sábado, 11 de julho de 2020

Pensamentos em um sábado qualquer

Eu me recordo muito bem de 2018, com tantas pessoas dizendo "não temos opções para votar" e, no segundo turno, afirmando que os dois candidatos eram iguais, de modo que tanto fazia vencer um ou outro. Para alguns, minha perplexidade ainda perguntou se realmente acreditavam que Haddad era equivalente ao outro. Responderam-me que sim.

Cínicos. Mentirosos. E covardes, porque nunca tiveram a hombridade de reconhecer a verdade, mesmo agora.

A maioria das opções nos levaria, sim, a um governo de homens brancos e ricos, com discurso "liberal" para a economia, o que implica a implosão das normas de proteção social do trabalhador e do meio ambiente, à carência de políticas contra a desigualdade em suas diversas faces e, mesmo, à manutenção de uma agenda moral conservadora. Mas qual dentre os outros nos colocaria em um cenário em que:

  • a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos viu Jesus Cristo, o próprio, subir em uma goiabeira, mas não viu nenhuma política pública para promover minimamente os temas em sua pasta, no país com o maior número de assassinatos de mulheres, LGBTQI+, etc., no mundo?
  • o ministro da Justiça e Segurança Pública era um juiz federal contumaz em cometer violações expressas à Constituição e à legislação penal e processual penal, cujo maior feito foi ajudar a eleger o chefe e que admitiu publicamente atos ilícitos (como o pedido de pensão, pois abriu mão da carreira na magistratura)?
  • o Ministério da Cultura foi rebaixado e, para a secretaria em apreço, foi designado um entusiasta do nazismo que fez questão de demonstrar isso?
  • o Ministério da Saúde não segurou titulares porque estes contrariavam o chefe ao tentar seguir, minimamente, a ciência, além de ficar vago por dois meses, em meio a uma pandemia global?
  • a aludida pandemia é gerida com o fomento, pelo chefe do Executvo, de condutas que colocarão em risco a segurança e a vida das pessoas de um modo geral, além de que nem 30% do orçamento disponível para o combate à doença foi executado?
  • os ministros da Educação são figuras grotescas, de comportamento infantil e violento, com políticas voltadas à substituição da educação pública por um modelo religioso, com direito a disciplina física de crianças?
  • o presidente da Fundação Palmares é um dos mais aguerridos negacionistas das agendas do movimento negro?
  • o ministro das Relações Exteriores é um terraplanista, cujas declarações absurdas levam o Brasil ao ridículo internacional?
  • o governo tem um guru intelectual, que é um sujeito de trajetória pessoal irregular, a começar pelo modo como criou os filhos, sem formação alguma que se sustente, e que se limita a proclamar conspirações, negar a ciência e ofender a tudo e a todos, com uma obsessão incontrolável pelo ânus, e que mora nos Estados Unidos, segundo consta, por problemas legais no Brasil?
  • o governo foi transformado em um parquinho de diversões pelos filhinhos do presidente?
  • o presidente e seus familiares são umbilicalmente vinculados a milícias do Rio de Janeiro?
  • o presidente ofende, ameaça e intimida a imprensa, instigando apoiadores contra os profissionais do setor, além de promover ostensiva campanha de descrédito a todas as instituições democráticas nacionais, mas ao mesmo tempo governa por tuítes?
A lista é interminável. Nem dá para pensar em tudo, na verdade. Estou aqui pensando em notícias mais recentes, em meio a esse cansaço absurdo provocado por tanta violência e obscurantismo.

Gostaria que alguém me dissesse em qual outro cenário estaríamos vivendo horror semelhante. Convença-me.

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