quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Estranhos costumes

Certo dia, enquanto aguardávamos uma aula na faculdade, batíamos um papinho quando um de nossos colegas, queixando-se do calor  pois já fazia estágio e ia para a UFPA de terno , disse achar um absurdo que precisássemos usar uma roupa tão incondizente com o nosso clima. Outro colega imediatamente disparou: "Mas aí vai virar esculhambação!" E justificou que nossa profissão exige ritos e qua-qua-quás nos quais o vestuário se insere. O primeiro não concordou.
Bem antes disso, quando fazíamos o primeiro ano, fui algumas vezes de bermuda para a aula. Uma manhã, uma funcionária do então Centro de Ciências Jurídicas se achou no direito de me abordar no corredor e dizer que a vestimenta era um dos diferenciais do nosso curso. Só porque já havíamos conversado antes, a dita cuja se achou autorizada a se meter na minha vida. E olha que eu estava decentemente composto. Aliás, naqueles tempos (horrível dizer isso...), não existia essa mania nojenta de hoje, de andar com o fundo das calças no meio das coxas, exibindo a cueca ou, o que é pior, o cofrinho. Isso eu acho repugnante.
O fato é que algum imbecil inventou que o mundo jurídico só funciona em vestes cerimoniais e todo mundo foi na onda. Obviamente, o limite do bom senso sempre deve ser respeitado. Não sou católico, mas se entro numa igreja, entro de calças compridas, camisa e sem chapéu, como um dia me disseram. Se vou a um velório, não uso roupas coloridas ou chamativas. Se vou a uma recepção, adoto o traje pedido no convite. É uma questão de respeito. Ainda que eu pessoalmente não visse importância nisso, precisaria respeitar os critérios consagrados inclusive pelos costumes.
Mas o exercício rotineiro de uma profissão não envolve sentimentos essenciais nem tem caráter religioso. Por mais que tente, ninguém me convencerá que um advogado, juiz ou promotor será menos digno, dedicado ou preparado se, em vez de um terno completo, estiver em mangas de camisa. Ou sem gravata. Ou de mangas curtas.
O que há de reprovável num homem de calças sociais e uma camisa formal, de mangas curtas, com apenas o último botão de cima aberto? Está nu, está sujo, está indecente? Claro que não. E não se trata de fazer por fazer, mas de nos adequarmos a uma conjuntura superior: o clima. Dentro das salas o ar é refrigerado, mas fora delas não necessariamente. Na rua, com certeza não. Imagine um juiz fazendo uma inspeção a céu aberto, suando feito um condenado à danação eterna, com a moleira fustigada pelo sol de Belém do Pará às duas da tarde? Isso a troco de quê? A meu ver, um juiz menos vestido e menos encharcado e pegajoso seria melhor de se ver.
Sei que esta minha opinião desperta antipatias. Porque no mundinho jurídico (notaram o diminutivo?) valem regras encaradas como revelações religiosas, verdades absolutas que não se discute. Isto é, que as mentes menores não discutem. A obsessão pelas roupas de clima temperado prosseguirá, irracional como é. Tanto que, ao assumir a presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, a desembargadora Francisca Formigosa determinou que todo serventuário homem use, em serviço, camisa de mangas compridas, fechadas ao punho, com gravata. Por causa dos "bons costumes" e da "boa imagem" do tribunal. Ah, tá.
De agora em diante, o TRT funcionará com absoluta perfeição, dada a roupa dos serventuários.
Penso que, aqui na terrinha, ainda precisamos evoluir nas mínimas coisas.

18 comentários:

Kauê Osório Arouck disse...

Essa questão da vestimenta me lembra uma conversa que tive com meu pai, que é dentista que sempre me diz:

- Filho, as pessoas sabem que sou da área da saúde porque estou de branco, sabem que tu és do meio jurídico porque estás de terno e tu sabes quem é um gari porque ele está de laranja e reconhecemos um policial de longe pela roupa verde..

Eu também sou contra o uso de terno em Belém, inclusive porque eu sou um dos que sofre ao sair do conforto do ar condicionado em uma sala de audiência até chegar no carro que está com os bancos e o volante pegando fogo e sempre procuro não usá-lo as sextas, quando geralmente não há audiências marcadas, mas já fui diversas vezes tratado como se fosse parte(já ouvi "peça para o seu advogado vir aqui e veja o processo e lhe dê a informação") ou estagiário ("fale para o seu chefe vir aqui receber o Alvará" ou então "só o advogado habilitado pode receber isso") só porque estava exatamente como descrito no post (calças sociais e uma camisa formal, de mangas curtas, com apenas o último botão de cima aberto)...

