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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2021

Fim de carnaval (?)

Depois de, no ano passado, ser anunciado que o São João seria em casa, o que implica dizer que comidinhas maravilhosas só se você mesmo as cozinhasse, e que haveria clima festivo somente se você se dispusesse a isso, o recado estava dado: enquanto perdurasse a pandemia de SARS-CoV-2, nada de folguedos populares.

É certo que, em junho passado, já havíamos enfrentado uma vez o terror do colapso do sistema de saúde e alguns imaginavam, com otimismo habitual ou com leviana esperança, que as coisas entrariam nos eixos nos meses subsequentes. Ledo engano, claro. Exceto em lugares específicos, como Nova Zelândia, Cuba e até mesmo na China, que colocaram a pandemia mais ou menos sob controle, o mundo segue aterrorizado, com as pujantes economias europeias vivendo em lockdown, com previsão de continuidade até março.

Um enorme alívio surgiu com o advento das vacinas, mas as coisas não andam fáceis mesmo assim. E por aqui, na República Miliciana do Brasil, tudo vai às avessas. No mundo, leve tendência de queda na curva de contágio; no Brasil, tendência de alta ou, no mínimo, de estabilidade dos números, que têm mantido média superior a mil mortes diárias. No mundo, vacinação intensa; no Brasil, vacinação sendo interrompida, por falta de vacinas, e uma sucessão de notícias sobre irregularidades. No mundo, governos com discursos de união e medidas de proteção, ao menos, dos próprios cidadãos; no Brasil, o permanente discurso de ódio, desprezo e negação da ciência, além de reiteradas medidas para destruir o país.

Não surpreende que a grande festa do povo, o carnaval, tenha sido cancelada. Aliás, adiada para junho. Rendeu até uma piada inteligente: se o ano só começa depois do carnaval, então estaremos em 2020 até junho?! Chiste ainda na pegada de que 2020 foi o pior ano já vivido. Pode até ter sido, mas isso não fornece garantia alguma de que 2021 não será ainda pior.

Em suma, não houve os desfiles, praias e outros pontos turísticos foram fechados e a polícia andou embaçando festinhas domésticas clandestinas. De habitual, por estas bandas, só o clima chuvoso desta época. Ontem, por sinal, um dia inteiro de chuva fraca (que eu espero não haver causado muitos transtornos aos moradores de baixadas) e uma temperatura simplesmente deliciosa, que eu queria para a minha vida inteira. Mas hoje, quarta-feira de cinzas, carnaval acabando, o dia está algo nublado, mas o sol já deu as caras e o ar abafado, também. Se festa houve, parece que está mesmo no fim.

De novo e como sempre, realidade voltando.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

Belém, 405 anos: tempo de reconstruir

Puxe pela memória: como foi o aniversário de Belém em 2020?

Foi antes da pandemia. Ainda vivíamos o antigo normal ao qual estávamos acostumados. Podíamos aglomerar e celebrar, mas não houve celebrações além da claque. Houve, sim, muitas reclamações sobre as condições da cidade. Entre os maiores queixosos, os feirantes do Ver-o-Peso, que de algum modo protagonizam essa festa, até porque estão em nosso principal cartão postal. Houve alguns eventos, mas não a entrega de obras que pudessem melhorar nossas condições de vida.

Quanto mais o tempo passa desse jeito, mais fica minada a autoestima de um povo. Esse desalento era manifesto e crescente.

Mesmo que você não aprove a atual gestão municipal, dê uma olhada no que a imprensa publicou neste 12 de janeiro, inclusive os veículos não pertencentes à família Barbalho. Novamente, a parceria entre os Executivos municipal e estadual marcou presença, com ações concretas, capazes de gerar benefícios para a população. Havia algo a ser visto e isso, com certeza, animou um pouco o coração das pessoas. O meu, pelo menos. Duvido que eu seja o único.

Homenagem do partido do prefeito.

Quando o espírito está alquebrado, comemorações parecem deboche. Hoje, não. Hoje, assim me pareceu, as pessoas estavam movidas pela esperança própria das novidades. Não sabemos como as coisas ficarão à frente. São esperadas grandes dificuldades, seja pelos efeitos da pandemia, seja pela destruição econômica do país, seja pela previsão de chuvas intensas nas próximas semanas, etc. Há muito com que nos preocupar. Por isso mesmo, sem tirar os pés do chão, é importante destacar as escolhas que estão sendo feitas por nossos governantes. Não sabemos de tudo. O que está sendo mostrado parece bastante positivo. Adiante, saberemos melhor.

Enfim, minha cidade completou hoje 405 anos de fundação. E pela primeira vez em muito tempo eu me sinto minimamente satisfeito, pois ao menos demos um passo rumo à continuidade de nossa existência.

Boa sorte para nós.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Bora Belém!

Edmilson Rodrigues mostra que evoluiu. Em seu ótimo discurso de posse, ele anunciou a apresentação de um projeto de lei criando o programa de transferência de renda apelidado de "Bora Belém", uma das mais importantes promessas de sua campanha. Já naquele momento, ele disse que poderia instituir o programa por decreto, mas que, em respeito ao poder legislativo, preferia fazê-lo mediante um projeto de lei.

Obviamente, por trás do discurso conciliador, há muito mais a ser pensado. E é isso que me faz dizer que nosso alcaide evoluiu.

Realmente, Edmilson poderia ter editado um decreto criando o "Bora Belém". Em 1997, ao assumir seu primeiro mandato, seu primeiro ato foi, por decreto, instituir o Fundo Ver-o-Sol, à época um dos carros-chefes de seu programa de governo. Agora, estamos falando de um programa de transferência de renda, que pretende pagar 450 reais às famílias pobres da cidade, ou seja, vai impactar fortemente o orçamento municipal. Verbas precisarão ser realocadas e isso é um grande desafio, à luz da responsabilidade fiscal. Além disso, como a lei orçamentária é elaborada no ano anterior, todo chefe de executivo inicia seu mandato realizando um orçamento concebido por seu antecessor, que tinha políticas diferentes (ou nenhuma). O prefeito tem um teto apertado para fazer remanejamentos orçamentários e, acima desse teto, precisa pedir autorização da Câmara Municipal. Pois bem, Edmilson já resolveu tudo isso.

Foto: reprodução do Facebook da CMB

Com uma só tacada, ele realizou todo o pressuposto jurídico para cumprir sua tão importante promessa de campanha; mostrou grande espírito público ao marchar junto com os vereadores, que aprovaram o projeto por unanimidade (quem iria pagar o custo político de ser contrário?); obteve a autorização legislativa para o comprometimento orçamentário necessário à implementação do programa; e, claro, dividiu responsabilidades. "Bora Belém" não é obra do prefeito, apenas: é de ambos os poderes. E vale lembrar que ele conseguiu isso no oitavo dia de mandato. Gênio!

No momento em que o auxílio emergencial desaparece e deixa milhões de brasileiros à própria sorte, com a pandemia rolando sem previsão de alívio, em Belém haverá ao menos um socorro financeiro aos necessitados. É uma oportunidade de outro de mostrar, aos entusiastas da direita, e em última análise ao presidente da República, a importância das políticas de transferência de renda. Daqui a alguns meses poderemos ver como se saiu Belém, frente aos outros Municípios, carentes de política semelhante.

Vale lembrar que, quando uma pessoa pobre consegue dinheiro, ela compra comida, remédio, gás, roupa, transporte, etc. Todo esse dinheiro é consumido em suas necessidades básicas, em nível local. Por conseguinte, esse auxílio é reinjetado na economia local na forma de renda para os comerciantes e outros prestadores de serviço. Todo mundo sai ganhando. Menos o idiota útil, que continua bostejando asneiras sobre "assistencialismo", "vitimização" e coisas do gênero. O lambaio que se acha capitalista sem ser dono de nenhum meio de produção ou capital financeiro.

Até aqui, Edmilson vai acertando. Quanto ao mais, o tempo dirá. Estamos de olho e, por ora, satisfeitos.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

"Quem teme o tapa não põe a cara na tela"

Na postagem "Pato Donald", de 10 de dezembro último, manifestei meu desagrado em relação a titulares de mandatos executivos que não comparecem à posse de seus sucessores, e portanto se negam ao ato simbólico de passar a faixa, com o que demonstram falta de espírito público e mesquinhez de caráter. Zenaldo Coutinho não quis carregar essa pecha e teve a dignidade de comparecer à posse de Edmilson Rodrigues e de praticar todos os atos previstos no protocolo. Mas ele sabia que haveria um custo e a fatura foi cobrada.

