quarta-feira, 8 de julho de 2020

Juízo final

Em 1973, o sambista carioca Nelson Cavaquinho (1911-1986) lançou seu terceiro álbum, que levava o seu nome. Ali estavam reunidos seus trabalhos que se tornaram mais célebres. A faixa de abertura era Juízo final, uma parceria com o compositor Élcio Soares.

Dois anos mais tarde, a grande Clara Nunes (1942-1983) gravou a canção em seu álbum Claridade, que se tornou o seu maior sucesso comercial. Há quem considere a gravação de Clara a versão definitiva desse belíssimo samba, que ao longo dos anos ganhou inúmeras releituras, nas vozes de diversos artistas. Ao que parece, a letra simples e curta era realmente inspirada e inspiradora.

Como no Brasil da década de 1970 não existiam videoclipes, compartilho um registro televisivo em que Clara Nunes divide o palco com Alcione (1979), a fim de lhes oferecer uma perspectiva dessa versão mais elogiada:



O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente

É o juízo final
A história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver
A maldade desaparecer

Mais de quatro décadas se passaram e eis que, de repente, o clima difícil e em muitos sentidos adoecido experimentado por este país inspirou outra artista a regravar a famosa canção. Ninguém menos que a nossa mulher do fim do mundo, Elza Soares, recém entrada em sua nona década de vida, acabou de lançar o single com a sua versão de Juízo final. Na verdade, graças ao YouTube fiquei sabendo que La Soares interpretou esta canção há dois anos, em dueto com a cantora Pitty, com arranjo orquestrado, durante homenagem a Marielle Franco, àquela altura assassinada há três meses. Novidade, portanto, é uma gravação em estúdio.

Puristas e chatos (o que dá basicamente no mesmo) podem desgostar e reclamar, mas nossa grande diva seguiu os caminhos trilhados em seus últimos discos e modernizou a canção, baseando-a no rock e enchendo-a de enfeites eletrônicos. De quebra, ainda veio com um videoclipe animado muito bacana.

Eu adorei e, honestamente, que me perdoe Clara Nunes, a versão atual tem mais a ver comigo. E é preciso coragem para bulir tão drasticamente com um clássico desse porte. Com vocês, um novo Juízo final:


De novo e como sempre, parabéns, Elza.

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