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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Para onde caminhamos?

Semana passada, houve reunião de pais na escola de minha filha. Pelo tom da conversa, um item específico está incomodando bastante, porque se gastou a maior parte das duas horas e meia descrevendo comportamentos aversivos das crianças e, obviamente, de seus pais, nos quais se origina a anomalia. Concentro-me em um dos casos narrados.

Em uma das turmas existe um garoto que se comporta como um típico bully: dominante, arrogante, gosta de dar ordens e explorar os colegas, p. ex. exigindo que lhe comprem lanche, algo de que ele não precisa; faz apenas porque pode. A escola acionou a família e o pai compareceu. Apresentado o problema, o pai não ficou nem um pouco incomodado. Com a convicção própria dos canalhas, respondeu: "É o mundo cão, professora. Meu filho está aprendendo como as coisas são."

E assim fica tudo explicado: como a natureza não impede que sociopatas procriem, crianças chegam a famílias nas quais serão treinadas para realizar tudo que há de feio e indigno na humanidade, como se fosse algo bom e necessário.

Não sei como a educadora encerrou o atendimento, que se revelou um completo fiasco. Eu, se estivesse em seu lugar e tivesse condições (que, no caso concreto, existem) de tomar uma atitude desse tipo, recomendaria a esse ser abjeto que transferisse seu filho de escola por absoluta incompatibilidade entre os valores desta e os anseios particulares da família. São rumos de orientação inconciliáveis, então é melhor matricular a criança em uma escola mais adequada ao perfil (nem seria difícil encontrar uma, mesmo no down down down no high society).

E como eu sou eu, diria mais: Já que o senhor valoriza tanto o mundo cão, saiba que este possui outra regra importante, a do "com doido, doido e meio". Hoje, o senhor está satisfeito porque é o seu filho quem molesta terceiros. Mas dia chegará em que ele vai se chocar com alguém mais cínico e agressivo. Nesse dia, ele vai perder. Quando esse dia chegar, não me procure. Se ele for humilhado, roubado, espancado, não venha até a minha sala. Aqui, tudo que lhe direi é que esse é o mundo cão e que seu filho, que já aprendeu a agredir, agora precisa aprender a se defender.

E é isso. Estes são os valores da tradicional família brasileira em 2015. Não admira que protestos pela "democracia" e "moralidade" sejam marcados por lamentos sobre os militares não terem assassinado ainda mais pessoas durante a ditadura, que se quer de volta. O horror está vivo nas ruas porque é uma realidade dentro das casas. Honestamente, esse é um mundo em que não dá vontade de viver. Faço o meu papel e ensino a minha filha sobre a importância de ser decente e solidária. Mas não são justamente esses os primeiros a cair?

quarta-feira, 6 de maio de 2015

Qual o propósito?

Dia desses, eu me preparava para uma aula em que faria uma contextualização acerca de crimes sexuais e mencionei a minha esposa que abordaria a questão das cantadas de rua que as mulheres sofrem. Ela me sugeriu, não sei se brincando ou a sério, que exibisse o vídeo "Cantada", do Porta dos Fundos. Apesar de ver relação com o tema da aula, nem cogitei de fazer a exibição, face ao palavreado chulo do esquete (aqui o vídeo). Escolado, sei que na hora as pessoas riem, mas é melhor não dar margem a posteriores melindres.

Recordei-me disto ao tomar conhecimento de que, segundo entendera a princípio, uma professora teria dado um poema erótico para seus alunos da 5ª série, em uma escola municipal de Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Lendo a matéria, descobri que, na verdade, o poema foi dado pela vice-diretora, em ocasião em que a professora da turma havia faltado. A notícia, exígua, não fornece maiores informações, então estou supondo que, diante da ausência da professora, a vice-diretora entrou na turma para suprir uma emergência e, portanto, tomou uma decisão sem planejamento. Foi no impulso ou, até, tentou causar algum impacto. O fato é que, agora, vai responder a um processo disciplinar e pode sofrer uma punição, em tese, até mesmo de demissão.

Não é a primeira vez que profissionais da educação se envolvem em confusão porque adotaram, em sala de aula, algum recurso que remete ao sexo. O meu comentário original seria no sentido de que não vejo mal, honestamente, nesse tipo de expediente, assim como não vejo mal em utilizar humor, expor imagens chocantes (sou de professor de direito penal, ora!), cantar, apresentar performances, etc. O problema não é o recurso, mas a finalidade a que se destina. Se existe uma finalidade pedagógica clara e refletida, se o educador, de boa-fé, supõe que pode favorecer algum conteúdo ou habilidade com certa estratégia, não vejo mal em seu emprego. Mesmo que, eventualmente, estejamos falando de crianças.

Entendam, por favor, que estou longe de ser um professor permissivo. Eu não usaria um poema falando de "pau" e "xota" para crianças de 10, 11 anos. Assim como não quis expor meus alunos adultos aos tabuísmos de um vídeo de humor (que, provavelmente, eles conhecem, assim como inúmeros outros tão ou mais pornofônicos). Assim como não apresento imagens chocantes em minhas aulas, mesmo havendo alguma lógica nisso, porque sei que fere a sensibilidade de muitos alunos e qualquer proveito informativo a ser extraído disso eu poderia obter usando outra estratégia.

Meu objetivo original para esta postagem, contudo, perdeu-se. Agora estou pensando que a vice-diretora tomou essa atitude sem um critério razoável e, com isso, acabou se expondo às críticas dos pais. Sempre há pais ultramoralistas, ao menos quando é para criticar os outros. A escola não pode falhar, em nenhuma medida, no processo de educação que a família brasileira sistematicamente lhe transfere de forma integral.

Isto nos remete, contudo, a uma outra questão: as pessoas continuam, em 2015, a tratar o sexo com a mentalidade da Idade Média. Ele é sujo, pecaminoso e devemos fingir que não faz parte de nossas vidas. Quando ele aparece na escola, então, é um Deus nos acuda. Mas será que isso realmente se justifica?

Um pouco acima da faixa etária das crianças que leram o tal poema, outro dia, aqui em Belém, alunos de uma escola particular gravaram um videozinho usando o aplicativo para smartphone Dubsmash, dublando um funk com letra tosca e sexual (perdoem o pleonasmo) no qual se diz que "a novinha" quer pau. Enquanto o moleque imberbe dizia "pau, ela quer pau", a coleguinha se abaixava como se fosse abocanhar-lhe o membro que daqui a mais alguns anos será efetivamente viril. Degradante, a meu ver, mas real. A escola brasileira quer jogar o que para baixo do tapete?