Na primeira sessão, destinada à posse dos vereadores e à eleição da nova mesa diretora da Câmara Municipal, todos estavam amiguinhos, gentis e prestativos. Coube a Fernando Carneiro (PSOL) lembrar, da tribuna, que o prefeito precisa atender os vereadores e não apenas seus apoiadores. Ele classificou a CMB, nos últimos anos, como "subsecretaria do poder executivo" (pense naquele meme do cavalo dando um coice). Ninguém protestou ou respondeu. O mais importante é que a mensagem foi dada. Zenaldo ― ironizado pelo povo como "Zeraldo" ou "Zé Nada" por sua absoluta nulidade como gestor ― pode passar oito anos fazendo nada porque tinha uma bancada de sustentação com 30 vereadores, de um total de 35. Não precisa explicar. Até onde sei, foram as piores legislaturas que Belém já teve.

No momento em que Carneiro discursava, contudo, Zenaldo ainda não estava no plenário. Ele entrou depois, já para a segunda sessão, destinada a dar posse ao prefeito e seu vice. Quando o presidente da casa, Zeca Pirão, decidiu conceder a palavra aos vereadores que não puderam falar na anterior, o clima pesou. O primeiro que assomou à tribuna foi logo dizendo que a periferia de Belém está abandonada. Também manifestou sua "frustração" porque, durante todo o seu mandato, não conseguiu ser atendido pelo prefeito uma vez sequer.

Foi o que bastou para Zenaldo se lembrar de que tinha "uns afazeres" (palavras de Zeca Pirão) e pedir para sair. A transmissão da faixa foi antecipada e se acabou a era Zenaldo Coutinho, com um discurso no qual ele apelou para as muitas crises que o teriam atrapalhado e para as muitas obras que ele afirma ter feito. Reclamou que, no calor das disputas políticas, as pessoas falam palavras que ferem. E assim ele contará a sua versão dos fatos doravante. Esse é o seu legado. Não me parece algo para se orgulhar.

Ainda que Zenaldo tenha saído pela porta da frente, saiu correndo (falo no sentido figurado, mas ainda assim é deselegante e sintomático). Fugir foi bom para ele, pois o vereador seguinte veio com mais força. Chegou classificando o vazante como o pior prefeito da história de Belém, incompetente e habituado a perseguir seus opositores. 

Sob nova direção, o tom dos discursos deixou as amenidades e passou ao enfrentamento da realidade. Isso muito embora Edmilson tenha feito um discurso bastante conciliador e amistoso. Todavia, ele desmentiu Zenaldo em dois aspectos da maior gravidade. Zenaldo disse que realizou plenamente a transição dos governos, apresentando todas as informações e documentos necessários (que supostamente estariam no sítio eletrônico). Edmilson disse que as informações, p. ex. sobre a situação financeira do Município, não foram repassadas. Antes dele, Ivanise Gasparim, que será Secretária de Saneamento, também se queixou de omissão de informações em sua pasta.

O segundo ponto é que Zenaldo afirmou ter deixado 24 milhões de reais de superávit no caixa da Prefeitura, porém Edmilson falou sobre dívidas que somam 200 milhões de reais, para desembolso iminente. Alegou ter ficado "um pouco aliviado" com as informações do antecessor. Está um doce, o rapaz. Mas quem estará com a verdade, afinal?

Infelizmente, a transmissão da CMB (de péssima qualidade, por sinal) foi interrompida. Não pude ver o final do discurso e o que mais ocorreu. Mas tudo bem. Vamos à vida. Em uma coisa todos concordam: Edmilson está lascado, pois tem que reconstruir uma terra arrasada. Boa sorte para ele e, claro, para todos nós.

**********

Os versos "Quem teme o tapa/ não põe a cara na tela" integram a canção "O hacker", de Zeca Baleiro.

Depois de 16 anos, Belém tem prefeito novamente!

Edmilson Rodrigues e meu ex-professor, Edmilson Moura, tomaram posse na tarde de hoje, respectivamente como prefeito e vice-prefeito de Belém. Em sessão anterior, os vereadores eleitos no último mês de novembro também foram empossados, sendo 18 fora de situação de reeleição, o que implica grande renovação da Câmara Municipal de Belém, uma necessidade premente. Dentre os edis, Bia Caminha, em quem votei. Por conseguinte, estou satisfeito como há milênios não me sentia.

Crédito: reprodução do Facebook


As sessões de posse dos vereadores, primeiro, e da chapa do Executivo, depois, foram marcadas pela emoção de alguns que se manifestaram e pelo tom de cordialidade e até de brincadeira, com direito a vereador empossado sendo liberado para se concentrar com o time, pois é goleiro.

Eleita também a nova mesa diretora da Câmara, como esperado, Zeca Pirão, o mais bem votado de todos os eleitos e membro da maior bancada (do MDB, partido do governador Hélder Barbalho), é o novo presidente da Casa, o que é bom para o prefeito, já que o governador ofereceu parceria ao novo governo municipal. Vale lembrar que Hélder postou uma foto, em rede social, no dia do segundo turno da eleição, em que ele e a esposa apareciam trajando camisas de cor lilás, a cor de campanha da chapa PSOL-PT. Para bom entendedor...

O novo prefeito citou explicitamente a oferta de parceria, em seu discurso. Portanto, isso confirma que Edmilson chega a seu terceiro mandato em um cenário brutalmente diferente ao do período 1997-2004. Em 1996, ele foi eleito como azarão e teve contra si uma campanha implacável que reunia o governo do Estado (à época, na pessoa de Almir Gabriel, dono de uma fama de perseguir inimigos), a Assembleia Legislativa, a Câmara Municipal, outras instituições (que não deveriam funcionar como puxadinhos do governador), a mídia (à frente, as Organizações Rômulo Maiorana, que funcionavam como "diário oficial" do PSDB) e o empresariado. Agora, Edmilson retorna bem mais experiente, com avanços pessoais (a continuidade de sua formação acadêmica) e políticos (sua combativa atuação como deputado federal). Seu tom é mais conciliador e se abre para uma Câmara Municipal repleta de pessoas prometendo apoio ou, pelo menos, "oposição de qualidade", um governo do Estado amistoso e a simpatia, ao menos, do grupo de comunicação da família Barbalho. Se bem que o tom das ORM parece bem leve, também.

Outro mérito de Edmilson é ter como vice uma pessoa que nós sabemos quem é o que fez nos últimos anos. Edilson Moura tem uma atuação política respeitável e está à altura do cargo hoje assumido. O mesmo não se podia dizer da maioria dos vices anteriores (exceção, talvez, a Orlando Reis, por seus muitos anos como vereador, atuação que nos faz saber quem é, mas não angariar meus elogios). O nefasto Duciomar Costa teve como vice um político de carreira que mudou o domicílio eleitoral para concorrer ao cargo, pois sua base sempre fora o sudeste do Estado, ou seja, oportunismo. E o inoperante Zenaldo Coutinho teve uma vice que eu nunca soube de onde saiu. E caso o prefeito hoje fosse o delegado especial de classe especial, seu vice era um sujeito tão sem noção e desagradável quanto o titular.

Enfim, hoje temos algo a comemorar. Já era tempo!

terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Uma nova legislatura?

Levo muito a sério a política municipal. Afinal, é no Município que vivemos. São as decisões locais que afetam de modo direto o nosso cotidiano, nas coisas mais simples e necessárias, como abastecimento dos mercados, transporte, iluminação, saneamento, etc. Por quase 4 anos, entre 1997 e 2000, fui assessor na Câmara Municipal de Belém. E por 2, entre 2001 e 2003, fui procurador jurídico do Município de Belém. Ou seja, passei cerca de 6 anos de minha vida lidando diariamente com aspectos da gestão municipal, seja no Legislativo, seja no Executivo. Fiquei muito mais interessado na questão. E conheci de perto alguns rostos e nomes.

