terça-feira, 22 de novembro de 2011

The Killing

Há algumas semanas, eu a minha esposa começamos a acompanhar o seriado The Killing, lançado este ano nos Estados Unidos e exibido no Brasil, pela TV paga, com poucos meses de diferença.
O drama está centrado na investigação sobre o brutal assassinato da adolescente Rosie Larsen, de 16 anos. Tão logo anunciado, começaram as comparações com Twin Peaks, seriado que fez sucesso em 1990. A pergunta "quem matou?" sempre corre como um rastilho de pólvora, seja a vítima Laura Palmer, Rosie Larsen ou Odete Roitman.
Tendo visto em DVD as duas temporadas da esquisita série assinada por David Lynch, que dispensa apresentações, sou naturalmente levado a comparar as duas estórias. Logo de cara, temos duas adolescentes de famílias simples, aparentemente decentes, com histórico de popularidade positiva, ótimas alunas, queridas em suas comunidades, que sem mais nem menos aparecem mortas, verificando-se que houve estupro, tortura e assassinato. As duas são encontradas na água: o corpo de Laura, envolto em plástico, acaba numa praia, e o de Rosie é encontrado no portamalas de um automóvel, afundado num lago. A notícia das mortes perturba o meio em que viviam e serve de estopim para que venham à tona certos segredos e baixarias. Há outro ponto em comum entre as duas vítimas, contudo não convém mencioná-lo nesta oportunidade, porque seria um spoiler dispensável.
A célebre visão de
Laura Palmer morta
Mas os produtores de The Killing parecem não pretender imitar Twin Peaks além disso, felizmente. Até porque ninguém consegue pensar como a mente tortuosa de David Lynch, que criou um universo repleto de personagens esquisitíssimos, idiossincráticos como o próprio autor, vivendo em meio a situações anormais, entre o cômico, o patético, o amedrontador e o simplesmente absurdo.
Enquanto Twin Peaks era uma cidadezinha fictícia de 1.521 habitantes no Estado de Washington, o cenário de The Killing é Seattle (detalhe: no mesmo Estado). A investigação não é conduzida por um histriônico agente Dale Cooper, do FBI, e sim pela Delegacia de Homicídios local, à frente uma convencional porém eficiente Sarah Linden (Mireille Enos), que foge ao estereótipo dos programas de TV: não é nenhuma gostosona enfiada em roupas coladas e provocantes, que distribui porrada e tiros a rodo. Linden é uma quarentona que só quer ir embora de Seattle tentar uma nova vida amorosa ao lado do seu parceiro grisalho e, enquanto o chefe a mantém presa ao antigo emprego por causa da rumorosa investigação, vive enfiada em roupas ruins, com um casacão pesado, o cabelo maltratado preso displicentemente e a cara amarrada, sem maquiagem, reflexo de seus conflitos internos e da empatia que sente em relação à família enlutada, mas que precisa reprimir.
O parceiro de Linden não é exatamente um parceiro. Stephen Holder (Joel Kinnaman) é o substituto dela e só quer assumir o seu posto e provar que dá conta da cobiçada Delegacia de Homicídios. Mas o chefe obriga Linden a permanecer no cargo e Holder fica numa inusitada condição secundária, cumprindo as ordens que ela dá com cada vez menos paciência. Vindo da Narcóticos, ele é um sujeito rude, mal vestido, maconheiro e que superestima as próprias habilidades. Gosta de se misturar com os investigados e está tentando lidar com algum tipo de trauma. Fica evidente que Linden tem uma visão muito mais completa e humana de uma investigação de homicídios. Há um quê de feminismo na composição da dupla, não sei se intencional.

O professor suspeito cumprimenta um pai
sequioso de vingança. Mal ele sabe...
 O seriado conta com um bom roteiro, que prende a atenção. A trama divide o acompanhamento da investigação criminal com os rumos da campanha à prefeitura do Município. Num universo de crime, chicanas políticas, adolescentes perdidos, tráfico de drogas, sexo irresponsável e máfia russa, pode-se contar que cada vez mais sujeira aparecerá.
Enfim, é um bom entretenimento, cuja primeira temporada terá apenas 13 episódios, uma tendência que vem se repetindo por causa da crise econômica, exceto em relação aos seriados que são sucesso garantido. Se tiver oportunidade, assista. Mas procure o episódio piloto, porque se trata de uma trama contínua.

4 comentários:

Maíra Barros de Souza disse...

Só de ler sua avaliação sobre a série, fui parcialmente fisgada. Já estou baixando, to mesmo precisando de uma nova série pra me apegar.
Abração!

Yúdice Andrade disse...

Aproveite, Maíra. Mas não diga que está "baixando". Vai que alguém monitora a blogosfera atrás de violações de direitos autorais...

Maíra Barros de Souza disse...

Que bela mancada com um professor de direito penal, mas agora...já baixei. rsrs Desculpa =)

Yúdice Andrade disse...

Relaxa, Maíra. Estava só pegando no teu pé!