sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cadastro de profissionais para serviços do lar

A manutenção de uma casa é algo bastante trabalhoso. Não no sentido de que todas as tarefas sejam complexas e exijam conhecimentos altamente específicos, mas no sentido de que há sempre muito com que nos preocuparmos. Para pessoas mais atiladas, capazes de resolver problemas por conta própria, a vida é mais fácil. Contudo, se você se inclui na categoria marido imprestável, como eu, a dependência de eletricistas, encanadores, marceneiros, etc. é uma realidade.
Agora me diga: você já precisou de um profissional para resolver algum problema doméstico desse tipo? Teve dificuldade de encontrar um disponível? Teve que enfrentar longas esperas, furos, desculpas, explicações malucas, etc.? Foi cobrado além da conta, porque o sujeito achou que você era rico? Viu o serviço recém concluído se revelar um fiasco? Teve que acionar o profissional, cobrando-lhe a garantia do serviço, e viu o sujeito fazer corpo mole porque já havia sido pago? Ele fez diferente do que devia? Ele fez além do que devia? Ele arrumou um problema novo? Ele quebrou a sua parede, rompeu um cano, sujou tudo?
Realmente, são muitos os dissabores que enfrentamos quando dependemos de alguém para resolver algum problema, sobretudo se envolver uma necessidade premente. Por isso, penso que um indivíduo empreendedor poderia criar o Curso Avançado para Maridos Imprestáveis, com vários módulos, capazes de nos ensinar a resolver uma parte dos infortúnios domésticos, livrando-nos dos especialistas de ocasião. Será possível que ninguém teve essa ideia antes?
Uma solução aparentemente mais simples seria montar um cadastro com profissionais competentes e não enrolados (que conseguem aparecer na hora marcada, pelo menos), comprometidos e honestos, que você pudesse acionar em caso de necessidade. Já procurei isso, mas não encontrei. Se você souber de um, pelo amor de Deus, me avise!!!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Abortamento legalizado na Espanha

Seguindo uma tendência mundial de descriminalização, a Espanha acabou de tornar lícito o abortamento voluntário. Veja:

O aborto agora é legal na Espanha. Mulheres, inclusive adolescentes entre 16 e 18 anos, que estejam até na 14ª semana têm direito de fazer aborto. Na quarta-feira (24), o senado espanhol aprovou em definitivo a chamada Lei de Saúde Sexual e Reprodutiva e da Interrupção Voluntária da Gravidez, que já havia sido ratificada pela Câmara dos Deputados em dezembro passado. A lei teve 132 votos favoráveis, 126 contrários e uma abstenção, sendo que entrará em vigor quatro meses depois da sua publicação no diário oficial. As informações são da Folha Online. De acordo com o texto, o aborto também é livre para mulheres até a 22ª que corram risco de morte ou ameças à saúde, ou que o feto tenha má formação. Nesse caso, o fato deve ser certificado por dois médicos. As gestantes que tiverem ultrapassado esse período poderão interromper a gravidez somente diante de anomalia fetal "incompatível com a vida" ou quando o feto sofrer de doença grave e incurável, fato que também dever atestado por um painel de médicos.
A lei que ainda está em vigor, de 1985, já permitia o aborto em casos de estupro, grave malformação do feto e dano à saúde física e psicológica da gestante. Dados divulgados pelo governo espanhol informam que , em 2009, cerca de 116 mil mulheres praticaram o aborto. O aumento foi de 3,27% sobre 2008. Destas, estima-se que mais de 10 mil tivessem até 18 anos de idade.

Fonte: http://www.conjur.com.br/2010-fev-25/espanha-legaliza-aborto-14-semana-inclusive-adolescentes

Ao falar sobre a ortotanásia, objeto da postagem imediatamente abaixo desta, mencionei que muita gente é favorável, mas teme declará-lo amplamente. O abortamento provoca reações ainda mais veementes, haja vista que a vida comprometida é a de um terceiro, e não a do próprio indivíduo que decide. Além disso, cuida-se de eliminar um ser plenamente viável. Aqui, a fogueira arde bem mais.

Pela ortotanásia

Acabei de votar na enquete da Câmara dos Deputados (as enquetes lá são muito boas, principalmente para mim, que adoro enquetes) sobre ortotanásia.
O resultado provisório revela uma ampla maioria de votos favoráveis, em que pese a amostragem ser diminuta e não possuir a confiabilidade exigida pelos estatísticos, sendo apenas uma consulta informal.
Contrariando os meus valores religiosos, votei "sim". Já faz tempo que revi alguns conceitos meus, dentre eles o de vida e o da necessidade de suportar o sofrimento cânone de Catolicismo, que o Espiritismo (religião que professo) também sustenta, embora com fundamentação e objetivos diversos.
Sem entrar em pormenores religiosos, minha convicção jurídica parte do pressuposto de que o Estado brasileiro é laico e, por isso, todos temos o direito natural e inalienável de condenar a própria alma à danação eterna (se esta existisse). Por isso, a legislação não pode impor a ninguém valores que, longe de constituírem verdades absolutas (justamente a premissa de que partem os fieis), representam escolhas. Acima de tudo, se a conduta não acarreta danos a terceiros, por que deveria ser proibida por lei?
O projeto de lei n. 6715/2009, do senador Gérson Camata (PMDB/ES), tem o seguinte teor:

“Art. 136-A. Não constitui crime, no âmbito dos cuidados paliativos aplicados a paciente terminal, deixar de fazer uso de meios desproporcionais e extraordinários, em situação de morte iminente e inevitável, desde que haja consentimento do paciente ou, em sua impossibilidade, do cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou irmão.
§ 1º A situação de morte iminente e inevitável deve ser previamente atestada por 2 (dois) médicos.
§ 2º A exclusão de ilicitude prevista neste artigo não se aplica em caso de omissão de uso dos meios terapêuticos ordinários e proporcionais devidos a paciente terminal.”

Caso aprovada, a lei entraria em vigor 180 dias após a sua publicação.
Chamo a atenção, apenas, para o fato de que, muitas vezes, as pessoas votam "sim" no anonimato, mas votam "não" quando às claras, decerto pelo medo de represálias sociais, morais, familiares e principalmente religiosas. Vi isso várias vezes em sala de aula. As pessoas temem contrariar aquilo que parece entranhado no imaginário coletivo, como a indisponibilidade da vida.
Estará o Brasil pronto para uma mudança dessas? Penso que sim.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Mais uma insustentável lerdeza do ser



Topa um mergulhinho?

Um novo Código de Processo Civil

O novo Código de Processo Civil, que está sendo redigido por uma comissão criada pelo Senado Federal, não terá um livro específico para tratar das medidas cautelares, como ocorre no atual CPC. O ministro Luiz Fux, do Superior Tribunal de Justiça, que preside a comissão, explicou à revista Consultor Jurídico que será criada uma tutela jurisdicional de urgência, na parte geral do Código. Outra novidade é a execução imediata da sentença, cabendo à parte sucumbente apenas uma petição simples que não interrompe o prosseguimento do processo. Também serão extintos os incidentes processuais e a parte terá de esperar a sentença para recorrer de uma só vez.
Fonte: http://www.conjur.com.br/2010-fev-24/anteprojeto-cpc-preve-recurso-unico-fim-acao-cautelar

Até aqui, a proposta parece muito boa, porque capaz de dar um basta na esculhambação que é a processualística brasileira. O processo civil passaria a ser mais parecido com o trabalhista, já empregado há décadas com êxito. Ao contrário do que afirmam aqueles que vivem de causar dificuldades para vender facilidades, o processo simplificado não compromete, por si só, os direitos constitucionais das partes. Diversamente disso, o maior interesse da parte é a rápida solução do litígio. Se bem que só a parte honesta é quem tem esse interesse. Daí que só a parte ordinária é que se dá bem com a morosidade processual.
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Tratados como gado

Posso dizer que conheço bem o Hospital Porto Dias. Durante aproximadamente dois anos, fiz-lhe inúmeras visitas, acompanhando meu irmão, que sofria com problemas diversos relacionados à obesidade. Em março de 2006, foi submetido, naquele estabelecimento, a uma cirurgia bariátrica e passou os cinco dias seguintes na UTI (deveria ser um só), um período bem difícil para nossa família. No mesmo ano, ele sofreu uma segunda cirurgia, motivada por pedras na vesícula. Depois disso, houve uma série de consultas e exames, até porque ele nunca ficou 100% bem após o delicado procedimento de redução do estômago.
Também estive naquele hospital para consultas na emergência e exames, sendo eu mesmo o paciente ou acompanhando minha mãe, minha esposa, uma tia e uma prima (esta também fez uma pequena cirurgia particular, pela qual me cobraram um dia e meio de internação, mas liberaram a paciente meia hora após o término do procedimento). De tanto passear pelas dependências do hospital, tornei-me íntimo dele e passei a chamá-lo de "SUS de granito no piso", ou seja, apesar da aparência algo sofisticada, o atendimento decepcionava, sendo frequentemente sofrível o que senti na pele, ou mais exatamente no estômago, durante uma crise de gastrite. Vá lá na recepção, entupida de gente, para começar a entender.
Ontem, tivemos mais uma demonstração da falta de compromisso do Porto Dias com o público.
Meu irmão, sempre ele, está fazendo uma nova bateria de exames. Para ontem estavam agendadas uma endoscopia e uma colonoscopia. Exames invasivos e desagradáveis, são também sacrificantes. Ele passou a véspera com recomendação de comer umas bolachinhas salgadas escrotas e tomar água. À noite, ingeriu um coquetel de medicamentos que provocou náuseas. Além disso, laxantes.
Deixei-o no hospital, junto com nossa mãe, antes das 8 da manhã, apesar de os exames estarem agendados para as 9h30. "Agendado", para quem não sabe, é um termo técnico da Medicina, que significa marquei uma hora mas você será atendido por ordem de chegada, seu otário. Se quiser. Se não quiser, vá à merda que eu não tô nem aí.
Falei com meu irmão às 12h20 e adivinhe? Ele ainda não fora atendido! Àquela altura, já protestara com todas as pessoas possíveis. Inclusive já formalizara uma reclamação perante a ouvidoria do hospital que, claro, não dará em nada. Um outro senhor também estava indignado. Uma senhora, diabética, sem se alimentar há várias horas, sentia a fraqueza tomando conta.
O motivo da revolta foi que pessoas chegadas mais tarde entravam para fazer o exame antes. Segundo os funcionários do hospital, eram pacientes agendados que haviam chegado atrasados. O engraçado é que em todo canto quem perde a hora, perde a hora. Não no Porto Dias, pelo visto. Sinceramente, só encontro uma explicação para o fato: os supostos atrasados são amigos de alguém e foram instruídos a chegar quando lhes conviesse, que mesmo assim seriam atendidos prontamente. Quanto à fila de espera, dane-se.
Antes das 14 horas, minha mãe cansada e faminta  telefonou dizendo que meu irmão fora liberado. Ou seja, os procedimentos em si não demoravam tanto. Era realmente preciso maltratar um ser humano durante horas?
Como sempre digo, antigamente as pessoas precisavam contratar planos de saúde, pois quem dependia do SUS estava lascado. Hoje, lascado está quem tem plano de saúde. Dignidade, só para pacientes particulares. E quem depende do SUS, morre.
Se quiser conferir, tente marcar uma consulta. Diga que seu plano é qualquer um desses famosos e supostamente excelentes. O tempo de espera pode surpreender. Desligue o telefone e faça imediatamente uma segunda chamada, pedindo uma consulta particular. Surpreenda-se de novo. Mas com a desfaçatez.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Sem energia

