"Terra da garoa" foi um romântico epíteto criado para designar São Paulo, a maior cidade da América Latina e capital econômica do Brasil. Contudo, a julgar pelo mês de janeiro — no qual choveu metade do que era esperado para o ano inteiro naquela cidade —, melhor seria que disséssemos, agora, terra das tempestades. É tanta água que o solo não consegue mais absorvê-la. Somando-se isso às construções em locais indevidos e ao lixo despejado a esmo, o resultado só poderiam ser as inundações que, desde dezembro, transformaram em inferno a vida de milhões de pessoas.
Nesta imagem, você vê o Jardim Pantanal, onde as águas não baixam há dois meses. O bairro foi cenário de protestos contra o prefeito Gilberto Kassab, que visita as regiões mais afetadas, porém não põe o pé na água suja.
A nossa Belém, felizmente, não se encontra em situação semelhante à capital paulista. Contudo, os dissabores por aqui não são pequenos. E a menos que eu esteja muito enganado, o sistema de drenagem das águas pluviais anda bastante prejudicado. Pontos onde antes não havia alagamentos, como a Duque de Caxias, agora enchem a ponto de fazer motoristas voltarem de ré. E várias ruas, mesmo com chuvas não tão intensas ou demoradas, ganham uma lâmina d'água altamente perigosa para o trânsito. Isso pode ser visto, p. ex, no cruzamento em frente ao Hangar.
O prefeito (risos) se ufana de suas "obras estruturantes". Uma que, talvez, pudéssemos considerar como tal, ao longo do canal da 14 de Março, foi reprovada agora em janeiro, por quem mais entende do problema: os moradores. Suas casas continuam enchendo.
Tenho dito que, hoje em dia, mais vale morar no glorioso bairro da Marambaia do que nos sofisticados Batista Campos, Nazaré ou Umarizal. Lá, pode chover o que for, mas não alaga. E olha que canais cortam o bairro. Não padecemos com engarrafamentos e podemos estacionar na porta de nossas casas, sem disputar a tapa um espacinho nem aturar flanelinhas.
No mais, Belém perdeu também um tanto de sua poesia. Afinal, há muitos anos já não existe a famosa chuva das duas que não pode faltar, cantada nos versos de Edyr Proença e Adalcinda Camarão* (na canção "Bom dia, Belém"). É o homem modificando o meio ambiente e, com isso, transformando o regime das chuvas, dos ventos, da vida.
E depois reclama.
PS — Agradeço ao anônimo que corrigiu o meu equívoco quanto ao nome da coautora. Não foi erro de digitação, e sim de ouvido.
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3 comentários:
Yúdice, o nome certo da autora da música é Adalcinda. Para ser mais exata, Adalcinda Camarão, já falecida poetisa paraense.
Já fiz a correção. Obrigado.
Viva o Dudu, que o povo todo tomou...
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