quinta-feira, 13 de setembro de 2018

É coisa minha

Estive presente em todas as consultas do acompanhamento pré-natal com minha esposa. E em todos os exames. Todos, sem exceção de nenhum. Perdi horas importantes da minha vida em salas de espera de consultórios, clínicas e laboratórios. E na noite em que Júlia nasceu, eu estava lá, vendo-a surgir para o mundo. Fiz isso porque era o meu bebê a caminho. E era a minha parceira também. Não sei o que poderia ser experiência mais pessoal do que essa. Provavelmente, só a morte, pois não pode ser compartilhada.

Jamais me ocorreu de não participar de qualquer um desses momentos, inclusive de ter uma posição ativa neles. Por isso, de todas as modinhas surgidas ultimamente ― e agora nós vivemos de modinha em modinha ―, a que me parece mais despropositada é esse tal chá de revelação do sexo do bebê.

Veja bem, não quero ser um caga regras. Não estou dizendo como você deve viver a sua vida. Sei de amigos que fizeram e esta postagem de modo algum é uma crítica a eles. Só falo por mim.

O fato é que me parece inadmissível a um nível surreal que alguém no mundo conheça o sexo do meu filho e eu não; e a mãe não. Só consigo aceitar isso do médico, e apenas pelos instantes que levará para nos fazer a comunicação. Para que o sigilo? Para dar ensejo a mais uma apoteose, já que também vivemos, segundo vários autores, a sociedade do espetáculo?

Sinceramente, considero esse tal chá de revelação do sexo um sintoma de nossas doenças comportamentais da contemporaneidade, que nos levam a abandonar a privacidade, a intimidade, o pertencimento a nossas famílias e amigos mais próximos, fomentando essa publicidade da vida dos comuns, sempre vidas tão felizes, plenas, sorridentes e coloridas. E não exatamente verdadeiras. Mas todos precisamos, ao menos, parecer extremamente felizes, para render lindos conteúdos na internet. E para que gente esperta ganhe dinheiro em cima das nossas absurdas carências emocionais.

Esse poço tem fundo? Dificilmente. Já ouvi falar em chá de consumação de casamento. Sim, você leu direito. Os amigos estão festejando lá na sala enquanto você, no quarto, inaugura a nova fase da vida. Para isso, nem tenho palavras. O que posso fazer é ensinar minha filha a valorizar as oportunidades que lhe surgirem, dentro do próprio coração e junto daqueles que realmente se importam.

Você sabia? ― Classes sociais

A direita dá chilique quando alguém fala em "classes sociais", porque isso faz lembrar aquele monstro terrível que congela o sangue nas veias das pessoas de bem (Marx). Mas sabe quem reconhece a existência de classes sociais? A Lei de Segurança Nacional. Sim, aquela mesma, que o Estado de exceção legou ao país quando já se estava na fase de transição para o que se acreditava que seria uma democracia.

O art. 23, III, da LSN tipifica como crime a conduta de "incitar à luta com violência entre as classes sociais", cominando pena de 1 a 4 anos de reclusão.


Vamos fazer um pouco de análise típica? Que diabo significa "classes sociais" na controversa LSN?