Passados 17 anos, eu simplesmente não tenho ideia de quem são muitos dos atuais vereadores de Belém. E alguns eu só sei que existem porque foram citados aqui e ali, por alguma razão, inclusive as estúpidas, como fazer um projeto de lei instituindo o "dia do orgulho heterossexual". E olha que eu tento ser minimamente informado. Por outro lado, alguns vereadores que já estavam aboletados na Câmara Municipal nos meus tempos de assessor ainda estão por lá! Mais de duas décadas transformando a vereança em carreira, porém sem compromisso de produtividade, porque simplesmente não se escuta, não se lê, não se vê nada que esses caras tenham feito, a não ser sustentar prefeitos vergonhosos.

Veja quem são os atuais vereadores de Belém (por seus nomes parlamentares e, mesmo assim, é possível que você jamais tenho ouvido falar de vários deles): Adriano Coelho, Altair Brandão, Amaury da APPD, Bieco, Blenda Quaresma, Celsinho Sabino, Dinely, Dr. Chiquinho, Dr. Elenilson, Emerson Sampaio, Enfermeira Nazaré Lima, Fabrício Gama, Fernando Carneiro, Gleisson, Henrique Soares, Igor Andrade, Joaquim Campos, John Wayne, Lulu das Comunidades, Marciel Manão, Mauro Freitas, Moa Moraes, Nehemias Valentim, Neném Albuquerque, Nilda Paula, Paulo Queiroz, Pablo Farah, Professor Elias, Professor Wellington Magalhães, Rildo Pessoa, Sargento Silvano, Simone Kahwage, Toré Lima, Wilson Neto e Zeca Pirão.

A primeira vergonha é que só há quatro mulheres na câmara, de 35 vagas. Em azul, os que se reelegeram: são 16 no total. Eu sempre espero uma renovação maior, mas não adianta. Estar no cargo proporciona inúmeras conveniências, em alguns casos nada republicanas. No entanto, preciso destacar que há, sim, nomes cuja reeleição me deixa muito satisfeito. No geral, é bom que tenhamos uma renovação superior a 50%, com 19 calouros: Allan Pombo, Augusto Santos, Bia Caminha, Dona Neves, Emerson Sampaio, Fábio Souza, Goleiro Vinícius, João Coelho, Josias Higino, Juá Belém, Lívia Duarte, Matheus Cavalcante, Miguel Rodrigues, Renan Normando, Roni Gas, Pastora Salete, Túlio Neves, Vivi e Zeca do Barreiro.

Agora são 6 vereadoras. Uma vergonha, uma lástima. A ausência de representatividade segue a toda, ainda mais se pensarmos que tem muito classe média se metendo em política pensando em projetos pessoais, porque não possui uma verdadeira base eleitoral. Alguns só têm um curral, mesmo. E os nossos vícios permanecem: eleger jogador de futebol aposentado de time ruim, os onipresentes evangélicos, etc. Mas há o que comemorar, sem dúvida. Há candidaturas que se forjaram nas ruas e conquistaram mandato sem dinheiro de papai, de empresário, de político que não podia apoiar mas apoiou, etc. Encaro como um avanço minúsculo, mas um avanço. Só de pensar que os vereadores vintenários vão finalmente pegar o beco e, junto com eles, o sargento (bolsominion arrependido) e o truculento apresentador de programa mundo-cão. São pequenas alegrias da vida adulta, parafraseando Emicida.

Ao conceder entrevista após o anúncio de sua eleição a prefeito, Edmilson Rodrigues disse ter sido procurado por 20 vereadores eleitos, dando a entender que essa será a sua base de sustentação. Do outro lado, seriam 15 edis na oposição. É numericamente maioria, mas vale a pena lembrar que é da natureza de muitos desses partidos negociar apoio. Logo, mesmo que seja esse o cenário, Edmilson não deve governar em céu de brigadeiro. Mas já seria bem melhor do que em seus dois mandatos anteriores, sendo sabotado por todos os lados. Pessoalmente, acredito que essa tensão é positiva, porque obriga o Executivo a vigiar sempre, a escutar, a ponderar, a se justificar, a ser mais humilde. Coisa muito diferente do que fez um prefeito medíocre como Zenaldo Coutinho, sustentado por 30 vereadores. Assim se consegue tudo, mesmo que isso afunde a cidade, como afundou.

Assim como o Congresso Nacional desceu ao nível mais degradante de sua já não honorável história, a Câmara Municipal de Belém também dá vergonha. Mas tudo muda quando se tem um governo de esquerda. Os acomodados se levantam, a imprensa se torna superfiscalizadora, as instituições públicas não dormem, à caça da mínima improbidade. Enfim, as forças se alinham, tudo se conflagra para que o projeto dê errado.

Seja como for, prefiro navegar nesses mares revoltosos do que nas águas plácidas da direita. Quando o povo se cala, a imprensa finge não ver, as instituições cruzam os braços e a politicalha intenta golpes, tudo parece no lugar. Mas nós, povo, estamos perdendo. Com a esquerda no poder, ninguém dorme. E essa é a única oportunidade de algo bom acontecer para quem vive em uma cidade combalida como Belém.

Em tempo: Após esta publicação, tomei conhecimento de que a vereadora eleita Vivi Reis assumirá o mandato de Edmilson Rodrigues na Cãmara dos Deputados, pois é sua suplente. Em seu lugar, a Enfermeira Nazaré Lima assumirá um segundo mandato como vereadora. Portanto, será mantido o número de mulheres e a identidade partidária, pois ambas são do PSOL. Serão, portanto, 17 vereadores reconduzidos e 18 calouros, mas isso não mudará a relação com o futuro prefeito.

domingo, 15 de novembro de 2020

E as eleições em Belém, hein?

Algum choque e muita indignação: é como me sinto após o resultado das eleições municipais de hoje. Um sujeito que, até um dia desses, eu e milhares de pessoas não sabiam sequer que existia, e que aparecia em quarto lugar nas pesquisas de intenção de voto, vai ao segundo turno com 23,05% dos votos válidos. Um sujeito cujo nome de campanha privilegia o seu cargo na segurança pública, desvelando uma modinha dos últimos anos, para angariar a simpatia da turma que acredita na violência como estratégia de coexistência social. Um fulano cujo material publicitário copiava o utilizado pelo atual presidente da República, o excrementíssimo. Dize-me com quem andas.

O sentimento é de nojo. Ficou claro que a direita em Belém, além de canalha como sempre, especializou-se na covardia: diz que vai votar nos candidatos da direita limpinha, mas vota mesmo no projeto que se apresenta alinhado à proposta fascista nacional.

Edmilson Rodrigues confirmou as pesquisas. Ficou em primeiro, com 34,26% dos votos válidos, portanto dentro da margem de erro. Com uma diferença de pouco mais de 11%, precisará trabalhar duro para se eleger, já que a máquina bolsonarista e o aparato evangélico vão tocar o terror nas próximas duas semanas. Há muito o que temer.

Priante ficou no lugar de sempre: segundo, terceiro colocado. Nunca passa disso. Não sei até quando esse inexpressivo deputado federal de carreira vai insistir em governar Belém. Ele perdeu o seu melhor momento, com o primo no governo do Estado e dispondo de ótima avaliação quanto ao seu mandato. Mas não transferiu voto. O resultado também confirmou as pesquisas... e o currículo do moço.

Os playba que se tornaram deputados estaduais catapultados pelo capital político e financeiro dos pais também malograram. Mas isso era sabido. A função desse tipo de candidatura não é se eleger, mas promover os nomes das figuras para eleições futuras. Aguarde 2022: vão tentar a Câmara Federal. A prefeitura de Belém e o governo do Estado devem estar nos planos, ou ao menos nos sonhos, mas de verdade apenas depois que derem um balão pelas esquinas de Brasília.

E os demais estavam ali cientes de que o resultado era isso mesmo. Exceto, talvez, Vavá Martins, que sempre pode contar com o rebanho para fazê-lo subir em seus projetos de poder. Se fosse um bom pastor, devia ficar na igreja, né?

Tenho ao menos a alegria de ver eleita a minha vereadora, Bia Caminha. Vai para a tenebrosa Câmara Municipal de Belém levando a voz das periferias. Espero que dê muito trabalho aos homens brancos endinheirados e aos lambaios do capital que andam por lá. 

