbítrio, onde possível.

Confira aqui.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Está na cara quem somos

Todo mundo falando de Oscar, seduzidos pelo glamour fabricado e reproduzido à exaustão, cada um destacando o aspecto que lhe chamou mais a atenção. Então deixo o meu comentário. Veja estas duas atrizes abaixo, que dispensam apresentações:


Julianne Moore, 54 anos, vencedora de vários prêmios como atriz, neste ano está arrebatando todos por sua atuação no filme Still Alice, no qual interpreta uma mulher com o mal de Alzheimer. Pelo papel, ela recebeu o London Film Critics Circle, o National Board of Review, o Independent Spirit Award, o BAFTA, o Screen Actors Guild, o Globo de Ouro e o Oscar.


Meryl Streep, 65 anos, é uma atriz multipremiada, com o maior número de indicações ao Oscar no quesito atuação (19) e três vezes laureada com a famosa estatuetinha dourada.

Repare no rosto dessas mulheres cujo talento é indiscutível e reconhecido: elas têm rugas e outras marcas de expressão, por exemplo em volta da boca. Mesmo montadas para a celebração do Oscar, é perfeitamente possível notar os sinais do tempo, que elas apresentam sem mal-estar, porque as marcas em nossas faces são partes de nós. São duas mulheres lindas, bem sucedidas, poderosas e que souberam envelhecer.

Em meio a uma profusão de rostos plastificados, rígidos, sem expressão, alguns verdadeiramente enfeados, as duas mostram uma dignidade rara e merecedora de grandes elogios. Provam que esse papo de que as plásticas são necessárias por causa da atividade que exercem não é bem verdade. Talvez as duas até tenham se submetido a algum procedimento, antes. Nenhum problema quanto a isso. Todo mundo tem o direito. Mas não houve exagero, e sim a aceitação de que o tempo passa para todos e isso não precisa ser um mal.

Parabéns a Julianne e Meryl. Que exemplo para as mulheres do mundo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Até onde irão os trotes universitários?

Eu dei sorte: em 1992, quando ingressei no curso de Direito da UFPA, o trote era comandado pela própria universidade e consistia em plantar uma árvore da fauna amazônica no campus. O acadêmico deveria ficar responsável pelo espécime durante todo o curso. Salvo engano, plantei uma muda de mogno às proximidades do muro que dividia a instituição da Av. Perimetral, no campus profissional.

Infelizmente, a universidade fazia barulho com o ato de plantar a muda, mas não havia nenhum estímulo ao acompanhamento, de modo que os alunos, inclusive eu, acabavam deixando suas árvores para trás. Por alguns anos, acompanhei o crescimento das plantinhas, até chegar um momento em que não sabia mais identificar qual era a minha. Não me orgulho disso. Preferia ter honrado o compromisso até o final e acho que a universidade deveria ter criado uma espécie de cerimônia de transferência do vegetal, de um concluinte para um ingressante.

Enfim, eu não sofri nenhuma violência ao chegar ao ensino superior. Mas muita gente sofre. E os exemplos se multiplicam até hoje, de modo assustador. O Portal R7 publicou uma triste compilação de perversidades, talvez particularmente perversas porque, declaradamente, tudo era apenas brincadeira (veja aqui). Gostaria de saber o que Hannah Arendt diria disso. A mim, tudo isso causa repugnância.

Felizmente, que eu me lembre, aqui no Pará não temos episódios do tipo. Por aqui, muitas instituições tomaram a frente da recepção aos calouros e promoveram ações cidadãs, com atividades como arrecadação de gêneros alimentícios para distribuição a comunidades carentes, doação de sangue e prestação de alguns serviços. Este sim é o exemplo que deve ser estimulado e seguido.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A brutalidade que não se quer ver

O tema é recorrente aqui no blog por razões óbvias, mas também porque o tempo passa e as pessoas parecem cada vez mais convencidas de que a violência institucional e a falta de racionalidade são caminhos adequados para se trilhar.

Outrossim, dada a minha condição de professor, preciso manter atualizados certos dados, dentre eles este: no Brasil, atualmente, 41% dos presos são provisórios (veja aqui). Isto significa que, se em 2014 a população carcerária nacional ultrapassou os 715 mil indivíduos (dados de junho, segundo o CNJ), mais de 286 mil brasileiros se encontram encarcerados sem julgamento, cumprindo de forma antecipada penas que, talvez, nunca cheguem a ser efetivamente aplicadas. Ou que, mesmo aplicadas, talvez permitissem o regime semiaberto ou até o aberto, ou outros benefícios legais. Na condição de provisórios, os presos vão mofando nas celas, em condição de regime fechado.

