quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mais um Oscar perdido

Gilberto Gil não é mais ministro da Cultura, mas mesmo assim alguma coisa está fora da nova ordem mundial naquele ministério1. Digo isto porque, na manhã de hoje, o filme Lula, o filho do Brasil (dir. Fábio Barretto, Brasil, 2009) foi escolhido para representar o nosso país na pré-seleção ao Oscar de melhor filme estrangeiro para 2011.
Quem toma essa decisão é uma comissão de seleção composta por nove membros, dos quais quatro indicados pela Academia Brasileira de Cinema (sim, existe uma), dois pela Agência Nacional de Cinema ANCINE e três pelo ministério. Ou seja, vinculação demais ao governo. Mesmo assim, Roberto Farias, presidente da ABC, supondo que somos todos uns beócios, afirmou que “Votamos no filme que nos pareceu mais bem feito, que honra a cinematografia brasileira e tem como atriz Glória Pires, que se torna uma excelente candidata ao prêmio de Melhor Atriz. (...) Nossa posição não tem nenhuma ligação política. Lula é uma estrela aqui e fora daqui, internacionalmente conhecida.”
Fala sério. O filme sofreu diversas e pesadas críticas quando de seu lançamento e, pelo tamanho da expectativa, tornou-se o maior fracasso de público e de crítico do cinema brasileiro este ano. Nem Glória Pires adiantou.
Observando a lista de 23 candidatos, eu votaria em Chico Xavier (dir. Daniel Filho, Brasil, 2010), que é uma obra espetacular e, pelo tema e carisma do biografado, teria boas chances de impressionar o público estadunidense, inclusive porque Chico visitou aquele país e mobilizou a imprensa, na época. Penso que seja uma opção mais viável do que o atualmente em cartaz Nosso Lar (dir. Wagner de Assis, Brasil, 2010), cujas pretensões são audaciosas e estão obtendo resposta do público, mas não oferece a mesma qualidade.
A ideia de que a popularidade de Lula alavancará a sua cinebiografia em nível internacional é de uma ingenuidade terrível, para dizer o mínimo.
No mais, podemos perfeitamente admitir que a escolha não está associada ao momento eleitoral que vivemos. Podemos admitir que a decisão seria tomada também em um ano não eleitoral, sob os mesmos argumentos. Ainda assim, seria uma grande bobagem. Pode contar que os burocratas e artistas de Hollywood não se comoverão com nada do que está sendo dito e o Brasil, mais uma vez, não receberá a indicação.
A notícia do site governamental está aqui.


1 A canção "Fora de ordem" foi composta pelo demochato Caetano Veloso mas, que eu me lembre, também foi gravada por Gilberto Gil.

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