Estamos longe da tranquilidade. Belém parece gostar de roleta russa.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Pequena lição de segurança no trabalho

A obra de uma clínica está quase concluída, aqui às proximidades de casa. Parado no sinal fechado, olhei para o lado e vi isto:


No alto de um andaime sem qualquer amarração, um homem desprovido de equipamentos de proteção individual pintava a parede, calculo que a pelo menos 10 metros de altura. Apoiava-se em duas tábuas. No momento em que fiz o registro, um segundo homem subiu para levar uma terceira tábua, a fim de aumentar a área disponível para pisar. Este segundo homem usava sandálias que, como bem sabemos, podem se soltar e, por isso mesmo, são proibidas até para conduzir veículos automotores.

Pena que a foto não mostre, mas havia, sim, um elemento de segurança: o segundo homem usava máscara! Um esforço para não morrer, de covid-19, ao menos.

PS ― Na eventualidade de alguma coisa despencar ― o rolo de pintura, o galão de tinta, o pintor, etc. ― havia, sim, uma boa chance de cair para além dos limites da clínica, sobre a calçada, atingindo um transeunte. Em caso de sinistro, vale lembrar que a clínica ainda não está funcionando, então seria aquela coisa romântica de sabe lá o que é morrer de sede em frente ao mar.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Como se fora um jornal vespertino

1

4 horas e 35 minutos. Foi o tempo transcorrido entre a publicação de minha postagem sobre o Prof. Hugo Rocha e a manifestação de um leitor, por sinal um querido amigo, viabilizando o contato. Já tenho como acessar meu mestre. A internet faz maravilhas, quando as pessoas não estão empenhadas em usá-la para o mal.

2

O calor excessivo provoca aumento na evaporação, saturação mais rápida da umidade do ar e, consequentemente, chuva. Esta última parte não estava funcionando. Esta tarde, finalmente, após dias e noites de calor inaceitável, choveu convincentemente sobre Belém. Misericórdia. Espero que o aguaceiro não tenha causado prejuízos, mas o fato é que estávamos precisando desse alento.

3

Embora milhões de brasileiros tenham feito uma opção por renunciar a elas, os funcionários do Banco Mundial estão demonstrando virtudes altamente urgentes: coerência e decência. Enviaram uma carta a seus superiores, opondo-se à nomeação, como diretor, de um dos indivíduos mais repugnantes oriundos do governo brasileiro, pelo menos até que certas posturas sejam revistas. Deixam mensagem clara: se querem ser a maior instituição financeira de desenvolvimento do mundo, seus integrantes devem ter integridade pessoal e comprometimento com as populações a serem atendidas, notadamente indígenas. Eu não passo pano para bancos. Meu elogio vai para esses funcionários. Inspirador.

domingo, 8 de janeiro de 2017

Pequenas sugestões para Belém

Belém não tem prefeito há vários anos. Para mim, isto é um fato, não importa o que diga a absurda propaganda dos senhores deste engenho, encastelados no governo do Estado e ramificados nas demais instituições públicas. Masoquistas que somos, ou talvez loucos por abandono e mesmo morte, nós reelegemos as nulidades, circunstância que a qualquer observador induziria a conclusão de que merecemos a nossa sorte.

No entanto, eu vivo aqui e quero uma vida melhor para mim, minha família, meus amigos e para cada pessoa que aqui tem as suas raízes ou simplesmente está de passagem. E olhando em volta, podemos perceber medidas relativamente simples, que poderiam ser implementadas de imediato, com gastos módicos, a desviar do habitual argumento de inexistência de verba.

Assim, para não ficar na crítica vazia e nos discursos figadais, seguem algumas sugestões de medidas concretas a serem implementadas por um gestor de boa vontade (se tivéssemos ao menos um gestor, nem sonharei com a boa vontade!):

1 Melhorar a iluminação pública

Belém é uma cidade soturna. Trafegar à noite, inclusive nos bairros privilegiados, provoca uma sensação aflitiva. Não sei você, mas a escuridão me deprime. Além disso, aumenta a sensação de insegurança em relação a ataques criminosos. Durante a gestão do pernicioso Duciomar Costa, não tínhamos sequer iluminação natalina. Agora temos, mas restrita, é claro, a logradouros como Avenida Nazaré e Visconde de Souza Franco, além da Praça Batista Campos, que não é uma iniciativa do poder público.

No entanto, o contribuinte paga pela iluminação pública. Só não a recebe, exceto nas notícias publicadas na página da Secretaria Municipal de Urbanismo (http://www.belem.pa.gov.br/app/c2ms/v/?id=13), mas aí são tucanos fazendo propaganda, então já sabemos.

É urgente expandir e melhorar a iluminação da cidade, inclusive adotando padrões mais modernos, p. ex. substituindo as lâmpadas de vapor de sódio por LED (cf. http://www.forumdaconstrucao.com.br/conteudo.php?a=3&Cod=1222).

2 Combater a aridez da cidade

Cidade das mangueiras? Só se for nos bairros ditos nobres e olhe lá. Quanto mais o tempo passa, nossa cidade vai perdendo todo o verde e se tornando cada vez mais cinzenta e inóspita. O poder público parece tão acostumado ao processo de favelização que não se importa mais em nos legar blocos de concreto em vez de passeios ou canteiros centrais com um mínimo de urbanização.

Um exemplo bem característico é a Av. Júlio Cézar. Reinaugurada com pompa quando o governador Almir Gabriel se ufanava de ser o verdadeiro prefeito de Belém, enquanto prejudicava deliberadamente a gestão de Edmilson Rodrigues, tinha uma bela iluminação e um bem cuidado canteiro central. Os restos disso ainda podem ser vistos no trecho entre Almirante Barroso e Pedro Álvares Cabral (durante o dia, porque à noite é um breu só). No entanto, no trecho entre os dois elevados, a desolação é lastimável. O prolongamento da Avenida Independência é outro exemplo de projeto que já saiu da prancheta feio, sem cor, morto.

Fazer projetos com paisagismo e arborização é uma medida urgente. Alguém é capaz de dizer onde existe uma flor nesta cidade, que não seja em propriedades privadas?

Código de Posturas de Belém, este desconhecido: 

Art. 24 – Para proteger a paisagem, os monumentos e os locais dotados de particular beleza e fins turísticos, bem como obras e prédios de valor histórico ou artístico de interesse social, incumbe à Prefeitura, através de regulamentação adotar medidas amplas, visando a:
I – preservar os recantos naturais de beleza paisagística e finalidade turística mantendo sempre que possível, a vegetação que caracteriza a flora natural da região;
II – proteger as áreas verdes existentes no Município, com objetivos urbanísticos, preservando, tanto quanto possível, a vegetação nativa e incentivando o reflorestamento;
III – preservar os conjuntos arquitetônicos, áreas e logradouros públicos da cidade que, pelo estilo ou caráter histórico, sejam tombados, bem assim quaisquer outros que julgar conveniente ao embelezamento e estética da cidade ou, ainda, relacionadas com sua tradição histórica ou folclórica;
IV – fiscalizar o cumprimento de normas relativas à proteção de beleza paisagística da cidade.

3 Recolher automóveis abandonados

Por onde você ande na cidade, inclusive nos bairros centrais, não é difícil encontrar automóveis abandonados, alguns já na condição de sucata. Os problemas daí decorrentes são vários, desde à mobilidade (existência de um obstáculo permanente à passagem de pessoas) até a saúde pública (focos de proliferação de mosquitos). Mas este é um problema que admite solução imediata com custo mínimo: remoção do carro ou sucata, notificação do proprietário (se conhecido) e cobrança dos encargos cabíveis.

Com um pouco mais de boa vontade, podemos acabar com os ferros-velhos e oficinas instalados em plena via pública. Poderíamos começar pela Av. Pedro Miranda, entre Doutor Freitas e Alferes Costa.

