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segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Onde estarão as pessoas decentes?

Eu sei, é claro, que existem pessoas capazes de legitimar a violência de muitas formas e que, por isso, transferem esse tipo de atitude para as gerações seguintes. Fazem-no pelo exemplo, usando agressões como forma de comunicação em âmbito familiar ou fora dele, ou como expressão didática, p. ex. ensinando os filhos a resolver suas desavenças no soco.

Mas eu acredito, suponho, tenho esperança de que também existem pessoas regidas pelo código da bondade. Não essa bondade condicionada a supostas valorações sobre "justiça", cujo efeito prático é criar distinções entre quem merece respeito e quem não; que merece viver, inclusive. Uma bondade em sentido mais originário, a tal regra de ouro já conhecida na filosofia grega antiga e amplamente difundida pelo cristianismo: não faças aos outros aquilo que não queres que seja feito contigo. Aliás, milhões de pessoas passaram longas horas dentro de igrejas, escutando seus sacerdotes falar sobre uma mensagem de amor, de perdão e até de dar a outra face, deixada por Jesus Cristo.

Assim matutando, não consigo parar de pensar nos familiares desses agentes de segurança pública que, com frequência crescente, têm sido mostrados nas redes sociais, às vezes na imprensa comum, agredindo, humilhando, torturando e até assassinando seres humanos, ainda que culpados de algum ilícito, porém francamente indefesos frente a seus algozes. Penso nesses pais, mães, cônjuges, filhos (sobretudo os mais crescidos) que se defrontam com a realidade de que alguém muito próximo deles, alguém amado por eles, seja capaz dessas atrocidades repugnantes. Eu não conseguiria conviver com alguém assim. Não poderia olhar seu rosto sem horror nem ficaria no mesmo espaço sem um desejo extremo de ir embora.

Violência e abuso de autoridade são práticas rotineiras na experiência brasileira, naturalizadas, banalizadas e aplaudidas. O sistema sempre protegeu seus malfeitores e está mais aparelhado do que nunca para fazê-lo, reagindo aos questionamentos que agora sofrem com mais frequência, com argumentos jurídicos, quando não com os sempre bem sucedidos discursos de nós contra eles. Mas não é no sistema que estou pensando: é nas pessoas. É, p. ex., na esposa que vê imagens de seu marido surrando com cassetete uma mulher caída no chão e consegue se deitar ao seu lado todas as noites. Ou na mãe amorosa que ensinou seu garotinho a tratar bem os outros. Ou no filho ou filha, que tem naquele homem uma figura de autoridade.

Raramente tomamos conhecimento das consequências legais dessa brutalidade. Vemos as agressões, mas dificilmente sabemos o destino dado aos agressores, levando à conclusão razoável de que foram perdoados ou sofreram penalidades para constar. Mas nunca ouvimos seus familiares e amigos falando. Pelo visto, ninguém até hoje se interessou em fazer uma reportagem sobre esse assunto. E eu realmente gostaria muito de assistir a algo assim. Se alguém conhecer matéria nesse nicho, por favor me indique.

Daqui, sigo fazendo minha parte. Não levanto a mão para ninguém e ensino minhas crianças que isso não se faz. Mas, naturalmente, temo todos os dias que nossos caminhos se cruzem com o time do outro lado.

terça-feira, 23 de março de 2021

Lockdown de verdade

Enquanto, por estas bandas, pessoas seriamente preocupadas com o sustento próprio e familiar precisam ir às ruas lutar pela sobrevivência; pessoas permanecem nas ruas porque ali já estavam, mesmo; muitos trabalhadores se expõem diariamente porque não lhes deram alternativa; e uma raça especial de felasdiputa de classe média reclama de não poder socializar por aí ou malhar a bundinha nas academias e vivem na internet bradando contra a violação de seus direitos fundamentais, em outros países do mundo as populações foram submetidas a restrições de locomoção realmente pesadas. Não esse lockdown de meia pataca praticado aqui, ainda por cima quase sem fiscalização.

Nesta reportagem aqui, é possível ver como outros países lidaram com a pandemia do novo coronavírus. Entre eles não há nenhuma nação considerada ditadura. Todos são países proclamados democráticos e a maioria países centrais, idolatrados pelo viralatismo tupiniquim. Multas severas, fechamento generalizado de serviços, limitação de saída a apenas 1 hora por dia e com limitação territorial, mesmo para fins relevantes (como ir ao médico), há várias providências impensáveis para os brasileiros. Com o detalhe de que, por lá, as restrições já duram meses.

Uma coisa me chamou a atenção: a proibição de ir mais longe do que um raio de 10 quilômetros. Compreendo a lógica. Se houver um doente nesse setor, a possibilidade de contágio de terceiros fica limitada no espaço, não apenas prevenindo maior disseminação do vírus, mas também ajudando a identificar a região onde o vírus circula. Se as pessoas podem transitar por qualquer lugar, como saber onde os esforços sanitários devem ser incrementados?

Enfim, eu tinha curiosidade de saber como países que possuem governantes de verdade estão enfrentando a situação. Com sofrimento, com perdas, mas com bom senso e humanidade. Um detalhe: os países desenvolvidos concederam auxílio financeiro aos cidadãos retidos em casa. Então você, cidadão verde-e-amarelo, que "luta" tanto pela liberdade e pela economia do Brasil, com suas mensagens de WhatsApp, pensa o que disso? Está todo mundo errado, né? Certo, mesmo, só o presidente do Brasil, o infalível. Deve ser por isso que ele é um mito.

sábado, 13 de março de 2021

Segundo lockdown

Há pouco mais de duas horas, saí de casa para comprar pão. Um trajeto pequeno, de cerca de 200 metros. Mesmo assim, precisei me aborrecer com a obstrução de uma calçada pelos frequentadores de um point descolado que inaugurou recentemente. Coisas de Belém: as calçadas são extensão do comércio de um fulano qualquer e todo mundo acha isso perfeitamente natural e desejável. Quem reclama é que está errado. 

Eu poderia passar, mas de modo algum me sujeitaria a chegar tão perto daquele aglomerado de pilantras sem máscara, que não podem abrir mão da cerveja com pagodinho por nada nesse mundo. Em consequência, caminhei pela pista, mesmo, exposto ao trânsito de veículos. Esta é a sina do belenense.

Pela incapacidade do brasileiro, e aqui falando do belenense, em mostrar algum senso de responsabilidade em meio a uma pandemia, estamos do jeito que estamos: acima de duas mil mortes diárias, colapso nos sistemas de saúde em diversos Estados, mais e mais sofrimento. Chegamos, assim, ao resultado óbvio de tanta incúria: o governador do Estado anunciou um novo lockdown em Belém e Região Metropolitana, a partir da meia-noite de amanhã. Postergaram tudo que puderam, mas finalmente aconteceu o inevitável, impelido pela ocupação de 100% dos leitos de UTI.

Ainda não consegui encontrar a informação de quanto tempo a medida perdurará. O lockdown de maio demorou duas semanas. Ainda me recordo bem do desconforto de trafegar por uma cidade militarizada, e ser parado, claro. Eu havia ido fazer compras no supermercado. Fui liberado pelo justo motivo da saída, mas a abordagem em si é extremamente desagradável para mim. Uma cidade sitiada me causa aflição.