E tal tratamento não é empregado só em relação a mim, que tenho 26 anos. Já vi colegas bem mais velhos receberem as mesmas respostas que recebi dos serventuários...

Concordo com a abolição do uso do terno, mas infelizmente o costume da vestimenta é muito forte no meio... Em compensação, quando ponho o pé fora do Fórum ou da Justiça do Trabalho, o terno e a gravata já vão na mão e quando chego ao carro, vão direto para o banco de trás! E quando eu era estagiário e andava de ônibus eles sempre iam na mão e só os colocava na porta do fórum (a gravata já ia com o nó pronto)

Yúdice Andrade disse...

Grato pela atenção, Kauê. Só esclareço que não proponho a abolição do uso do terno, mas a sua racionalização. Ele não deveria ser encarado como essencial.
No mais, você tem toda a razão, porque a verdade é que a sociedade nos julga a começar por nossa aparência. Tanto que costumo ir a certas lojas quando estou de terno, porque o tratamento que recebo é nitidamente melhor do que se aparecer de jeans.
Penso que o parâmetro deveria ser o bem estar das pessoas.

Anônimo disse...

Caro Primo,

A quetão da vestimenta vai além de questões meramentes morais ou de costumes. É uma relação de poder, de [i]status[/i].

Aquele que veste terno está e precisa estar num "patamar" acima dos outros. Ele precisa não só ser diferente, mas sim melhor do que aquele de jeans e camiseta pólo.

Eu sou totalmente contra e por mim entraria de jeans e camiseta básica num tribunal, afinal não estou lá para desfile de moda, ou propaganda da Armani. Obviamente que há determinadas profissões, como os da área da saúde, no qual o branco expressa asseio.

Já no meio judiciário, tenta-se passar a imagem de seriedade, como se isso fosse visível e sabemos que pelo ao contrário, o 'mau-caratismo' é estampado.

Algo que percebo e acho incrível é como os juízes se transformam quando vestem a toga. Esta sim é a maior expressão de poder. Dá a impressão de que a toga o consome e cria uma relação simbiótica com o corpo do magistrado hehehe.

Abraços primo!!!

Anônimo disse...

Gostaria de comentar duas coisas sobre o assunto da postagem:

1) Existe uma questão de distinção social envolvida na coisa. Do ponto de vista simbólico, estar de terno tem a ver com pertencer àquela parcela da sociedade nas mãos de quem as decisões importantes historicamente sempre se concentraram. Os que não estão de terno, as partes, as testemunhas etc., são aquela parte da sociedade alijada da linguagem técnica, da condição econômica, da posição na rede social, dos fatores simbólicos e reais do poder. Isso cria para as classes mais poderosas a sensação de tranquilidade de que o direito não está sendo conduzido pela "gentinha comum", que esta está, como sempre esteve, excluída do processo realmente decisório.

2) Existe, sim, um elemento simbólico-religioso envolvido na coisa. Uma frase que se lê na postagem: "Mas o exercício rotineiro de uma profissão não envolve sentimentos essenciais nem tem caráter religioso", é verdadeira, mas não vale para a medicina, para o magistério, para o direito etc. Isso porque essas profissões, mais que quaisquer outras, montam relações imediatas de poder, em que uma das partes detém o saber e a outra não, em que uma das partes diz o que a outra deve fazer, em condições tais de desigualdade que a outra não apenas não pode questionar, mas não pode sequer entender por que é daquela forma. O terno, nesse caso, é o substituto da toga negra dos pretores romanos, da bata branca dos doutores da lei hebraica, é uma componente de um ritual de natureza indisfarçavelmente religioso de onde o direito extrai sua legitimação simbólica, pois, na medida em que os profissionais se distinguem na aparência, parecem distinguir-se na essência, tornando-se mais poderosos, temíveis e infalíveis aos olhos do jurisdicionado. Recria-se, psicanaliticamente, a relação pai-filho da infância: o pai, maior e mais forte, com sua autoridade e seu papel distinguido e reafirmado pela aparência, cuja opinião e vontade não pode ser questionada.