4 Corrigir o sentido das vias marginais ao canal da 3 de Maio

Ainda no tempo em que Hélio Gueiros era prefeito, quando aconteciam as obras da macrodrenagem da Bacia do Una, uma medida foi implementada para melhorar o acesso à Universidade da Amazônia: foram invertidas as mãos das marginais do canal da 3 de Maio. E como aqui ninguém se importa com nada, a besteira permanece do mesmo jeito até hoje. Na confluência com a Av. Antônio Barreto, trecho de grande tráfego, a confusão se estabelece entre quem quer seguir adiante e quem quer dobrar.

A meu ver, e admitindo minha condição de leigo em engenharia de trânsito, uma solução razoável para aquele trecho tão complicado seria corrigir o sentido das vias marginais e instalar, na Antônio Barreto, antes do canal, uma faixa elevada para travessia de pedestres (figura ao lado, meramente ilustrativa). Com isso, acabaríamos com o deslocamento em X que os condutores precisam fazer atualmente, para seguir pela 3 de Maio, reduzindo a velocidade para viabilizar o cruzamento da via sem a necessidade de semáforo (outra desgraça que inferniza a vida do belenense).

Claro que, pensando um pouco, logo lembraríamos diversas outras sugestões simples para melhorar a qualidade de vida em Belém, do ponto de vista de quem enfrenta esses problemas. Para não perder a ideia, deixo aqui estas quatro e convido você a pensar em outras questões pontuais.

Agindo de maneira proativa, quem sabe consigamos que, no dia em que tivermos um prefeito, possamos implementar algumas boas ideias.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Chegando aos 400 anos

Nós vivemos em uma cidade. Também vivemos em um país (e na divisão territorial mais arbitrária, o Estado, que não existe nos Estados unitários). Mas a verdade é que vivemos em uma cidade, então as questões que nos atingem mais direta e cotidianamente são as locais. É o buraco na rua, o trânsito, o barulho, o abastecimento de alimentos, os alagamentos, o capim, a iluminação pública, etc. Mas vivemos obcecados pelo âmbito federal e, no geral do tempo, focamos na União, no Congresso Nacional e em uma série de questões que são importantíssimas, mas que não deveriam afastar a atenção sobre as questões locais.

Eu sou um municipalista. Preocupo-me demais com as questões citadinas e até me aflijo mais nas eleições municipais do que nas estaduais e federais. Porque sinto que um mau prefeito vai me prejudicar justamente naquelas questões cotidianas.

Depois de amanhã, nossa cidade de Belém completará 400 anos. Data redonda, importante; impossível ficar indiferente. Pelo que tenho visto em conversas e, claro, nas redes sociais, existe um sentimento disseminado de que não há muito a comemorar.

Abstraindo preferências partidárias e ideológicas, penso que qualquer pessoa poderia concordar com esta afirmação: as condições de vida em Belém estão muito aquém não apenas do desejável, mas também do que seria possível, em uma observação bastante realista. Fazendo um pouco mais de esforço, creio que a concordância se estenderia também a esta afirmação: Belém poderia estar em uma situação bem melhor se houvesse interesse de seus gestores, pois estamos com graves problemas de governo há muito tempo.

Para tentar escapar à doença de bipolaridade que domina a internet atualmente, tentarei ser o mais objetivo possível. Quero elencar alguns problemas urbanos que, por sua aparente simplicidade, poderiam ser resolvidos por qualquer prefeito, com alguma rapidez e sem gastos significativos, bastando portanto que ele quisesse fazer alguma coisa. Problemas escolhidos mediante o simplório critério de ir à rua e ver como as coisas estão.

Belém chega aos 400 anos, no século XXI, em um cenário de imensos avanços tecnológicos (no mundo), sem ter conseguido resolver, ou ao menos enfrentar de forma relevante, problemas singelos, tais como iluminação pública. Vivemos em uma cidade escura, soturna, o que proporciona um sentimento de aflição, além de aumentar o risco de violência. Não é o habitual abandono da periferia: os bairros centrais são escuros. Por quê?

Vivemos em uma cidade sem acabamento, digamos assim. Algo como uma obra que para no reboco, sem que as paredes sejam pintadas. Veja-se o caso da Av. Júlio César, uma importante via que, por conduzir ao aeroporto internacional, é uma das mais importantes portas da cidade. Na década de 1990, ela passou por uma grande intervenção: ganhou canteiro central com paisagismo, nova iluminação, pontos de ônibus com abrigos estilizados. Ficou vistosa. Nos últimos anos, no trecho entre a Av. Pedro Álvares Cabral e o aeroporto, foi alargada (para melhorar a circulação de veículos). Como está hoje? Podiam ter reconstruído o canteiro central; podiam ter feito uma iluminação melhor. Em vez disso, deixaram lá aqueles blocos de concreto que são usados em obras, mas não deveriam ser definitivos. Passo por aquele trecho e fico deprimido. É feio. Por quê?

Vivemos em uma cidade que discute, há décadas, a racionalização do itinerário das linhas de ônibus como forma de melhorar a fluidez de tráfego, mas isso jamais foi feito. Melhorar o trânsito é um problema muito complexo, então escolhi este item porque ele poderia ser feito mesmo sem obras de infraestrutura e sem custos além dos já existentes. Mas nada acontece. Por quê?

A lista poderia ser ampliada sem dificuldades. E se incluísses medidas que demandariam apenas uma realocação de recursos, certamente logo chegaríamos a um conjunto de propostas concretas e simples para melhorar, de verdade e sem demora, a vida dos belenenses.

Fiquem à vontade para apontar outras medidas, simples e baratas, que poderiam melhorar as condições de vida em Belém. Medidas cuja implementação dependeria tão somente da boa vontade de um prefeito minimamente comprometido com seus deveres.

sábado, 19 de dezembro de 2015

Autuação por câmeras

Mais uma polvorosa belenense: a Secretaria Executiva de Mobilidade Urbana (SEMOB) iniciou ontem o monitoramento por câmeras da área do Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro (que você conhece por Val-de-Cans)1 e está autorizada a multar condutores, por estacionamento irregular, de forma remota, sem qualquer abordagem ou advertência.

A fiscalização de trânsito, naquela área, sempre foi bastante errática. Nunca se sabia quando haveria agentes de trânsito lá e, em havendo, nunca se sabia quando estavam dispostos a fazer o que fazem de melhor. Várias vezes vi agentes ignorando por completo carros estacionados e trancados em local proibido. Mas já fui abordado por agentes me ameaçando de autuação enquanto eu sequer havia terminado de tirar a bagagem.

Com o novo procedimento, o problema está resolvido: você terá a sensação de vigilância ininterrupta e os agentes da SEMOB estarão livres para aplicar multas sem nenhum contato pessoal, sem atitudes pedagógicas, sem nada além do punitivismo mais raso. Exatamente como eles adoram. Mas isso não é tudo. Começa pelo fato de que, às vezes, o aeroporto está às moscas, praticamente sem movimento algum. Mesmo assim, não é permitido estacionar. Ninguém me tira da cabeça que a grande finalidade disso é forçar o uso do estacionamento pago, ao lado, atualmente cobrando a extorsão de 8 reais por cada encostadinha lá dentro. Ou seja, são diferentes entidades do poder público de mãos dadas para avançar sobre o nosso dinheiro e nem podemos gritar "pega ladrão".

E não se diga que quem não violar a lei não será multado. O problema é justamente esse: não podemos confiar na SEMOB. Se a lei realmente fosse cumprida, estaria tudo bem. Os autuados teriam feito por merecer. Que se danassem. Mas não é isso. Segundo o Código de Trânsito, a diferença entre parar e estacionar é que, no primeiro caso, você imobiliza o veículo apenas pelo tempo estritamente necessário para entrada ou saída de passageiros. Além disso, é estacionamento, mesmo que o condutor esteja dentro do veículo com o motor ligado. À distância, livres de qualquer argumentação, os gualdinhas terão amplos poderes para "interpretar" tudo como estacionamento. Imagine a situação em que o motorista desce para ajudar a tirar as malas: motorista fora do carro é estacionamento; logo, multado. Passageiro com dificuldade de locomoção demora bastante para saltar. De longe, o agente contabiliza o tempo de parada e entende que foi excessivo: multa. E por aí vai.

Em suma, a nossa desgraça é não confiar na moralidade pública. E termos motivos de sobra para isso.