Fazer o quê? Vivo em uma sociedade e pago pelas minhas ações tanto quanto pelas dos outros. E com o material humano que temos, é possível que essa restrição de liberdade não seja a última. Nem a penúltima. Nem...

O falso é mais realista

Embora o resultado tenha sido publicado em 22 de fevereiro último, somente ontem, 19 dias depois, a Universidade Federal do Pará, por sua Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, formalizou e divulgou a inclusão dos novos acadêmicos em nível de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Direito. Sou, oficialmente e mais uma vez, calouro daquela instituição.

O que sou, também: um grande privilegiado. Tenho o privilégio de integrar um grupo de apenas 19 pessoas, que foram habilitadas a galgar o último estágio da formação acadêmica e, ainda por cima, em uma universidade pública, onde estão os melhores índices de qualidade e as maiores oportunidades de realizar pesquisa de verdade. Mas como cheguei a isso? Sozinho? Esforçando-me muito, individualmente? Acreditando com toda a força do meu coração? Lógico que não. Na vida real, não há espaço para as tolices de coaches, os romantismos a la Disney e, em especial, para a mentirosa e nefanda ideologia da meritocracia.

Sou privilegiado por dispor de uma fonte de renda que me permitiu concentrar os meus esforços no processo seletivo, que teve como maior exigência a elaboração de um projeto de pesquisa que, no meu caso, alcançou a nota 9,7 (no intervalo de 0 a 10). Para elaborá-lo, apliquei uma década de estudos em criminologia (privilégio), consultei um monte de livros que já possuo (privilégio), comprei livros em caráter emergencial (privilégio), usei equipamentos e outros recursos de boa qualidade, que tenho diuturnamente à disposição (privilégio), e em especial debati minhas ideias e fui orientado por pessoas de alta qualificação, inclusive no que tange à metodologia (privilégio de fazer parte do círculo dessas pessoas e de dispor do tempo delas).

Acha que acabou? Sou privilegiado por morar em uma casa própria, em região não sujeita a riscos significativos (por aqui não há sequer os alagamentos generalizados de Belém), dispor de carros para resolver tarefas que exigem deslocamento (como comprar remédios às duas horas da madrugada, há poucos dias), ter comidinha boa e nova todos os dias, que não preparo pessoalmente, além de outras comodidades domésticas. Acima de tudo, ter uma família que apoiou abertamente o meu projeto de vida e me favoreceu tempo e condições para me dedicar a ele.

Estes são os privilégios mais evidentes. Procurando, decerto eu encontraria vários outros. E, com certeza absoluta, meus 18 colegas estão em situação semelhante. A turma do mestrado também. Sim, também há os que precisam da bolsa, mas essa já é uma necessidade altamente privilegiada. Ou você acha que necessitar de bolsa para cursar pós-graduação está no mesmo nível das necessidades prementes e diárias de uma legião de brasileiros crescentemente empobrecidos (sem nenhum demérito, claro)?

Em suma, não existe o mérito dos meritocratas. Há, no máximo, merecimento em um sentido metafísico, se você for daqueles que acreditam em certas religiosidades. E tudo isso para levar adiante um projeto que não é exatamente uma unanimidade. Afinal, para que serve, realmente, um doutorado? Sei o que eu espero dele, em particular. Mas o que será que esperam as demais pessoas que trilham essa senda? E o que elas encontram?

Segundo reportagem de maio de 2019, baseada em dados oficiais, o Brasil possuía 7,6 doutores para cada 100 mil habitantes e precisava dobrar esse número para chegar ao nível mais baixo dentre os países desenvolvidos. Trata-se do Japão, no qual havia quase 13 doutores para cada 100 mil habitantes (mas no Japão não há necessidade de escolarização como estratégia de sobrevivência). A Itália era o país com o pior cenário na Europa, mas mesmo assim eram 17,5 doutores por 100 mil habitantes. E se você compreende a importância da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento de um país, fica fácil concluir porque o índice de doutores é relevante.

Em setembro de 2019, outra reportagem informa o lançamento de um relatório da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apontando que, entre 35 países com dados disponíveis sobre o tema, o Brasil estava entre as três nações com menor número de doutores no mundo: uma proporção de 0,2% de sua população, contra 1,1% dos países integrantes da OCDE. O dado positivo foi o aumento do número de docentes com mestrado ou doutorado, conforme dados de janeiro último, divulgados pelo Instituto Nacionais de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Mas antes de comemorar qualquer coisa, saiba que, no Brasil, em março de 2019, o desemprego entre mestres e doutores chegava a 25%, contra 2% em nível mundial. Além da indignidade contraintuitiva que isso representa ― pois somos levados a supor, ingenuamente, que a maior qualificação importa acesso a melhores condições no mercado ―, essa conjuntura leva à evasão desse grupo especializado para outros países, quando conseguem, além de que se perde a oportunidade de viabilizar pesquisas que busquem soluções para muitos problemas da realidade brasileira. Uma universidade dos Estados Unidos não há de priorizar as necessidades do semiárido brasileiro, p. ex. É triste ver que quando reportagens, com um tom frequentemente ufanista, celebram um brasileiro participando ou até comandando uma pesquisa ultraimportante, na maioria dos casos tal pesquisa está sendo realizada em outro país.

O prognóstico não é de melhora. Desde 2016, o orçamento federal para a educação tem despencado, confirmando o que os setores progressistas da sociedade sempre repetem: isso é um projeto. Os decisores têm envidado esforços para que os brasileiros tenham cada vez menos acesso a educação, notadamente de qualidade. Mas se estamos todos de acordo ― inclusive aquele gênio do WhatsApp, que adora dizer que os pobres não quiseram estudar ou não se esforçaram o suficiente para isso ―, que a educação desenvolve pessoas e países, qual pode ser, então, o resultado esperado dos investimentos e das escolhas aqui na outrora República das Bananas, hoje República das Milícias?

Ao fim e ao cabo, como se costuma dizer, somos um país de autoproclamados doutores. Basta uma graduação ―ou às vezes nem isso, bastando algum sinal de riqueza material , e o sujeito já vira doutor. É chamado assim pela imensa legião de trabalhadores em postos subalternos e em especial pelos excluídos do mundo do emprego, os quais reproduzem, a cada vez que doutorificam um espertalhão sem essa qualificação, um ciclo de distinção entre indivíduos menos distintos do que se reconhecem. Renovam a massagem no ego de uma classe média que se entende e percebe como aristocracia e quer ser tratada com mesuras e floreios. Não à toa, muitos deles se ofendem de verdade se o título não lhes é dado. Sem olvidar, claro, os casos clássicos e patológicos dos profissionais de Medicina e Direito.

