De vez em quando levo a pequena Júlia até a Foxvideo da Dr. Moraes, onde há um espaço infantil muito agradável. A livraria ali é muito boa, tanto a infantil (o acervo é variado e caprichado) quanto a adulta, onde encontramos inclusive títulos não comerciais, obras técnicas e artísticas bem interessantes. Neste final de semana prologado topei por lá com este livro: Contos de horror do século XIX escolhidos por Alberto Manguel, editado pela Companhia das Letras.
Já possuo duas antologias semelhantes. Uma, também de contos de terror, outra de contos de crime, mistério e morte. Os títulos são mais ou menos assim. Minha esposa critica essas escolhas, por achar que já passo muito tempo pensando em tragédias por razões profissionais, então poderia afastar-me disso na hora do lazer. Mas fazer o quê? Sempre apreciei o gênero e, pelo menos, tenho o alento de saber que é tudo ficção, por isso não me abato.
Hesitei em comprar o livro, porque antologias costumam ser aborrecidamente repetitivas. Mas observei a especificação (século XIX) e decidi ver o índice, para tentar identificar textos já conhecidos. Embora a memória me possa trair, não encontrei nenhuma repetição em relação aos dois títulos que já possuo. E constatei, satisfeito, que uma figurinha inevitável nessas compilações, o grande Edgar Allan Poe, comparece com um texto que desconheço ("Os fatos no caso do sr. Valdemar", uma incursão pela ficção científica). Algo semelhante se diga de Bram Stocker ("A selvagem"), escrevendo sobre temática diversa de vampiros, mas mantendo a tradição de provocar medo. O prefácio informa que escrever "histórias de fantasmas" para publicar compilações na época do Natal era uma "tradição da era vitoriana". E para minha surpresa, Eça de Queiroz marca presença ("A aia"), num gênero que eu nem imaginava que ele explorara.
Obras de um tempo em que o terror era mais psicológico e moral do que físico e visual, em que a força estava no medo e não no recurso fácil e brega do sangue e da gosma esguichando sobre jovens peitudas e apavoradas, cativam desde o estilo gracioso da linguagem, mas sobretudo pelo conteúdo. Alguns contos, como era de se esperar, são bem chatinhos. Mas outros são espetaculares, como "Os lábios", de Henry St. Clair Whitehead. E olha que este senhor se tornou reverendo. Mas a amizade pessoal com H. P. Lovecraft certamente foi inspiradora.
Tratando-se de um livro de contos, é possível usufruir dele rapidinho, algumas gotas por dia, valorizando as horas de ócio. Fica a dica, para quem aprecia o horror. Literário, é claro.
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