O pior é que a ideia não é ruim, além de não ser ilegal. Eu mesmo defendo que o monitoramento por câmeras vire rotina, com direito a autuação efetiva. Adivinhe onde? Na porta da instituições privadas de ensino, claro! Quem me conhece um pouquinho sabe de minha guerra santa contra esses pilantras que infernizam o trânsito e merecem ser multados todo santo dia. A SEMOB tem razão ao dizer que a cidade possui diversos pontos críticos e que esse recurso pode ser uma solução. Concordo com isso. O problema é a sua absoluta falta de credibilidade. Daí não tem polícia de trânsito que resolva nada. Pena.




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1 A Lei federal n. 12.228, de 13.4.2010, modificou o nome para Aeroporto Internacional de Belém/Val-de-Cans/Júlio Cezar Ribeiro, com esta grafia, e o antigo Aeroporto Júlio Cezar, mais conhecido como Aeroclube, passou a denominar-se Aeroporto de Belém/Brigadeiro Protásio de Oliveira. Já havia tratado a respeito nesta postagem.

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Polícia de trânsito estilo Belém

Dia desses, uma viatura da SEMOB, modelo Toyota Etios hatch, adesivada com as características do órgão de trânsito, estacionou na Av. Júlio César, no sentido Almirante Barroso - Aeroporto, em frente ao Cassino dos Oficiais da Aeronáutica. Obstruindo a ciclofaixa, diga-se de passagem. Ali foi instalado um radar móvel de velocidade, que deve ter causado infelicidade a muita gente. Afinal, há anos o Superior Tribunal de Justiça assentou que são válidas as autuações por excesso de velocidade registradas por radar, mesmo que sem qualquer aviso aos condutores. O objetivo óbvio é que todos se controlem o tempo inteiro, não apenas no momento e nos locais onde há fiscalização.

Hoje, a viatura e o radar móvel estão novamente no mesmo local. Mas eles têm companhia! Na Duque de Caxias, sentido Marco - São Brás, salvo engano entre as travessas Perebebuí e Pirajá, encontra-se um Fiat Uno branco, contendo apenas um adesivo azul na porta, indicativo de veículo a serviço da Prefeitura de Belém, sem especificação do órgão. Convenientemente estacionado à sombra das mangueiras, em cima da calçada. Por isso, os condutores não prestarão atenção. Nem verão o radar móvel posicionado bem ao lado.

Não sou contra a fiscalização de surpresa. O que me emputece na atuação da SEMOB são as coisas de sempre: primeiro, o caráter exclusivamente punitivo (e consequentemente arrecadatório), sem qualquer interesse em medidas educacionais, em abordagem ao condutor, nem que fosse para passar um pito antes de realizar a autuação, o que poderia ter algum efeito pedagógico, que certamente não será alcançado com o mero recebimento da multa pelo correio.

O segundo ponto revoltante é a seletividade. A SEMOB parece obcecada com o controle de velocidade e até está reduzindo o limite em várias vias da cidade (Zé-Nada Coutinho jamais admitirá que está se inspirando em Haddad), mas simplesmente não se interessa por filas duplas e triplas ou por cruzamentos bloqueados, que são diários e causam gravíssimos prejuízos à mobilidade urbana. Não aguento mais falar disso, porque nada é feito. A cidade vive travada e mecanismos, legais e simples, que poderiam ajudar não são aplicados, por falta de interesse.

O resultado é que, entra ano, sai ano, as coisas só pioram. E o meu dia de fúria se aproxima.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Sinais exteriores

Belém continua com seus problemas crônicos, decorrentes em boa medida do mais crônico de todos: falta de governo. O diagnóstico é objetivo e pode ser constatado mediante um simples passeio pela cidade. As ruas continuam engarrafadas por toda parte; os pontos de ônibus, quando possuem abrigos, estão em mau estado de conservação; o transporte público é cada vez mais caro e ao mesmo tempo ineficiente; a iluminação pública deficitária nos colocou em uma cidade escura e soturna; os serviços públicos municipais são ruins, etc.

Isso nos leva a pensar em um panorama de empobrecimento geral. Contudo, aquele colunista de negócios publicou em sua coluna de ontem algumas informações curiosas. Noticiou, p. ex., que enquanto as concessionárias nacionais amargam uma queda acentuada nas vendas, aqui em Belém, em maio foi incrementada a venda de veículos importados de alto valor. A rebote, a venda de carros usados aumentou 3,5%.

Fenômeno semelhante acontece no mercado imobiliário: imóveis populares encalham, mas a procura pelos de luxo só aumenta, a tal ponto que o metro quadrado nos bairros de Umarizal e de Batista Campos já chegou a 10 mil reais!

A coluna destaca, como se fosse novidade, a venda de bicicletas de 50 mil reais em lojas especializadas da cidade e a expansão de comodidades nas marinas, para quem curte a vida a bordo de lanchas ou jet skis. Eu mesmo, que tento ser observador, posso afiançar o surgimento, nos últimos anos, de concessionárias de marcas mais sofisticadas, como Mercedes, BMW, Mini e Jeep.

Inevitável pensar que as condições socioeconômicas da região metropolitana de Belém estão mudando a olhos vistos, mas isso não é necessariamente algo bom. Afinal, segundo penso, a concentração de renda pode ser pior do que a pobreza. Certamente, ela tende a ser mais aviltante, porque torna mais evidente a diferença  usemos o termo distinção, por ter um sentido mais contundente  entre os brasileiros dos tipos A/B e os demais, classificados por letrinhas menos valorizadas.

Mas não é uma simples questão de aparência. Longe disso. À medida que o abismo se aprofunda, as consequências éticas e morais igualmente se problematizam. Quanto mais os A/B se encastelam em condomínios exclusivos e carros blindados, mais necessidade sentem de somente interagir com aqueles que considerem seus iguais. Os extranei não podem sentar-se à mesma mesa e somente podem frequentar os mesmos ambientes na condição de serviçais. Daí os shopping centers cada vez mais elitizados, que ainda não existem por aqui; só temos as salas VIP. E outros estabelecimentos cujos serviços vão-se tornando mais restritos simplesmente por causa dos custos. É como se todo tipo de comércio fosse virando uma espécie de clube social, onde você ingressa se preencher certos pré-requisitos. Até os campinhos onde antes se jogava pelada agora "evoluíram" para arenas de futebol society.

Não à toa, a intolerância tem sido a marca mais ostensiva nas interações sociais involuntárias, notadamente via internet. É a falta de empatia, de reconhecimento do valor alheio, ditando os modos de viver em um mundo crescentemente individualista e mau. Porque maldade é falta de empatia. E daí advém muito sofrimento.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

399 anos

Belém vive entre o esforço de autoafirmação, as lembranças de um belo passado e as agressões cotidianas ao seu próprio espaço e ao seu povo, que também é o responsável por essas agressões. Culpar os políticos e os gestores é fácil, mas não são eles que perpetram as mazelas de incivilidade que nos afrontam todo santo dia. O trânsito, a condição das feiras, a prestação de serviços públicos, etc., tudo poderia ser melhor se houvesse uma preocupação real, moral, em proporcionar isso. Não precisaríamos de políticos e não custaria um centavo sequer, de modo que poderia ser implementado imediatamente, sem licitação.

Aos políticos, deixamos outras reclamações, tais como a incapacidade crônica de realizar obras ou de concluí-las, quando acontecem. Veja-se, por exemplo, que o tal prolongamento da Av. Independência (que agora nem mais se chama assim) deveria ter sido entregue em setembro, ainda antes das eleições, embora o governo se tenha esquecido da prometida alça ligando a nova via à BR-316. Houve até teste em julho, com as pessoas sentindo o gostinho do trânsito desafogado para, depois, tirarem o pirulito da criança. Até hoje, nem notícia da inauguração.

Outro exemplo são as obras de duplicação da Av. Perimetral, atrasadas, e que de novo só geraram os protestos e bloqueios da semana passada, porque os moradores não aguentam mais transtorno sem resultado. E se é para falarmos de atraso, que tal a mais importante obra tucana: o prolongamento da Av. João Paulo II? Imensamente atrasada, tecnicamente questionada e sem data para conclusão.