É que a profissão está envolta, psiquicamente, numa atmosfera de misticismo, porque, do ponto de vista antropológico, ainda somos aqueles homens amedrontados diante do totem, ouvindo o sacerdote de bata dizer qual é a verdade e qual é o bem. Do ponto de vista da psicologia social mais profunda, esperamos todos que os advogados e os juízes sejam homens distintos dos demais, superiores aos demais, mais virtuosos e sábios que os demais, e é disso que provém boa parte da autoridade mística que exercem sobre os demais. Agora, na medida em que as pessoas que ocupam esses cargos não são, em nenhum aspecto que não seu conhecimento técnico-jurídico, melhores que as demais, a valorização do traje, da ritualística externa, acaba atuando como elemento substitutivo, tentativa desesperada de manter pela aparência aquilo que pela virtude já não se é, tal como as mais portentosas igrejas góticas foram construídas na época de pior crise moral da Igreja.

Anônimo disse...

Hoje em dia, só uso terno em dia de audiência ou de ir aos fóruns.

Mas, neste anos todos, uma coisa é verdade, você de terno é "doutor", sem terno, é "amigo", "campeão", "meu jovem" (adora esta!).

Anônimo disse...

Certamente o dono deste blog defende a entrada de gente nua nos tribunais.
Vai virar uma zorra.
Um escambau generalizado, não é?
Belo exemplo de professor.
Que aula mais apreciável.
É assim mesmo que andam os nossos mestres.
Pois está na hora de ler o que diz a lei sobre o tema.
Art. 445 do Código de Processo Civil:
O juiz exerce o poder de polícia, competindo-lhe:
I - manter a ordem e o decoro na audiência;
II - ordenar que se retirem da sala da audiência os que se comportarem inconvenientemente;
III - requisitar, quando necessário, a força policial.
Mas na visão do nosso professor a ordem e o decoro são coisas pra inglês ver.
Então, liberô geral, gente...
Todo mundo agora é índio. E eu quero o meu apito.
Piiiiiiiiiiiiiiiuuuuuuuuuuu.
Tenha a santa paciência. Ninguém vai pra praia de terno e gravata. Cada coisa no seu lugar. O traje não faz o monge. Mas monge que é monge não ultraja o traje.
E agora vai ser assim. Moda de nudismo também no foro e na casa do caralho.
Já sei que vão dizer que estou exagerando.
Respondo: todo mundo nasce nu. Então vamos ficar nus a vida toda?
Manifestações exteriores são sinais de cultura.
Se querem mudar o costume com a 'estranha' idéia proposta do 'liberô geral', vamos chegar ao barbarismo.
E aí salve-se quem puder.
Já não se fazem mais mestres como antigamente.
Assim caminha a humanidade.
Não precisa explicar. Eu já entendi. Chama o macaco (ele não usa terno e gravata).

Anônimo disse...

Yudice,
Antes de ser servidor do Judiciário fui da Policia Civil, e em determinada gestão passou por lá a figura do Delegado Moraes, aquele que foi candidato a "perfeito" de Belém.
Lembro que ele baixou portaria exigindo o uso de gravatas para todos os policiais, justificando que a vestimenta completa faria com que a atitude dos policiais mudaria plenamente.
O resultado: polciais de calça jeans e tenis usando gravata e nenhum militro de mudança, até porque investimento em qualificação que seria bom não houve.
Ora, vamos e venhamos que não será uma camisa apertada no gogó e apertando o pulso por causa do relórgio que vai mudar a cultura dos funcionário. Engana-se a nobre Presidente em achar que a roupa transforma o homem.
Oswaldo Chaves
Administrador

Yúdice Andrade disse...

Na verdade, caro Jean, existem alguns signos que funcionam como rituais de passagem. Até tirar a carteira de motorista pode cumprir esse papel. Mas penetrar num universo seleto produz esses efeitos mais nitidamente.
Sei de pessoas extremamente legais, simpáticas, brincalhonas, até despachadas demais, que após ingressar na magistratura se tornaram maçantes, como se o dever de manter ilibada a postura pública e privada lhe obrigasse a perder o viço, só falar de assuntos solenes, sorrir discretamente, cumprimentar as pessoas com meneios de cabeça. Tolice. Erros de interpretação.
Mas a roupa, como é algo visual, tem grande poder para esses delírios sem significado algum.

Ou então "patrão", Lafayette. E eu não gosto de ser chamado assim. Mas "meu jovem" é realmente bacana.