Penso que é mais interessante colocar o sexo na agenda das instituições de ensino e tentar usar o espaço da escola, cenário das relações horizontais que, ao longo da vida, tornam-se mais importantes para o indivíduo do que as verticais, para falar de consequências, de amor-próprio, de responsabilidade. Nesse sentido, até mesmo o poema "Ciuminho básico" poderia ensejar reflexões, tais como você acha saudável o tipo de relação sugerida no poema?

Por conseguinte, acho que as famílias estão erradas com o estardalhaço. E a escola está errada por se acovardar diante das relações clientelistas que hoje presidem o já complicado trabalho do educador.

No mais, minha mente contrária a desvarios punitivistas ainda lastima que a profissional esteja ameaçada até de demissão, ao menos em tese, quando a responsabilização, se houver (não estou certo nem de que ela mereça uma punição), deve levar em conta uma série de fatores, inclusive a condução da pessoa no trabalho até aqui e as consequências reais de seus atos. Será que alguém perguntou às crianças se elas se sentiram ofendidas? Ou foram somente os pais, os mesmos que deixam os mesmos filhos vendo sexo implícito na novela e fazem vista grossa aos filmes, revistas e à navegação na internet?

Concluo dizendo que achei o poema interessante. Não bonito, não instigante, mas interessante. No estilo, prefiro Elisa Lucinda. E realmente não tenho problema com palavrões, que falo quase o tempo todo. Já publiquei aqui no blog, inclusive, o irreverente "Soneto do caju", do meu poeta favorito, Vinícius de Morais. Como disse antes, tudo é uma questão de propósito. Especialmente se há crianças por perto.

Ciuminho básico (Ana Elisa Ribeiro)

escuta
calado
a proposta rude
deste meu
ciúme:
vou cercar tua boca
com arame farpado
pôr cerca elétrica
ao redor dos braços
na envergadura
pra bloquear o abraço
vou serrar teus sorrisos
deixar apenas os sisos
esculhambar com teus olhos
furá-los com farpas
queimar os cabelos
no pau acendo uma tocha
que se apague apenas
ao sinal da minha xota
finco no cu uma placa
"não há vagas, vagabundas"
na bunda ponho uma cerca
proíbo os arrepios
exceto os de medo
e marco no lombo, a brasa,
a impressão única do meu dedo.

PS - O resultado de suscitar o tema do assédio de rua, na aula, por si só vale uma postagem.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

E hoje foi o fim

Minhas ocupações acadêmicas me tiraram do ar por alguns dias. A última postagem foi sobre a conclusão da fase de educação infantil (a antiga pré-escola), na vida de nossa filha Júlia. Volto ao tema porque essa foi uma questão que nos mobilizou nesses últimos dias.

Hoje (ou melhor, ontem, porque já passou da meia noite), enfim, foi o derradeiro dia de aula. Desde a semana passada, contudo, não havia mais dever de casa e o tempo era bastante empregado nos ensaios da festinha de encerramento do ano letivo. Ontem à noite (domingo, na verdade), eu e Polyana escrevemos mensagens de agradecimento na agenda escolar. Nós realmente sentimos essa despedida. A escola nos cativou de verdade e, ainda por cima, somos emotivos, beirando o nível da breguice.

Júlia passou o dia animada, satisfeita. Há algumas semanas que ela cantarola pela casa os temas da festinha natalina que eu, desgraçadamente, perderei, porque designada para uma terça-feira. Enquanto corre o evento de que eu gostaria de participar, meus alunos farão prova e, obviamente, estarei lá com eles. Frustração e tanto. Ficarei, portanto, com as fotografias, filmes e lembranças que me forem repassadas.

Agradeço publicamente, mais uma vez, e provavelmente pela última em termos de atualidade, a equipe da educação infantil da Escola Santa Emília, que nos proporcionou muitas alegrias, desenvolveu nossa menina muito bem e nos forneceu motivos mais do que suficientes para mantê-la na instituição. E assim a vida seguirá, como deve ser.

Eu sou professor. Trabalhando com educação, mas sendo eu mesmo um estudante e tendo uma filha estudante, estou nos dois lados desse fenômeno. E mais do que nunca sei que, afora o amor, não há nada mais importante, definitivo e transformador do que a educação. Pode ser um clichê, mas é a pura verdade. Formar seres humanos, em alguma medida, é uma honra e uma alegria única.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Fim do primeiro ciclo escolar

Ainda está caindo a ficha de que, contando com o dia de hoje, faltam apenas quatro manhãs para minha filha Júlia entrar de férias, o que em seu caso implica em concluir a educação infantil (a antiga pré-escola). Encerrada esta semana, haverá apenas a festinha de despedida do ano letivo na próxima terça-feira e... fim de uma era.

Mal acredito que um dia desses estava procurando uma escola e escrevendo, aqui no blog, sobre isso e, hoje, três anos se passaram, quase como se fossem apenas alguns meses.

Júlia seguirá na Escola Santa Emília, que mereceu cada um dos elogios que lhe fizemos nesse período e que continua gozando de nossa confiança e respeito. A reunião para tratar da transição reforçou essa nossa impressão. Permaneceremos sob a mesma filosofia, à frente a mestra de gerações, Profa. Benvinda Araújo, mas em outro prédio e com outra equipe. Já estamos saudosos, mas conscientes de que assim é a vida. E esperançosos quanto à nova fase, que passará a ter matérias diferenciadas, professores distintos, obrigações inéditas e, enfim, todo um novo estilo ao qual as crianças precisarão adaptar-se.

Enquanto Júlia sai, o filho de amigos (Aline e Ramon) chega, influenciados também por nossas recomendações. E a vida vai-se renovando. Só posso desejar que seja uma experiência enriquecedora e feliz para todos nós.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Doce colaboradora

Graças a Deus, temos uma filha adorável. Todos os dias, quando a acordamos para a escola, ela compreensivelmente vira para o lado e tenta ficar por ali, mas basta a nossa presença para que se espreguice, comece a conversar (aquela ali fala pelos cotovelos até durante o sono!), a sorrir e a brincar conosco. Em poucos minutos passa da letargia à atividade. Ajuda-nos a arrumá-la e logo está pronta. Quando o transporte escolar chega, sempre se apresenta risonha e bem humorada.

Em suma, se pudesse continuar a dormir, dormiria; se precisa ir à escola, vai sem problemas. Principalmente às sextas, que é o dia do brinquedo. Ao menos nesse aspecto, nossas manhãs começam sem aperreios. Se ela fosse dessas crianças que fazem um inferno para levantar, não sei que rumos teríamos tomado. Mas felizmente não é o caso.

