quarta-feira, 3 de junho de 2015

Quase estilo Occupy

Penso que greve deve ser de ocupação. Esse negócio de declarar greve e a galera ficar em casa, simplesmente curtindo o descanso, é leviano. Se estamos em greve, devemos batalhar pelas reivindicações formuladas, marcando presença, protestando, pressionando as negociações. Greve é para quem quer trabalhar com dignidade; não é para encostados.

No caso particular dos professores do Estado do Pará, uma ocupação é complicada, porque a categoria é grande e trabalha em diversas unidades (mesmo considerando o âmbito de uma única cidade). Fica complicado, imagino, manter um comando de greve em cada local. E quando se trata de ocupar um prédio governamental, como aconteceu aqui, os ânimos tendem a se acirrar. Quando grevistas arrombaram o portão do Centro Integrado de Governo, dias atrás, isso gerou uma repercussão ruim, principalmente entre aqueles que não sentem empatia com lutas trabalhistas. Que são muitos, quiçá a maioria.

Os professores em greve decidiram ocupar a Feira Pan-Amazônica do Livro, desde o início. Em que pese essa feira ser um evento infinitamente mais comercial do que cultural, já que - em relação ao público - se resume a reunir vários distribuidores em um mesmo espaço, para vender livros a preços elevadíssimos, a presença dos professores, nela, é mais do que justificável. Apesar das contradições tipicamente tucanas, livros rimam com educação e cultura, por isso os professores agiram acertadamente ao se instalarem lá.

Soube agora que os professores estão fazendo uma legítima greve de ocupação: estão utilizando o espaço da feira para dar aulas (preparatórias para o ENEM), fazer jogos educativos, oficinas, teatro e contação de estórias. Ótimas pedidas, sobretudo para crianças. De repente, até encontrei um motivo para visitar a feira. Há anos desisti dela, já que, para um consumidor comum, simplesmente não vale a pena. Até podemos encontrar alguns títulos interessantes e usualmente indisponíveis na cidade, mormente nas editoras universitárias. Mas isso exige um esforço de garimpagem, que não paga o desconforto de caminhar no aperto de um espaço abafado quando podemos garimpar e comprar pela internet, receber o livro em casa e, com sorte, pagar menos.

A greve já ultrapassou 70 dias e os prejuízos ao alunado são imensos. Com isso, o movimento tende a perder os apoios externos que possua. A esta altura, ruim para a categoria, bom para um governo caracterizado pela indolência crônica, que insiste em não negociar e que, ao menos, vai repor os descontos sobre os dias parados. Ou disse que o faria.

Enquanto isso, o governador-cantor-pescador, que raramente dá as caras, apareceu na feira apenas para fazer o que tucanos (não as aves) fazem: firula. Vestiu trajes típicos do país homenageado, Japão, e juntamente com seus penduricalhos da prefeitura de Belém e da Assembleia Legislativa, avacalhou um ritual xintoísta, que deveria trazer bênçãos, como conta a jornalista Franssinete Florenzano (link abaixo).

Não é à toa que o Pará não consegue bênção alguma. Está dominado por tucanos, que só dão marretadas. E ainda por cima na forma e na hora erradas.

Fontes:

  • http://www.diarioonline.com.br/noticias/para/noticia-332612-professores-fazem-enterro-simbolico-no-hangar.html
  • http://uruatapera.blogspot.com.br/2015/06/kagami-wari-tupiniquim.html

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