Não, anônimo, não direi que você está exagerando. Você é só um completo, rematado e ostensivo idiota. Decerto, já esteve aqui no blog outras vezes só para anarquizar. Deve estar exultante por que, desta vez, o seu comentário foi publicado. E sabe por que o fiz? Para que todos possam ver o cretino que você é. Se eu dissesse, poderiam acusar-me de má fé. Mas se as pessoas puderem ler suas "idéias" como foram escritas, perceberão o seu nível.
Se há uma coisa que detesto é gente que não consegue sequer alcançar os termos da conversa. Escrevi sobre usar, no fórum, uma roupa social que não fosse tão quente quanto o terno e você me vem com andar nu. Nua é a superfície do seu cérebro, que não desenvolveu circunvoluções suficientes para você ir além do desempenho de funções vitais básicas. Por isso, não perderei tempo tentando explicar que "ordem", "decoro" e "inconvenientemente", da sua ridícula invocação ao CPC, são conceitos valorativos e de delimitação impossível.
Eu dei um mau exemplo como professor, foi? Jeitinho bobo de tentar mexer com os meus brios, porque nunca prometi aos meus alunos ser nada além de humano, com sangue nas veias. Portanto, não é nenhum problema para mim, mesmo sabendo que vários alunos meus transitam por aqui, mandá-lo de volta à merda, que é o seu lugar.
PS - Você sabe que a sua tréplica não será publicada, não sabe?

Felizmente, André, tenho o privilégio de alcançar um elevado nível de argumentação com estas tuas contribuições. A explicação sobre a origem das vestes profissionais, oriundas de vestes cerimoniais, foi excelente.
A par disso, quando escrevi a frase que transcreveste, sobre conotação religiosa, agi de caso pensado. Mas não sob a perspectiva que explicaste, e sim visando a crença que muitos propalam, de exercer a profissão como sacerdócio. Esse discurso é mais comum nos juízes e nos médicos - duas categorias que usualmente se consideram superiores ao restante da humanidade. Se entendermos sacerdócio como abandonar a si mesmo, impor-se privações e sacrifícios pelo bem do outro, esse discurso é um papo furado bem absurdo, porque quem passa baixo no mundo da Medicina é o paciente (basta ver como somos tratados, nas salas de espera, nos atendimentos impessoais, na impaciência com nossos medos e dúvidas, etc.) e, no mundo dos juízes, fala sério, qual é o sacrifício de viver com um alto salário, ter dois meses de férias por ano, trabalhar (na maioria dos casos) com infraestrutura e pessoal acima da média das demais carreiras, etc.?
Enfim, eis a razão pela qual neguei ostensivamente a idéia de sacerdócio.

Yúdice Andrade disse...

Oswaldo, meu caro, lembro-me bem dessa época. Por mais que eu considere moda uma grande bobagem, do bom senso não abro mão. Nunca vi combinações tão medonhas e ofensivas ao bom gosto quanto nesse tempo da polícia. Visitei umas tantas delegacias na época e me deparei com coisas de dar medo. Em geral, calças jeans, camisa quadriculada com diversas cores e uma gravata que conseguia não ser de nenhuma dessas cores, freqüentemente com estampas horrorosas, daquelas que não se usam mais há décadas.
Conpletava-se o quadro com as mangas enroladas, o último botão solto, mesmo com a gravata, os colarinhos tortos (e sujos, também) e o suor escorrendo, já que muitas delegacias não contam sequer com refrigeração.
Enfim, como é óbvio, a polícia não foi melhor nem pior por causa disso.

Luiza Montenegro Duarte disse...

Professor, fico imaginando que tipo de coisa o senhor não é obrigado a ler nos comentários. Se este foi um dos mais "publicáveis", imagine os outros.

Só posso concordar que o anônimo em questão é "um completo, rematado e ostensivo idiota" (aliás, gargalhei com a expressão!).

Para ele, bons professores devem ser daqueles esnobes e arrogantes, e não alguém que tenta passar, além do conteúdo obrigatório, valores e princípios.

Da minha parte, lamento não ter sido sua aluna.

Abraços.

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice,
Estás aprendendo, não é? Só te aconselho mais o seguinte: limita-te à última frase da tua resposta a esse tipo de comentário. Basta mandar à merda. O caboclo vai entender o porquê e tu vais poupar teu precioso tempo.
Sobre o uso do terno, não é só ele, ou a toga, que materializa esta "elevação" do envolvido na atividade judiciária. Todos os ritos da Justiça visam dar esta conotação grandiosa à judicatura e estão carregados de simbolismo: a posição do réu, no tribunal do júri, o uso da toga, a imposição, em alguns locais, de que as partes e os advogados levantem-se à entrada do juiz, dentre outros rituais. Como várias das atividades humanas, aliás - principalmente a religião, com as abóbodas altas das igrejas, invocando a pequenez do homem frente à divindade.
O terno é mais uma representação, um símbolo, da mesma natureza que os demais. Sobre este assunto, sugiro a leitura de dois livros interessantíssimos: "Apocalípticos e Integrados", do Umberto Eco (há uma edição da coleção Debates, da editora Perspectiva), além do clássico "Eles, os Juízes, vistos por nós, os Advogados", do Piero Calamandrei. Vou procurar também um texto que li há muito tempo do José Carlos Barbosa Moreira em uma Revista de Processo (atual Revista Dialética de Processo) sobre estes símbolos e seu significado para o direito processual. Quando achar, posto aqui a indicação.
Abraços.