Isso nos traz uma outra grande vantagem: construir a ideia de escola como um lugar onde se vai com prazer, o que certamente se entranhará em sua consciência e há de render frutos. Nesse particular, naturalmente há grandes méritos da escola, que conseguiu ser esse espaço feliz para nossa Júlia. Eu me despeço dela me lamentando por ficarmos tão pouco juntos no começo do dia, mas me reconforta saber que está em boas mãos.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Mudança de rota

Júlia, ontem, deu todos os sinais de que preferia ficar na turma atual. Hoje, contudo, mudou de ideia. Enquanto a mãe a vestia para a escola, questionou sobre que uniforme queria usar: o vermelho, atual, ou o azul, do nível mais avançado. Júlia preferiu o azul. Mas ao ser informada das implicações que isso traria, pareceu hesitante. Disse que começaria indo para a sala atual. Todavia, ao entrar na escola, ela mesma estancou o passo e considerou "melhor" ir logo para a turma nova.

Foi recebida com um abraço pela nova professora e se integrou às atividades, que realizou com interesse. Pediu para visitar a turma antiga, pois queria ver a professora e os colegas. Mas ela mesma destacou que era uma "visita".

Ao final da manhã, estava à vontade, ambientando-se, e já aprendeu os nomes de alguns colegas. O saldo do dia é positivo para a mudança. Mas sabemos que a observação prossegue necessária. Afinal, crianças são suscetíveis a mudanças de opinião e, como disse ontem, o emocional manda.

Em suma, o placar está 1x1. O que será amanhã?

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

O emocional ditando as regras

No último dia 18, escrevi sobre a intenção da escola de minha filha em progredi-la de turma, para que possa estar em ambiente mais adequado ao seu estágio de desenvolvimento. Estando claro que ela está apta à mudança, no plano cognitivo, a grande dúvida ficava por conta do impacto emocional.

Hoje, dia de retorno à escola, foi o momento de testar a ideia. Antes, porém, preciso destacar que, por orientação das próprias educadoras, durante todo o mês de julho deixamos nossa menina à vontade, de férias realmente, sem falar em escola, sem pressioná-la, até mesmo sem fazer brincadeiras com cara de "atividade", exceto quando ela mesma pedia.

Esta manhã, já na entrada, Júlia foi perguntada por uma das coordenadoras sobre a sala para a qual desejava ir. Não respondeu. Ou melhor: respondeu, indiretamente, ao sair correndo, rindo, tratando como mera brincadeira algo importante. Foi direto para a sala antiga, onde se deparou com a melhor amiga. Abraços apertados e um quiquiqui ao pé do ouvido, cheio de risadas, como se fossem adolescentes. Assim também é covardia. Ficou.

Ao longo da manhã, foi levada duas vezes para a sala nova, onde aceitou sem problemas fazer as atividades de lá. Mas assim que acabava pedia para voltar. Isso não nos surpreendeu. Por várias vezes, ela relatou saudade da atual professora, com quem rapidamente desenvolveu uma relação de carinho intenso. É natural que o desapego demore.

Pelo visto, toda esta semana será de testes. Se me perguntarem qual será o desfecho, realmente não saberei dizer. Mas sei que desejo o bem estar de minha filha e, como nunca fiz questão desse salto, não seria um problema para mim se ela continuasse onde está. Com certeza, há outros meios de assegurar-lhe tarefas condizentes com suas necessidades.

Por outro lado, esta mudança precoce pode ajudá-la a entender que, às vezes, a vida pega atalhos e muda aquilo que esperávamos. Isso pode ser importante para o desenvolvimento dela como ser humano. Há poucos dias, ao ser informada de que uma de suas colegas favoritas se mudou de cidade, Júlia desabou em choro. Foi a primeira perda pessoal de sua vida. Mas é assim que as coisas são e precisamos todos compreender.

Como disse na postagem anterior, confio na escola e apoiarei a iniciativa enquanto me parecer sensata, acompanhando de perto o desenrolar dos acontecimentos.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Um primeiro salto

Quando escolhemos a escola de nossa filha, eu e Polyana tivemos os nossos critérios, bastante rigorosos (os leitores do blog à época devem lembrar), e concedemos um voto de confiança à instituição. Não nos deixamos seduzir por tradições, discursos e aparatos físicos. Antes, procuramos um corpo docente que nos transmitisse segurança. Como consequência natural, deixamos que a equipe da educação infantil trabalhasse como achava melhor.

Durante todo o primeiro ano escolar de Júlia, era mais do que evidente que ela estava muito à frente dos conteúdos desenvolvidos em sala de aula. Ela já conhecia todas as letras, números, cores e formas geométricas, p. ex. Mas nunca cobramos absolutamente nada, porque temos consciência de que a iniciação escolar tem uma função maior, ligada ao desenvolvimento socioemocional da criança e de certas habilidades, muitas das quais físicas. Enquanto os mal informados dizem pagar para que as crianças apenas brinquem (e não são poucos os que matriculam seus filhos em escolas para que eles brinquem, mas fora de casa), temos consciência de que uma atividade como colar um pedacinho de lã numa folha de papel cumpre uma função muito específica de estimulação da coordenação motora.

Observamos, assim, um imenso progresso em Júlia. No início do ano passado, ela mal conseguia empilhar três peças de um jogo de montar. No segundo semestre, já conseguia fazer uma pilha grande e passou a segurar muito melhor o lápis de cor. Nunca questionamos, portanto, conteúdos. Estávamos satisfeitos com as novas habilidades de nossa menina.

Veio o segundo ano e, da mesma forma, mantivemo-nos observadores atentos e respeitosos, sem jamais interferir nas deliberações da escola, porque nenhuma violava a nossa compreensão de trabalho bem realizado. Mas eis que as próprias coordenadoras nos chamaram para uma conversa, dizendo que Júlia estava acima das expectativas.

Ao contrário do que pode parecer  e ao contrário do que sentiriam outros pais, talvez a maioria , nossa reação foi reticente. Eu mesmo fui um aluno adiantado e passei toda a vida escolar sendo o mais novo da classe, o que nem sempre foi bom para mim. Preocupávamos com eventuais custos emocionais da mudança, não apenas os imediatos.

Passadas algumas semanas, quando a conversa finalmente aconteceu, as professoras foram enfáticas: a permanência de Júlia na classe onde estava seria um "desperdício" (textuais). Polyana estava preocupada e eu até mais hesitante que ela. As professoras, contudo, já haviam fechado questão e convenceram a mãe. Como não pude comparecer ao encontro, convalidei minha confiança na escola e em minha esposa, claro. Assim, no segundo semestre, Júlia retornará à escola, mas um nível acima, junto à turma que já vinha visitando há algumas semanas, para se ambientar e para mudar a espécie de atividades (por sinal, bem executadas).

