Senhores representantes da Cinépolis Belém
Já faz algum tempo, os cinemas dessa empresa começaram a traçar nítida distinção entre as salas do Boulevard Shopping, as quais exibem filmes mais sofisticados, porém de menor apelo comercial (como "O grande Hotel Budapeste", para citar um recente), e onde são concentradas as sessões legendadas; e as do Parque Shopping, relegadas aos filmes mais populares e com sessões predominantemente dubladas.
A irritação com essa atitude tem sido crescente, sobretudo quando se observam semanas em que o Parque Shopping apresenta apenas uma — tão somente uma! — sessão legendada. Sem uma explicação para o caso, permito-me especular.
O Boulevard é, por enquanto, o shopping mais sofisticado da cidade e está localizado em área nobre da cidade, tendo no seu entorno a população de maior poder aquisitivo. O Parque, por sua vez, localiza-se em bairro periférico e, embora seja administrado pela mesma empresa (a Aliansce), destina-se a um público mais modesto.
A Cinépolis, sendo uma empresa alienígena aqui chegada há menos de quatro anos, talvez não tenha prospectado adequadamente a praça de Belém e tomou decisões tipicamente capitalistas, ou seja, baseadas tão somente em sua perspectiva de maximizar seus lucros, sem a menor preocupação com os interesses da comunidade onde se inseriu.
Ao que parece, a Cinépolis acredita que somente os frequentadores do Boulevard têm educação formal bastante para se interessar por filmes de arte e para ler legendas ou, quem sabe, para treinar a escuta do inglês aprendido nas melhores escolas de idiomas da cidade. Já o público do Parque, parcamente alfabetizado, precisa das sessões dubladas porque mal consegue ler as legendas das comédias rasas ali exibidas. Se for minimamente esse o parâmetro, a Cinépolis tomou uma decisão nada inteligente.
De saída, a atitude é odiosa já pelo fato de ser discriminatória. Mas, além disso, ignora que o Parque se localiza na principal área de expansão imobiliária de Belém, densamente povoada, e onde se situam todos os condomínios horizontais considerados de alto padrão da cidade (Greenville I e II e Montenegro Boulevard, na Augusto Montenegro; Cristalville, na Transmangueirão, e Água Cristal, na Centenário). Não é possivel que a Cinépolis acredite que, nesse universo, não existe público suficiente para sessões legendadas nas salas do Parque.
No próximo ano, deve ser inaugurado o Shopping Bosque Grão-Pará, na confluência da Transmangueirão com a Centenário, portanto na mesma região. Ele promete se tornar o empreendimento mais requintado da cidade. E há rumores de que suas salas de cinema serão exploradas pela United Cinemas International (UCI), uma concorrente de peso. Convém pensar se vale mesmo a pena continuar a tratar os clientes do Parque como consumidores de segunda classe.
Em conclusão, o pedido é muito simples: harmonizem a programação dos cinemas de ambos os shoppings, no que tange à variedade, qualidade dos títulos e proporcionalidade (ao menos isso) entre sessões dubladas e legendadas. Basta isso.
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