A desavergonhada da Rede Celpa deve ter alguma coisa contra o bairro da Marambaia. Por aqui, são frequentes as quedas de energia. Hoje, contudo, a ordinaríssima concessionária de energia elétrica do Pará, quiçá inspirada nas Olimpíadas de Inverno, resolveu bater o próprio recorde e nos brindou com nada menos do que cinco interrupções de fornecimento ao longo do dia, a primeira em algum momento da madrugada. Algumas duraram poucos instantes; outras demoraram mais. A última ocorreu por volta das 21h30 e teve ter durado no mínimo 20 minutos.
Eu e Polyana fazíamos nossa filha dormir, mas como Júlia resistia um pouco e eu tinha coisas a fazer, saí para adiantar o que podia. Mas foi só entrar em meu quarto e a luz se apagou. Os instantes seguintes foram de cólera e de uma sucessão de palavrões, que eu lamento se terem perdido no ar, em vez de chegar aos ouvidos de quem merecia escutá-los.
O irônico do caso é que a primeira coisa que eu pretendia fazer no meu quarto era instalar um estabilizador, para proteger equipamentos que por enquanto estão ligados diretamente na tomada. Protegê-los, veja só, da permanente e insuportável instabilidade da Rede Celpa, a energia do Pará.
Deve ser por isso que estamos lascados.

PS Se lembrarmos que a COSANPA é pior ainda e que as operadoras de telefonia são odiadas em todo o país, ficará difícil dormir pensando em como é duro ser brasileiro.

O assunto não é novidade. Veja: http://yudicerandol.blogspot.com/2009/12/energia-do-para.html

Lutando contra um inimigo poderoso

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados por um dos crimes mais famosos da crônica policial brasileira: o assassinato da atriz Daniela Perez, filha da teledramaturga Glória Perez. A ligação dos personagens com a Rede Globo permitiu que o caso ganhasse uma extraordinária repercussão midiática, que perdurou por anos. Mas mesmo com toda a condução da mídia sobre a opinião pública, os dois conseguiram usufruir dos institutos previstos na Lei de Execução Penal. Medidas que não são benefícios gratuitos a malfeitores, mas instrumentos pensados ao longo do tempo, destinados a tentar a reabilitação dos agentes.
O tempo passou e o mundo mudou. A imprensa mudou e a sociedade também. Cair em desgraça perante a opinião pública, agora, tem um peso muito maior, com consequências bem mais incontornáveis. São exemplos disso Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, Suzane von Richthofen e, no começo deste mês, José Roberto Arruda. A bola da vez é Ezequiel Toledo da Silva, envolvido no rumoroso crime que teve como vítima o menino João Hélio, em 2007.
As instituições públicas capitulam ante o poder daqueles que exploram o senso comum.
E assim se faz a justiça das ruas, aquela força que vive e pulsa ao nível da superfície, um plano onde é mais fácil toparmos com todo tipo de detritos.

PS Exemplos locais também existem, é claro.

Bem a propósito: http://www.conjur.com.br/2010-fev-24/leia-decisao-nega-progressao-regime-suzane-von-richthofen

O problema do mérito

A função jurisdicional é presidida por diversas exigências, dentre as quais a de imparcialidade. Tudo bem que só mesmo os próprios juízes ainda tentam convencer os outros de que são imparciais. Eventualmente, algum acadêmico ingênuo pode acreditar nisso. O foco deste artigo, contudo, não é a existência ou não da imparcialidade, mas uma implicação prática de sua utilização, como hipótese de trabalho da praxe forense.
Assim, como corolário da imparcialidade do juiz, não pode o mesmo incorrer em pré-julgamento. Suas manifestações, dentro e fora dos autos, não podem antecipar qual será o veredito, pois isso implicaria numa inevitável quebra da isonomia entre as partes. A questão, porém, assume contornos interessantes quando um tribunal é chamado para tomar decisões que repercutirão sobre o andamento de uma ação penal, em trâmite perante a primeira instância. Refiro-me, especificamente, a duas hipóteses.

Conflito de jurisdição
Trata-se da situação em que dois órgãos jurisdicionais se julgam competentes para conhecer de certo feito (conflito positivo) ou, ao contrário, declinam dessa competência (conflito negativo). A depender do fundamento, este tipo de incidente processual pode ou não forçar uma investigação antecipada do mérito da pretensão punitiva. Se discutirmos competência em razão do território ou de prerrogativas pessoais, p. ex., não é o caso. Mas se a controvérsia versar sobre a competência do tribunal do júri versus a do juízo singular, solucioná-la pode implicar em resolver se os fatos narrados nos autos correspondem a um crime doloso contra a vida ou não. Ou seja, se o agente teve dolo de matar ou apenas de ferir. Ou se o sujeito nem sequer teve dolo, incorrendo em delito culposo.
Nessa conjuntura, o julgador enfrenta o desafio de, sem incorrer em prejulgamento, emitir um juízo conclusivo sobre a natureza do delito, sobre a capitulação penal. É impossível decidir o conflito sem enfrentar questões, fatos e provas, que tocam diretamente ao mérito da causa. Ao afirmar que o juízo competente é o do tribunal do júri, o tribunal está automaticamente afirmando que o caso é de crime doloso contra a vida. Por conseguinte, teve que valorar os aspectos mais profundos da causa, tais como qual teria sido a motivação do agente.
Entende-se, neste caso, que se trata de uma decisão provisória, na medida em que se destina, tão somente, a resolver que órgão jurisdicional deve conhecer da causa. Contudo, após a instrução processual, o juiz conserva a sua independência para decidir diversamente, p. ex. desclassificando para culposo o crime que antes foram entendido como doloso.
Habeas corpus para trancamento de ação penal
É uma situação ainda mais drástica, porque enseja uma decisão definitiva, isto é, o veredito do tribunal vincula o juízo de primeiro grau. Caso haja o trancamento, não há esperneio possível ao juiz da causa: o processo será extinto, mesmo que o juiz esteja convicto de que deveria prosseguir.
O habeas corpus, por sua natureza heroica, tem cognição limitada e não admite a análise aprofundada de fatos e de provas. Contudo, se a pretensão é trancar a ação penal, torna-se imperioso analisar fatos e provas, em alguma medida, porque aqui também o julgador vai se imiscuir no mérito da pretensão punitiva.
O trancamento de uma ação penal constitui medida excepcionalíssima. Deve ser admitido, apenas, quando haja uma demonstração inequívoca de ausência de tipicidade, antijuridicidade ou de culpabilidade, bem como quando restar manifesto que o acusado não poderia ser o autor do delito. Fica excluída essa hipótese quando a falta de responsabilidade do imputado seja duvidosa, exigindo valorações que só poderiam ser feitas com segurança mediante a instrução processual, lembrando que a ação penal pública é indisponível.
Apenas exemplificativamente, já trabalhei em casos onde houve o trancamento da ação penal ou ao menos a exclusão de um dos réus, pelo seguintes motivos:
  • médico que, chamado a corrigir atestado de óbito emitido por um colega, emite outro atestado após comparecer à unidade de saúde e inteirar-se do caso;
  • militar acusado de peculato por desvio de combustível da unidade em que servia, quando havia prova documental (mapa de consumo) e diversas testemunhas negando a irregularidade. Neste caso, o único indício era o depoimento de outro militar, também investigado na sindicância e por isso suspeito;
  • gerente de banco acusado de estelionato, pelo recebimento fraudulento de empréstimo por terceiros, quando havia prova de que os valores haviam sido obtidos com a utilização de cartão e de senha pessoal, creditados diretamente na conta da beneficiária, além de que o gerente não dispunha de competência funcional para autorizar empréstimos;
  • diretor de estabelecimento penitenciário acusado de tráfico de entorpecentes, quando se apurou ter ele apreendido a droga na casa penal, guardado numa gaveta trancada à chave e determinado a instauração de investigação sigilosa, falhando apenas ao omitir o registro dos fatos em livro próprio.
Como se vê, nestes casos o julgador precisa apreciar detalhamentos essenciais ao mérito, mas sempre na perspectiva de que a prova seja manifesta.
Não prestar a jurisdição requerida com base numa tecnicalidade implicaria em colocar os legítimos interesses da parte abaixo de formalidades estéreis e prejudiciais ao ideal de justiça.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cadê a chuva?