Temos também o portentoso Aquário da Amazônia, anunciado, prometido e esquecido. Ficaria no Parque do Utinga, cujas obras de qualificação do espaço para recebimento do público igualmente não aconteceram. Nada além da construção de uma guarita. Enquanto isso, ninguém sequer vê o prefeito. Com ele, sem ele, tanto faz.

Comemorar o aniversário de Belém, assim, gera esse sentimento paradoxal, uma alegria triste, pelo tanto que poderíamos ter e não temos, ser e não somos. Incomoda-me, sobremaneira, viver reclamando, porque realmente não pretendo cultivar a síndrome de vira-lata nem me fazer de coitadinho. Mas vivo nesta cidade desde sempre, então é sintomático que sempre haja do que reclamar. Uma pena.

Desejo tempos melhores para a nossa cidadezinha, da qual gosto de verdade. Acho que eu poderia recomeçar em outro lugar, mas não tenho vontade. Prefiro ficar por aqui. Gosto de estar em vivem minhas raízes. Quem sabe qualquer hora dessas alguma coisa frutifica.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Começou para valer

Não dá para negar que 2015 começou para valer. Dois caminhões bateram e geraram um belíssimo engarrafamento para começar o dia, aumentando bastante o tempo de locomoção em um trajeto pequeno, como o que faço entre minha casa e o trabalho. Mas como bom belenense, dependente da lógica do mal menor, fiquei feliz ao constatar que se tratava de uma colisão (sem vítimas!), porque assim posso sonhar com um trânsito um pouco melhor nos dias vindouros. Passar pela mesma coisa todo santo dia seria desesperador...

Não que seja surpreendente, claro. Afinal, por aqui ninguém toma medidas decentes para melhorar o tráfego. A única coisa que se faz é instalar semáforos e, agora, radares, o que garante um deslocamento mais lento e uma arrecadação mais generosa para os cofres do órgão de trânsito. Nenhum investimento em educação, nenhuma ação disciplinar efetiva sobre os infratores (algo que, p. ex., impeça a prática cotidiana de travar cruzamentos), nenhuma melhoria do transporte público, etc. E vamos assim, sem sequer um bispo para nos queixarmos.

E olha que eu tinha prometido a mim mesmo reclamar menos este ano. Juro que vou tentar, mas...

Em todo caso, desejo uma ótima semana (ou resto dela) para todos. E lhes mando um grande abraço.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Eras de um hotel

Houve uma época em que o progresso constituía uma obsessão generalizada e, infelizmente, era percebido como uma ruptura com o passado: você só se tornaria grande e moderno se demolisse, inclusive no sentido literal da palavra, as estruturas e as aparências dos tempos idos. Devido a essa mentalidade hoje execrável, muitas edificações antigas, que hoje teriam valor histórico inestimável, foram arrasadas. Em uma cidade como Belém, que até o presente momento não aprendeu a valorizar o próprio patrimônio, essa realidade é particularmente angustiante.

O tempo passou e, atualmente, vive-se o confronto entre os desenvolvimentistas a todo custo, que são burros, mal intencionados ou ambas as coisas, e aqueles que tentam defender os patrimônios natural e histórico-cultural. Mudanças importantes aconteceram, como as normas sobre tombamento, a despeito de sua baixa eficácia, em muitos casos, por inoperância dos entes responsáveis. Isso explica, p. ex., a perda dos casarões que deveriam ser marca registrada de nossa cidade. Ou o dono os derruba na marra ou os deixa ruir sob o peso do tempo.

Mas é fato que a mentalidade mudou, por isso se pode perceber uma certa consternação a respeito do passado que se perde. A questão vem sendo debatida nestas plagas, recentemente, por conta de um episódio aparentemente prosaico: a expiração de um contrato para exploração de uma marca de hoteis. Voltemos no tempo.

Em 1913, a ainda pujante Belém do ciclo da borracha ganhou uma edificação deslumbrante: foi inaugurado o Grande Hotel, cujo proprietário, Teixeira Martins, também era dono do cinema mais antigo do Brasil ainda em operação, o Olympia, logo ao lado. Foi o primeiro empreendimento concebido no nascedouro para fins de hospedagem e chegou como maior hotel da Região Norte, com cem quartos, restaurante, bar e um famoso Terrasse, repleto de luxo, conforto e inovações, voltado para a lateral do Theatro da Paz1.

A muito conhecida fotografia do Grande Hotel.

Em uma época em que Belém era uma das cidades mais importantes do país, sinônimo de elegância e modernidade, grandes e singulares empreendimentos não surpreendiam por aqui. E eram bem explorados, como o próprio Grande Hotel, que ainda em 1913 ganhou o Palace Theatre, o qual não ficava a dever ao ilustre vizinho da frente em matéria de espetáculos de alta qualidade. Aos domingos, funcionava como cinema.

Pelo ângulo, a foto abaixo2 foi tirada do Edifício Manoel Pinto da Silva (na década de 1970, considerando a demolição do prédio). Mostra o Grande Hotel à esquerda e o Theatro da Paz, à direita, separados pelo túnel de mangueiras da Av. Presidente Vargas. Restaurado, esse monumento traria uma imponência singular àquela região da cidade.


Ainda segundo a matéria jornalística que consultei, o Grande Hotel foi vendido em 1948 para a rede InterContinental Hotels Corporation, o que foi um exemplo da tal modernidade: era a globalização chegando. O nosso foi o primeiro hotel do grupo construído fora de sua sede, Londres3. Mas o seu preço foi começar a adaptar o prédio "aos padrões americanos de conforto, praticidade e eficiência".

Não sei dizer se isso comprometeu o que hoje chamaríamos de valor histórico da edificação mas, seja como for, o pior estava por vir: na década de 1970, o empreendimento foi vendido para dar espaço ao Hotel Hilton Belém, parte da segunda maior rede hoteleira do mundo.

Em 1979. a obra de arte foi demolida, para dar lugar a uma americanidade: uma torre que nada mais é do que um retângulo cheio de quadradinhos como sacadas. Mas dotada de 361 apartamentos e, em minha opinião, decorada com um gosto muito duvidoso. Muito pouco inspirador. Abaixo, uma foto externa bonita, para tentar minimizar o desalento:


E assim, para pessoas de minha geração, o Grande Hotel é apenas uma memória jornalística ou de ouvir falar. Para mim, é como se aquela torre bege estivesse ali desde sempre. Mas a era Hilton, apesar de seus altos (em 2008, o hotel local foi premiado pela matriz como o melhor das Américas em atendimento aos hóspedes), entrou em declínio e agora acabou.

Em seu lugar, a partir de hoje começa a funcionar o Hotel Princesa Louçã. O nome, pomposo e em português castiço, provavelmente será considerado esquisito por muitos. Faz sentido, entretanto, para quem conhece o hino do Pará ("Salve, ó terra de rios gigantes/ D'Amazônia, princesa louçã!"). Segundo o novo empreendedor, trata-se de uma referência às qualidades de nossa região e à hospitalidade do povo paraense. Então tá. Legal mesmo seria o endereço na internet: www.princesalouca.com.br!

Sacou? "Princesa louca"! Mas a pessoa que pensou nisso já foi checar e disse que o endereço será outro.

Como não podemos ter o Grande Hotel de volta, só posso desejar sucesso ao Princesa Louçã. Que gere empregos e promova a nossa cidade. Afinal, somos conhecidos como a "terra do já teve". Não vale a pena perder mais do que já se perdeu.

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1 Cf.
http://diariodopara.diarioonline.com.br/N-126319-GRANDE+HOTEL++APENAS+HOSPEDES+DA+MEMORIA.html [acesso em 1º.12.2013]

2 Créditos da imagem: http://fauufpa.org/2012/04/30/rara-panoramica-de-belem-grande-hotel-e-reservatorio-paes-de-carvalho/ [acesso em 1º.12.2013]

3 Atualmente, o grupo é dono da marca Crowne Plaza, que mantém três operações no Brasil, uma delas em Belém. Cf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Hotel_Hilton_Bel%C3%A9m [acesso em 1º.12.2013]

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Carta aberta à rede Cinépolis Belém

Senhores representantes da Cinépolis Belém

Já faz algum tempo, os cinemas dessa empresa começaram a traçar nítida distinção entre as salas do Boulevard Shopping, as quais exibem filmes mais sofisticados, porém de menor apelo comercial (como "O grande Hotel Budapeste", para citar um recente), e onde são concentradas as sessões legendadas; e as do Parque Shopping, relegadas aos filmes mais populares e com sessões predominantemente dubladas.

