terça-feira, 28 de junho de 2011

Que morram minhas filhas

É de cortar o coração o caso das indianas Saba e Farah Shakeel, que nasceram unidas pelo crânio e compartilham órgãos e componentes do sistema vascular. Em 2005, o príncipe herdeiro de Abu Dhabi se sensibilizou com o drama das garotas e se ofereceu para pagar as despesas da cirurgia de separação, com as maiores autoridades do mundo em procedimentos dessa natureza. No entanto, a família recusou porque havia elevado risco de morte de uma das meninas. O tempo passou e agora as meninas, com 15 anos (parece menos; veja seus corpos frágeis), tiveram uma deterioração do quadro global, com fortes e constantes dores.
Os pais querem ajuda para tratá-las, o que o governo da Índia não dá (ou não dá a contento). Agora eles querem que o governo ou o Poder Judiciário de seu país autorize a morte das meninas, para libertá-las de seu sofrimento. E nem é o caso de aplicar-se o letting die, posto que as meninas não são doentes terminais e, pelo que pude entender, poderiam viver por tempo indeterminado, com alguma dignidade, se tivessem acesso a medicamentos e infraestrutura adequados. Trata-se, portanto, de um pedido de eutanásia ativa com características de execução sumária, coisa que me gela a espinha.
Não faço críticas à decisão da família. Só Deus sabe o que se passa na cabeça de um pai ou mãe que pede às autoridades a morte de suas filhas. Mas lembro que a Índia é um dos países de maior nível de distorção social do mundo. Ali convivem opulência e miséria de um jeito que consegue impressionar mesmo quem está acostumado à realidade brasileira. De um lado, há um grande desenvolvimento científico em certas áreas, mas de outro esses benefícios não parecem chegar ao povo em geral, ainda mais porque o país continua estruturado sobre castas, o que torna a desigualdade uma condição natural.
O caso da família Shakeel é desses dramas que nos custa crer que pertença à vida real.

2 comentários:

Anônimo disse...

"Imagino" o sofrimento, porque imaginar, de fato, é realmente impossível para saber o que se passa numa situação dessas.

Espero que a sua filha esteja melhor Yúdice. Tive uma irmã que quando criança era alérgica desde ao leite até a usar sandália de borracha. Era horrível. Ela só podia usar sandálias de couro e você imagina que a molecada não perdoava, apesar de ela levar numa boa. Mas foi algo que nos acompanhou até os 10 anos de idade aproximadamente. Hoje em dia ela não tem alergia mais a quase nada, graças a Deus. Estou tentando lhe dar uma força, torcendo e lhe dizendo que apesar de doloroso o quadro da sua Júlia, assim que contornado deve abandonar as suas preocupações em breve e não acompanhá-la ao longo de toda a infância.

Apesar de não ter nada a ver com esse post e nem com o seu momento de espírito atual, gostaria de lhe provocar a escrever um "fosse no Brasil" sobre as manifestações populares contra o FMI na Grécia. ERa bem novo na época das privatizações e da "ajuda" do FMI ao Brasil, mas me lembro do estigma das manifestações dos partidos de esquerda da época, principalmente o PT. Então gostaria de ouvir a sua opinião, principalmente pelo esquecimento das grandes mídias sobre o tema.

Esse é um comentário mais de apoio a você e de provocação (no bom sentido). Sinta-se à vontade para não aceitá-lo. Ele foi feito direcionado para você e não necessariamente à discussão no blog.

Abraços.

Yúdice Andrade disse...

Das 9h41, agradeço muito sua preocupação e suas palavras de estímulo. Júlia está bem melhor, sem dúvida. Ainda lutando contra a tosse, mas perceptivelmente sem a mesma dor de garganta de antes. Infelizmente, continua dando muito trabalho para comer. A magreza dela já nos incomoda bastante.
Quanto ao caso da Grécia, confesso que tenho observado as notícias na Internet sem muito interesse, talvez por não ter feito nenhuma relação com o Brasil. Mas, diante do seu pedido, procurarei saber o que de fato está se passando por lá e assim, quem sabe, redigir a comparação que você pediu.