Estamos nos aproximando do final de fevereiro, época em que deveria estar chovendo bastante em Belém. Contudo, não é o que está acontecendo. Ontem, até um amigo que aprecia o nosso solzão escaldante se queixou do calor. Uma chuvinha aqui, outra ali, inclusive pancadas fortes, mas nada que se compare a uma verdadeira temporada de chuvas, que o povo insiste em chamar de "inverno amazônico".
Consultei o site do Climatempo e a previsão é de sol com pancadas de chuva à noite. E calor. Assim deve prosseguir nos próximos dias, com uma tendência a aumento da pluviosidade já no começo de março. Portanto, opte pelos sucos geladinhos, pelo sorvete e pelas roupas confortáveis.
Belém é Belém o ano inteiro, se é que você me entende.

Corrupção como crime hediondo

Agência Senado - 19/02/2010 - CCJ deve votar projeto que torna a corrupção crime hediondo

Haverá alguma possibilidade de o Congresso Nacional brasileiro aprovar uma lei transformando os tipos de corrupção passiva e ativa em crimes hediondos?
O projeto foi aprovado em março de 2006 pela então senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e, quase quatro anos depois, encontra-se na Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Sofrerá uma análise terminativa, ou seja, que dispensa remessa ao plenário.
Talvez valha a pena assistir aos debates a serem travados nas casas legislativas. Talvez. Para o bem ou para o mal. Mas me falta fé para acreditar que essa proposição chegue a se tornar lei.

Violência

Antes das 14 horas de ontem, uma servidora do Tribunal de Contas dos Municípios foi rendida na porta de seu local de trabalho por dois assaltantes armados, que chegaram num veículo conduzido por um terceiro. Sofreu um sequestro-relâmpago em seu próprio automóvel e foi forçada a sacar dinheiro em dois bancos, além de perder os seus pertences. Durante a operação, diziam-lhe todo tipo de barbaridades, passando por ameaças de estupro e morte. Os assaltantes davam a entender que estavam à procura de outras pessoas (comparsas?).
A certa altura ela não consegue recordar com clareza sofreu uma violenta pancada na cabeça, que a fez desmaiar. Acordou no portamalas (seu carro é um Punto). Fingiu que continuava inconsciente, escutando um dos assaltantes especular se ela estaria morta. Por fim, o carro parou e os ladrões saltaram. Após algum tempo, a vítima assumiu a direção e fugiu. Sabe dizer, apenas, que estava em uma rua de terra batida "para os lados da Dr. Freitas".
Hoje é dia de exames médicos, por causa do trauma na cabeça. E, daqui por diante, lidar com isso. Inclusive voltando diariamente ao local onde o drama começou.
A vítima é mãe de uma amiga minha. Solidarizo-me com a família.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Sem espaços para crianças

Este final de semana me deu duas interessantes demonstrações de uma desagradável característica de Belém: a insuficiência de espaços adequados para o lazer das crianças. Dizer falta de espaços seria um exagero, considerando a grande quantidade de praças, o Museu, o Bosque e o Horto Municipal, mas que eles não suprem a demanda, isso com certeza, ainda mais porque mesmo as praças, locais abertos a todo tipo de público, são incrivelmente excludentes. Os mais afortunados receiam utilizá-las, por medo de assaltos, ficando restritos a horários específicos, como as manhãs de domingo (quando a Praça da República e Batista Campos ficam lotadas e relativamente policiadas). Os menos afortunados delas não se utilizam, talvez por não verem nelas um lugar que lhes seja destinado.
Diga a verdade: você vê famílias humildes brincando com seus filhos nas praças badaladas da cidade, fora dos horários de superlotação?
No sábado, eu trafegava pela rotatória da Júlio César com Pedro Álvares Cabral, no trecho que passa junto ao Sistema de Proteção da Amazônia SIPAM. Ali, as obras provocaram retenção de água, grande o suficiente para não escoar nem evaporar. Formou-se uma enorme poça de água suja. Brinquei algumas vezes dizendo que o “Ação Metrópole” deu à cidade um laguinho. Constatei que minha ironia não estava desprovida de verdade. Às 16h30, cerca de cinco crianças curtiam um plácido banho, uma delas munida de boia, a clássica câmara de pneu. Sem a menor necessidade, claro, já que a água provavelmente não deve passar dos seus joelhos. Mas se é para curtir, então que se faça o serviço completo.
Ontem, no final da tarde, fomos conhecer a sorveteria e lanchonete Ice Bode, na Duque, atraídos pelo espaço destinado a crianças, de que já nos haviam falado. Percebemos de imediato que muita gente foi para lá mirando a mesma conveniência. A quase superlotação me levou a concluir que, se as pessoas se espremem numa casa como aquela, por causa de meia dúzia de brinquedinhos, é porque o baixo leque de opções (ou a preguiça, ou ambos) está influenciando.
Pobres crianças, que precisam se acotovelar em uns poucos metros quadrados, à caça de brinquedos que faltam em praças e condomínios.
Não quero forçar a barra, mas acabei me lembrando de quando li Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída. No começo do livro, há uma explicação sobre as tétricas características do bairro e do prédio onde a protagonista morava, deixando clara a intenção de afirmar que, à míngua de espaços saudáveis de convivência, as crianças e adolescentes acabavam nos inferninhos onde eram apresentadas ao mundo cão. Trata-se de um exemplo, não uma regra, talvez. Mas que vale a pena prestar atenção nisso, vale.
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Animalescos

Quanta saudade dos tempos em que a educação, cortesia e solidariedade presidiam as relações entre as crianças, nos momentos de suas brincadeiras!
Em minha infância, brincávamos na rua, em um monte de jogos coletivos. Mesmo nas disputas individuais p. ex. peteca (ou bola de gude, se preferir), pira (ou pique), boca-de-forno, fura-fura, etc. , havia mais atenção entre as crianças, porque afinal estávamos ali para nos divertir juntos.
Eu não teria a ingenuidade de dizer que não havia competição maldosa e condutas perversas, mas a educação a educação que se recebe em casa , era muito melhor.
Ontem, na visita que fizemos à Ice Bode, constatei mais uma vez como andamos mal das pernas no trato com nossas crianças. Hiperativas (não necessariamente no sentido técnico do termo), mas acima de tudo grosseiras e egocêntricas, a molecada se acotovelava no espaço apertado, desconhecendo conceitos elementares, tais como respeitar a vez de quem chegou primeiro. Não tinham o menor cuidado com as crianças menores. E cometiam seus desatinos ou sob as vistas omissas dos pais, ou sob a omissão de pais que sequer saíram de suas mesas.
A certa altura, quando minha Júlia se aproximou do escorregador e duas pestes quase chutaram a sua cabeça para passar à frente (um menino e depois uma menina, que supúnhamos mais gentis), bati no vidro e chamei a atenção de minha esposa, que não reagira a isso. Disse-lhe que essa é a nossa oportunidade de dar a essas pragas um pouco da decência que seus pais lhes negam. Falei de modo a que os circunstantes me escutassem (se é que alguém escutava alguma coisa naquela balbúrdia) e pelo menos uma senhora me olhou com cara de quem processava a informação. O filho dela, vi depois, estava no parquinho.
Eu achava que a futura escola da Júlia acabaria com a minha vida, mas pelo visto o meu infarto pode acontecer antes mesmo de começarem as reuniões de pais. Não tolerarei incivilidade. Moleque não vai empurrar, furar fila nem dizer, com orgulho, "eu sou terrível!", como um disse ontem, bem na minha cara, e ficar impune. Será impedido de consumar seus atos agressivos e terá que esperar, com ou sem paciência, a sua vez chegar. E escutará as verdades que merecer escutar. E seus pais também, é claro. Mas imagino que isso me custará caro. Afinal, na atual sociedade do mundo-que-gira-em-torno-do-meu-umbigo provavelmente o errado sou eu.
Mas até que eu me convença disso...
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sábado, 20 de fevereiro de 2010

Retomando

O feriadão de carnaval, pelo visto, me atingiu de verdade. Além dos dias que passei desconectado, ao voltar, fiz apenas três postagens e apenas uma tratando de um assunto específico. As duas outras, amenidades. E não respondi os comentários que me foram deixados. Que falta de cortesia!
Devo dizer-lhes que isto foi apenas conjuntural. Devargar, retomo a rotina. O blog voltará a existir.
Um abraço.
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Muito chato

Já vi tantos acidentes na rotatória da Júlio César com Pedro Álvares Cabral que me acostumei a eles e não pensei em me envolver em um, qualquer dia desses. E o dia foi ontem.
Chegando à rotatória, dois carros à minha frente reduziram a velocidade e eu fiz o mesmo. Contudo, um féla que passou pela minha esquerda resolveu acelerar, em desrespeito à preferência dos veículos que já trafegavam pela rotatória. Acertou o meu retrovisor esquerdo. Com o susto, o reflexo me fez desviar para a direita e, por isso, raspei o carro da frente. Felizmente, tanto ele quanto eu estávamos em baixíssima velocidade, o que rendeu apenas um arranhão feioso em cada carro (quer dizer, no meu, também um pequeno amassado). O desgraçado que causou isso foi embora feliz e satisfeito, deixando dos motoristas para trás, tendo que resolver o problema no calor das 15 horas.
O agente da CTBel se aproximou e, com a maior cara de nem te ligo, disse-me apenas que "nos resolvêssemos" espontaneamente, poupando-nos de acionar perícia. O condutor do outro veículo, um idoso, estava compreensivelmente aborrecido mas não causou embaraços. Forneci-lhe meu nome e número de telefone e aguardo sua ligação.
O pior é que não me sinto nem um pouco responsável pelo incidente, porém ficarei com o prejuízo. Afinal, o Sr. Nilton tem ainda menos culpa do que eu. Não considero justo que ele tenha um prejuízo. Enfim, dou a ele a consideração que eu gostaria que tivessem comigo, fosse inversa a situação.
Após a breve conversa, seguimos nossos caminhos. Mas quando entrei no carro vi, pelo retrovisor, o gualdinha preenchendo uma multa. Só me faltava eu ser multado! O infrator poderia ser qualquer outro, mas sabe como é a história do gato escaldado. Chamei o sujeito e lhe perguntei se ele vira as circunstâncias do incidente, o carro causador, etc. Mas ele, claro, não viu nada. Disse-me para ir e me desejou boa tarde. Foi quase gentil.
Se me chegar uma multa, acho que vou atrás dele. Só muita sacanagem explicaria isso. Mas de sacanagem a CTBel entende muito mais do que dona de bordel.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Para quem quiser tentar

Atenção, usuários de transportes coletivos em Belém. Deem uma olhada na notícia abaixo e resolvam se vale a pena se aventurar num processo semelhante.

