quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Para onde caminhamos?

Semana passada, houve reunião de pais na escola de minha filha. Pelo tom da conversa, um item específico está incomodando bastante, porque se gastou a maior parte das duas horas e meia descrevendo comportamentos aversivos das crianças e, obviamente, de seus pais, nos quais se origina a anomalia. Concentro-me em um dos casos narrados.

Em uma das turmas existe um garoto que se comporta como um típico bully: dominante, arrogante, gosta de dar ordens e explorar os colegas, p. ex. exigindo que lhe comprem lanche, algo de que ele não precisa; faz apenas porque pode. A escola acionou a família e o pai compareceu. Apresentado o problema, o pai não ficou nem um pouco incomodado. Com a convicção própria dos canalhas, respondeu: "É o mundo cão, professora. Meu filho está aprendendo como as coisas são."

E assim fica tudo explicado: como a natureza não impede que sociopatas procriem, crianças chegam a famílias nas quais serão treinadas para realizar tudo que há de feio e indigno na humanidade, como se fosse algo bom e necessário.

Não sei como a educadora encerrou o atendimento, que se revelou um completo fiasco. Eu, se estivesse em seu lugar e tivesse condições (que, no caso concreto, existem) de tomar uma atitude desse tipo, recomendaria a esse ser abjeto que transferisse seu filho de escola por absoluta incompatibilidade entre os valores desta e os anseios particulares da família. São rumos de orientação inconciliáveis, então é melhor matricular a criança em uma escola mais adequada ao perfil (nem seria difícil encontrar uma, mesmo no down down down no high society).

E como eu sou eu, diria mais: Já que o senhor valoriza tanto o mundo cão, saiba que este possui outra regra importante, a do "com doido, doido e meio". Hoje, o senhor está satisfeito porque é o seu filho quem molesta terceiros. Mas dia chegará em que ele vai se chocar com alguém mais cínico e agressivo. Nesse dia, ele vai perder. Quando esse dia chegar, não me procure. Se ele for humilhado, roubado, espancado, não venha até a minha sala. Aqui, tudo que lhe direi é que esse é o mundo cão e que seu filho, que já aprendeu a agredir, agora precisa aprender a se defender.

E é isso. Estes são os valores da tradicional família brasileira em 2015. Não admira que protestos pela "democracia" e "moralidade" sejam marcados por lamentos sobre os militares não terem assassinado ainda mais pessoas durante a ditadura, que se quer de volta. O horror está vivo nas ruas porque é uma realidade dentro das casas. Honestamente, esse é um mundo em que não dá vontade de viver. Faço o meu papel e ensino a minha filha sobre a importância de ser decente e solidária. Mas não são justamente esses os primeiros a cair?

3 comentários:

Anônimo disse...

Quem não faz o filho chorar, chorará por ele.
Kenneth

Tatiana Gonzaga disse...

Adorei tudo por aqui! Parabéns pelos textos, pela sensibilidade, inteligência... Nota mil.

Yúdice Andrade disse...

Se por chorar queremos dizer conscientizar acerca da inevitabilidade das frustrações, Kenneth, estou de pleno acordo.

Muito obrigado pela boa avaliação, Tatiana. Volte sempre.