Os donos da verdade, com a sua imensurável capacidade de falar do que não sabem, dão de ombros para essa realidade porque, em suas geniais cabecinhas, quem está preso é bandido, então merece todos os piores sofrimentos. Mas como bem demonstra a reportagem que embasa esta postagem, muita gente está presa por barbeiragens atrozes do sistema de justiça criminal. Exatamente como acontecia na Idade Média, quando bastava dizer "aquela ali é bruxa" e a coitada acabava presa e torturada para confessar sabe-se lá o quê, também hoje basta um reconhecimento fuleiro, fora das exigências legais, e qualquer um pode parar na cadeia, aguardando a boa vontade das autoridades de checar a veracidade da acusação.

Ainda a mesma reportagem permite que vejamos outro fenômeno sempre denunciado pelos criminólogos: a retroalimentação do sistema, que funciona na base das profecias autorrealizadas. O rapaz apontado na matéria foi preso injustamente, a partir de um reconhecimento feito por meio de fotografias que a polícia possuía por ele ter sido preso antes... também injustamente! Ou seja, o sistema funciona para aniquilar o cidadão, mas não para protegê-lo: já está provada a inocência do rapaz, mas ele continua no polo passivo de um processo criminal. Deveria ser liberado automaticamente, mas isso nunca acontece. E enquanto espera, os prejuízos vão-se acumulando.

Daí o sujeito abre a boca e diz a palavra "garantismo" com desprezo. Juro por Deus, eu realmente queria que essas coisas acontecessem com quem pensa assim. Não estou desejando o mal de ninguém, não: seria apenas uma medida pedagógica. Não são eles que gostam tanto de ensinar os outros?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

A controversa Noruega

Apenas 14 depois de ser eleita, pela quinta vez consecutiva, como país mais democrático do mundo (veja aqui), a Noruega volta a fazer esforços para um objetivo nada nobre: criminalizar a mendicância.

A desculpa para a nova intentada do governo daquele país é a existência de redes organizadas de mendicância. Com isso, supostamente não se estaria reprimindo a pobreza, mas a exploração mal intencionada dela. Uma ideia fácil de ser comprada por muitos, mas que não responde bem a um questionamento singelo: como seria possível criminalizar a organização em torno de uma atividade lícita? Se há criminalização da rede, é porque o individual é ilícito. Ou, por outras palavras, ser pobre na Noruega está caminhando para ser bem mais grave do que adversidade pessoal.

Além disso, como não existe oferta sem demanda, o projeto de lei ameaça com até um ano de prisão até mesmo quem dê dinheiro ao pedinte. Ou seja, uma ação que, sob condições normais, é realizada por motivos altruístas, entra no foco da repressão.

Depois, quando dizemos que o direito penal está cada vez mais aparelhado pelo capitalismo financeiro para contingenciar, domar e disciplinar a força de trabalho e de consumo, vêm os donos da verdade nos chamar pejorativamente de intelectuais de esquerda. Enquanto isso, a realidade corre bem ao lado.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/noruega-quer-criminalizar-a-mendicancia,ec93c4e58115b410VgnCLD200000b2bf46d0RCRD.html

Lasciami

"Lascia ch'io pianga" é a mais conhecida ária de Rinaldo (1711), uma das mais famosas óperas do grande compositor Georg Friedrich Händel (1685-1759), um dos meus favoritos. O libreto é de Giacomo Rossi. A ópera foi composta sobre um poema épico acerca da Primeira Cruzada, escrito por Torquato Tasso no século XVI.

Em síntese, a cidade de Jerusalém está sitiada pelos cruzados, sob o comando de Goffredo. Claro que existe uma grande confusão amorosa: o cavaleiro Rinaldo e a filha de Goffredo, Almirena, estão apaixonados. Argante, o rei sarraceno aprisionado na cidade, pede a ajuda de uma feiticeira, Armida, a quem faz promessas de casamento. Mas Argante se apaixona por Almirena e Armida, por Rinaldo. Todo mundo briga com todo mundo, tendo espíritos malignos de permeio. E como tudo é política, Händel quer fazer média com a Igreja Católica e trata os cruzados como herois e os sarracenos, como vilões. Por isso, estes são derrotados, mas se reconciliam com os até então inimigos quando... se convertem ao cristianismo!

Enquanto transcorre essa confusão, Almirena é sequestrada pela feiticeira. Longe de seu amado e receosa quanto ao futuro, se houver um, ela se lamenta com a conhecida ária:

Lascia ch'io pianga
mia cruda sorte,
e che sospiri
la libertà.

Il duolo infranga
queste ritorte
de' miei martiri
sol per pietà.

Toda esta postagem era para dizer apenas isto: deixe que eu chore o meu destino cruel. Pronto. Bom dia.