Advogado deve ser indenizado em R$ 1,5 mil
A Real Transportes e Turismo (Empresa Reunidas) deve indenizar um passageiro em R$ 1,5 mil por conta da superlotação de um ônibus no trajeto entre Carazinho e Passo Fundo, no Rio Grande do Sul. Para os juízes da 1ª Turma Recursal Cível, "o dano é caracterizado pelo descaso" no tratamento dos usuários de serviços. A informação é do site Espaço Vital.
A ação foi ajuizada pelo consumidor e advogado João Rafael Dal Molin, que atuou em causa própria. Ele alegou que "os ônibus estão frequentemente superlotados, causando desconforto e expondo os passageiros à situação de perigo e de humilhação". O problema se agrava nas terças e quintas-feiras, quando o número de pessoas vai muito além da capacidade do veículo.
A defesa da Reunidas não negou que muitos passageiros viajam em pé. No entanto, alegou que a linha é classificada pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) como suburbana, sendo permitido que sejam transportados em pé um número de pessoas equivalente ao de assentos disponíveis. Seriam 40 sentados e 40 em pé.
O Juizado Especial Cível de Carazinho condenou a ré ao pagamento de R$ 4,6 mil de reparação por dano moral. A empresa recorreu e consegui reduzir o valor. No acórdão, foi criticado "o descaso com que a empresa ré trata de seus usuários, submetendo-os a perigo bem como a situações degradantes no decorrer do trajeto percorrido”.
71.002.336.758

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Não tem mais desculpa

Exceto na Bahia, onde a folia emenda com o final de semana seguinte, como os próprios baianos se orgulham em dizer, o carnaval acabou. E isto significa, segundo um mito consolidado no país, que o ano vai finalmente começar. Tudo bem que vai começar de um jeito bem brasileiro: você trabalha dois dias e ganha um final de semana. Afora isso, o próximo feriado será apenas no dia 2 de abril.
Portanto, meu amigo, espanque a preguiça e feliz 2010. Para animar, se você já passou pelo bloco carnavalesco do material escolar, lembre-se que ainda tem o do IPTU e, em breve, o do imposto de renda. Tá bom pra ti?
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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Plaquinha de "volto já" pendurada

Sempre gostei de voar. Para mim, o prazer de uma viagem sempre começou no simples fato de entrar no avião  apesar de que tal sensação se punha em conflito com a minha claustrofobia e minha inigualável velocidade de entediamento. Meia hora após a decolagem a impaciência começa a tomar conta de mim e meus olhos passam a procurar o relógio de um jeito algo obsessivo. Como, entretanto, contar os minutos torna a situação ainda mais angustiante, preciso me policiar para não fazer isso  e começam as estratégias para me distrair. Um livro, palavras cruzadas e agora o iPod. Para piorar, não consigo dormir durante o voo. Em viagens mais longas, sempre acabo um bagaço.
De outra banda, agora temos Júlia. Ela cumpre a função de manter a mente ocupada (e as mãos!), mas por outro lado produz a estressante preocupação com o seu bem estar (sentirá dor no ouvido? estranhará o local? terá problemas para dormir? ficará com saudade de casa e das pessoas com as quais se acostumou?)
Mas eis que o inesperado aconteceu. Não acreditei muito quando me disseram isso a primeira vez: com a paternidade, ficamos mais medrosos. Percebi isso nas duas vezes em que viajei de avião com minha filha (duas viagens de ida e volta). Morrer, para mim, nunca foi um problema. Mas se embarco com Júlia no colo, enfrento a ansiedade de chegar ao meu destino com ela a salvo. O estresse aumentou. E eu, abdicando da ignorância  que pode ser uma bênção , resolvi ler outro dia uma reportagem da SuperInteressante (edição 272, dezembro de 2009) intitulada "Como cai um avião", explicando os diversos tipos de incidentes que podem colocar você nos noticiários internacionais. Agora posso me estressar com conhecimento de causa. Quando, p. ex., fecharem a porta da aeronave, saberei que a pressão atmosférica interna será de 0,6 atm, abaixo do que estamos acostumados no meio exterior (1 atm), o que pode causar sonolência (não em mim), porque dificulta a respiração. Também convivo com a noção de que estamos sentados na parte do avião mais propícia à morte, em caso de acidente (entre a cabine e as asas), quando o ideal seria o fundão, para onde não fomos por uma questão de comodidade, já que hoje o acesso à aeronave sempre se faz pelas portas dianteiras.
Daqui a algumas horas, alçarei voo rumo a Santarém, a pérola do Tapajós. Vou pegar uma chuva por lá, fugindo dos blocos de sujos que atiram de tudo na cara de quem passa por eles. Por isso, o blog hibernará no período. Tudo bem que o NavegaPará já levou acesso à internet banda larga para a orla da cidade, mas viajarei sem computador  nem acho que valeria ter um, ao ar livre, sob chuva. Afora isso, os provedores particulares lá são ruins. Por conseguinte, estou me desconectando.
Desejo a todos um bom carnaval e espero estar de volta na quarta-feira de cinzas. Abraços e não se rasguem na folia!

PS - A ilustração é de autoria de Camila Fernandes e pode ser vista no blog da autora.

Ela vem com tudo

Se tem uma coisa que Belém viu neste sábado foi chuva. Muita chuva. Em intensidade e duração. Até há pouco caía um aguaceiro típico de nossa região. Ele passou, mas o céu continua dando mostras de que mais precipitação pode ocorrer a qualquer momento.
Se você acessar o site do Climatempo neste momento, encontrará para Belém a seguinte previsão:
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Chuva de manhã, de tarde, de noite. Todos os dias. E a umidade relativa do ar chega a 90%. Aliás, essa é a previsão para todo o Estado. Portanto, trate de proteger as plumas da sua fantasia.
Agora é esperar para saber o tamanho do estrago que tanta água está fazendo nos pontos críticos da cidade. Já quanto a quem não passa sufoco nessas horas, aproveite. Porque o tempo das chuvas acaba. E quando ele acaba, a sucursal do inferno reabre. Todo dia, sem trégua.
Boa sorte para uns e outros.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Meu queixo caiu

E digo de novo: o meu queixo caiu.

Esse papo furado de que Arruda se entregou à Polícia Federal espontaneamente, que recebeu a notícia do decreto prisional "com serenidade" e etc. era só capa de quem conta com o funcionamento habitual das instituições públicas brasileiras. Um pequeno dissabor antes de sair da cela (rectius: da sala) pela porta da frente.
Mas eis que o Ministro Marco Aurélio, garantista até a alma, não concedeu a liminar. E mesmo com toda a prioridade que se queira dar ao caso, o julgamento de mérito não pode ser instantâneo. Nada, nada, os autos têm que ser remetidos ao Ministério Público, para emissão de parecer.
Será que o careca vai passar o carnaval no xilindró?
Até ontem, Arruda estava calmo, encenando. Hoje, contudo, o humor deve ter mudado. Bem que eu gostaria de ver a cara dele.

O tempo chuvoso

Não sei você, mas eu estou adorando esse tempo. As últimas duas noites foram frias e úmidas, altamente convidativas para mergulhar na cama (sem recorrer a nenhum meio artificial de climatização) e dormir. Até as minhas eventuais crises de insônia sumiram: dormi muito bem essas duas noites, a ponto de acordar bem disposto mesmo às 6h30, ou antes, quando a pequena Júlia começa a nos convocar. Tudo bem que não dá vontade de levantar, mas o dever chama...
Quem vai pular o carnaval se prepare para ficar encharcado. E quem vai apenas curtir um feriadão preguiçoso em casa, reserve roupas confortáveis, um bom livro, uns filminhos bacanas, umas guloseimas e aproveite. Porque reza a lenda que o ano começa depois do carnaval.

Isso com arroz...

Enquanto o Ministério Público aqui não nos deixa comer caranguejo  medida compreensível, porém não muito popular , os ingleses poderão ver, na cidade de Birmingham, esse gigante aí abaixo, com quase dois metros de envergadura:
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O bicho aí da foto não tem a famosa patona, normalmente disputada a tapa pelos comensais. Contudo, parece que as patinhas já dão conta do recado.
Manda vir uma farofinha...

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Curioso...

Tudo bem que a notícia seja surpreendente, mas é no mínimo curioso que o Superior Tribunal de Justiça tenha decretado a prisão preventiva do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda; o plenário daquela corte tenha ratificado por ampla maioria (14 votos contra 2) a decisão do relator; e que o próprio Arruda já se tenha entregado espontaneamente à Polícia Federal e esse fato ainda não tenha merecido a atenção da blogosfera paraense.
Todo mundo ocupado?


