sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Regra de mistério

Quem acompanha o blog sabe que eu e minha esposa nos impusemos uma procura criteriosa por uma escola para nossa filha, que deverá iniciar sua vida estudantil em janeiro, quando estiver com dois anos e cinco meses.

Inicialmente, externei nossas preocupações com o ambiente em que Júlia desenvolverá valores. Posteriormente, mencionei que começaríamos a fazer visitas em escolas e que eu publicaria nossas impressões, eis que a ideia é criar uma espécie de roteiro para auxiliar outros pais que, adiante, possam se encontrar no mesmo dilema em que ora nos vemos. Teria sido muito bom se pudéssemos contar com um roteiro desse tipo, não genérico, mas descrevendo a real conjuntura educacional da cidade de Belém hoje.

A partir de conversas que tivemos com profissionais da área e com amigos-pais, além de leituras, concebemos uma relação de itens a observar nas visitas, que estamos começando com um certo atraso frente ao prazo que nós mesmos nos déramos.

Ontem, por fim, marcamos a nossa primeira visita. Mas antes telefonamos para uma escola e explicamos nossa intenção. Fomos surpreendidos com a notícia de que visitas somente serão admitidas a partir de novembro. A limitação nos pareceu estranha e injustificada — eu diria mesmo suspeita —, mas quando Polyana perguntou o motivo, a resposta foi ainda pior: "É a norma, moça!"

A escola em apreço, que já ganhara um ponto extra por possuir um ótimo site, já que a esmagadora não possui nenhum, acabou de perder dois: um, pela proibição inaceitável; outro, pela secura de sua preposta, que nos vendeu uma imagem de autoritarismo e apego à forma que destoa radicalmente da imagem pública vendida e, sobretudo, do que entendemos por educação.

Se alguém puder me dizer que interesse as escolas teriam em fixar uma janela (pequena, diga-se de passagem, já que as matrículas devem começar em dezembro) para os pais as conhecerem, agradeço a informação.

5 comentários:

Bernardo Pereira disse...

Realmente yúdice é importantíssimo observar as condições da escola antes de colocar alguém p/ estudar no local. Eu mesmo, quando mudei de escola fiz esse procedimento com meus pais e foi interessante, no mínimo.
Concordo, quando você diz que a escola que impediu a visitação perdeu pontos. Tal fato é inadequado p/o que se espera de uma instituição de ensino, tanto d enivel superior, quanto d enivel fundamental e/ou médio.
Não sou a pessoa mais adequada para dar opiniões sobre esse tema, já que não tenho filhos, mas não aconselho colocar em uma escola de porte grande, neste momento, como nazaré, ou outros.
Eu estudei até a 4ª série (o que seria hoje a 5ª, já que pelo que li agora se tem até a 9ª série do ensino fundamental), em um colégio pequeno, chamado Poranga Jucá, e afirmo que foi uma experiência excelente. De fato, quando mudei para o Nazaré estranhei a situação, mas percebi que tive uma base intelectual e moral mais bem sedimentada, já que não estava vulnerável aos diversos estímulos negativos que um colégio de grande porte oferece.Com 10 anos já tinha muito mais condição de manter meus princípios, já solidificados. Essa é a minha opinião, acredito que tive uma excelente educação em um colégio pequeno, onde todos os pais podiam participar ativamente do crescimento dos filhos, onde todos se conheciam pelo nome, e que o objetivo maior era realmente a educação da criança, e não a mercantilizaçãodo saber. Não quero dizer que o nazaré não é um bom colégio, apenas acho que parte dos alunos, ao menos quando entrei na instituição, não tinham um comportamento adequado. Abraços, Bernardo Pereira

Yúdice Andrade disse...

