Belém vive entre o esforço de autoafirmação, as lembranças de um belo passado e as agressões cotidianas ao seu próprio espaço e ao seu povo, que também é o responsável por essas agressões. Culpar os políticos e os gestores é fácil, mas não são eles que perpetram as mazelas de incivilidade que nos afrontam todo santo dia. O trânsito, a condição das feiras, a prestação de serviços públicos, etc., tudo poderia ser melhor se houvesse uma preocupação real, moral, em proporcionar isso. Não precisaríamos de políticos e não custaria um centavo sequer, de modo que poderia ser implementado imediatamente, sem licitação.
Aos políticos, deixamos outras reclamações, tais como a incapacidade crônica de realizar obras ou de concluí-las, quando acontecem. Veja-se, por exemplo, que o tal prolongamento da Av. Independência (que agora nem mais se chama assim) deveria ter sido entregue em setembro, ainda antes das eleições, embora o governo se tenha esquecido da prometida alça ligando a nova via à BR-316. Houve até teste em julho, com as pessoas sentindo o gostinho do trânsito desafogado para, depois, tirarem o pirulito da criança. Até hoje, nem notícia da inauguração.
Outro exemplo são as obras de duplicação da Av. Perimetral, atrasadas, e que de novo só geraram os protestos e bloqueios da semana passada, porque os moradores não aguentam mais transtorno sem resultado. E se é para falarmos de atraso, que tal a mais importante obra tucana: o prolongamento da Av. João Paulo II? Imensamente atrasada, tecnicamente questionada e sem data para conclusão.
Temos também o portentoso Aquário da Amazônia, anunciado, prometido e esquecido. Ficaria no Parque do Utinga, cujas obras de qualificação do espaço para recebimento do público igualmente não aconteceram. Nada além da construção de uma guarita. Enquanto isso, ninguém sequer vê o prefeito. Com ele, sem ele, tanto faz.
Comemorar o aniversário de Belém, assim, gera esse sentimento paradoxal, uma alegria triste, pelo tanto que poderíamos ter e não temos, ser e não somos. Incomoda-me, sobremaneira, viver reclamando, porque realmente não pretendo cultivar a síndrome de vira-lata nem me fazer de coitadinho. Mas vivo nesta cidade desde sempre, então é sintomático que sempre haja do que reclamar. Uma pena.
Desejo tempos melhores para a nossa cidadezinha, da qual gosto de verdade. Acho que eu poderia recomeçar em outro lugar, mas não tenho vontade. Prefiro ficar por aqui. Gosto de estar em vivem minhas raízes. Quem sabe qualquer hora dessas alguma coisa frutifica.
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