Do jeito que as coisas vão, ser um desses doutores de coisa nenhuma tem dado mais certo do que dedicar muitos anos de sacrifícios pela titulação acadêmica. Resulta daí que um protesto como este visa repor um pouco as coisas aos lugares que elas deveriam ter e isso significa, inclusive, não glorificar doutor nenhum. Ele é só mais um sujeito que estudou e, talvez, esteja fazendo umas coisas bacanas e úteis de sua vida. Não é isso que o inscreve entre os bons seres humanos. Caráter e empatia deveriam ser os requisitos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Achei que devia dizê-lo

O dia de hoje foi marcado pela celeuma em torno de uma manifestação em rede social (sempre elas!), emitida por um gerente do Grupo Líder, manifestando um absurdo desprezo por professores. À boca miúda se diz que é um dos adoradores do excrementíssimo presidente da República e, nessa toada, não se furta de destilar ódio e contrariar qualquer realidade. Para ele, professores não trabalham há mais de um ano. Logo, em perfeita demonstração da lógica bolsonarista, sugeriu que fossem retirados recursos da educação para custear o novo auxílio emergencial.

São tantos os erros (para dizer o mínimo) na manifestação que nem sei por onde começaria a explicar. Tampouco tenho forças para isso. Mas vendo o barulho na grande rede, decidi que deveria fazer alguma coisa. Então acessei o site do Grupo Líder e mandei a seguinte mensagem:

Deplorável a manifestação do sr. Orimar Rodrigues (que, por sinal, já disse que mantém tudo) e deplorável o escapismo da empresa, limitando-se a dizer que o indivíduo não fala pela empresa. As pessoas não são tolas: sabem que o ofensor é da família; fosse apenas um empregado, o tratamento seria outro. Em tempos de ódio, não se posicionar é SE POSICIONAR A FAVOR DO QUE FOI CRITICADO. O mundo está mudando, a duras penas. Empresas que não assumirem posição em prol de valores serão tragadas. A balela da isenção não vai ajudar. E o negacionismo muito menos. Respeitem os profissionais da educação.

Nada de rede social: mandei a mensagem para o empregador (para a família, né?). Sem barulho nem sensacionalismo. E me identifiquei com nome, telefone e e-mail. Não escondo a cara, como os canalhas. Disse o que achei necessário dizer, no lídimo exercício da minha liberdade de expressão. Critiquei as atitudes e não a pessoa, física ou jurídica. Meu posicionamento até pode ser considerado como um conselho, um toque do bem para a empresa. Infelizmente, parece que brasileiros ainda são muito primitivos para isso, mas uma hora as pessoas, de um modo geral, começarão a repudiar empresas sem responsabilidade social. O processo já começou. Não me refiro a esse boicotismo internético, pouco mais do que uma modinha de cancelamento. Falo de ser ético na vida e de se relacionar apenas com quem for ético também.

Quando as pessoas finalmente assimilarem essa filosofia de vida, as empresas verão que não dá mais para calar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

Atendente obstinado

Ontem, não tive escolha senão fazer uma das tarefas domésticas que mais me irritam: ir ao supermercado. Lá pelas tantas, pedi a um atendente dois potes de meio quilo de manteiga. E os minutos começaram a passar, a fila foi aumentando, a preocupação com aglomeração aumentou junto e nada do cara voltar. Naturalmente, isso me exasperou.

Olhei na direção e o sujeito estava diante da balança, pesando os meus potes de manteiga. Ele olhava, ia e voltava, ia e voltava, ia e voltava. Nessas idas e vindas, ele colocava um pouquinho de manteiga no pote ou tirava um pouquinho de manteiga do pote. Sim, meus amigos, por alguma razão que nem o úbere da vaca explica, o sujeito resolveu que ele precisava me entregar dois potes de manteiga com exatamente 500 gramas cada! Nem um grama a mais, nem um a menos. O preço, igualzinho.

Como eu precisava de outros itens, e também pelo fato de eu ser um doce de pessoa, que raramente briga com as criaturas, mesmo que elas mereçam, nada disse, mas desde então não paro de pensar nessa estranha obstinação, que me custou tempo e paciência. 

Tinha que ser comigo, claro. Eu atraio todo tipo de comportamento aversivo. Ô sina!

quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

Retrospectiva 2020

Janeiro. Ano começou comigo de luto, passando uns dias em Santarém, ansioso em relação ao futuro.

Fevereiro. Vendo as pessoas comemorarem o carnaval enquanto o mundo falava cada vez mais do novo coronavírus.

Março. A pandemia se tornou uma realidade por aqui. Começou o isolamento nesta família e todos fomos afetados pelos serviços públicos e privados sendo descontinuados ou tornados virtuais.

Abril. Nasceu Margot, nossa segunda filha e uma alegria exuberante em meio ao caos.

Maio. Já cansado de ouvir falar em lives, mesmo tendo assistido a poucas delas. Vivi a estranha experiência do lockdown, tendo que explicar a policiais militares o que eu estava fazendo na rua (havia ido ao supermercado). Eu me senti dentro da distopia.

Junho. Lamentando a perda das festividades juninas. Aquelas comidinhas que amo, sabe?

Julho. Completei 45 anos me perguntando o que diabos estou fazendo aqui.

Agosto. Mês do desgosto? Como assim, "mês", durante um ano que já era odiado pelo mundo afora? Atividades retornando, mas não retornando exatamente.

Setembro. Administrando uma adolescente se declarando surtada pelo isolamento em casa, embora, claro, sem se dar conta dos privilégios que a vida lhe permitiu.

Outubro. Todo o respeito às pessoas que lamentaram não ver o Círio de Nossa Senhora de Nazaré nas ruas de Belém. A cidade se beneficia da energia das pessoas que vivem esse momento de união.

Novembro. Em uma eleição adiada, corremos risco real de ver nossa cidade ser entregue a mais um projeto oportunista e canalha, mas pelo menos disso escapamos. Passei o mês muito empenhado em um antigo e importante projeto pessoal.

Dezembro. Com um grande amigo internado com covid-19, em estado muito grave, vejo os brasileiros apertarem com convicção o botão do foda-se, porque não podem deixar de celebrar suas vidas miseráveis. Aguardando resignado as consequências.

Muita gente aguarda ansiosa pelo fim de 2020. O fato é que, de acordo com as convenções, o ano acabará inelutavelmente, daqui a menos de 14 horas. Mas o que esperar de 2021, se as condições são as mesmas? Vacina. Por ora, esta parece ser a única variável capaz de fazer alguma diferença.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

O ano acaba, mas o pesadelo não

Ao tempo em que inicio estas mal traçadas linhas, faltam 28 dias, 1 hora e 7 minutos para o ano de 2020 terminar. Para uma quantidade imensa de brasileiros, ou pelo menos considerando aquilo que vejo, foi um ano horroroso, para muitos o pior já vivido. Claro que a pandemia do coronavírus figura como vilã preferencial dessas manifestações, pois roubou nossas vidas e acabou com a tal vida normal, impondo muitos e singulares desafios.

O problema é que 2020 acabará sem que a pandemia tenha passado. Já se fala bastante na proximidade da vacina, mas ainda não há confirmação de liberação pelas autoridades sanitárias, tampouco notícia sobre plano de vacinação. Notícia que li falava em vacinar toda a população até o final de 2021. Então tá.

