Em sua seção de notícias rápidas, o Diário do Pará reproduz matéria do Portal G1, do seguinte teor:
Índia mordida por cobra divide médicos e pajésUma índia de 12 anos, que foi picada no pé por uma cobra, está no centro de uma polêmica no Amazonas. De um lado, o tratamento médico convencional. De outro, as tradições indígenas.
A menina foi internada no Hospital e Pronto-Socorro da Criança, em Manaus, há duas semanas. Segundo os médicos, o local da picada da cobra apresentava sinais de necrose - quando os danos ao tecido são irreversíveis.
A criança vive em uma aldeia em São Gabriel da Cachoeira (AM), no extremo norte do país. De acordo com o tio da menina, a família foi impedida de praticar os rituais de cura no hospital. Os médicos também não concordaram com as restrições alimentares impostas pelos índios e em proibir o acesso ao local de gestantes e mulheres no período menstrual.
“Na Carta Magna existe um artigo sobre os povos indígenas que garante esses direitos. É o artigo 231, que diz que devemos respeitar tradições, língua, costumes e formas de organização”, afirma João Paulo Barreto, tio da menina.
O Ministério Público Federal emitiu uma recomendação para que o tratamento da criança conciliasse medicina indígena com os métodos convencionais. A recomendação foi atendida, o pajé passou a ter acesso à menina desde que os rituais não incomodassem os outros pacientes. Porém, o impasse permanece.
“Nós não temos conhecimento da eficácia no resultado da aplicação combinada dos medicamentos convencionais com as ervas que são parte da cultura indígena”, afirmou o diretor do hospital, Joaquim Alves.
Por causa da possibilidade de amputação, que não é aceita pelos índios, a família levou a menina para a Casa de Apoio à Saúde Indígena, onde ela está sendo tratada por pajés e por um cirurgião geral.
O Ministério Público diz que vai continuar acompanhando o caso. “A preocupação do Ministério Público Federal agora é com a vida da criança. Então, neste sentido, eu realmente vou analisar o caso com carinho, com cuidado, e ver quais providências eu vou tomar”, afirmou a procuradora da República Luciana Portal Gadelha. (G1)
Segue-se um comentário absurdo, como já era de se esperar, do seguinte teor (farei o favor de omitir o nome da peça que redigiu isto):
É lamentavel que este caso tenha acontecido com uma indefesa criança indigena, entretanto, diante da teomosia recalcitrante destes indios, em tratar o mal através de seus métodos de pajelança, porque então não se desocupa este leito de hospital, que faz falta para outros enfermos, e se emtrega a menina aos seus responsáveis, para tratá-la segundo suas conveniências e crenças. Não se fazendo isto, incorre-se no risco de — cado a menina venha a falecer — culparem os médicos amazonenses, pela ocorrência e imediatamente pedirem indenizações por êrro médico, o que muito próprio do caráter do povo indigena, que ávido por dinheiro.
É melhor ler uma m... dessas do que ser cego, com certeza. Mas algumas pessoas poderiam fingir que vão ao banheiro e sumir. Do planeta, de preferência. O bostejo ignora completamente a força dos elementos culturais de um povo (mas aposto que esse cidadão considera muito "cultural" parar o país e não trabalhar por causa de um jogo de copa do mundo), como se fossem práticas indignas de respeito. Em pleno ano de 2009, é a mesma mentalidade colonialista catequizadora de meio milênio atrás.
Como, entretanto, o sujeito precisa justificar o seu desprezo às pessoas com as quais não possui empatia e que considera inferiores, lança mão de argumentos retóricos, na linha coitadinha-da-criança-indefesa, liberem-o-leito-para-quem-precisa e protejamos-os-médicos. No fundo, ele só quer dizer uma coisa: deixem essa garota morrer de uma vez.
O repugnante desprezo do cidadão de bem pelos silvícolas transparece, seja nas entrelinhas ("teimosia recalcitrante destes índios" — o pronome demonstrativo é um recurso usual e inconsciente das pessoas para indicar desprezo), seja ostensivamente, quando afirma que é da natureza dos índios a avidez por dinheiro (será que o crítico é um franciscano?). Lombrosiano (no mau sentido), inverídico e com um certo ar nazista.
Repugnante.
2 comentários:
Cândido Rangel Dinamarco - Instituições de Direito Processual Civil, 4ª Edição, página 473, nota de rodapé:
"Mas cabe sempre uma pergunta: existe razão para proteger tanto uma cultura tão elementar e insignificante como é a dos índios brasileiros ou seria melhor aculturá-los e garantir-lhes uma vida decente, sem esse privilégio de viver na doença e no ócio (e alguns deles, criminosamente) em terras improdutivas? Essa tutela é uma postura de proteção cultural, ou puro e simples paternalismo hipócrita e demagógico?"
Enfim, só para constar que até pessoas de tal quilate pensam também dessa forma.
No caso, meu autor favorito em processo civil.
Isso apenas confirma o quanto é difícil ser "diferente" neste mundo.
Abraços.
Não conhecia esse lado do Prof. Dinamarco, Rita. Não tenho nenhum senão contra ele como processualista, mas depois desta ficará difícil ter o mesmo respeito por ele. Lamentável.
Abraços.
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