As palavras do general

Primeiro você lê aqui.
Agora a minha questão: Quer dizer, general Enzo Peri, que as diatribes do seu colega Maynard de Santa Rosa são apenas opiniões particulares, externadas em "correspondência pessoal, indevidamente propagada pela internet"?
Veja que o seu colega não era nenhum soldado raso, que não manda em ninguém, só obedece. Trata-se de um general, então lotado numa função que lhe dava visibilidade perante a corporação. Um homem influente. Se é assim que os homens influentes das Forças Armadas pensam e agem por baixo dos panos, o que mais deveríamos temer, se as suas correspondências pessoais não resvalassem para o conhecimento público?
Diga-nos, general: como pensam os grandes homens das Forças Armadas brasileiras, hoje encurralados pelos ares democráticos e pela vigilância dos mais diversos setores da sociedade, situação a que não estão acostumados e com que não se conformam? O que diriam, se não fossem forçados a vestir a capa do politicamente correto?
Diga-nos, general: o que precisamos saber?
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Agora interna corporis

Depois de irritar os juízes ao falar da morosidade do Judiciário, o recém empossado presidente do Conselho Federal da OAB, o paraense Ophir Cavalcante Jr. está a ponto de comprar uma briga com a própria classe dos advogados, notadamente com os mais aferrados às raízes históricas do nosso sodalício. Tudo por conta de um supreendente pedido de prisão preventiva, subscrito pelo presidente da OAB nacional, em desfavor do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.
Devo dizer que a notícia está sendo divulgada de modo tortuoso. Afinal, a OAB não formulou pedido de prisão preventiva. Na verdade, através de ofício, ela solicitou ao órgão competente, a Procuradoria Geral da República, que requeira a prisão do acusado. Ou seja, sob a ótica processual, a atuação da OAB não foi incorreta. Agora, sob a perspectiva política, a conversa é outra.
No final das contas, um novo debate pode surgir daí: a OAB, que se ufana de ser uma ardorosa defensora das liberdades, estaria violando os seus objetivos e traindo a sua história ao pedir a prisão de alguém (seja lá quem for)? Ou será que ao se bater pela prisão do acusado de um dos maiores escândalos de corrupção do país, não iria ao encontro dos anseios da sociedade? Deve a Ordem, que representa os advogados, comungar dos anseios somente destes ou de todo o povo?
Para responder estas perguntas, não se pode perder de vista que, até o presente momento, não existe acusação formal contra Arruda. Ele não é réu. Com isso, os libertários poderiam criticar Cavalcante com base no princípio do estado de inocência. Mas e se Arruda fosse denunciado e a denúncia recebida? Faria alguma diferença para os libertários?
A coisa promete.

Acréscimo à tardinha:
Ophir Cavalcante Jr. pode comemorar: com ou sem a sua intervenção, há mais pessoas que concordam com ele. E gente de peso!
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Mau caráter

Ontem à tarde, após a chuva, eu trafegava pela Av. Marquês de Herval quando, ao passar por um dos cruzamentos, precisei reduzir a velocidade devido a um alagamento. Uma pequena fila se formou. Nada demais. O alagamento, moderado, não era um risco para os carros, mas fez vários jovens (um grupo de mais de dez pessoas) se espremer para passar pela calçada, estreita e maltratada por uma obra na esquina.
Nesse momento, o condutor de um caminhão que ia à minha frente fez questão de mudar de faixa e passar à toda pela água, dando um enorme banho dos pedestres. Quando passei por ele, vi que o sujeito olhava para trás e gargalhava. Achou o máximo atirar nas pessoas água suja, que mais do que um simples inconveniente, poderia até transmitir-lhes doenças.
De acordo com o art. 171 do Código de Trânsito Brasileiro, constitui infração média "usar o veículo para arremessar, sobre os pedestres ou veículos, água ou detritos", passível de multa. Mas, antes e acima da infração de trânsito, há um elemento que não deveria ser esquecido: o respeito pelo semelhante.
Pena eu não poder, sequer, mandar umas verdades na cara desse patife.

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Ironia no ar

Os evangélicos são chegados a uma provocação. Lembrem-se as constantes críticas ao Círio de Nazaré que, aqui em Belém, repetem-se todos os anos. Há alguns, outdoors espalhados pela cidade com mensagens do tipo "Vá na corda de Jesus" tiraram do sério os católicos. A par dos temas religiosos propriamente ditos, há os interesses econômicos, que levaram à guerra santa entre Globo e Record, a primeira dona de uma hegemonia de décadas, hoje arranhada mas ainda real, e a segunda, crescendo a olhos vistos.
Um dos últimos episódios da disputa por audiência na TV envolveu um malicioso adesivo que está circulando por aí:
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Mas eis que esta manhã o helicóptero da Record sofreu uma pane e despencou no Jockey Clube de São Paulo, matando o piloto e ferindo o cinegrafista. Momentos antes do acidente, o piloto se comunicou com o colega que comandava o helicóptero da Globo. Graças a isso, a emissora da família Marinho conseguiu o flagrante das cenas impressionantes:
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E o povo sem Deus no coração já começou com a maldade: enquanto a Record cai, a Globo permanece lá em cima.
Que horror, gente...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Mais um exame de Ordem

Há 245 nomes na lista de candidatos aprovados, em Belém, na primeira fase do exame de Ordem. Mais uma vez, um número pequeno frente ao montante de inscritos.
A nota mais alta nesta primeira etapa foi 77.00, obtida por Heleni Castro Lavareda Correa, que foi nossa aluna (eu me refiro à instituição onde leciono; não falo de mim mesmo no plural, pois acho isso ridículo) e colou grau há 11 dias, em 29 de janeiro. A nota é muito boa e desde logo lhe dou os meus parabéns.
No entanto, preocupa-me o desempenho geral dos candidatos, na perspectiva do desejo que tenho de qualidade dos cursos de Direito. É que, desses 245 bachareis, apenas 9 tiveram notas de 70.00 em diante. Apenas 9 ou 3,67%. Dentre estes, mando um abraço também para Bianca Dias Ferreira Vinagre, formada também há 11 dias.
A maioria dos candidatos passou com notas próximas ao mínimo e uns tantos na casa dos 50 ou 51. Naturalmente, aqui não vai nenhuma crítica, até porque a sequência de postagens que já produzi sobre o exame de Ordem deixa claros dois posicionamentos meus: a minha absoluta concordância ao teste, como condição para o exercício da advocacia, e a minha contrariedade à forma como ele é realizado, inclusive pela má vontade e até mesmo arrogância com que a Ordem rejeita recursos, fazendo da questão um ato de autoridade, uma batalha de opinião, como tive a oportunidade de constatar pessoalmente várias vezes.
Espero que, superada a primeira fase, quando vale mais a memorização do que o conhecimento profundo e o senso crítico, os candidatos possam dar mostras, na prova prática, de que realmente estão aptos a advogar. E, em assim sendo, que a prova não se torne um obstáculo injusto à necessidade de tantas pessoas de tocar suas vidas adiante.

Um pouco de inspiração

O dia de hoje não está favorável a postagens. Enquanto o tempo não permite, valorizemos um pouco os esforços que valem a pena.
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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

A polêmica do "acadêmico classe C"

O caríssimo Prof. Paulo Klautau, nobilíssimo colega de docência, enviou para a caixinha de comentários da postagem "Uma vaga para você" um artigo, escrito por autoridade das mais renomadas no mundo jurídico, que institui uma categoria de estudantes universitários: os acadêmicos de Direito classe C.
Tal artigo provocou uma resposta irada da Profa. Deisy Ventura, que tive o privilégio de conhecer quando de sua vinda a Belém, para participar do Congresso Nacional da Associação Brasileira de Ensino do Direito ABEDi.
O embate promete, porque nos permite muitas reflexões. Por isso, para quem vive a realidade dos cursos de Direito, vale a pena tomar conhecimento e formar opinião.
Nas duas postagens seguintes você encontrará, pela ordem, o artigo e a réplica. Leia e comente.

"Acadêmico classe C", segundo Vladimir Passos de Freitas

Quais as chances do estudante de Direito Classe C?
POR VLADIMIR PASSOS DE FREITAS