Mas para quem é brasileiro, coronavírus pouco é bobagem. Nós temos o pior governo de todos os tempos e todas as dimensões, excluídos os regimes de exceção. Se você acha que Trump é pior, saiba que para ele era, supostamente, "America first". Por aqui, com certeza, é "America first". Só que nós não somos a tal America. Por aqui, o "Brasil acima de tudo" foi só um ridículo slogan de campanha, que jamais pretendeu ser verdadeiro. Aliás, a dobradinha SARS-CoV-2 e governo Bozo são a causa do número alarmante de mortos que tivemos na pandemia e de uma tal segunda onda que se confunde com a primeira.

Mas por aqui se morre a rodo por outras razões, também, Morre-se por causa da fome, de doenças facilmente tratáveis, de uma quantidade colossal de acidentes e de muita, muita violência, dentre outros fatores. E aí entra o governo, aumentando a miséria e o desemprego, não contendo a inflação, demolindo todos os sistemas de proteção de direitos ou do meio ambiente, estimulando a violência e muitas mazelas mais. Não é engano nem acidente: é projeto de morte. Basta ver que, volta e meia, a imprensa publica uma notícia no sentido de que o governo não gastou todo o orçamento disponível para certo setor. Por toda a minha vida, vi a desculpa ser dada em termos de "não temos dinheiro". Nesta era das trevas, há dinheiro, porém ele não é gasto. Fica evidente que são decisões sendo tomadas para ferrar com tudo.

Daí lembramos que 2020 terminará e o governo mais alucinado da história, não. Isso me dá mais angústia e raiva do que qualquer vírus, ainda mais quanto vemos uma tribo insistir em apoiar esse projeto, com toda a irracionalidade possível, como acabamos de rever nas recentes eleições municipais. Um fulano qualquer pode surgir dizendo que vai governar para empresários e tapar todos os canais de Belém e, ainda assim, ganha mais de 48% dos votos válidos, só porque não era de esquerda. A galera resolveu brincar de roleta russa todo dia, uma roleta russa modificada, em que há mais de uma bala no tambor.

Mas é o que temos para hoje. Precisamos de encerramentos, porque acreditamos na força dos ciclos. Pensar que estamos em um novo ano, em uma nova fase, em uma nova condição nos ajuda a disfarçar que estamos no mesmo pesadelo. Pelo menos por ora. O futuro, quem sabe?

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Sensação de racismo

Para quem ainda acredita que o vice-presidente da República é melhor do que o titular do cargo, hoje tivemos uma bela demonstração do erro (se é que se pode tratar como erro). Em pleno dia da consciência negra, e horas após o assassinato de mais um brasileiro preto, em uma rede de supermercados que já registra três outros casos em seu histórico, o tal fulano declarou:


A declaração foi pública e oficial. Não adianta dizer que estou compartilhando fake news. E ela bem demonstra como estão as coisas no Brasil, atualmente. Vocês se lembram do então ministro da Fazenda do Brasil, Rubens Ricúpero, em entrevista concedida no dia 1º.9.1994, dizendo: "Eu não tenho escrúpulos. O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde"? Sem saber que a conversa estava sendo gravada, o ministro mostrou como pensa um político padrão. A frase ganhou imensa repercussão nacional. Mas sabe o que é pior? É pensar que 1994 ainda era menos sórdido do que agora.

No Brasil de hoje, o que é ruim não é escondido: é eliminado. Todas as mazelas nacionais são resolvidas do mesmo e simplório modo: mediante uma singela negação por parte do governo. Não existe desmatamento, nem corrupção no governo, nem racismo neste país. Porque "para mim" não existe. É uma percepção minha. E as percepções dessa gente do governo prevalecem sobre qualquer realidade, mesmo a mais evidente.

Eu me pergunto como se sentiram os parentes de João Alberto Silveira Freitas, o assassinado de ontem, ao tomarem conhecimento da declaração. Como se sentiram os demais brasileiros pretos, que todos os dias experimentam o peso dessa coisa que não existe, que é apenas uma tentativa de importação ideológica, ao ponto de temerem pela própria vida. Exceto, é claro, aquele vereador de São Paulo (e olha que até ele tuitou em protesto contra o crime!) e aquele sujeito que preside atualmente a Fundação Palmares. Eu, que sou pardo, segundo a minha certidão de nascimento, e que nunca fui prejudicado por minha cor, me senti extremamente mal. Imagine os pretos.

O vice só é melhor do que o titular em capacidade intelectual, nível de instrução e educação no trato com terceiros. Mas naquilo que importa para a gestão de um país diverso e sofrido como o Brasil, eles são como escolher entre morrer de câncer no pulmão ou de câncer no cérebro. Você tem preferência?

Mas esse é o projeto eleito em 2018. Não basta defender tudo aquilo que limita, humilha, degrada e, por fim, mata as pessoas comuns, aquelas que não pertencem às elites. Porque isso muitos outros também fizeram, mas fingindo que se importavam. Negando seus reais sentimentos. Mostrando em público uma solidariedade que na verdade não existe, como o governador de São Paulo, p. ex. Essa turma aí não consegue calar a boca; não se furta de dizer coisas que tornam tudo ainda mais horrendo e inaceitável. São os piores representantes daquilo que há de pior entre os representados.

Meus pêsames às pessoas enlutadas hoje, pelo crime noticiado. Veremos qual será o nosso motivo amanhã.

PS  Sim, como você percebeu, eu não escrevo os nomes dessa canalha. Eu escrevo os nomes de seres humanos, daqueles que merecem ser lembrados. Quem extrapola o limite da indignidade não deve ser nominado em hipótese alguma, exatamente como se deve fazer em relação a terroristas e psicopatas em busca de fama. Se ninguém desse espaço a eles, não seriam eleitos.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Semiótica de painel e parabrisa

Gostaria de oferecer-lhes uma breve especulação semiótica acerca de um tema recorrente nas redes sociais. Digo especulação porque não sou especialista neste campo, então estas mal traçadas linhas não vão além de umas poucas leituras e algumas experiências de observação comportamental ao longo da vida.

Semiótica, em apertadíssima menção, é o estudo da construção de significados no processo de comunicação. Tem interesse direto para a Linguística e para a Filosofia, sendo o termo atribuído ao filósofo inglês John Locke (1632-1704), originado na raiz grega semeion (signo). Um signo é uma ideia que contém uma mensagem ou fragmento dela, composto por um significante (seu elemento material, como uma palavra, um gesto, etc.) e um significado, que varia conforme o contexto. É algo lindo e instigante, mas fiquemos por aqui. 

Painel é um termo associado à arte pictórica, mas aqui me refiro ao componente dos veículos automotores, que se situa dentro do habitáculo, à frente dos assentos dianteiros, contendo diversos equipamentos essenciais à dirigibilidade do veículo e ao conforto e à segurança dos passageiros.

Parabrisa é a peça de vidro que, instalada à frente do veículo, permite a visão do meio exterior, porém protegendo do vento (daí o nome) e da chuva, que dificultariam ou até impediriam o ato de dirigir.