Estou na expectativa de como a nossa pequena se sentirá na nova classe, já que para ela os colegas eram as crianças da sala anterior. Ela já manifestou aceitação ao fato mais de uma vez, porém em uma pareceu em dúvida. O fato é que se a tentativa não der certo, ela poderá voltar. Trata-se de uma aposta que todos estamos fazendo.

O lado bom é que todos possuem um objetivo comum: alcançar o que seja melhor para Júlia.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Honesta e responsável

Júlia voltou à escola hoje e foi recebida com o carinho habitual.

Leitores do blog do final de 2010 devem se lembrar das postagens sobre o nosso processo de escolha de uma escola para nossa filha  um processo cheio de exigências, realizado por dois educadores altamente preocupados com a qualidade da educação de nossa menina. Escolhemos a tradicional Escola Santa Emília, que tantas gerações já formou em mais de quatro décadas de existência, sempre lembrada pelo modo carinhoso de lidar com as crianças e pelo ênfase na disseminação de valores necessários à vida em sociedade.

Ficamos muito satisfeitos com o trabalho realizado pela equipe da educação infantil da Santa Emília durante o primeiro ano escolar de nossa menina e por isso a mantivemos na escola. Hoje, especificamente, quero destacar um outro aspecto que merece elogios: a clara atuação sem foco nos lucros. O lucro é indispensável, claro, porque se trata de uma atividade econômica, da qual muitas pessoas tiram o seu sustento. Mas se a instituição tivesse por meta principal enriquecer seus donos, nós, pais, sentiríamos isso no bolso. E não é o que acontece.

Tenho dois motivos concretos para a afirmação. O primeiro: a escola oferece a opção de cobrar uma taxa de material para os pais que não prefiram comprá-lo pessoalmente. Listas de materiais são um terror de pais de crianças, mas não foi um problema para nós. A lista é justa no rol dos itens pedidos e nas quantidades. Por questões de tempo, preferimos pagar. O valor cobrado no ano passado foi de 180 reais e, neste, 200.
Já consideramos um valor justo no ano anterior e, agora, com a variação de apenas 20 reais, julgamos que está plenamente de acordo com a variação do preço das mercadorias em questão. Afinal, nós sabemos que, na boca do caixa, tudo está mais caro do que diz a inflação oficial.

O segundo motivo é o valor da mensalidade, que já era baixo, se comparado às escolas ditas de alto padrão da cidade. Salvo engano, para este ano o índice de reajuste é de 7,2%, mas acabei de ser informado acerca da mensalidade 2012 e percebi que ela respeitou esse patamar e, com o desconto pelo pagamento antecipado, fica até abaixo.

Se acrescentarmos a isso o fato de que, ao longo do ano, a escola não fica inventando taxas e contribuições pelos mais variados motivos (só nos pediram que comprássemos ingressos para a festa junina e para o encerramento, nada mais; a escola providenciou o figurino da peça natalina, p. ex.), a conclusão natural é que, graças a Deus, existem instituições privadas onde o capitalismo não é selvagem. Assim, resta tempo para pensar em educação de verdade.

PS  Lembrei que a matrícula já vale como mensalidade do mês de janeiro. Algumas escolas cobram as duas parcelas separadamente, o que faz pesar o orçamento no começo do ano.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fim do ano escolar

Realizou-se hoje a festinha de encerramento do primeiro ano escolar de Júlia. Houve uma encenação chamada "Um pequeno Natal", na qual cada turma interpretou uma categoria de seres que testemunhou o nascimento de Jesus. Júlia era do grupo das joaninhas.

Até aqui, as crianças ensaiavam e ensaiavam, mas na hora da apresentação mantinham-se dispersas, quase alheias ao evento. Passados estes meses de socialização, contudo, elas aprenderam a se comportar melhor e conseguem cumprir comandos simples. Foi realmente muito legal.

Não há a menor dúvida de que Júlia curtiu bastante. Ela riu, cantou, pulou e gritou de alegria. Ficou absolutamente encantada com a chuva de papel laminado e não queria deixar o recinto enquanto houvesse papel brilhante no chão. Não se convencia de que a festa terminara. Chegou a se aborrecer, mesmo, mas chegara a hora de ir embora. Fotografias finais com as professoras e agora férias. Quando voltar à escola, tudo novo, do uniforme à sala e às professoras.

Acho que a escola tem do que se orgulhar, falando tanto do evento de hoje quanto do trabalho desempenhado ao longo de todo o ano. E é isso. A vida segue.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Férias, mas não minhas

No último dia 18 de janeiro, minha filha Júlia iniciou sua vida escolar. Quem lia o blog no final do ano passado deve se recordar que eu e minha esposa demos uma atenção muito grande à escolha da escola para a qual confiaríamos nossa menina. Fizemos nossa escolha e estamos muito satisfeitos com a Escola Santa Emília, que se desincumbiu muito bem de sua missão. Não temos críticas a fazer, ao passo que temos muitos aspectos positivos a destacar. Numa outra hora.

Neste momento, quero dizer apenas que foi assustador perceber o prejuízo ao trânsito de nossa cidade em apenas alguns meses. Quando comecei a me largar num percurso longo, para deixar Júlia na escola, o tráfego fluía um pouco emperrado. Bastaram umas poucas semanas para que eu fosse obrigado a deixar as vias principais e me enfiar em ruelas secundárias de bairros, estreitas e cheias de lombadas, para conseguir ao menos andar. No começo, dava certo. No segundo semestre, contudo, ficou patente que muita gente estava copiando a ideia. Seja como for, pontos de engarrafamento iam surgindo e se intensificando. Estar atrasado virou uma rotina trágica (e que muito me angustia), embora o meu despertador tenha sido reprogramado. Cada vez menos sono em minha vida, sem que isso me proporcione algum benefício.

Nestas últimas semanas, as técnicas para manter o bom humor perderam a eficiência. Não podia mais tolerar a situação sem esperança de não ter como evitar o sufoco. Não há rota alternativa, nem horário, nem procedimento que se possa adotar para fugir dos engarrafamentos. Passei a contar os dias para as férias de Júlia. Esse dia, enfim, chegou hoje. Vocês não imaginam o quanto comemorei. Penso nesta quarta-feira e acredito que terei 1% a mais de qualidade de vida, porque meu primeiro trabalho é perto de casa. Mas sei que é bom não elevar demais as expectativas.

Júlia permanecerá na Escola Santa Emília porque acreditamos demais na escola. Mas, meu Deus, se penso no próximo mês de janeiro, a hipertensão começa a se instalar em mim...