O Brasil assiste a Classe C ter acesso a bens de consumo (p. ex., automóveis) e lazer (p. ex. cruzeiros marítimos). E o fenômeno alcança também o ensino superior, o que é excelente. Segundo Stanisci, Oliveira e Saldaña, “dos 5,9 milhões de estudantes de graduação no país, 31,4% têm renda familiar entre 1 e 5 salários mínimos. O número quase dobrou desde 2002, quando o porcentual era de 16,2%. Isso tem ocorrido graças a iniciativas oficiais, como políticas de cotas e o Programa Universidade para Todos (ProUni), mas também por causa de universidades que apostam nesse público, cobrando mensalidades baixas – que podem chegar a R$ 180” (Estado, A, Classe C com diploma, 24.11.2009).
Nos cursos de Direito não é diferente. Em passado recente eram poucos, localizados nas capitais e nas cidades médias. E os seus estudantes pertenciam, regra geral, às classes A e B. Recentemente espalharam-se por todo o território nacional, em mais de 1.000 faculdades de Direito isoladas ou em universidades. O foco desta coluna é o acesso da classe C aos cursos de graduação em Direito.Em tempos de mão de obra excessiva e salários reduzidos, estudar Direito passou a ser uma boa saída para o sucesso profissional. Afinal, as perspectivas são sempre mais animadoras do que as de outros profissionais. O bacharel em Direito poderá advogar, fazer um concurso de nível intermediário ou superior (e são muitos), escolher a área de atuação que mais lhe agrada (p. ex., defender ONGs), trabalhar em cartórios extrajudiciais (p. ex., tabelionatos) e até exercer uma advocacia administrativa especializada (p. ex., infrações de trânsito).
Poucas profissões oferecem tantas oportunidades. Um profissional de Educação Física só poderá ser professor ou atuar em um clube ou academia de ginástica. Um biólogo terá poucas vagas à disposição em um concurso público. Um médico tem que se sujeitar a vários empregos para poder receber um bom salário. Um engenheiro depende diretamente da situação econômica do país, tendo boas chances em épocas de aquecimento econômico, mas lutando com dificuldades em períodos de crises.
Mas quais as chances do estudante de Direito Classe C?
O estudante Classe C poderá, excepcionalmente, estar em uma universidade pública ou mesmo em uma particular de tradição. Mas, normalmente, ele será encontrado nas universidades de bairros, onde o acesso é mais fácil e as mensalidades menores. Boa parte deles é constituída de pessoas maduras e que vêem no diploma uma possibilidade de ascensão social.
O Classe C entra em desvantagem na competição. É inegável. A começar pela dificuldade de pagar as mensalidades. Além disto, tem que trabalhar e isto dificulta nos estágios, mora longe e perde tempo na condução, geralmente não frequentou as melhores escolas, não tem as relações sociais dos colegas das classes A e B, falta-lhe dinheiro para comprar livros ou participar de cursos ou congressos.Mas isto não deve servir-lhe de desânimo. Ao contrário, deve ser convertido em um bom motivo para ir à luta. E para isto, desde o dia da matrícula, deve evitar a postura do “coitadinho de mim”. Primeiro, porque não ajuda nada. Segundo, porque não é uma verdade absoluta. Vejamos.
O Classe C tem uma vantagem a seu favor, a gana, a vontade de vencer. Criado com dificuldades, valoriza o fato de ter chegado à faculdade. É prestigiado na família. Seus colegas mais abastados, nem sempre são fortes. Afinal, cresceram tendo acesso a tudo, internet, passeios à Disney, roupas caras. Por isso não costumam valorizar as coisas. Supõem ingenuamente que a vida lhes será fácil, que o pai lhes conseguirá um emprego. Desacostumados com limites ou dificuldades, no primeiro conflito abandonam a luta. Declaram-se deprimidos.
Os pais do Classe C não puderam estudar e, por isso, não tem como transmitir cultura. Esta é uma desvantagem, sem dúvida. Mas pode ser suprida com muita leitura. Bons livros de literatura, editoriais de bons jornais e revistas são imprescindíveis. E para quem não pode gastar, as bibliotecas oferecem tudo gratuitamente. Pequenos cursos (p. ex., de redação) ajudam bastante.Na educação formal (não escolar), o Classe C não está em desvantagem. Ela pode até ter sido melhor do que nas classes A e B. E se não foi, cabe ao Classe C ficar atento, observar muito e corrigir suas falhas. Falta de educação pode liquidar uma carreira. Por exemplo, a informalidade exagerada com o dono do escritório de advocacia (que não deve ser tratado de você), falar alto, dar gargalhadas em locais mais tradicionais ou ir para o estágio com camisa do time de futebol.
Na busca dos estágios (quando possível), o Classe C terá, por falta de relacionamentos (networking), dificuldades de acesso aos grandes escritórios. Mas boa parte deles, atualmente, reserva um percentual de vagas a estudantes necessitados, dentro de uma política de responsabilidade social. Já junto aos órgãos públicos estará em pé de igualdade, pois a seleção costuma ser feita através de testes.
Nos concursos públicos, o Classe C lança todas as suas fichas. Ser oficial de Justiça, conquistar uma vaga na Polícia ou trabalhar em um Tribunal é um sonho que merece o sacrifício de muitas baladas e viagens. Mas para os Classes A e B o apelo é menor. Por terem acesso a tudo e por não imaginarem que seus pais morrerão um dia e o dinheiro pode acabar, muitas vezes não se dedicam com todas as forças. O Classe C não se importa em mudar de cidade ou de estado. Os Classe A e B são exigentes e assim vêem o tempo passar sem colocar-se profissionalmente.
Resumindo, ser Classe C não é obstáculo intransponível para a vitória. O segredo é fazer das dificuldades a alavanca para a busca do sucesso. E o momento é favorável. Boa sorte.

VLADIMIR PASSOS DE FREITAS
Desembargador Federal aposentado do TRF 4ª Região, onde foi presidente, e professor doutor de Direito Ambiental da PUC-PR.
Revista Consultor Jurídico, 7 de fevereiro de 2010.

"Acadêmico classe C", segundo Deisy Ventura

Caros
Diante da abundância de preconceitos e do arrivismo barato que verte deste artigo, é difícil identificar um foco para resposta. No entanto, para não deixar passar desapercebido tamanho risco, escolho e ressalto três aspectos.
Primeiro, não podemos deixar que se afirme e difunda em nosso meio esta pecha de "estudante classe C". A mera repetição desta expressão já serve para consolidar o estigma. As escolas devem ser avaliadas, algumas delas inclusive fechadas, mas jamais se pode etiquetar os alunos.
Segundo, embora não seja a regra, sabemos que há alunos privilegiados em instituições "baratas" (em todos os sentidos) e há alunos economicamente hipossuficientes em universidades públicas consideradas excelentes. Antes mesmo de discutir o que é excelente, também é preciso dizer que há alunos de, segundo o autor, "classes A e B" que são dedicados, críticos, engajados, que lutam contra suas próprias contradições, e - eureka! - muitos deles optam por dedicar sua vida a subverter esta ordem que gera a etiquetagem A, B e C.
Agora o pior, terceiro e último foco: é inaceitável conceber como horizonte de ambição do aluno da escola "barata" ser inspetor de polícia, assessor de tribunal ou oficial de Justiça. Porque seria imenso o risco de que um dia ele se tornasse Desembargador, viajasse para a Disney, comprasse roupas caras e escrevesse um artigo como esse.

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Clandestinos

Ok, admito que ninguém mais tem paciência para reclamações sobre o trânsito de Belém e sobre a CTBel. Entendo, contudo, que se o cidadão se calar, a anarquia tomará conta em definitivo. Protestar é o nosso último rincão de esperança. Se não servir de nada, vale como um desabafo.
Esta manhã, na apurrinhação da confluência da Júlio César com Almirante Barroso, uma van clandestina dirigida por uma mulher de cabelos rastafari cortou a minha frente, no desafio. Ou eu parava, ou batia. Após se jogar sobre mim, cortou a frente de outro veículo, cujo condutor tomou um susto. Depois de passar por cima da sinalização pintada no asfalto, cruzou a Almirante Barroso já com o sinal fechado.
O melhor de tudo isso foi a presença de um gualdinha da CTBel no canteiro central da Almirante Barroso, olhando para a van com o maior desinteresse. Deixou-a passar sem uma apitada sequer, o que reforça a impressão de que existe, entre um clandestino e outro, uma forte relação de omissão ou de coisa pior.
Não parei ao lado dele para esculhambar porque isso me obrigaria a bloquear o trânsito e criar uma situação de risco, o que eu jamais faria. Essa raiva eu tive que engolir.

Acréscimo em 10.2.2010:
Na capa do Diário do Pará de hoje, a manchete: "Van 'corta' ônibus e 2 ficam feridos". De que estávamos falando, mesmo?

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Interesse pela monitoria

Em meio aos meus trabalhos de preparação do semestre letivo que se inicia amanhã, parei a fim de observar as listagens relacionadas ao processo seletivo de monitoria para o ano de 2010.
Na instituição onde leciono, o processo seletivo é rigoroso, uma espécie de vestibular em miniatura. Até a apresentação das provas e o cuidado com a lisura do processo se assemelha. Existe um edital, critérios de inscrição, provas elaboradas especificamente para o evento e uma correção sujeita aos controles institucionais. O processo começa com uma análise de histórico e termina em uma entrevista.
Vi, com alegria, que no curso de Direito (o único sobre o qual posso falar) a procura aumentou nos últimos anos. O alunado está se interessando mais. Seria leviandade dizer que a bolsa é o fator determinante disso. Que seja em um ou outro caso, mas não no geral. Minha satisfação aumenta quando vejo que alunos que, em conversas comigo, não pareceram interessados em ser monitores antes e agora estão se inscrevendo. Outro dado interessante pode ser extraído, curiosamente, da relação de inscrições indeferidas. Não há informação do motivo do indeferimento, mas observei que foi grande a quantidade de recusas para a minha disciplina e, conhecendo vários nomes, deduzo que o motivo foi não terem, tais alunos, concluído o estudo do Direito Penal, que se divide em quatro semestres. Ou seja, ainda nem terminaram a disciplina, mas já desejam trabalhar com ela, ao menos no plano acadêmico. Isso, para mim, é um sinal bastante auspicioso.
Terei o cuidado de estimular esses alunos, que agora não puderam prosseguir em seu plano, para que no próximo ano se inscrevam de novo, já com plenas condições de disputar a vaga e, pelo que sei, de fazer um belo trabalho, como fez o meu monitor do ano passado.
Tenho grande respeito pela monitoria. É óbvio: ela foi o começo da minha própria trajetória docente. Foram dois anos, já na disciplina Direito Penal, auxiliando o dileto Prof. Hugo de Oliveira Rocha. Bons tempos! Aprendi bastante e isso me ajudou para a carreira que eu já ansiava por abraçar. Tenho a satisfação, ainda, de ver que dois ex-monitores meus hoje são meus colegas de docência. E não duvido nada que a lista aumentará.
Sem dúvida alguma, a monitoria é uma atividade que rende excelentes efeitos sobre a formação do aluno uma oportunidade que não se deve desperdiçar.

BLIC volta à cena

A postagem original é de 14 de janeiro de 2009, portanto há mais de um ano. Volta e meia, alguém navegando pela Internet topa com ela e me deixa um comentário. A última vez tinha sido em 20 de dezembro. E eis que, nesta tarde de domingo, 7 de fevereiro, a BLIC volta a render manifestações.
Você topa fazer um curso de Direito à distância? E numa instituição sediada na Flórida?
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Esquentando

A escola já está na avenida, esquentando a bateria: amanhã recomeçam as aulas. Portanto, temos que estar prontos. Logo, domingão é dia de trabalho.
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sábado, 6 de fevereiro de 2010

