A edição dominical do Diário do Pará apresenta a seguinte manchete principal: "Pará lidera casos de hanseníase no Brasil". Mais um grande título para nos orgulharmos, não?
Há alguns dias, meu irmão — na condição de diretor de uma companhia teatral — foi convidado para um almoço no qual se sacramentou convite para que a companhia monte uma performance teatral, que deverá ser exibida em setembro, no 64º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia — evento magno dos profissionais dessa especialidade médica. Na ocasião, foi-lhe explicado que, assim que se definiu que Belém sediaria o conclave, a escolha da hanseníase como tema foi natural, porque os dermatologistas brasileiros estão estarrecidos com duas coisas: a quantidade de casos no Pará; a ausência de políticas efetivas de combate a esse mal, que não é apenas grave: é também socialmente estigmatizante.
Os organizadores do evento disseram, ainda, que o agente etiológico — o bacilo Mycobacterium leprae — apresenta um período de incubação longo, que pode chegar a 20 anos. Mesmo assim, no Pará, é grande a quantidade de crianças muito pequenas com a doença já em pleno desenvolvimento, a indicar que mal vêm ao mundo e já são expostas à contaminação, além de que seus organismos não estão aptos a resistir à infecção por muito tempo (em média, apenas 5% das pessoas expostas ao bacilo desenvolvem a doença). Disseram, por fim, que a situação é muito grave, bem mais do que se pensa, porque a sociedade em geral não dispõe dessa informação. Mas a qualquer momento, a coisa viria à tona.
Apesar de que a hanseníase é transmissível pelo ar, de modo que qualquer um de nós estaria sujeito, em tese, ao contágio simplesmente por falar com uma pessoa contaminada, o fato é que a doença está no elenco daquelas relacionadas à pobreza e a condições deficitárias de higiene. Ou seja, é inadmissível que esta doença ainda faça tantas vítimas em 2009. É mais uma prova contundente e dolorosa de que vivemos num país muito rico, cujo povo é muito pobre.
Pensei que viria à tona em setembro, por ocasião do congresso. Mas veio antes.
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