A irritação com essa atitude tem sido crescente, sobretudo quando se observam semanas em que o Parque Shopping apresenta apenas uma —  tão somente uma! — sessão legendada. Sem uma explicação para o caso, permito-me especular.

O Boulevard é, por enquanto, o shopping mais sofisticado da cidade e está localizado em área nobre da cidade, tendo no seu entorno a população de maior poder aquisitivo. O Parque, por sua vez, localiza-se em bairro periférico e, embora seja administrado pela mesma empresa (a Aliansce), destina-se a um público mais modesto.

A Cinépolis, sendo uma empresa alienígena aqui chegada há menos de quatro anos, talvez não tenha prospectado adequadamente a praça de Belém e tomou decisões tipicamente capitalistas, ou seja, baseadas tão somente em sua perspectiva de maximizar seus lucros, sem a menor preocupação com os interesses da comunidade onde se inseriu.

Ao que parece, a Cinépolis acredita que somente os frequentadores do Boulevard têm educação formal bastante para se interessar por filmes de arte e para ler legendas ou, quem sabe, para treinar a escuta do inglês aprendido nas melhores escolas de idiomas da cidade. Já o público do Parque, parcamente alfabetizado, precisa das sessões dubladas porque mal consegue ler as legendas das comédias rasas ali exibidas. Se for minimamente esse o parâmetro, a Cinépolis tomou uma decisão nada inteligente.

De saída, a atitude é odiosa já pelo fato de ser discriminatória. Mas, além disso, ignora que o Parque se localiza na principal área de expansão imobiliária de Belém, densamente povoada, e onde se situam todos os condomínios horizontais considerados de alto padrão da cidade (Greenville I e II e Montenegro Boulevard, na Augusto Montenegro; Cristalville, na Transmangueirão, e Água Cristal, na Centenário). Não é possivel que a Cinépolis acredite que, nesse universo, não existe público suficiente para sessões legendadas nas salas do Parque.

No próximo ano, deve ser inaugurado o Shopping Bosque Grão-Pará, na confluência da Transmangueirão com a Centenário, portanto na mesma região. Ele promete se tornar o empreendimento mais requintado da cidade. E há rumores de que suas salas de cinema serão exploradas pela United Cinemas International (UCI), uma concorrente de peso. Convém pensar se vale mesmo a pena continuar a tratar os clientes do Parque como consumidores de segunda classe.

Em conclusão, o pedido é muito simples: harmonizem a programação dos cinemas de ambos os shoppings, no que tange à variedade, qualidade dos títulos e proporcionalidade (ao menos isso) entre sessões dubladas e legendadas. Basta isso.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Falando em português - Dicas 1 a 3: separação silábica

Uma postagem inicial chamada "carta de intenções" confere um ar algo dramático à ideia. Faz-nos pensar que o ato seguinte será grandioso, eletrizante, à altura de uma estreia. Em vez disso, muito contrariamente a isso, escreverei sobre um tema que me parece profundamente banal. E mesmo assim é necessário.

Em algum lugar do passado, uma professorinha que já nem me recordo qual disse à turma como separar sílabas. Não me lembro se anotei no caderno ou se apenas a vi escrevendo no quadro. Mas foi assim que aprendi. Foi a única vez que me disseram aquilo. Algo absurdamente simples porque, conforme fui aprender mais tarde, uma sílaba é um fonema, ou um grupo de fonemas, que pode ser emitido em um único impulso de voz.

Peça para qualquer ser humano que fale português, qualquer um mesmo, que pronuncie pausadamente uma palavra como "prato". Tenho certeza de que tal pessoa dirá "pra" e depois "to". Ninguém dirá "pr" (até porque isso não significa nada em nosso idioma), seguido de "ato". Diante disso, deveria ser intuitivo que, assim como não o fazemos quando falamos, sílabas não podem ser fragmentadas quando escrevemos um texto, mas isso acontece com uma frequência impressionante. Acaba a linha do papel e a pessoa, sem cerimônia, coloca o hífen e divide a palavra, onde quer que esteja. Imagine o pronome "minha" dividido assim: minh-/a. Ou o substitutivo "terrestre" assim: terr-/estre.

Aliás, pelo fato de a separação silábica se basear na linguagem falada, acaba por ser desenvolver uma lógica no erro na escrita. Não vejo ninguém desmontando sílabas de um modo que comprometeria o som da palavra. Algo do tipo dividir "abacate" escrevendo abac-/ate. Isso induziria a pessoa a ler, exatamente, "abac ate", então ninguém escreve assim (talvez eu esteja sendo otimista nesta afirmação, mas assumo o risco). Muitos conseguem, no entanto, a proeza de escrever cacho-/rro. E a regra segundo a qual a separação silábica nos dígrafos representados por letras dobradas ocorre justamente nestas escoa pelo ralo.

Existem, no entanto, sílabas compostas por uma única letra, como o a-ba-ca-te lá de cima. Por óbvio, nesse caso, é nela que deve ocorrer a divisão. No entanto, por uma dessas razões misteriosas que eu jamais soube, uma dessas regras que fazem a Língua Portuguesa ser quase uma espécie de criptografia, e que eu adoraria que me explicassem, é: não é permitido deixar uma letra sozinha na linha.

Em síntese, a coisa funciona assim:

errado                                   certo
minh-/a                                  mi-/nha
a-/bacate                                aba-/cate, abaca-/te
a-/núncio, anúnci-/o              anún-/cio

Então é isto. Todo mundo separando as sílabas nos lugares corretos.

Dica n. 1: Não separar palavras dividindo sílabas.

Dica n. 2: Nos casos de letras dobradas, elas pertencem a sílabas diferentes e a separação se faz nelas.

Dica n. 3: Sílabas compostas por uma única letra não ficam sozinhas na linha.

Fonte: http://www.portugues.com.br/gramatica/silaba-divisao-silabica.html

A cidade dos semáforos

Primeiro dia, hoje, de funcionamento em dia normal de trabalho do semáforo instalado na Av. Pedro Álvares Cabral, no limite da Prefeitura de Aeronáutica de Belém. Resultado: uma previsível e substancial retenção do tráfego.

As sumidades que gerenciam o trânsito nesta capital só conhecem um instrumento para contingenciar o comportamento de nossos psicopáticos motoristas: semáforos, semáforos e mais semáforos. Desconheço (e conto com a ajuda dos amigos para me informar se isso existe mesmo em algum outro lugar) outra cidade em que o sinal abre, você dobra à direita em uma avenida importante e dá de cara com outro semáforo  e fechado!  bem na sua cara, com apenas cinco metros de distância, o suficiência para um único automóvel. A depender da quantidade de veículos fazendo o trajeto, o congestionamento está garantido, até porque vai bloquear, ainda que parcialmente, o cruzamento.

É exatamente isso que acontece na Av. Almirante Barroso, a principal de Belém. Você passa da Perebebuí, da Lomas Valentinas, da Mariz e Barros (e progressivamente de novos cruzamentos) e lá está um semáforo acendendo a luz vermelha, breves segundos após lhe ter acenado com um verde.

O engraçado, ou mais detestável ainda, é que existe uma alternativa muito mais simples e barata para assegurar o direito do transeunte de atravessar a rua com segurança: o tempo do pedestre, este sim um recurso aplicado em várias cidades. Refiro-me ao período em que o sinal fecha para os veículos que trafegam por todas as vias, abrindo-se exclusivamente para pedestres. Para implementar uma medida dessas, não se gasta dinheiro nem sequer com tinta para pintar uma nova faixa de segurança. Basta regular os semáforos e informar a população sobre o novo procedimento. Simples assim. Dá para implantar a medida imediatamente, dona prefeitura.

Mas sou leigo no assunto, então provavelmente estou brutalmente errado. Certos, mesmo, devem estar esses gênios que, dia após dia, garantem que ninguém saia do lugar. Deve ser uma missão de vida: estimule as pessoas a correr menos, a contemplar mais a paisagem, a interagir com quem está ao seu lado. Pena que não seja na praia.