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O primeiro dia

Enfim, Júlia foi à escola hoje pela primeira vez. O primeiro dia letivo pode ser encarado sob duas perspectivas: a da equipe escolar, que planeja, executa e encara a situação em seu contexto mais global, e a de cada família. No primeiro caso, perguntei a uma das coordenadoras, quando o dia terminou, que nota ela daria para ele, de 0 a 10. Ela respondeu 1.000. Ponderou que não ocorrera nenhum incidente e que pouquíssimas crianças choraram. Verdade. Nós mesmos já havíamos percebido isso.

Já no que nos diz respeito, não ficamos exatamente satisfeitos. E a explicação exige uma contextualização.

O primeiro dia de aula de uma criança pode se tornar "um evento", como classificou uma avó, membro de um séquito que acompanhava uma simpática menina. Ela foi com os pais, a avó e uma empregada de longa data da família. Todos queriam participar. Esse fenômeno se dá, ao menos, entre pessoas que podem se dar ao luxo de sair do trabalho por algumas horas para introduzir o próprio filho na vida escolar. Esse tipo de pessoa sempre tem uma câmera fotográfica digital ou mesmo uma filmadora. E com esses artefatos, acompanhar o passo a passo da criança chega a se tornar obsessivo. A escola, ciente disso, reservou a primeira parte da manhã para a ambientação de todos.

Júlia estava feliz com a novidade. Entrou tranquila em sua sala e foi logo se familiarizando com o espaço. Arrumou umas comidinhas e ficou brincando de cozinhar. Nosso problema começou no fato de que eu e Polyana cumprimos regras. Como a recomendação aos pais era não permanecer dentro da sala, se a criança estivesse bem, aguardamos do lado de fora. O resto do povaréu se espremia na sala, inviabilizando qualquer atividade planejada. A certa altura, cumprindo o cronograma, a coordenadora geral convidou os pais a sair e deixar as crianças com as professoras e auxiliares. Daí que, de repente, Júlia olhou para os lados e viu um monte de crianças com seus pais e ela, sozinha. Veio o choro. A coordenadora pedagógica conseguiu acalmá-la e a levou para nós. Ela já chegou bem, mas a partir daí não quis mais que a mãe se afastasse para nada. Por conta da ansiedade alheia, erramos tentando acertar, porque nos afastamos sem avisar a ela.

Confesso que ficamos frustrados, mas a coordenadora considerou a reação de Júlia positiva, no geral. Preocupamo-nos com o dia de amanhã, mas não há jeito senão vivenciá-lo.

***

Os leitores habituais do blog sabem que a educação de Júlia é questão capital para nós. O marcador "escola" foi criado especificamente para esse acompanhamento. Mas ninguém se preocupe, pois não tenho a menor intenção de produzir um diário da escola de minha filha. Nem mesmo eu teria paciência para isso. O dia de hoje foi um marco, mas como todos os dias, acabou. A partir daqui, as postagens sobre o tema serão relacionadas a questões mais gerais, reflexões e dúvidas, numa tentativa de trocar experiências com outros pais, que porventura passem por aqui. Os relatos de acontecimentos particulares existirão, claro, quando for o caso. Mas não é o meu objetivo.

Agradeço àqueles que têm acompanhado meus textos sobre os temas relacionados a minha filha, reagindo e respondendo com carinho, respeito e espírito de colaboração. Essas posturas ajudam a internet a ser um espaço capaz de construir coisas boas em nossas vidas.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Primeira reunião

Ontem de manhã, eu e Polyana fizemos nossa estreia no mundo das reuniões de pais, na escola. Durante cerca de 1 hora e 40 minutos, a equipe da educação infantil da Escola Santa Emília nos falou sobre o que pretende nos oferecer e quais colaborações espera de nós. De modo mais pragmático, o grande objetivo era tranquilizar as famílias para esta fase de introdução das crianças na escola, facilitar o processo de adaptação e evitar sofrimentos desnecessários — para crianças e adultos.
A reunião foi agradável e útil. E quem o afirma é uma pessoa que considera as reuniões como uma das principais causas de atraso da humanidade. Isto porque, além das abordagens emocionais e declarações de intenções, houve a preocupação em orientar questões objetivas com as quais precisaremos lidar, desde o cumprimento dos horários até mordidas e epidemias de piolhos. As profissionais já estão muito experientes e conhecem bem o que se passa nos corações dos pais e mães, tanto que, quando davam exemplos de atitudes inconvenientes (p. ex., a mãe que se despede da criança repetidas vezes, até que esta finalmente chora e a mãe, com isso, se convence de que é amada; fica aliviada, mas prejudica o filho), eu, que olhava de esguelha para a plateia, via mães rindo nervosas, reconhecendo-se na descrições de atitudes superprotetoras.
Ouvindo as professoras, fiquei impressionado com a constatação do quanto o mundo mudou. Sabemos disso, claro, mas chama a atenção lançar um olhar direto sobre o caso. Ver como mudamos, para pior, dos anos de minha infância para cá. Hoje, o ritmo de vida e de trabalho e as preocupações com segurança geram crianças inseguras e até mesmo fisicamente incompetentes para atividades simples (p. ex., crianças que, criadas em apartamentos, na escola têm dificuldade para pisar na areia, pois têm medo da textura desconhecida), além de gerar pais cada vez mais neuróticos, desesperados por compensações emocionais, cegos por senso de competição e com valores comprometidos. Daí que fiquei muito satisfeito com a promessa da escola de colocar, na base de sua atuação, o desenvolvimento da afetividade, como forma de ensinar cidadania aos pequenos. Ao menos nos discursos, todos os pais que se manifestaram na hora concordaram. Tomara que seja verdade.
Um aspecto particularmente interessante da reunião foi a explicação sobre psicomotricidade. É claro que você já escutou muita gente dizendo que, na pré-escola, a criança vai só para brincar. Uma manifestação não apenas de desdém, mas de desinformação (para ser educado). As professoras explicaram que essas brincadeiras (sim, são brincadeiras; afinal, é a forma de conquistar as crianças!) se destinam a desenvolver a consciência corporal, medida necessária para desenvolver certas habilidades, notadamente o letramento. Quando a criança tem problemas no uso do corpo, isso pode refletir-se em maiores dificuldades para identificar letras, notadamente para distinguir as que são parecidas ("b" e "d", p. ex.) , podendo escrever de forma espelhada (ou seja, ao contrário). Foi bastante didático.
Enfim, foi uma ótima reunião, que nos proporcionou uma grande sensação de escolha bem sucedida. Agora é esperar as próximas horas, para levar Júlia até a escola pela primeira vez. A mochilinha já está arrumada, porque mamãe é muito ansiosa.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

A escola (II)

Ao chegarmos em frente à unidade de educação infantil da Escola Santa Emília, a primeira coisa que me chamou a atenção foi o controle do portão ser feito, naquele momento, por uma avozinha, que nos disse trabalhar ali há 44 anos. Ou seja, quando eu nasci, ela já era funcionária há 9 anos. Um dos quesitos que se deve avaliar na escolha de uma escola para seu filho é a estabilidade dos corpos docente e funcional. Nesse quesito, pelo visto, a avozinha bateu todos os recordes.