Anônimo disse...

Yudice, o comentário do anonimo que não quer andar nú e ridídiculo, para me equiparar ao seu nível eu diria que tal imbecilidade deveria entrar para os ANAIS E MENSTRUAIS das maiores ignorâncias que eu ja li na NET , olha que andoi fuçando muita porcaria por ai. Logico que não e o caso de seu blog. Por favor lhe peço, poupe-nos de ler idioticies iguais ao desse anonimo acima dito , não as publique. Simples assim.

Anônimo disse...

Caro Primo,

Só por favor não utilizer a palavra "anarquizar" como sinônimo de balburdear, bagunçar hehe

Outra coisa: Qual o problema de andar nu? Criou-se um culto a vergonha de nosso próprio corpo. Temos vergonha de nós mesmos...

Não entrarei nesta discussão pois já se trata de outro tema hehe.

Anônimo disse...

Obrigado pelo elogio, Yúdice. Agora, lendo os comentários e as respostas que deste a eles, ponho-te uma questão que, a meu ver, é um pouco mais complicada: Uma vez que o direito moderno (1) renunciou (pelo menos, em tese) à sua ligação com a religião, (2) não reclama para si (novamente, em tese) nenhuma legitimação mística e (3) pretende colocar juízes e advogados na condição de servidores públicos, ou seja, pessoas comuns, embora competentes, cuja função tem a ver com servir ao público, e não com sobrepor-se a ele, pergunto: Deveríamos abrir mão da ritualística cerimonial e dos sinais místicos de diferenciação e criar um judiciário mais popular (nas vestes, que poderiam ser as que sugeriste; na linguagem, conciliando, nas sentenças e nas audiências, a linguagem técnica com uma linguagem mais compreensível para os jurisdicionados envolvidos; no atendimento aos advogados e às partes, que seria mais fácil, mais rápido e menos desigual e solene etc.)? Pergunto se esse é um ideal que, na sua opinião, deveria ser buscado. Na minha opinião, não há dúvida de que o judiciário acima descrito está em maior conformidade com o ideal do estado democrático de direito, o que, no entanto, não o torna (pelo menos, não automaticamente) a melhor alternativa na prática, pois, quando se fala da prática, existe um sem número de outros elementos (inclusive simbólicos, psicológicos, psicanalíticos etc.) que precisam ser levados em conta. Gostaria de ouvir (ler) tua opinião a respeito.

Sobre o comentário infeliz do anônimo lá em cima, limitar-me-ei a enunciar o sábio brocardo inglês de internet: "don't feed the troll".

Anônimo disse...

Querido prof.
Não perca seu tempo de dar a bronca em quem merece mesmo.
Mas desta vez você foi exagerado demais. Uma pena. Eu não conhecia esse seu lado obscuro, nada compatível com o seu reconhecido conceito.
Mas vamos lá.
O que percebo é que no fundo há muitos comentários que revelam simples inveja ou frustrações inconfessáveis, inclusive de sua parte.
Agora fiquei muito decepcionada com o seu desequilíbrio.
Parabéns pelo seu talento.
E censura, muita censura, por revelar a sua face para mim desconhecida.
Parece que você foi tão radical (ou mais até) do que aquele anônimo desmiolado.
Deus me livre.
Sua ex-fã. Lamentável...

Yúdice Andrade disse...

Luiza, não tente imaginar. São ofensas impublicáveis (literalmente) e ameaças. Outro dia me deram 24 horas para tirar o blog do ar. Como podes ver, ainda estamos por aqui.
Eu é que lamento não ter tido o privilégio de ser teu professor. Minha passagem pela UFPA, como professor substituto, foi rápida e prejudicada por uma longa greve. Mas quem sabe não nos topamos em alguma palestra por aí? Ou quem sabe não nos tornamos colegas de docência?

