Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados por um dos crimes mais famosos da crônica policial brasileira: o assassinato da atriz Daniela Perez, filha da teledramaturga Glória Perez. A ligação dos personagens com a Rede Globo permitiu que o caso ganhasse uma extraordinária repercussão midiática, que perdurou por anos. Mas mesmo com toda a condução da mídia sobre a opinião pública, os dois conseguiram usufruir dos institutos previstos na Lei de Execução Penal. Medidas que não são benefícios gratuitos a malfeitores, mas instrumentos pensados ao longo do tempo, destinados a tentar a reabilitação dos agentes.
O tempo passou e o mundo mudou. A imprensa mudou e a sociedade também. Cair em desgraça perante a opinião pública, agora, tem um peso muito maior, com consequências bem mais incontornáveis. São exemplos disso Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, Suzane von Richthofen e, no começo deste mês, José Roberto Arruda. A bola da vez é Ezequiel Toledo da Silva, envolvido no rumoroso crime que teve como vítima o menino João Hélio, em 2007.
As instituições públicas capitulam ante o poder daqueles que exploram o senso comum.
E assim se faz a justiça das ruas, aquela força que vive e pulsa ao nível da superfície, um plano onde é mais fácil toparmos com todo tipo de detritos.
PS — Exemplos locais também existem, é claro.
Bem a propósito: http://www.conjur.com.br/2010-fev-24/leia-decisao-nega-progressao-regime-suzane-von-richthofen
8 comentários:
Yúdice, uma ex-colega de faculdade minha, Elisângela Pralon, (mas que não chegou a ser sua aluna) transferiu-se para o Rio de Janeiro e formou-se na mesma turma da Paula Thomas.
Contou-me a amiga que a "colega" Paula é uma pessoa muito arredia e que mudava constantemente de visual.
Será que ainda está marcada?
Não sou Advogado, mas acredito que um princípio basilar para o respeito as normas jurídicas seja a coercitivdade. Se uma regra não trás em seu bojo a possibilidade de punir o seu infrator, seu cumprimento resta prejudicado.
Está marcada para o resto da vida, Fred. Isso é inevitável. Eu mesmo, admito, ficaria profundamente desconfortável em conviver com ela. Não por ser a Paula Thomaz; qualquer assassino me causaria o mesmo desconforto.
Interessante que, mais uma vez, cumpre-se o clichê: se o sujeito é encalacrado, vai para a faculdade cursar Direito.
Luiz, o que afirmas está absolutamente correto. Mas será que estamos falando da mesma coisa?
Refiro-me as benesses oriundas da Lei de Execuções Penais mencionadas por você no texto. Me parece haver, por parte dos infratores, lógico a grosso modo, a sensação de impunidade advinda desses " instrumentos pensados ao longo do tempo, destinados a tentar a reabilitação dos agentes". Acho que, apesar das boas intenções para a qual esses instrumentos foram criados, o que fica, para o senso comum, é o sentimento de impunidade. Vide o caso recente de um dos assassinos do menino João Hélio. Abraços
Pensei muito para escrever isso aqui, mesmo porquê eu sempre fui do tipo "bandido bom é bandido morto"...
Mas se a Lei existe, é para ela ser cumprida. Ele era menor quando cometeu o crime, se chegou a hora de ele ser solto, ele tem que ser solto, e olha, não vejo onde ele seria "recuperado" indo para a prisão comum, verdadeira escola para formar bandidos crueis e perigosos.
Concordo que o crime foi hediondo, tenho 2 filhos, tenho noção do que aquela mãe, pai, irmã, familiares e amigos estão passando, mas convenhamos, ele não "matou" o João Hélio. Eles provocaram a morte sim, têm que ser punidos sim, mas não era intenção matar, se bem que, quando se sai para roubar, tem que se ter a ideia de que tudo pode acontecer.
Acho que ele merece uma outra chance sim, aí alguém pode dizer e o João Hélio, que chance ele teve? Concordo, ele NÃO TEVE NENHUMA CHANCE, mas a desigualdade é responsável por essas tragédias, eu sei que nada é desculpa pra se cometer crimes, mas SÓ SEI disso porque nunca fui espancada pelos meus pais, porque nunca fui espancada pelo meu marido, porque nunca passei fome, porque nunca fui humilhada pela cor da minha pele (e olha que eu sou negrinha), porque nunca fui discriminada pela minha condição social (e não sou rica), porque nunca vivi em um ambiente desfavorável, porque não conheço tragédias humanas, a violência que conheço é que vejo na televisão...
E esse garoto? Qual é a história dele? O que ele conhece de carinho, de amor, de respeito?
Eu fico puta da vida quando filhinho de papai queima índio, espanca homossexuais, espanca prostitutas, isso sim é maldade.
Não pensem que não acho a morte do João Hélio estarrecedora, porque eu acho sim.
O que eu também não consigo esquecer é que uma criança causou a morte de outra criança e nós não sabemos nada sobre ele, de repente é um outro Sandro da vida (do ônibus 171).
Desculpe-me Yúdice, postei isso no blog errado, tenho que postar minha revolta no meu...
Pois é, Luiz: falas em "benesses" da lei, mas é justamente disso que não se trata. Em todos os casos, esses institutos reclamam, como requisito para a sua concessão, o mérito do condenado. Presos de mau comportamento não são beneficiados. Existem presunções contrárias e muita má vontade em relação a eles. Não há ninguém tentando esvaziar as prisões.
Esse sentimento de impunidade decorre da pouca ou nenhuma compreensão da lei, e principalmente do sistema jurídico, por parte do leigo.
Abraços.
Ana, fiquei encantado com a tua manifestação. Lembras de um embate que tiveste aqui no blog, há algum tempo, com a Anna Cláudia, que trabalha na Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos? Tu fizeste um mea culpa interessante, revelador de um espírito conciliador e reflexivo. E esta tua manifestação de agora revela uma dimensão humana admirável.
Ana,
Tenho que dizer que concordo com você sobre ter um olhar menos radical sobre a morte de João Hélio. Sem dúvida ela foi brutal. Mais que isso, mas não há palavras que a definam.
Entretanto, as críticas na época foram muito duras, em relação aos "monstros que fizeram isso com uma criança".
Ora, e como tratamos esses "monstros", quando eles ainda eram crianças? Com indiferença. Provavelmente os olhavamos pelo vidro fechado do carro, sem sentir também nenhum remorso. Nossa monstruosidade é diária, portanto, mas ainda seguimos acreditando que somos pessoas "do bem", que jamais faríamos nada parecido.
Não fazemos porque nunca passamos por adversidades como as impostas a alguns dos "monstros" que nos circulam. De forma algum quero dizer que ser excluído da sociedade é causa extintiva de punibilidade, mas, sem dúvida, deveria ser atenuante no NOSSO julgamento, afinal, não sabemos, graças a Deus, como nos comportaríamos na mesma situação.
Pois é, nesses últimos meses, tenho saído da esfera do "meu mundinho", que não é perfeito, é claro, mas é um mundinho tranquilo, e visto que existem outras realidades por aí.
Ter entrado para um movimento social, foi a melhor coisa que me aconteceu na vida!!!
Toda história tem dois lados.
Se fazemos questão de julgar, devemos, no mínimo, conhecer os dois lados dessa história, né não?
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