Vale lembrar que a escola em si existe há 47 anos, portanto é tradicional e tem seu histórico e sua credibilidade sedimentados no universo educacional desta cidade. Aliás, há um aspecto curioso no modo como as pessoas se referem a ela. Quando perguntávamos a nossos amigos e informantes o que achavam das escolas de seus filhos, se satisfeitos, eles se mostravam animados ora com projetos, ora com atitudes, ora com a infraestrutura. No caso da Santa Emília, contudo, as pessoas costumavam falar com carinho. Elogiavam o que houvesse para elogiar depois, mas a primeira reação era de ternura. Naturalmente, passei a me interessar pelos motivos dessas respostas tão emocionais, mas terei a paciência de viver os próximos anos para descobrir.

A segunda coisa que me chamou a atenção quando entramos lá pela primeira vez foi observar que há livros à disposição da criança por toda parte. Elas são naturalmente convidadas a ler quando passam por esses espaços, descompromissadamente. A oferta fácil de livros era outro aspecto que tínhamos listado para observar e assim mais um ponto foi somado antes mesmo de encontrarmos a primeira professora.

Sem dúvida alguma, a Santa Emília sabe receber um casal de pais. A Profa. Luciana, uma das coordenadoras pedagógicas, parou o trabalho que fazia e gastou mais de uma hora de seu tempo conosco, passeando pela escola, explicando o que acontecia nas salas de aula e por fim respondendo ao nosso longo questionário, sem jamais mostrar pressa, cansaço, desinteresse ou aborrecimento. Mostrou-nos agendas de alunos, trabalhos feitos em sala de aula, recursos pedagógicos, explicou procedimentos, etc. A Profa. Cristina veio depois e igualmente nos dispensou toda a atenção. Gosto de destacar que toda essa boa vontade foi demonstrada sem que elas pudessem ter a menor garantia de que botaríamos nossos pés lá, novamente.

Devo admitir que chegamos à Santa Emília já tocados pelos depoimentos de tantas pessoas que adoram a escola (uma amiga nossa, também professora, e que tem dois filhos lá, é tão apaixonada que parece uma amiga da escola exclusiva; reagiu com emoção quando lhe contei que matriculáramos Júlia). Mas sem dúvida que fomos conquistados na calorosa e humana acolhida que nos foi dada. Fomos convencidos de que nossa filha seria também acolhida nos corações daquelas pessoas, até mais do que em seu trabalho.

Fizemos nossa sabatina e aquele questionamento ético que mencionei na postagem anterior foi respondido de maneira categórica: disse-me a professora que se os pais se recusassem a compreender as posturas da escola quanto à cidadania, inclusão e solidariedade, que preferia perder um ou outro aluno em nome de valores que são mais importantes para a instituição. Fiquei impressionado. Era mais do que eu esperava ouvir. "Não abrimos mão de nossos valores", ela afirmou. E com isso, quem não se enquadrar, que procure uma instituição mais adequada ao seu perfil. A essa altura, a Profa. Luciana me ganhou. Polyana já estava seduzida antes mesmo disso.

Saímos da Santa Emília com a certeza de que voltaríamos. Mantivemos nossos planos e ainda fizemos uma última visita, mas a comparação, a essa altura, já era altamente desfavorável. Só precisávamos confirmar aquilo em que já acreditávamos. Júlia foi matriculada numa sexta-feira, dia de festa de aniversário, numa situação atípica: algumas assistentes tinham uma prova para fazer na faculdade e isso deixou as professoras sobrecarregadas. Esbaforidas, quando as coordenadoras nos viram de novo lá, disseram que nossa presença lhes injetava um novo ânimo num dia complicado e agradeceram, emocionadas, estarmos lhes "entregando" nossa filha, manifestando o desejo de estar à altura dessa confiança.

Enfim, o pacto está feito. Depois de amanhã, sábado, a escola nos receberá, juntamente com os demais pais de crianças novatas, para a primeira reunião. E segunda-feira é dia de mudar as vidas de nossos pequenos.

Face ao elevado interesse que tenho pelo assunto, daqui por diante, postagens sobre a Escola Santa Emília serão frequentes. Quero compartilhar experiências com outros pais de estudantes extremamente jovens, nessa inquietante fase da vida (para nós). Vamos testar nossos planos, acertar e errar, se Deus quiser acertar mais vezes. E aprender com tudo.

A escola

Foi em março de 2010 que escrevi pela primeira vez sobre escolher uma escola para Júlia. Já naquele momento, expliquei por que considerávamos essa uma decisão tão complexa. E sim, continuamos convencidos de que não poderíamos ter agido com menos rigor e preocupação com o caso. Fizemos uma triagem inicial de estabelecimentos para visitar e elencamos uma enorme quantidade de itens a verificar. Mas não se deve pensar que perdemos o senso de realidade com isso. Sempre tivemos a consciência de que há diferenças entre o ideal e o possível. Nós sequer teríamos tempo para examinar cada um dos itens listados na postagem em apreço, ou no formulário elaborado por Polyana, que continha outros aspectos, mais ligados ao projeto pedagógico da escola e à forma de se relacionar com as crianças e suas famílias.

Conversando sobre o que desejávamos para nossa filha, decidimos que algumas escolas, mesmo que de excelente reputação, não seriam sequer visitadas. E acabamos eliminando da lista de visitas uma instituição que se relacionou conosco de maneira inadequada, seja porque criou embaraços para nos receber, seja porque não deu aos pais que a visitaram liberdade para fazer seus próprios questionamentos, além de se comportar de forma algo dogmática em relação a sua proposta pedagógica.

No final das contas, visitamos apenas três escolas, menos do que gostaríamos, mas de certo modo isso ocorreu porque já estávamos conquistados.

Guardamos boas lembranças do Colégio Ipiranga, que visitamos em duas oportunidades. Na primeira, por lapso, fomos no turno da tarde e não a vimos em funcionamento. Na segunda, porém, conseguimos vê-la ativa. Situada na Tv. do Chaco, entre Almirante Barroso e 25 de Setembro, tem instalações amplas, com áreas livres e bem servidas no quesito segurança. Gostamos de ver que as salas de aula disponibilizam livros e brinquedos, que ficam à mão das crianças. Esse era um aspecto que já programáramos para observar. Dotada de brinquedoteca, quadra esportiva, ambulatório, horta, espaço para cozinhar, pareceu-nos ter uma clara preocupação com o seu público. Notei, inclusive, duas oportunas cadeiras de rodas à disposição.