Pronto: acabei de colocá-los sentados no interior de um automóvel, olhando para a frente. Agora vamos à semiótica. Vocês já devem ter visto, pelas redes sociais, imagens como esta abaixo:


Assumo a premissa, tão decantada, de que as redes sociais são a válvula de escape de pessoas cuja percepção de autovalor depende da aprovação alheia. Isto pode explicar porque elas são ilhas da fantasia, repletas de registros de felicidade, beleza, riqueza, sucesso e autorrealização. Nesse sentido, uma imagem como esta, embora quase sempre publicada como se fosse um registro espontâneo e despretensioso de um momento absolutamente corriqueiro da vida, segundo compreendo, destina-se a transmitir ao menos uma, senão mais de uma, dentre as perspectivas abaixo:

A marca do veículo, que se encontra no volante. É a intenção velada de ostentar riqueza, a depender, naturalmente, de qual seja essa marca. Não impressionamos com um Volkswagen, mas Audi, Mercedes, BMW, Land Rover e Jaguar já enchem os olhos. Cito marcas que vejo nesta cidade.

A tela da central multimídia, que exibe a música que supostamente está sendo ouvida pelo condutor. É a deixa da ostentação cultural, que pode conduzir a dois caminhos diametralmente opostos: 

  • Se colocar estilos musicais havidos por sofisticados, de acordo com os padrões hegemônicos, o sujeito quer exibir sua pretensa superioridade intelectual, seu refinamento e erudição. Quem não gosta do estilo é menosprezado por sua indigência cultural. (PS - Quem nunca viu um pseudointelectual dizer que gosta de jazz?)
  • Se colocar estilos musicais popularescos, o indivíduo quer vangloriar-se de ser descolado, livre, de não se importar com a opinião alheia, de não ceder a pressões e de privilegiar a alegria e o bem-estar. Quem não gosta do estilo é menosprezado por sua arrogância. (PS - Sabe aquela canção cuja letra parece ter sido escrita por um bebê, com música dançante e intensa exploração comercial? Pois é.)

Duvido bastante que o autor de publicações de painel de carro exponha uma música escolhida simplesmente porque gosta dela. Foi o que tentei fazer. Eu realmente escuto habitualmente heavy metal e gosto das bandas alemães, porque estudei alemão e isso me ajuda a manter contato com o idioma. Em minha tela você vê "Sie tantz allein" ("ela dança sozinha"), da banda de metal medieval Saltatio Mortis, que escuto com frequência (por sinal, sempre me lembrando de minha bailarina favorita, Ana Luiza Crispino).

O local por onde o sujeito está passando. E finalmente, porém não menos importante, o mundo exterior ao veículo, embora seja o elemento que menos conote ostentação, nas publicações que costumo ver, também pode ser usado com essa finalidade, pois o ambiente pode ser requintado, exclusivo ou exuberante. O sujeito escreve "mais um dia de trabalho", para se vender como profissional batalhador em um dia perfeitamente comum, mas quer mesmo ostentar sucesso, por exemplo exibindo um ambiente que cause admiração, por seu luxo ou tecnologia. Ou então o sujeito quer mostrar a sua profunda simplicidade e amor à natureza, mas posta aquela praia estonteante que por acaso denuncia que fez uma viagem cara.

É isso. Símbolos.

Convido você, eventual leitor, a opinar sobre meus juízos de valor nesta postagem que, como tudo mais, também possui suas intencionalidades ocultas. Mas não, não possui nenhum destinatário específico. 

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Aquela das felizes ideias

"Para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada."

Henry Louis Mencken (1880-1956), jornalista estadunidense

domingo, 4 de outubro de 2020

Breve sugestão aos advogados

 Na última semana, estive novamente na Turma Recursal dos Juizados Especiais, para fazer sustentação oral em processos que acompanho. Gosto de sustentar oralmente, tarefa que considero bem típica da advocacia. Também gosto da Turma Recursal, cujo ambiente, físico e humano, é mais informal e próximo.

Sessão iniciada, quatro advogados sustentaram antes de mim. Apenas um se despediu dos julgadores quando o julgamento de seu processo terminou. Ele teve sucesso parcial em sua pretensão. Todos os demais, ao verem malogrados seus pedidos, levantaram-se e saíram sem dizer uma só palavra. Notei isso no primeiro, mas pensei: "É um garoto. Coisas da juventude". Mas veio a segunda colega, que parecia estar na casa dos 30, e teve a mesma atitude. E depois daquele que se manifestou, por fim, o quarto advogado, também um rapaz com jeito de ter menos de 30, levantou-se e saiu como se estivesse só na sala.

Nesse momento, a juíza presidente comentou com seus pares que os advogados não lhes dirigiam a palavra se não vencessem a causa. Uma reclamação breve, mas justa. Eu, que raciocino e ajo como advogado, e não como juiz, pensei exatamente a mesma coisa. Quando fazemos sustentação oral, costumamos aguardar na tribuna o resultado do julgamento. Não houve uma só ocasião em que eu, ao ver finalizado o ato, não me dirigisse à corte agradecendo pela atenção que me foi dispensada e desejando um bom dia. Qualquer advogado deveria fazer isso e o motivo é muito simples: boa educação.

Pedir licença para entrar, cumprimentar, agradecer, dar explicações, desculpar-se se for o caso são atitudes que aprendíamos em casa, primeiro, e depois na escola. Ao menos na minha geração era assim. Não sei como está hoje em dia. Repassei essa lição para minha filha, hoje com 12 anos. Ainda adolescente, escutei que agir com educação é um dever, não um favor. Concordei com isso e sempre procurei agir assim, mesmo com raiva e mesmo que minha raiva fosse justa.

O Estatuto dos Advogados é uma lei que nos dá prerrogativas, tais como entrar e sair de locais onde trataremos de assuntos de nosso mister, sem precisar de autorização, e agir com independência na defesa de nossas causas. A independência pede altivez e energia. Mas eu realmente não consigo extrair daí que as regras de civilidade foram abolidas. E eu não gosto de estar em situações nas quais as regras de civilidade foram ignoradas.

Então meu conselho é bastante simples: caros colegas advogados, façam o que espero lhes tenha sido ensinado pela mamãe, talvez pela vovó, quem sabe pela tia do jardim de infância: peçam licença, cumprimentem, agradeçam, expliquem e desculpem-se, se for o caso. Isso não lhes diminui em nada o valor como profissionais. Ao contrário, segundo penso, isso lhes engrandece. Porque mostra maturidade e compreensão pelo funcionamento dos sistemas burocráticos. Maus julgamentos (se for essa a hipótese) se resolvem com recursos e até com protestos, no sentido técnico da palavra, aqueles que ficam consignados em ata. Não com raivinha de moleque pimbudo. Crescer é necessário.

Logo que passei no vestibular, e isso foi em 1992, conheci os célebres Mandamentos do advogado, de Eduardo Couture. O que mais me chamou a atenção foi o nono:

Esquece
A advocacia é uma luta de paixões. Se em cada batalha fores carregando tua alma de rancor, sobrevirá o dia em que a vida será impossível para ti. Concluído o combate, olvida tão prontamente tua vitória como tua derrota.