Estou aprendendo, sim, Francisco. E saibas que em grande parte graças a sugestões tuas. Mas esta minha concessão foi uma só em meio a diversas asneiras que simplesmente ignorei, gargalhando, como a ameaça que mencionei para a Luiza, aí em cima. É que quando o comentário em si é a melhor prova contra o psicopata, prefiro publicar e deixar o doente ver a si mesmo, espelhado. Além do mais, mandar à merda foi uma liberdade poética minha, hoje. Para fazê-lo, prefiro dar alguma explicação, para que as pessoas bem intencionadas que aqui acorrem não me tomem, simplesmente, por um mal educado e destemperado.

Das 11h, adorei o "anais e menstruais". Vou poupá-los das sandices, sim. Tenho feito isso sistematicamente. Deixei passar esta só para exercitar a minha verve esculhambatória, que anda meio enferrujada!

Salve, Jean, discípulo de Bakunin! Tomarei mais cuidado com a palavra "anarquia" e suas variantes doravante.
Quanto à vergonha do próprio corpo, a crítica procede. Contudo, a vergonha está instalada há séculos. Como lutar contra isto, agora? Podemos até dizer que esse pudor se enraizou na espécie humana e lutar contra ele, a esta altura, seria perseguir um sentimento artificial. É uma abordagem possível, não?

André, tu és um gentleman que me faz rir. Ótima essa do troll. Considero os trolls fascinantes, após ler as obras de Tolkien.
Quanto a teus questionamentos, a resposta é sim para todos. Sou radical quanto à idéia de que se o Estado - falo aqui bem amplamente, compreendendo portanto o Estado-juiz - não espelha o perfil do povo a que serve (ou diz servir), então ele é imprestável. E a verdade é que enquanto o Executivo e o Legislativo fingem ser populares, para arrebanhar votos, o Judiciário, montado na vitaliciedade, sente-se à vontade para virar as costas ao povo e a maioria de seus membros se recusam a ser tratados como "servidores públicos", reclamando a condição de "agentes políticos". A meu ver, demonstram aversão à idéia de servir e isto é nada mais que arrogãncia.
O movimento pela simplificação da linguagem jurídica existe há alguns anos e, a duras penas, ganha adeptos. Que me conste, não há um movimento pela simplificação das "vestes jurídicas". E suspeito que ele seria ainda mais difícil de se constituir.
O importante é as pessoas entenderem que, ao tirar o terno e dispensar o latim, o indivíduo não se avilta, seja intelectual ou moralmente. Apenas põe os pés na realidade. E o fato de eu não vestir ouro não significa que eu não o possua e possa dispor dele, vez em quando. Eu não falar em línguas não significa que eu não seja poliglota. Eu me apequenar não faz de mim pequeno. Aliás, muito pelo contrário.

Anônimo disse...

Quem não quiser usar terno em sua profissão. Que mude de profissão, simples!
Uso e suo às bicas, mas acho que independente da região ou clima.
Acho uma discussão inócua, mas dou minha humilde opinião.

Yúdice Andrade disse...

Recebo na boa sua opinião, das 13h52, mas suspeito que a coisa não seja assim tão simples. A começar pelo fato de que não devemos fazer coisas apenas porque alguém nos disse que tinha que ser daquele jeito e pronto. E, no mais, pelos outros argumentos que já utilizei.
Um abraço.

Das 13h47, antes de mais nada, agradeço o "querido", ainda mais diante de sua tão grande contrariedade. Não lhe peço que seja minha fã, mas apenas que pondere as minhas razões, inclusive o tanto de desaforos que recebo e não publico.
Você fala em "lado obscuro" e "desequilíbrio", mas eu discordo. Por acaso devemos ser doces e dóceis o tempo todo? Estou certo de que não, ainda que mereça elogios quem consegue ter tanta paciência e virtude. Eu já disse: sou humano. Apenas isso. Trato as pessoas com urbanidade, mas tenho todo o direito de chamar às falas quem procura por isso. Nos termos que me parecerem pertinentes. E, creia-me, o simples fato de o queixoso assinar o comentário já me levaria a ser 1% mais brando. O que não pode é vir na surdina dar lições de uma moral que não se tem. Por isso todos os meus escritos são assinados. E digo isso sem nenhuma censura por você estar incógnita. Sua gentileza mostra que você está em outro nível.
Enfim, eu sou isto. No blog ou pessoalmente, haverá quem me aprove ou repudie, como sempre foi, com qualquer um. Já encaro isso com relativa serenidade.
Sem lamentar nada, um abraço.