Agradeço o teu gentil depoimento, Bernardo. E estamos de acordo: para a educação infantil, escolas grandes são inconvenientes. Infelizmente, Belém não dispõe de muitas opções. Uma iniciativa excelente, a Escola Girassol, não resistiu às injunções do mercado. Se ela ainda existisse, colocaríamos Júlia lá sem medo. Assim, somos obrigados a avaliar estabelecimentos grandes, que se tornam viáveis quando a educação infantil é funcional e fisicamente separada do restante. É uma alternativa.
No mais, embora nesta fase ainda me pareça conveniente não citar nomes, farei uma exceção e direi que o Colégio Nazaré está na relação dos estabelecimentos que nem sequer visitaremos, embora tenhamos algumas boas referências de sua metodologia e rotinas docentes. Há razões fortes para tomarmos essa decisão apriorística.
Um abraço.

caio disse...

Fazes muito bem, professor.

Até a minha 5 série (6, atualmente), estudei em um colégio como o Bernardo falou. Nem existe mais, era o CIB (Centro Infantil de Belém). Quando cheguei no Nazaré, experimentei sensação parecida, de estranhar o comportamento de boa parte dos alunos. Para ficar no exemplo, no CIB me mandaram à diretoria em um dia que falei um palavrão que conheci na rua. Já no Nazaré, faz parte da linguagem coloquial de muita gente, de forma que ali aprendi todos os outros! (rs).

Notei também que tinha mais facilidade em aprender as disciplinas do que a maioria da sala. Era tão diferente (também não falava mal de professor a não ser que ele realmente não soubesse passar bem a matéria) que não demoraria muito a sofrer alguma rejeição. Depois, alguns amigos que já estudavam antes dizia que a ordem ali ruiu quando o Irmão Artur, de austeridade conhecida, saiu em 1999 (entrei em 2000). Ele chegou a retornar em 2004, mas os ratos já estavam acostumados a fazer a festa e ele não conseguiu se impor - parece que ele saiu de novo.

Meus cinco anos de Nazaré, da sexta ao Terceirão, não foram só coisas ruins. Às vezes, me bate até saudade de alguns tempos lá. Mas não o indico. A não ser que os pais não vejam mal em o filho crescer em um ambiente à la aquelas escolas de filmes adolescentes americanos (permissividade que já me deu alegrias, é verdade, mas como face educacional, não é nada recomendável, a não ser que se fale de alguma "escola da vida" para Belém do Pará).

Enfim, a descrição que pus na Desciclopédia é baseada em experiências reais.

Grande abraço e boa sorte!

Bernardo Pereira disse...

Uma escola, professor, que sei que continua bravamente resistindo ao mercado é o CEOL, que foi o que surgiu com a "quebra" do Poranga Jucá.
Como muitas das minhas profs estão lá, já fui algumas vezes, e fiquei satisfeito com o que ofereciam: as festinhas eram parecidas, um espaço para brincadeiras sadias, e educação de qualidade. Um local com fortes bases ideológicas e de respeito. E conforme a declaração do Caio, vemos que o Nazaré deixa traumas hehehe.
Caio, realmente entrei no período da Gina e a escola entrou numa queda, em se tratando de respeito. Também tive a felicidade de estar no período em que o irmão Arthur voltou, no qual houve um resgate de principios e valores. Infelizmente quando as coisas melhoraram, ele foi transferido novamente.. tenho pena dos jovens que ficaram, perderam a oportunidade de conhecer um grande educador.
Enfim, professor, continue fazendo isso: visite as escolas , pergunte e se informe, e se possível pergunte para alunos que já estão na faculdade...as impressões deles tendem a ser de grande valia, pois eles (nós) passaram pelo que realmente aconteceu.
Abraços e boa sorte nessa tarefa, que hoje em dia é mais uma missão
Bernardo Pereira

Ana Miranda disse...

Ah, Yúdice, que momento difícil esse seu, viu?!
Muito estranho uma escola marcar um "período" para que os pais possam conhecer suas dependências.
Se não há na da a esconder, acho que qualquer dia seria bom. Até entendo a escolha de um horário, para que não atrapalhe o andamento interno da escola, mas um período, por quê???