Visita não agendada, não nos encontramos com a coordenação pedagógica, mas duas professoras conversaram conosco, uma delas tendo a boa vontade de deixar seus alunos com as assistentes e nos atender sem pressa e com muita consideração. Nós é que nos sentimos atrapalhando. Ela respondeu todos os questionamentos que fizemos e saímos com uma boa impressão. Por isso, sinto-me à vontade para recomendar o Colégio Ipiranga àqueles que pretendam oferecer a seus filhos uma boa escola.

A terceira escola visitada, apesar das excelentes referências, não nos empolgou. Como disse antes, de certa forma porque já estávamos conquistados. Mas o motivo principal foi a ambientação. Apesar da proposta muito bem pensada, assim como das estratégias escolhidas para implementá-la, ficou claro que o estabelecimento atende a um público com perfil muito elitizado e lida com isso de um modo que me incomodou. Repeti a pergunta que já fizera às escolas anteriores, sobre ética (atitudes das famílias e respostas da escola às mesmas), e a explicação me deixou claro, apesar do discurso ponderado, que haveria leniência com eventuais posturas arrogantes dos pais.

Some-se a isso o fato de não estarmos convencidos, ao menos por enquanto, de que o ensino bilíngue é a melhor opção (há muitas e relevantes opiniões em contrário). Daí resultou que a opção foi rejeitada nessa visita.

Resta, enfim, falar da escola escolhida. Mas ela, claro, terá a sua própria postagem.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Batido o martelo

Embora eu tenha dito que o processo de escolha de uma escola para nossa filha Júlia seria relatado aqui no blog, como forma de ajudar outras pessoas que estivessem em situação parecida, encarava isso como essas coisas que todo blogueiro escreve achando que será lido, mesmo que não seja. Curiosamente, às vezes somos de fato. E aconteceu de mais de uma pessoa me perguntar pelos textos que prometi escrever. Eles realmente queriam uma opinião, para auxiliar suas próprias escolhas.
Nossas ocupações diárias nos impediram de agir de modo mais metódico e o fato de as matrículas já estarem abertas (em muitos casos, com vagas esgotadas) nos pressionou a tomar uma decisão esta semana, a todo custo. Assim, os nossos trabalhos foram encerrados hoje. Júlia já está até matriculada.
Conforme prometido, escreverei sobre as escolas que visitamos. No final das contas, foram apenas três, mas aqui cabe uma explicação.
Quando começamos a nos preparar para essa tarefa, fizemos uma tempestade cerebral com os nomes de escolas de maior reputação. Esta pré-seleção sofreu logo os primeiros cortes. O primeiro: nada de escolas religiosas. A vedação foi minha. Sou muito turrão para certas coisas e defendo que a educação seja laica. Não para todos, não para o mundo, mas para a minha filha. Reconheço que pode ter havido um certo exagero de minha parte, mas assumo a responsabilidade pela restrição. O segundo corte foi no sentido de eliminar as instituições com fama de elitistas, pois a primeira escola influenciará profundamente os valores da criança e a construção de suas relações horizontais. Colocar Júlia em um ambiente onde as diferenças de classes sejam sentidas foi amplamente rejeitado por mim e por Polyana, por entendermos que tais escolas são lenientes com atitudes que, para nós, soam como inversão de valores. Assim, eliminamos logo de cara, sem direito a visitas, duas das mais famosas instituições da cidade. Uma delas foi riscada pelos dois critérios.
Ao menos três respeitáveis alternativas foram até consideradas, mas acabamos por eliminá-las sem visita por causa da localização. São distantes demais de nossa casa e, com o trânsito horroroso da cidade, não vimos viabilidade. Lara e Bernardo, filhos de amigos nossos, estarão em uma dessas, o CIEC.
Ficamos, assim, com quatro referências, mas uma delas foi eliminada esta semana por falta de receptividade, como expliquei na postagem "Eliminada da lista", aí abaixo.
Uma última alternativa — uma simpática e bem conceituada escola de bairro com 30 anos de tradição e que fica a alguns metros de nossa casa, uma alternativa natural portanto — foi considerada até o último minuto, mas deixamos de visitá-la porque Polyana já atingira o estado em que não adianta mais argumentar. A escolha já estava feita em seu coração.
Portanto, considerando um pouco mais de dez hipóteses, efetivamente visitamos três e uma delas acertou em cheio a d. Polyana. Ao longo do final de semana, portanto, relatarei essas três visitas. E a partir do próximo ano, conversaremos sobre o trabalho efetivamente realizado pela escola escolhida.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Eliminada da lista

Um assunto ao qual dei enorme importância aqui no blog simplesmente desapareceu dele: a busca de uma escola para nossa filha Júlia, para que ela inicie seus estudos no próximo mês de janeiro. E foi pura falha, posto que nesse meio tempo visitamos duas instituições, que nos causaram ótimas impressões. Falarei um pouco sobre isso em outra postagem. Esta, contudo, destina-se a justificar uma exclusão sumária que acabamos de fazer.
Em 24 de setembro, última vez que postei sobre o tema, reclamei de uma escola que postergou a nossa possibilidade de visitá-la, sem que pudéssemos compreender a razão. Pois foi justamente ela que nos aborreceu hoje e acabou eliminada da lista de possibilidades, sem uma visita sequer. E pela primeira vez menciono um nome: Acrópole.
A Acrópole sempre foi uma de nossas alternativas mais consideradas. Gozando de boa fama e se localizando bem mais próxima de nossa casa do que outras instituições, além da infraestrutura sabidamente privilegiada, tínhamos grandes expectativas quanto a essa escola, dada a proposta pedagógica convincente, bem vendida através de um site bacana. O único senão era o gigantismo da escola, um entrave sobretudo na educação infantil. Na prática, todavia, a simpatia acaba no site. O atendimento, pelo telefone ao menos, é rude, autoritário e cerceador de perguntas.

Polyana telefonou, hoje, para saber da possibilidade de uma visita. Responderam-lhe que somente a partir do dia 25 e logo avisaram que as turmas da manhã já estão lotadas. Que há vagas somente para turmas vespertinas. Polyana questionou sobre a possibilidade de não haver mais vagas no dia 25. Responderam que é possível abrir uma outra turma à tarde. Mas o problema é que o ano letivo está no fim. Talvez no dia 25 as aulas já tenham acabado e, como é óbvio, não temos o menor interesse em visitar uma escola que não esteja em plena atividade. Reforça-se a ideia de que há um problema de transparência.

