Belém continua com seus problemas crônicos, decorrentes em boa medida do mais crônico de todos: falta de governo. O diagnóstico é objetivo e pode ser constatado mediante um simples passeio pela cidade. As ruas continuam engarrafadas por toda parte; os pontos de ônibus, quando possuem abrigos, estão em mau estado de conservação; o transporte público é cada vez mais caro e ao mesmo tempo ineficiente; a iluminação pública deficitária nos colocou em uma cidade escura e soturna; os serviços públicos municipais são ruins, etc.
Isso nos leva a pensar em um panorama de empobrecimento geral. Contudo, aquele colunista de negócios publicou em sua coluna de ontem algumas informações curiosas. Noticiou, p. ex., que enquanto as concessionárias nacionais amargam uma queda acentuada nas vendas, aqui em Belém, em maio foi incrementada a venda de veículos importados de alto valor. A rebote, a venda de carros usados aumentou 3,5%.
Fenômeno semelhante acontece no mercado imobiliário: imóveis populares encalham, mas a procura pelos de luxo só aumenta, a tal ponto que o metro quadrado nos bairros de Umarizal e de Batista Campos já chegou a 10 mil reais!
A coluna destaca, como se fosse novidade, a venda de bicicletas de 50 mil reais em lojas especializadas da cidade e a expansão de comodidades nas marinas, para quem curte a vida a bordo de lanchas ou jet skis. Eu mesmo, que tento ser observador, posso afiançar o surgimento, nos últimos anos, de concessionárias de marcas mais sofisticadas, como Mercedes, BMW, Mini e Jeep.
Inevitável pensar que as condições socioeconômicas da região metropolitana de Belém estão mudando a olhos vistos, mas isso não é necessariamente algo bom. Afinal, segundo penso, a concentração de renda pode ser pior do que a pobreza. Certamente, ela tende a ser mais aviltante, porque torna mais evidente a diferença ― usemos o termo distinção, por ter um sentido mais contundente ― entre os brasileiros dos tipos A/B e os demais, classificados por letrinhas menos valorizadas.
Mas não é uma simples questão de aparência. Longe disso. À medida que o abismo se aprofunda, as consequências éticas e morais igualmente se problematizam. Quanto mais os A/B se encastelam em condomínios exclusivos e carros blindados, mais necessidade sentem de somente interagir com aqueles que considerem seus iguais. Os extranei não podem sentar-se à mesma mesa e somente podem frequentar os mesmos ambientes na condição de serviçais. Daí os shopping centers cada vez mais elitizados, que ainda não existem por aqui; só temos as salas VIP. E outros estabelecimentos cujos serviços vão-se tornando mais restritos simplesmente por causa dos custos. É como se todo tipo de comércio fosse virando uma espécie de clube social, onde você ingressa se preencher certos pré-requisitos. Até os campinhos onde antes se jogava pelada agora "evoluíram" para arenas de futebol society.
Não à toa, a intolerância tem sido a marca mais ostensiva nas interações sociais involuntárias, notadamente via internet. É a falta de empatia, de reconhecimento do valor alheio, ditando os modos de viver em um mundo crescentemente individualista e mau. Porque maldade é falta de empatia. E daí advém muito sofrimento.
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