quinta-feira, 17 de novembro de 2011

A família Mangabeira

Em tempos de prova, minha cabeça está voltada demais para isso, o que prejudica o blog. Mas já que estamos nessa fase, aproveito para explicar algo que várias gerações de alunos me perguntaram, sem que eu tenha ofertado uma resposta definitiva. Trata-se da razão pela qual, nas provas que elaboro, quase todos os personagens têm por sobrenome Mangabeira.

Já me perguntaram até se alguém com esse nome me aprontou alguma, mas a verdade é que nunca conheci pessoalmente um Mangabeira. Aliás, o único de que tenho conhecimento é o Unger, que trabalhou um tempo no Governo Lula. A explicação é bem mais simplória.

Sempre tive o hábito de usar nomes de alunos da própria turma nas avaliações, o que se mostrou uma forma eficiente de relaxá-los um pouco, pois na hora da prova, estranhamente, eles costumam ficar tensos. Mas um dia quis imprimir aos textos uma característica peculiar, algo que fizesse todos os alunos se lembrarem de nossos trabalhos, mesmo anos após a formatura. Algo que virasse uma daquelas memórias divertidas que sempre surgem nas reuniões com o pessoal dos antigos tempos da faculdade. Ocorreu-me, assim, de dotar esses personagens de um sobrenome único, algo que permeasse a prova inteira, a ponto de não poder ser ignorado. Para a ideia funcionar, teria que ser um nome forte, sonoro, diferente. Não poderia ser algo comum nem curto e eu não queria nada estrangeiro ou artístico.

Pensei um bocado, até me lembrar de uma antiga dinâmica de grupo, que eu fazia nos meus primeiros tempos no centro espírita. Trata-se de uma atividade essencialmente lúdica, destinada a quebrar a inibição dos membros do grupo, sobretudo dos novatos. De acordo com a técnica, a pessoa cuja inibição se quer vencer deve ser apresentada à "família Mangabeira". Ela comparece perante o grupo e se apresenta do jeito que preferir. Mas tudo que ela disser ou fizer será imitado pelos demais. Como o novato não sabe o que acontecerá, tende a reagir com surpresa. Algumas reações subsequentes eram curiosíssimas. Quando o candidato entrava no clima, era muito divertido. Lembro-me de correr uma casa inteira atrás de um deles. Passada a prova, o candidato entrava para a família.

Mangabeira (Hancornia speciosa) é uma árvore 
lactescente (produz látex), mais comum na caatinga 
e no cerrado, mas que também é encontrada no 
litoral e na Amazônia. Produz madeira resistente 
e seus frutos, as mangabas, são muito
consumidos no Nordeste.
Nunca fui apresentado à família Mangabeira; participei já como membro. Mas isso acabou numa das minhas gavetas da memória, como uma reminiscência agradável. Mais de uma década depois, saiu de lá direto para as provas que elaborava. Mangabeira é forte, sonoro e diferente. Desde então, praticamente todos os criminosos de minhas provas se chamam alguma coisa Mangabeira. Quando não são os patifes, são as vítimas. O fato é que, nas ditas provas, nunca vi um Mangabeira se dar bem em alguma coisa. Eventualmente, a palavra designa estabelecimentos comerciais, inclusive moteis.

E outra década se passou. Meu plano acabou funcionando: muitos ex-alunos, que me encontram por aí ou me escrevem nas redes sociais perguntam se os Mangabeira continuam aprontando. Eles continuam, sim. Aprontando e levando a pior.

É engraçado, mas já pensei várias vezes em elaborar provas sem eles, mas não tive ânimo. Agora sou eu que preciso deles. Quem sabe, então, um dia, em reconhecimento pelos serviços prestados, eu não crie um Mangabeira que vá redimir seus antepassados e se dê muito bem ou se torne, sei lá, um heroi? O tempo dirá.

14 comentários:

karen mangabeira disse...

pq criminosos ?? kkkk sou da familia mangabeira e gostei muito do post!

Yúdice Andrade disse...

Karen, querida, é que sou professor de Direito Penal, então os personagens mais visíveis e inevitáveis de minhas provas são os criminosos. Mas, em sua homenagem, vou começar a colocar em prática o plano de desenvolver um ramo da família bastante valoroso.
A primeira há de se chamar Karen.

Priscilla Mangabeira disse...

Adorei o post, mesmo sendo usado para criminosos me senti lisonjeada. Agora você já conhece duas 'Mangabeiras', rs.

Yúdice Andrade disse...

Priscilla, estou vendo que os Mangabeiras são tão simpáticos que merecem tratamento melhor em minhas provas! Abraço.

Unknown disse...

Quem foi Otávio Mangabeira?
https://pt.wikipedia.org/wiki/Ot%C3%A1vio_Mangabeira
Sou Mangabeira e vamos melhorar nossa estirpe!

Yúdice Andrade disse...

Olha lá, justamente o avô do mencionado Mangabeira Unger. Realmente, a família Mangabeira tem muito a revelar! Abraço.

Anônimo disse...

Sou Mangabeira e nunca conheci outra pessoa com esse sobrenome além de mim, minha mãe e irmã. Josely Mangabeira Pampolha

mangabeira disse...

Meu nome e Jonathan Mangabeira, minha descendência vem da Bahia desde do governador Otávio Mangabeira, meu avô e Gercilio Mangabeira e garanto a você que a família Mangabeira e muito mais muito grande no grupo da família Mangabeira no facebook tem mais de 4 mil membros e aposto que tem muito mais por ai

Unknown disse...

Sou albernaz mangabeira.

Daniela Mangabeira disse...

Olá, sou Daniela Mangabeira, do interior da Bahia. Em buscas sobre a origem do meu sobrenome, acabei descobrindo esse seu texto. Sou professora e gostei muito da metodologia "do evitável esquecimento", deu certo! Confesso que de inicio estranhei serem "os criminosos" das provas, contudo, compreendi ao ler os comentários.

Yúdice Andrade disse...

Passados quase dez anos, esta postagem continua rendendo encontros agradáveis com a boa gente Mangabeira. Meus agradecimentos pelas manifestações. Meus melhores votos para vocês em 2022.

Unknown disse...

Adorei seu texto! Sou Mangabeira e de fato toda a minha família é uma figura. Só não somos criminosos, rs. Agora você conhece vários Mangabeiras. Parabéns pela estratégia, professor.

mangabeira disse...

Agora são 3 mangabeira

mangabeira disse...

Aqui em minas tem muitos mangabeira, Gercilio Mangabeira e meu avô mus 8 tios são mangabeira também minha irmã e eu Jonathan contando de mangabeira que eu conheço tá na casa de pelo menos 150 pessoas