Conversei com uma amiga, que conseguiu visitar a reticente escola, e soube por meio dela que a visita fora programada para várias pessoas contatadas previamente, mas não era uma conversa, e sim uma palestra para apresentar o projeto pedagógico. Não havia atendimento individualizado. Ou seja, a escola só apresenta o que quiser. Esta amiga teve a mesma opinião sobre a impessoalidade e rispidez do tratamento.
Para arrematar, soube por meio dela que a Acrópole sustenta que, passada a semana de adaptação da criança (como assim "semana"? o tempo é pré-determinado?), os pais são obrigados a deixar a criança na porta da escola e pegá-la de volta ali. Não podem entrar, porque isso prejudicaria o desenvolvimento da independência da criança. Fala sério. Quando o método vira dogma, não há como tolerar.
Em síntese, estas as razões pelas quais a Acrópole deixou de merecer sequer uma visita. Afinal, escola que não sabe acolher nem os pais, numa fase em que precisam ser convencidos do produto à venda, como acreditar que acolham as crianças?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Escola: primeira visita

A despeito do percalço descrito na postagem anterior, eu e Polyana finalmente realizamos nossa primeira visita, na tarde de ontem. Infelizmente, por uma falha de comunicação, não sabíamos que as turmas são todas matinais, de modo que a instituição nos abriu suas portas quando estava vazia, silenciosa, com meia dúzia de funcionários e sem condições de nos exibir suas dinâmicas em plena atividade.

Fomos, entretanto, recebidos com gentileza e interesse. Pemitiram-nos percorrer salas de aula, banheiro, brinquedoteca, área de lazer. Algumas perguntas foram respondidas a contento e outras ficaram pendentes apenas porque nossa guia integra o corpo administrativo, não podendo esclarecer quanto aos métodos e procedimentos educacionais propriamente ditos. Isto ficará para o nosso retorno, quando então esperamos ver a escola como ela é, de verdade.

Foi, por assim dizer, apenas um ensaio. Mas já teve a sua utilidade. Afinal, orienta-nos ao que observar e questionar, no momento oportuno.

Regra de mistério

Quem acompanha o blog sabe que eu e minha esposa nos impusemos uma procura criteriosa por uma escola para nossa filha, que deverá iniciar sua vida estudantil em janeiro, quando estiver com dois anos e cinco meses.

Inicialmente, externei nossas preocupações com o ambiente em que Júlia desenvolverá valores. Posteriormente, mencionei que começaríamos a fazer visitas em escolas e que eu publicaria nossas impressões, eis que a ideia é criar uma espécie de roteiro para auxiliar outros pais que, adiante, possam se encontrar no mesmo dilema em que ora nos vemos. Teria sido muito bom se pudéssemos contar com um roteiro desse tipo, não genérico, mas descrevendo a real conjuntura educacional da cidade de Belém hoje.

A partir de conversas que tivemos com profissionais da área e com amigos-pais, além de leituras, concebemos uma relação de itens a observar nas visitas, que estamos começando com um certo atraso frente ao prazo que nós mesmos nos déramos.

Ontem, por fim, marcamos a nossa primeira visita. Mas antes telefonamos para uma escola e explicamos nossa intenção. Fomos surpreendidos com a notícia de que visitas somente serão admitidas a partir de novembro. A limitação nos pareceu estranha e injustificada — eu diria mesmo suspeita —, mas quando Polyana perguntou o motivo, a resposta foi ainda pior: "É a norma, moça!"

A escola em apreço, que já ganhara um ponto extra por possuir um ótimo site, já que a esmagadora não possui nenhum, acabou de perder dois: um, pela proibição inaceitável; outro, pela secura de sua preposta, que nos vendeu uma imagem de autoritarismo e apego à forma que destoa radicalmente da imagem pública vendida e, sobretudo, do que entendemos por educação.

Se alguém puder me dizer que interesse as escolas teriam em fixar uma janela (pequena, diga-se de passagem, já que as matrículas devem começar em dezembro) para os pais as conhecerem, agradeço a informação.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Fora do ar

Considero absolutamente fora de contexto e de propósito que um empresário, prestador de serviço ou congênere, a esta altura do campeonato, não possua uma página na Internet. Se a propaganda é a alma do negócio e hoje, com a concorrência, temos uma necessidade maior de vender os nossos méritos, por que razão alguém fica de fora desse filão?
Há alguns anos, até se poderia argumentar que modestos comerciantes não teriam condições financeiras de suportar a construção e manutenção de uma página. Hoje, entretanto, quando qualquer um pode usufruir um de Blogger da vida, ou provedores semelhantes, criando ao menos um blog, totalmente gratuito e usando ferramentas (para montagem da página) que até mesmo uma criança seria capaz de manusear, qual é a desculpa?
Pensando em empreendimentos de maior porte, a omissão beira o descaso. E isso passa uma péssima impressão ao eventual consumidor, porque se o sujeito não zela nem pelos próprios interesses, por que eu acharia que ele seria mais eficiente com os meus?
Estive pensando nisso nos últimos dias, quando a necessidade de escolher uma escola para Júlia fez com que eu e Polyana constatássemos que as escolas de Belém, por alguma razão, parecem avessas à Internet. Dos estabelecimentos que pré-selecionamos para visitar, apenas dois veja bem: eu disse apenas dois mantém sites. Alguns, que gozam de enorme prestígio, por sinal, permanecem fora do ar. E não consigo encarar nisso uma simples decisão do tipo "não preciso de um site". Tem que haver algo mais.
Observei, mais, que os dois sites institucionais que visitamos são muito bons. Visualmente, têm ambos o seu acanhamento e poderiam ser bem melhores, mas são ótimos quanto ao conteúdo. Apesar dos textos previsivelmente entusiasmados (claro, destinam-se a vender um serviço), apresentam bem as duas instituições e aquilo que interessa aos futuros pais de alunos: proposta pedagógica, serviços, infraestrutura, etc. Um deles informa preços (preocupação óbvia nossa) e também os nomes da equipe, inclusive dos inspetores. Isso é muito positivo para pessoas na minha situação. Sem jamais ter posto os pés na escola, já sei os nomes completos das pessoas que se tornariam responsáveis por minha filha, da diretora ao porteiro.
Isso é respeito pelas famílias, pela criança e pela delicada missão escolhida. É profissionalismo.
Então me pergunto se as demais escolas, a grande maioria que se mantém fora do ar, assim procedem porque não querem ter o trabalho de elaborar textos explicando o que fazem, quais são suas propostas, seu projeto pedagógico, etc. E se com tantos anos de atividade não dispõem desses documentos, há algo de muito errado, não há?
Em suma, essas duas escolas, antes de qualquer visita, já ganharam um ponto cada.