Telefones públicos

Até a minha adolescência, vi nas ruas telefones públicos que funcionavam à base de fichas, que faziam um barulhinho característico quando coletadas, para que a ligação fosse completada. Essa, por sinal, a origem da gíria "a ficha caiu", que a garota continua usando, talvez sem saber de onde ela veio. Sempre pairava uma preocupação de que, em caso de ligação não completada, a ficha fosse "engolida" pelo aparelho. Perdi muitas. Era um horror. Às vezes ficávamos totalmente impossibilitados de fazer o contato que pretendíamos. Boa parte das pessoas que leem este blog jamais viu um telefone desses.
Na passagem da década de 1980 para a de 1990, surgiram os cartões telefônicos. Eram mais grossos e rígidos que os atuais. Eram, acima de tudo, muito mais funcionais, já que nos davam vários créditos, permitindo um número maior de chamadas ou maior tempo de conversação. Surgiu, também, o hábito de colecionar esses cartões, alguns dos quais belíssimos. O som da ficha caindo foi substituído por um bip curto. A raiva passou a ser o crédito ser consumido sem que a ligação fosse completada.
Em meados dos anos 1990, eis que surgiu o telefone celular, uma coqueluche instantânea para quem podia pagar pelo brinquedo, na época muito caro (a tarifa, sobretudo) e pessimamente servido de sinal. Surgiram as piadas sobre pessoas que precisavam fazer malabarismos para conseguir sinal (acredite, eu passei por isso, em Mosqueiro, chegando mesmo a subir num tronco de árvore para ficar mais alto; foi ridículo!) e o despeito de quem não podia comprar um. Na época, popularizou-se o deboche: Você sabe o que o celular e a celulite têm em comum? Todo bundão tem.
Pois é, possuir um celular era motivo de escárnio. No fundo, despeito. Tanto é verdade que, quando ele se popularizou, nenhum dos críticos deixou de pendurar um na cintura. E pendurar celular na cintura foi tema de muitos colóquios sobre etiqueta! Andei muito com o meu Nokia 232, analógico, preso ao cinto. Hoje, por via das dúvidas e por segurança, mantenho o meu aparelho escondido em algum bolso, o que é possível graças à redução do tamanho dos telefones.
E eis que esta semana precisei ir ao Shopping Castanheira e a bateria do meu celular acabou. Necessitava encontrar minha esposa e não podia telefonar. O jeito foi voltar no tempo e procurar um telefone público. No caminho, dei-me conta de que nunca soube fazer uma chamada a cobrar. Comecei a me sentir burro e a recordar algo sobre um código a discar (rectius: digitar! Telefone a disco é coisa de um passado distante!) antes do número a chamar. Mas precisei ler no próprio aparelho, para confirmar o código 9090.
Meus amigos, pobre de que não possui um celular hoje em dia! Eu tinha telefones públicos perto porque estava num shopping, mas na rua pode ser bem difícil achar um ao menos um que funcione. Dos que tentei usar, alguns estavam quebrados. Todos estavam sujos e um pouco enferrujados. Testei um com teclas tão danificadas por uma ferrugem viscosa que me deu um certo nojo. Fiz diversas chamadas a cobrar. Nenhuma foi completada. "Após o sinal, diga o seu nome e a cidade de onde está falando." O sinal nunca veio e a chamada não se completava. Muitas tentativas depois, resolvi comprar um cartão telefônico. Levei três segundos para pensar em onde poderia encontrar um. Numa banca de revistas, claro. Fiz a compra e voltei aos telefones. Não adiantou. O crédito era consumido, mas a chamada não se completava.
Esse périplo todo demorou tanto que cheguei à conclusão de que minha esposa já terminara e devia estar a minha procura, no local mais provável: onde estacionei. De fato, encontrei-a lá. Ou seja, o telefone público não fez a menor diferença.
Este episódio me serviu de novo exemplo de como somos tratados como gado, no mau sentido, pelo poder público e pelas concessionárias de serviços públicos. Ficar sem celular, hoje, é quase garantia de ficar sem comunicação telefônica. Um vexame. E se eu estivesse em plena rua? Teria sido muito pior.
Que lástima.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

"Crimes de honra"

Na Turquia, uma menina de 16 anos foi enterrada viva pelo pai e pelo avô. Motivo? Conversava com meninos.
Pelo mundo afora, ainda existem muitas situações que nos causam estarrecimento, mas que estão atreladas a matrizes comportamentais tradicionais, como esta ou como os casamentos arranjados de crianças, que acontecem, p. ex., entre os ciganos. Como um dos cânones do Direito Internacional é a autodeterminação dos povos, lutar contra tais práticas não é tão simples. Não se pode simplesmente impor os valores do Ocidente. Mas como, na tal aldeia global, poderíamos suportar comportamentos tão drásticos?
E não venha dizer que, evidentemente, matar a adolescente foi um ato de barbárie. Nós pensamos assim. Mas os ascendentes da menina talvez acreditassem em algo maior. E, se assim for, hão de se sentir muito injustiçados, como acontece com os fundamentalistas religiosos.
Viver neste mundo poderia ser mais fácil...
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Ele continua o mesmo!

Fazia tempo que eu não falava do Moviecom, aquela desgraça que hoje monopoliza as salas de exibição em Belém.
Ontem, fui ver Sherlock Holmes no Pátio Belém e encarei a sala 5. E o que me foi oferecido? O padrão de qualidade Moviecom, claro! Sala quente e abafada (a refrigeração era insuficiente, como sempre) e o som estava uma merda porcaria, como sempre. Muito ruim, mesmo. Sabe quando você está gripado e escuta por um só canal de som? Era mais ou menos assim.
Gostei do filme, mas vivi o paradoxo de desejar que ele acabasse logo, para me livrar daquele som antinatural e irritante.
E, como sempre, não temos a quem reclamar, nem adiantaria se o fizéssemos.
Lembremos que, em junho (até segunda ordem), serão inaugurados os cinemas Cinépolis, no Boulevard Shopping, reinstituindo a concorrência nesse mercado. Uma concorrência desproporcional em número de salas, mas será ótimo ver essa empresinha ordinária, que nos atende tão porcamente, sofrendo a crítica e a rejeição do público, quando tiver termo de comparação e alternativas.
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Múltiplas inteligências

Polyana, minha esposa, cuja dissertação de mestrado estudou a teoria das múltiplas inteligências de Howard Gardner, cedeu-nos uma configuração mais técnica à discussão sobre o desenvolvimento da inteligência no mundo, trazida à baila pelo meu debate com o comentarista Bruno, aí embaixo:

O QI não é mais uma medida confiável ou desejável como o principal norte da inteligência humana. E nem estou falando no QE1, que muita [gente] de QI alto precisa desenvolver, mas de outras habilidades que o QI não mede, como capacidade de entender a si mesmo (inteligência intrapessoal) e de se relacionar com os outros (inteligência interpessoal), ou até mesmo a inteligência predominante no Pelé, a corporal, entre outras vertentes das nossas habilidades. Ter acesso a um monte de dados não desenvolve a ponto de aumentar em 10 pontos as habilidades matemáticas, lógicas e espaciais das pessoas. O que faz isso é um ambiente estimulante e variado, com desafios constantes e crescentes. Sei que a frase soa genérica demais, mas dá pra ver que ela não se refere a uma quantidade crescente de dados. Podemos ter acesso hoje a mais informação do que nossos avós recebiam em um mês, mas eles absorviam e analisavam mais do que nós a informação que recebiam. Hoje no Brasil temos muito mais analfabetos funcionais do que analfabetos de fato. Isso é um problema para a quantidade de informação que chega, e nem é absorvida, nem mesmo filtrada, pois o senso crítico também fica prejudicado.
Bem, essa discussão pode continuar por muito tempo ainda. Só queria terminar dizendo que os desenhos animados para a faixa etária da Júlia, e até 3 anos, são realmente muito melhores hoje do que antigamente. E que o Capitão Planeta até tinha boa intenção, mas era um saco!!!!!

1 Quociente emocional. N.E.

Vale lembrar que quociente de inteligência é um conceito ultrapassado, enquanto medição confiável da inteligência de uma pessoa. Isto sugere que a inteligência é um atributo da pessoa, como a cor de sua pele, o que permite concluir que existem gênios e burros, pura e simplesmente.
O conceito foi remodelado ao longo do tempo, graças ao aprofundamento das pesquisas sobre os diversos fatores que influenciam a inteligência das pessoas. Já li sobre uma pesquisa (não posso assegurar a confiabilidade dela) segundo a qual metade da inteligência de um indivíduo decorre de sua herança genética e a outra metade depende dos estímulos que ela recebe ao longo da vida. Sem qualquer base para afirmá-lo, especulo que essa relação não seja 1:1 e que, em nossos dias, o peso dos estímulos seja consideravelmente maior.
Espero que algum estudioso do assunto apareça por aqui e nos ajude a entender melhor a questão.
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Discordâncias sobre a juventude atual

A respeito da postagem "Público de qualidade", duas abaixo desta, o comentarista Bruno deixou a seguinte manifestação:

Discordo em grande parte do colocado. Estamos lidando com uma juventude cada vez mais dinâmica, pressionada por uma avalanche de informação inimaginável a poucos anos atrás.
Não é só isso. A cada geração, em média, o QI sobe em 10 pontos.
A perda de interesse em blogs da juventude nada mais é do que mais um passo (com pontos positivos e negativos) desta evolução. Quanto ao fato dos maiores de 30 anos manterem o foco na blogosfera parece-me mais inépcia a mudança, à inovação, à evolução.
Um jovem de 14 anos não quer ler três páginas de um livro infantil? Prefiro pensar que é por ser entendiante e pouquíssimo recompensador. Você bem falor que cabe aos autores de blogs captar a atenção do leitor. Nos livros não é diferente. Ele (o jovem) precisa mais do que isso para ser estimulado. Também precisa aprender melhor a expressar o desânimo. "É grande" não expressa a verdadeira razão.
Lembro do quanto, em minha juventude, os video games eram criticados, como alienadores, que contribuíam para a "imbecilização". Esta mesma geração cresceu, se tornou muito mais eficaz no mercado de trabalho e provou com estudos todos os benefícios da jogatina (excetuando-se, claro, os casos de vício e dependência comuns a diversas atividades).
Não cometamos os erros de dizer que "os desenhos animados de antigamente eram muito melhores" ou que "as músicas de antigamente eram melhores". Hoje se produz conteúdo em uma quantidade incalculável. Claro, a maioria sem valor, mas há muito de bom (e criticamos de forma generalizada por pura ignorância). O importante é perceber o valor dentro de seu respectivo tempo. E manter todo o valor merecido por aquilo que passou.
Mas, de fato, a mudança é global. O mundo em que eles vivem cada vez mais prescinde de fronteiras. E todo esse processo é inevitável, apenas devendo ser adequadamente conduzido. Não é fácil, mas considerar "imbecilização" é, na minha opinião, o receio da mudança expressado de forma tão equivocada quanto o "é grande".
Ah, e eu adoro futebol! E Pelé ainda é o Rei pelo gênio que foi em seu tempo. Se jogasse hoje como jogou em seu tempo, não seira capaz de acompanhar a velocidade e força física estabelecidos no futebol. Mas isso não diminui em nada a genialidade dele e de sua geração.

