quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Perdido, de novo

Atendendo ao apelo do Francisco, advirto que o texto abaixo contém uma informação desconhecida de quem não assistiu ao final da quarta temporada do seriado. É um fato de caráter bastante geral, mas vale a pena prevenir.

A quinta e penúltima temporada do seriado Lost começou a ser exibida nos Estados Unidos na última quarta-feira, com dois episódios seguidos, que logo em seguida puderam ser vistos pela Internet. No dia seguinte, já estavam disponíveis, legendados em outros idiomas, de modo que os fãs pelo mundo afora podem acompanhar a trama sem maiores perdas de tempo. Ruim só para o detentor dos direitos autorais.
Lost apresenta uma forte característica para ser considerado cult: quem gosta, ama; quem não gosta, odeia. Contudo, aparentemente, o grupo mais numeroso é o das pessoas que desistiram da série. Acho curioso como as pessoas, algumas até bastante inteligentes e cultas, rotulam o programa como difícil demais ou ininteligível e o abandonam. Para mim, há muito de preguiça mental nessa atitude. E quando os desistentes são do tipo que assiste aos seriados de comédia americanos... Bem, deixa pra lá.
Nesta quinta temporada, está mais do que esclarecido que um dos temas centrais da trama é a manipulação do tempo, permitindo viagens para o futuro ou para o passado. Um tema recorrente na dramaturgia, diga-se de passagem. Só que, desta vez, construído sobre o muito que a ciência (ou a pseudociência) tem sistematizado sobre o assunto. Ao lado, o pêndulo da Sra. Hawking, que acredito estar definindo a localização atual da ilha.
Trata-se, portanto, de conhecimentos ou suposições científicas ligados a uma Física hiperavançada e, por isso mesmo, sabidamente inacessível ao público leigo, a menos que traduzida numa linguagem assaz simplificada. Contudo, Lost é um programa de entretenimento e não uma videoaula para o pós-doutorado em Física da Universidade de Oxford. Logo, a finalidade não é tornar ninguém especialista na curvatura tempo-espaço, e sim apresentar isso como pano de fundo para uma história sobre pessoas perdidas em suas vidas normais, passando por dolorosos processos de transformação num mundo à parte, ao fim do qual podem se tornar indivíduos melhores  caso sobrevivam, logicamente.
À direita, Desmond (que vive uma linda história de amor), Locke (e sua trajetória trágica) e o protagonista, Jack, que considero o maior pé no saco, mas que expressa o ideal de redenção.
É uma história humana, portanto. Que se fosse contada numa sequência linear (tanto quanto possível), nem teria tantos atrativos, pois o que a torna fascinante é, justamente, não sabermos ao certo o que vemos e podermos, mais tarde, fechar as lacunas e sentir prazer em montar o quebra-cabeça.
Abandonar Lost, portanto, me parece um ato de impaciência. É um produto americano, portanto o que podemos esperar é que todas as dúvidas sejam sanadas. Ficar com raivinha porque não entendeu é passar recibo. Ainda mais com os prenúncios de finais felizes, para boa parte dos cativantes personagens. Eu, pessoalmente, sou avesso a finais felizes. Mas já me importo tanto com essas criaturas que não me aborreceria em vê-las felizes e em paz.
Este é o grande ponto: o que define uma boa história  seja em que tipo de mídia for, a começar pelos bons e velhos livros  é a capacidade do autor de nos fazer vibrar com a ficção como se ela fosse uma história real; fazer-nos reagir emocionalmente aos personagens como se pessoas concretas fossem. Esse mérito não pode ser negado a Carlton Cuse e Damon Lindelof, que assinam o frenético roteiro.

3 comentários:

Francisco Rocha Junior disse...

Yúdice, pelo amor de Deus, toma cuidado com os spoilers!!!

Yúdice Andrade disse...

Coloquei um aviso antes do texto e tomarei mais cuidado doravante, meu amigo.

Polyana disse...

O nome Hawking foi muito bem escolhido, aliás. Stephen Hawking é famoso por suas teorias de buracos de minhoca, que são o que, teoricamente permitiriam viagens no tempo ou no espaço-tempo. []s