Aos 16 anos, não gostei desse conselho porque, no calor da necessidade de autoafirmação, quando eu achava que ia mudar o mundo, esquecer uma vitória me parecia impensável. Eu queria tripudiar um pouco do vencido. E fingir ignorar o elevado risco de estar no polo oposto. Hoje, entendo perfeitamente a lição do jurista uruguaio. Ele tem razão.

Advogue, faça o melhor que puder e, independentemente do resultado, siga adiante. Todos ganham com isso.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

Fiscais da "coerência"

 O oncologista Dráuzio Varella incomoda. Mesmo com sua postura contida, tornou-se um comunicador bem-sucedido, querido pelo grande público e, particularmente, dotado de credibilidade. Como médico e como escritor, tornou-se (não sei se intencionalmente) uma voz para um dos setores mais vulneráveis da sociedade: os presidiários. Mostrar empatia com a população carcerária não é o caminho mais seguro para conservar uma boa imagem perante o brasileiro médio.

Nos últimos dias, as redes sociais se encheram de postagens de gente reclamando que Varella passou o ano mandando as pessoas ficarem em casa, devido à pandemia do coronavírus, mas agora está incentivando as pessoas a serem mesários voluntários. Buscam minar sua credibilidade por suposta incoerência. 

Mas a quem interessa isso? Simples. Diante da calamidade trazida pelo coronavírus, Varella se colocou ao lado da ciência, obviamente. E ao fazê-lo, contrariou o discurso do governo genocida, que tem no negacionismo científico e no ódio aos pobres duas de suas características mais marcantes. Ridicularizar Varella é, portanto, uma estratégia da direita, que é composta basicamente por gente má, burra (ou sem receio de passar recibo) e que se comporta como bullies de ensino fundamental. É exatamente isso que estão fazendo: bullying com o médico que se opôs à cloroquina. Para piorar, gostam de frisar que Varella, lá por fevereiro, chamou a covid-19 de "gripezinha". Varella já explicou publicamente que cometeu um erro de avaliação, pediu desculpas pela manifestação e passou a recomendar todas as cautelas possíveis, inclusive o isolamento social.

Diante disso, por que a recomendação de ser mesário voluntário não é uma incoerência? A resposta, na verdade, é bem simples.

Todas as pessoas que defendem o isolamento social sempre ressalvaram a necessidade de preservar as atividades essenciais. Não podemos deixar de comprar comida e remédios, de manter em funcionamento certas atividades profissionais, etc. Alguém duvida que viabilizar as eleições seja uma tarefa essencial? Duvidar disso exigiria uma enorme capacidade de má-fé ou de ignorância, em níveis só alcançados por... apoiadores do atual governo.

Um mandato político tem data para acabar. Não podemos apenas prorrogá-lo, como se não fosse nada. Há muita coisa em jogo, especialmente para aqueles que, como nós, moradores de Belém, estão sob o jugo de um governo municipal pífio, frequentemente apontado como o pior da História. A manutenção do sistema democrático exige que as eleições aconteçam. E, para isso, precisamos de mesários. Daí que medidas foram tomadas, a maior delas sendo o adiamento das eleições. E a convocação dos mesários destaca que os voluntários não podem estar em grupos de risco para o coronavírus e que o treinamento será virtual. Já é bem difícil convencer pessoas a participar de uma tarefa tão inglória (muito trabalho, responsabilidade e riscos, com compensações menosprezadas). No contexto atual, a Justiça Eleitoral precisou apelar para um recurso mais forte: o carisma de Dráuzio Varella. Sobrou para o garoto propaganda.

Presto minha solidariedade a Varella. Se não está fácil existir neste país, pior ainda quando nos posicionamos em oposição à perversidade dessa gente ruim, que ora coloniza o governo federal, e seus apoiadores. Sem alternativa, resta persistir na lucidez, porque somente com comportamentos lúcidos poderemos resgatar este país algum dia.

sábado, 1 de agosto de 2020

Ser livre e ter respeito absoluto pela vida

O vídeo abaixo me era recomendado pelo algoritmo do YouTube de forma recorrente e eu, sabe lá por qual razão, deixava passar. Nos últimos dias, comecei a me interessar pelos ótimos vídeos do canal da BBC Brasil e hoje, finalmente, decidi conhecer a história da família que virou fumaça.

Impossível, impossível não sofrer com a narrativa de Andor Stern, judeu brasileiro, sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz. Impossível, também, não ficar impressionado com a serenidade com que ele faz seu relato, sem transparecer ódio ou mágoa, enfatizando a imensa sorte que acredita ter por... estar vivo e ser livre. E, por liberdade, ele entende, simplesmente, poder ir para qualquer lado sem ser impedido.

Sensação semelhante tive ao ler o livro autobiográfico O pianista, de Wladyslaw Szpilman (1911-2000), pianista polonês que teve sua obra adaptada para o cinema, com o mesmo título (dir. Roman Polanski, 2002). Os fatos descritos são horrorosos por si sós, mas a narrativa pode, por incrível que pareça, ser desprovida de rancor e enfatizar a humanidade que nós, e não os outros, podemos desenvolver.

Gostaria de compartilhar o vídeo, pois sinto que, ao vê-lo, alguma coisa boa emerge em nós, se estivermos dispostos.


Triste é pensar que, voluntariamente, renunciamos à experiência histórica e nos conduzimos à barbárie. Mas não quero pensar nisso agora. A proposta desta postagem é enfatizar o que resulta de positivo mesmo de um enorme trauma. Ou, parafraseando Carlos Drummond de Andrade, deixar que da hora mais triste surja outra, a mais bela.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Afinal, qual é o problema da rede?

Como não temos nenhum problema sério a resolver no país, o assunto que eclodiu nas redes sociais ontem e, hoje, ganhou a mídia convencional foi o caso do advogado Marcus Albuquerque, que participou de uma sessão de julgamento da 4ª Turma Recursal do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia deitado em uma rede.


O vídeo divulgado mostrou um trecho curtíssimo do ato judicial e  vejam que interessante , considerando apenas o que vimos, nenhum dos juízes reclamou da conduta do advogado. Ele se dirigiu normalmente aos magistrados e, segundo reportagem que li, conseguiu provimento parcial ao recurso de sua constituinte. 

Afinal, o que faz com que um caso desses se torne notícia? Especulo que o fato de o episódio ter ocorrido na Bahia seja uma primeira explicação, dado o estereótipo do baiano como preguiçoso (algo que, para mim, não merece seguimento). O segundo motivo deve ser a suposta violação de protocolos comportamentais perante o Poder Judiciário. Este é o ponto que eu gostaria de enfrentar.

De saída, e sendo preciosista, ressalto que não existe nenhuma regra sobre participar de sessões de julgamento deitado, em uma rede ou seja onde for, simplesmente porque todos os protocolos consideram os atos judiciais como presenciais. Não passou pela cabeça de ninguém, nem quando começou a se discutir sobre atos por videoconferência, há alguns anos, que um dia seríamos forçados a ficar em nossas casas e isso afetaria o modo como as pessoas se apresentam publicamente. Em não havendo regra específica, resta questionar o ocorrido com base no bom senso.