Caro Bruno, você diz que discorda de mim "em grande parte", mas eu diria que nossa discordância é maior do que você pensa. Vamos por partes:

1. Antes de mais nada, a postagem não teve a intenção de estabelecer uma superioridade moral ou intelectual dos balzaquianos (como eu) sobre os mais jovens, como decerto é o seu caso, dada a defesa empolgada da faixa etária. E, como ideia rápida que é, usou a generalização como recurso retórico, aceitando todos os riscos dessa opção, mas sem o propósito de generalizar para ofender ou passar atestado de burrice. Frequentemente, a generalização é um recurso necessário na comunicação e, por si só, não é um mal.

2. Já li sobre os avanços intelectuais e até físicos da humanidade, nas últimas décadas. Mas convem encará-los com cautela, mormente diante do argumento por você empregado. Os jovens, hoje, têm um extraordinário acesso a dados, mas dados não necessariamente são informação e informação não é necessariamente conhecimento. Informação não trabalhada de pouco ou nada serve. Aliás, uma das mazelas de nosso tempo é que se sabe tanta coisa (quantidade) que, no final das contas, não sabemos nada ou muito pouco (qualidade). Qualquer adolescente hoje em dia sabe uma miríade de coisas que não passaram pela cabeça de um Ruy Barbosa, p. ex. Creio que não preciso prosseguir nesta explicação, certo?

3. Ao dizer que os maiores de 30 anos se mantêm ligados aos blogs por resistência à mudança é uma generalização, especulativa e incorreta. Cada vez mais pessoas, inclusive idosos (presumivelmente mais avessos à tecnologia), aderem aos blogs. Isso não é resistência: é assimilação! Creio que os fatos desmentem sua conclusão. Trocar blogs pelo Twitter não sugere vontade de abraçar o novo. Não vejo a menor relação de uma coisa com outra.

4. A despeito de sua bem intencionada suposição, o meu parente de 14 não quis desistir da leitura por ser avançado demais para ela. Foi preguiça, pura e simplesmente. A ideia de pegar o livro foi dele, que estava plenamente consciente do que tinha nas mãos. Você acha que gosto de livros destinados a crianças de 2, 3 anos? Lógico que não. Mas os leio por uma finalidade específica. E não posso dizer que são ruins, pois são adequados ao público a que se destina. Infelizmente, esse público não lê sozinho.

5. Caro novo amigo, preciso dizer que arte boa e arte ruim sempre existiu e sempre existirá. Mas, no geral, as músicas e os desenhos de antigamente eram mesmo muito superiores aos de hoje, salvo raras exceções. Há argumentos técnicos para justificar isso, mas eu, lamentavelmente, não tenho a qualificação necessária para tentar explicar. Quanto aos videogames, melhor nem comentar, pois eu os odeio com uma força que só se satisfaria se eles fossem eliminados do mundo. Joguinho besta de computador pode.

6. Finalmente, o problema não é o futebol, mas a imbecilidade em torno dele. No mais, Pelé foi um jogador extraordinário. Não sei nem me interessa se o melhor, mas extraordinário. Infelizmente, ele só foi bom nisso. No mais, é uma pessoinha bem detestável.

Às ordens para debater. Um abraço.

Diverso do instinto caçador

A propósito da postagem "Maridão em casa", seis abaixo desta, minha querida Luiza Duarte responde elegantemente à provocação que fiz sobre as mulheres se atiçarem com a ideia de ter um homem bonitão com elas, nestes termos:

Professor, já faz dois dias que o senhor fez a presente postagem e eu aguardei para provar uma coisa: mulheres não se "atiçam" facilmente!
Obviamente gostamos de ver homens bonitos, mas nada que nos anime a vir comentar freneticamente, como aconteceu com os rapazes, na postagem das atletas mais "bonitas" da atualidade.
O único comentário recebido foi para ressaltar as qualidades do maridão, e não do Matthew Fox.
No fim das contas, para nós, mulheres, se nossos companheiros nos tratam com amor, carinho, respeito e atenção, eles parecem mais bonitos que o Matthew Fox. Eu digo pro meu que não o trocava por bonitão nenhum do mundo, mas ele não acredita. Talvez porque ele desconfie que não teria a mesma reação diante da Angelina Jolie! haha
Veja, por exemplo, que várias boates fazem festas em que mulher entra de graça. Nunca vi o contrário acontecer, pois, via de regra, os homens é que fazem questão de muitas possibilidades.
Isso não significa que somos melhores, obviamente, mas apenas que, ainda hoje, mantemos aquele instinto que assegurou a nossa sobrevivência até aqui: homens tem um certo instinto de "caçador" e mulheres querem segurança.
O nível desse instinto varia, obviamente, mas ele existe. A sociedade moderna (e, especialmente, as mulheres modernas) exige que os homens o controlem e sejam fiéis.
Certa vez li um psiquiatra explicando que a fidelidade não é mesmo da natureza do homem, mas isso não significa que não seja algo desejável. Ele lembrou, por exemplo, que a natureza do homem era violenta e que matar desafetos era algo corriqueiro. A evolução da sociedade exigiu que os instintos agressivos fossem domados. Nós, mulheres, esperamos que o instinto caçador também já tenha sido domado, ao menos pelos NOSSOS homens!

Luiza, querida, a sorte dos homens comuns (e principalmente dos menos que comuns, como eu) é existirem no mundo mulheres como você. Não tenho reparos a fazer a suas ponderações. Pelo contrário, gostaria que fosse um pensamento mais generalizado. Minha provocação foi nada mais que uma brincadeira, pois bem sei que é coisa de menino (o termo "menino", aqui, tem duplo sentido: indica tanto o sexo quanto o tipo de comportamento) ficar todo eriçado com a simples visão de uma mulher sexualmente desejável. E aí vêm os comentários maliciosos!
Pode ser tudo brincadeira, mas já que tudo em nós nos revela um pouco, as brincadeiras também permitem tirar boas conclusões.
Sem feminismos nem bajulação, que no contexto seria um mecanismo fácil de angariar simpatias, dou meus parabéns às mulheres, por saberem trabalhar melhor as suas prioridades emocionais.

Público de qualidade

De acordo com estudo realizado nos Estados Unidos, que acabou de ser divulgado, os adolescentes estão perdendo o interesse por blogs. O motivo? Eles preferem escrever — e ler — textos curtos e, para isso, utilizam as redes sociais e os microblogs, dos quais o mais famoso é o Twitter.
O lado mau da notícia é que isso aponta para um fenômeno perceptível: a crescente imbecilização da juventude. Neste final de semana, p. ex., um garoto a caminho dos 14 anos, da minha família (aaaaaaaaaaaaaaaaaargh!!!), quase desistiu de ler uma estória para minha filha Júlia, alegando que era "muito grande". O "muito grande" em questão eram três páginas de um livro infantil, ou seja, com letras grandes e páginas dominadas por desenhos. Quase que eu o atiro do carro, em movimento, ainda mais por me lembrar de como ele gostava de ler. Mas isso na época em que ele era especialista em dinossauros, antes de substituir tal interesse pela merda do por futebol.
Naturalmente, precisamos nos perguntar se a realidade estadunidense é, nesse particular, semelhante à nossa. Por minha conta e risco, especulo que sim e, pior, que essa é uma tendência globalizada. Esta é a impressão que nos fica quando convivemos com a garotada.
O lado bom da notícia é que a blogosfera continua no foco dos maiores de 30 anos. Tomando-se tais pessoas como mais instruídas e voltadas a temas específicos já que têm tempo reduzido, trabalham, sustentam famílias, etc. , pode-se esperar um aumento qualitativo no público dos blogs. Tomara.
Da minha parte, já gosto bastante do público de meus dois blogs. Até as brincadeiras têm mais conteúdo. Mas, para isso, os blogueiros também precisam saber manter o interesse, claro.

Por oportuno:

Uma vaga para você

O Portal G1 publicou uma relação dos concursos públicos que oferecem as funções mais bem remuneradas do país. Basta uma olhada rápida e a lembrança dos índices de desemprego e das distorções sociais no Brasil para entender dois fatos:
  • a industrialização dos cursinhos preparatórios para concursos e as incontáveis publicações do tipo motivacional-macetal;
  • a expansão explosiva dos cursos de Direito no país.
Você já se inscreveu?
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

A "segunda família" do real

O dinheiro brasileiro podia até não valer nada, mas geralmente era bonito, sobretudo quando o comparávamos com os dos demais países. Em 1994 veio o real, que ficou, e fomos nos adaptando a cédulas graciosas, baseadas em elementos da natureza brasileira. Prepare-se para, nos próximos meses, começar a ver um dinheiro diferente e bem mais vistoso, que está sendo chamado de a "segunda família" do real segundo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, adaptada às exigências internacionais de segurança, num momento em que a nossa moeda começa a crescer em importância no cenário mundial.
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O visual é bonito, mas as cédulas, enormes para facilitar a vida dos deficientes visuais , serão mais difíceis de guardar e, por consequência, serão rapidamente amarfanhadas. E eu detesto dinheiro amarrotado! Mas há razões justas para o novo layout. O fato é que precisaremos nos acostumar. E, convenhamos, feio ou bonito, o que importa mesmo é que o dindim chegue ao nosso bolso, não?

Acréscimo em 4.2.2010:
O Portal G1 publicou hoje um interessante infográfico mostrando a evolução das cédulas brasileiras desde 1942. O cruzeiro (1970 a 1986) era horroroso, mas a Casa da Moeda acertou a mão nas cédulas homenageando Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, principalmente este último, pois colocou de um lado a efígie do poeta, com um semblante de avozinho, e de outro um de seus mais belos poemas, "Canção amiga":
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Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.
Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.
Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.
Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.
Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.