sábado, 31 de janeiro de 2009

Outro lamentável título

A edição dominical do Diário do Pará apresenta a seguinte manchete principal: "Pará lidera casos de hanseníase no Brasil". Mais um grande título para nos orgulharmos, não?
Há alguns dias, meu irmão  na condição de diretor de uma companhia teatral  foi convidado para um almoço no qual se sacramentou convite para que a companhia monte uma performance teatral, que deverá ser exibida em setembro, no 64º Congresso da Sociedade Brasileira de Dermatologia  evento magno dos profissionais dessa especialidade médica. Na ocasião, foi-lhe explicado que, assim que se definiu que Belém sediaria o conclave, a escolha da hanseníase como tema foi natural, porque os dermatologistas brasileiros estão estarrecidos com duas coisas: a quantidade de casos no Pará; a ausência de políticas efetivas de combate a esse mal, que não é apenas grave: é também socialmente estigmatizante.
Os organizadores do evento disseram, ainda, que o agente etiológico  o bacilo Mycobacterium leprae  apresenta um período de incubação longo, que pode chegar a 20 anos. Mesmo assim, no Pará, é grande a quantidade de crianças muito pequenas com a doença já em pleno desenvolvimento, a indicar que mal vêm ao mundo e já são expostas à contaminação, além de que seus organismos não estão aptos a resistir à infecção por muito tempo (em média, apenas 5% das pessoas expostas ao bacilo desenvolvem a doença). Disseram, por fim, que a situação é muito grave, bem mais do que se pensa, porque a sociedade em geral não dispõe dessa informação. Mas a qualquer momento, a coisa viria à tona.
Apesar de que a hanseníase é transmissível pelo ar, de modo que qualquer um de nós estaria sujeito, em tese, ao contágio simplesmente por falar com uma pessoa contaminada, o fato é que a doença está no elenco daquelas relacionadas à pobreza e a condições deficitárias de higiene. Ou seja, é inadmissível que esta doença ainda faça tantas vítimas em 2009. É mais uma prova contundente e dolorosa de que vivemos num país muito rico, cujo povo é muito pobre.
Pensei que viria à tona em setembro, por ocasião do congresso. Mas veio antes.

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