O problema é que bom senso é algo subjetivo. Para piorar, o brasileiro médio relaciona noções como bom comportamento e respeito a padrões nobiliárquicos, empolados, solenes e severos. Em bom português, rapapés e salamaleques. Firulas. Asneiras. Já tivemos demonstrações disso aqui no blog, em estéreis discussões sobre vestimentas, pois há quem ache que advogado sem terno está faltando com o respeito ao judiciário, sem falar nos imbecis que, diante do meu argumento de que terno não deveria ser obrigatório, em cidades de calor lancinante como Belém, respondem dizendo que, daqui a pouco, iremos trabalhar de sunga. Isso nem merece resposta.

No caso ora comentado, só vemos a cabeça do advogado, apoiada em um travesseiro, em sua rede. Não sabemos como está vestido. Mas sabemos que ele se dirige respeitosamente aos magistrados. Faz o que deveria fazer. A única questão é que está deitado. E daí? Não vemos nenhuma atitude grosseira ou hostil, incapacidade técnica, nada. Tudo nos conformes. Pessoalmente, prefiro um bom advogado deitado na rede (o que também adoro fazer, quando em repouso) a um engomadinho mal-educado, arrogante, muitas vezes incompetente, porém metido em um reluzente terno caro, tendo ao fundo a parede de vidro de seu vistosa sala comercial ou o clichezão das prateleiras cobertas de livros.

Nos últimos meses, o isolamento social popularizou as reuniões on-line e, em consequência, temos visto uma profusão de gafes. É gente sem camisa, totalmente pelada, soltando flatulências, desembargador dormindo na sessão (isto, convenhamos, não é novidade da pandemia), etc. Mas nem estou preocupado com as gafes. O meu horror é às agressões.

Dois dias atrás, o reitor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro chamou de filha da puta uma pró-reitora que pedia o adiamento da reunião. Diante da reação compreensivelmente irada dos professores, desculpou-se imediatamente, dizendo que seu comentário fora "pra lá de infeliz", mas antes disse que o microfone estava aberto. Ele se desculpou porque reconheceu a má conduta ou apenas porque foi flagrado, ao esquecer o áudio aberto?

Na mesma quarta-feira (29), o desembargador José Manzi, da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 12ª Região, disse "isso, faz essa carinha de filha da puta", referindo-se à advogada responsável pela sustentação oral, o que despertou nota de repúdio da Ordem dos Advogados do Brasil, Seção de Santa Catarina, do Instituto dos Advogados de Santa Catarina e da Associação Catarinense dos Advogados Trabalhistas.

Procurando, encontraríamos outros casos sem dificuldades. Referi os dois que me chegaram via WhatsApp quase ao mesmo tempo. E, por sinal, gostaria de destacar um aspecto que merece especial atenção: em ambos, tivemos homens em posições de poder ofendendo mulheres, em ambiente profissional, sendo que a agressão tem conotação sexual. Sintomas recorrentes de uma sociedade misógina, autoritária e que se recusa a reconhecer a dignidade do outro. Mesmo que certas posições, como a de reitor, sejam passageiras. 

Ao fim e ao cabo, o problema não é a pandemia nem as tarefas on-line. A questão continua sendo a mesma de sempre: as pessoas que somos, a sociedade que somos. Pandemia e internet apenas desnudaram o verdadeiro monstro.

terça-feira, 21 de julho de 2020

Pensata

"De tudo o que nos incrimina, o que nos condena é a mudez."

Cinthia Kriemler, escritora

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Clarice tem razão

Imagem obtida em https://br.pinterest.com/pin/179229260157146351/

Antes de julgar a minha vida ou o meu caráter... calce os meus sapatos e percorra o caminho que eu percorri, viva as minhas tristezas, as minhas dúvidas e as minhas alegrias. Percorra os anos que eu percorri, tropece onde eu tropecei e levante-se assim como eu fiz. E então, só aí poderás julgar. Cada um tem a sua própria história. Não compare a sua vida com a dos outros. Você não sabe como foi o caminho que eles tiveram que trilhar na vida.

Clarice Lispector (1920-1977)

As irretocáveis palavras de Lispector ficam ainda mais belas quando declamadas por Maria Bethania, que tem nela e em Fernando Pessoa suas principais referências poéticas.

sábado, 11 de julho de 2020

Pensamentos em um sábado qualquer

Eu me recordo muito bem de 2018, com tantas pessoas dizendo "não temos opções para votar" e, no segundo turno, afirmando que os dois candidatos eram iguais, de modo que tanto fazia vencer um ou outro. Para alguns, minha perplexidade ainda perguntou se realmente acreditavam que Haddad era equivalente ao outro. Responderam-me que sim.

Cínicos. Mentirosos. E covardes, porque nunca tiveram a hombridade de reconhecer a verdade, mesmo agora.

A maioria das opções nos levaria, sim, a um governo de homens brancos e ricos, com discurso "liberal" para a economia, o que implica a implosão das normas de proteção social do trabalhador e do meio ambiente, à carência de políticas contra a desigualdade em suas diversas faces e, mesmo, à manutenção de uma agenda moral conservadora. Mas qual dentre os outros nos colocaria em um cenário em que:

  • a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos viu Jesus Cristo, o próprio, subir em uma goiabeira, mas não viu nenhuma política pública para promover minimamente os temas em sua pasta, no país com o maior número de assassinatos de mulheres, LGBTQI+, etc., no mundo?
  • o ministro da Justiça e Segurança Pública era um juiz federal contumaz em cometer violações expressas à Constituição e à legislação penal e processual penal, cujo maior feito foi ajudar a eleger o chefe e que admitiu publicamente atos ilícitos (como o pedido de pensão, pois abriu mão da carreira na magistratura)?
  • o Ministério da Cultura foi rebaixado e, para a secretaria em apreço, foi designado um entusiasta do nazismo que fez questão de demonstrar isso?
  • o Ministério da Saúde não segurou titulares porque estes contrariavam o chefe ao tentar seguir, minimamente, a ciência, além de ficar vago por dois meses, em meio a uma pandemia global?
  • a aludida pandemia é gerida com o fomento, pelo chefe do Executvo, de condutas que colocarão em risco a segurança e a vida das pessoas de um modo geral, além de que nem 30% do orçamento disponível para o combate à doença foi executado?
  • os ministros da Educação são figuras grotescas, de comportamento infantil e violento, com políticas voltadas à substituição da educação pública por um modelo religioso, com direito a disciplina física de crianças?
  • o presidente da Fundação Palmares é um dos mais aguerridos negacionistas das agendas do movimento negro?
  • o ministro das Relações Exteriores é um terraplanista, cujas declarações absurdas levam o Brasil ao ridículo internacional?
  • o governo tem um guru intelectual, que é um sujeito de trajetória pessoal irregular, a começar pelo modo como criou os filhos, sem formação alguma que se sustente, e que se limita a proclamar conspirações, negar a ciência e ofender a tudo e a todos, com uma obsessão incontrolável pelo ânus, e que mora nos Estados Unidos, segundo consta, por problemas legais no Brasil?
  • o governo foi transformado em um parquinho de diversões pelos filhinhos do presidente?
  • o presidente e seus familiares são umbilicalmente vinculados a milícias do Rio de Janeiro?
  • o presidente ofende, ameaça e intimida a imprensa, instigando apoiadores contra os profissionais do setor, além de promover ostensiva campanha de descrédito a todas as instituições democráticas nacionais, mas ao mesmo tempo governa por tuítes?
A lista é interminável. Nem dá para pensar em tudo, na verdade. Estou aqui pensando em notícias mais recentes, em meio a esse cansaço absurdo provocado por tanta violência e obscurantismo.

Gostaria que alguém me dissesse em qual outro cenário estaríamos vivendo horror semelhante. Convença-me.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Como se fora um jornal vespertino

1

4 horas e 35 minutos. Foi o tempo transcorrido entre a publicação de minha postagem sobre o Prof. Hugo Rocha e a manifestação de um leitor, por sinal um querido amigo, viabilizando o contato. Já tenho como acessar meu mestre. A internet faz maravilhas, quando as pessoas não estão empenhadas em usá-la para o mal.

2

O calor excessivo provoca aumento na evaporação, saturação mais rápida da umidade do ar e, consequentemente, chuva. Esta última parte não estava funcionando. Esta tarde, finalmente, após dias e noites de calor inaceitável, choveu convincentemente sobre Belém. Misericórdia. Espero que o aguaceiro não tenha causado prejuízos, mas o fato é que estávamos precisando desse alento.

3

Embora milhões de brasileiros tenham feito uma opção por renunciar a elas, os funcionários do Banco Mundial estão demonstrando virtudes altamente urgentes: coerência e decência. Enviaram uma carta a seus superiores, opondo-se à nomeação, como diretor, de um dos indivíduos mais repugnantes oriundos do governo brasileiro, pelo menos até que certas posturas sejam revistas. Deixam mensagem clara: se querem ser a maior instituição financeira de desenvolvimento do mundo, seus integrantes devem ter integridade pessoal e comprometimento com as populações a serem atendidas, notadamente indígenas. Eu não passo pano para bancos. Meu elogio vai para esses funcionários. Inspirador.

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Fogo anda comigo?


Sou apaixonado pelo fogo. Ele traz uma paleta de tons de amarelo, minha cor favorita. É luminoso e eu adoro luz. Ele conversa conosco, crepitando. Ele carrega um poder imenso, avassalador e destrutivo, como poucas coisas no mundo conseguem fazer, mas também pode ser associado à renovação da vida, como acontece em terrenos varridos por lava vulcânica. O fogo é respeitado, temido, adorado ou repudiado, mas ninguém lhe fica indiferente. Provavelmente por isso ele também é um símbolo em várias culturas. O Livro do Êxodo diz que Deus falou com Moisés sob a forma de uma sarça ardente. Na mitologia grega, a fênix era um pássaro que morria em autocombustão, porém retornava de suas cinzas.

São tantos os símbolos que, quando se quer fazer um protesto, o fogo é uma linguagem recorrente. Pode-se destruir de várias formas, mas incendiar exige um nível de ousadia que sugere o tamanho da intolerabilidade daquilo contra que se protesta.

A foto acima mostra uma delegacia da cidade estadunidense de Minneapolis sendo consumida pelas chamas. A população em fúria também incendiou e saqueou diversas lojas e, perdoem o trocadilho, pôs mais combustível em uma onda de protestos que se alastra por várias cidades. Tudo começou quando a polícia daquela cidade, com sua longa lista de abusos racistas, matou George Floyd, negro, 46 anos, por asfixia. Um policial branco apertou seu joelho contra o homem já indefeso por vários minutos, provocando-lhe a morte, mesmo com ele implorando pela vida, avisando que não conseguia respirar. Asfixia, vale lembrar, provoca tanto sofrimento que é utilizada como técnica de tortura.

A imprensa está lembrando caso semelhante, de morte por asfixia, ocorrido no passado e que também gerou protestos intensos, mas o rol de brutalidade policial nos Estados Unidos é interminável e, por isso mesmo, há reação dessa espécie e nessa intensidade. E no Brasil? A letalidade policial contra negros e pobres, conceitos que se confundem em nossa realidade, é uma característica indissociável do cotidiano. Sendo que aqui temos uma obsessão por balas perdidas, supostas trocas de tiros e autos de resistência. Este ano estamos contabilizando um aumento de vítimas entre crianças e adolescentes.

O mote desta postagem é: e nós, brasileiros, protestaríamos assim? Além da experiência yankee, que clama contra a desigualdade racial, temos o exemplo dos franceses, habitués de incendiar prédios e veículos quando o governo tenta emplacar alguma medida que lhes retire direitos, trabalhistas, p. ex. O que pretendo dizer é, literalmente, mobilizar uma força extrema por uma boa causa. Não parece ser do nosso feitio. Nem as famosas jornadas de junho de 2013 tiveram essa feição.

Nossa tradição autoritária, que antecede a ditadura civil-militar de 1964-1985, gosta de enfatizar a expressão "protesto pacífico". De um modo geral, o brasileiro médio costuma tachar de vagabundo qualquer um que proteste, porque protesta por liberdade ou por direitos. Às vezes, pela vida. É como se manifestações somente fossem toleráveis quando "pacíficas". Qualquer força do ativista provoca a deslegitimação da luta, seja qual for. Assim fica fácil para o opressor. Porque este segue monopolizando a violência, inclusive e principalmente a de Estado, incensado pela opinião pública, com amplo suporte dos veículos de comunicação.

Lamento informar, contudo, que está cada vez mais próximo o dia em que os protestos levarão a atos de destruição colossais como esse da foto. Só que os incendiários não estarão protestando por liberdade, por direitos ou pela vida. Eles estarão construindo um novo período de exceção, a destruição da democracia e a aniquilação de direitos populares. São as pessoas que se vestem de verde e amarelo para mandar seus serviçais acompanhá-los nas passeatas ou carreatas. São as pessoas que disparam tiros contra um ônibus em movimento, sem se importar com quem poderia morrer, só porque lá dentro viaja um pré-candidato que odeiam. São as pessoas que agridem para fazer recuar os jornalistas. São os empresários que subjugam seus funcionários, para que se fantasiem ou se ajoelhem pela causa que impõem. São os terroristas da internet. São os incendiários da floresta. E o prédio a arder será algum que se oponha a suas intenções, p. ex. a sede de um Supremo Tribunal Federal ou a sua casa, se você tiver, p. ex., se manifestado em uma rede social contra eles.

E nós estamos deixando os cães hidrófobos tomarem conta de tudo. Pelo visto, e como sempre, não aprendemos com o nosso passado nem com a a experiência alheia.

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Usei informações publicadas em https://oglobo.globo.com/mundo/policia-de-minneapolis-acusada-de-racismo-enfrenta-ira-da-cidade-apos-morte-de-negro-24449859, mas o caso está sendo amplamente divulgado pela imprensa.