domingo, 6 de maio de 2007

À espera do pior

Há dois dias, três acidentes quase simultâneos, entre 17h20 e 18h00, tumultuaram a vida de quem precisou passar em algum tipo de veículo pelo Complexo Viário do Entroncamento. Nesse momento, eu estava protegido em uma de minhas salas de aula, explicando aos meus alunos sobre dolo eventual. Todavia, precisei passar pelo local em outros momentos, nos últimos dias, e o que vi me irritou bastante.
Por falta de conhecimentos técnicos, não posso afirmar que a imensa rotatória foi mal projetada, construída ou sinalizada. Suponho, entretanto, que não há nada de errado com ela(*). Já enfrentei rotatórias ou rótulas, na direção de automóveis, em algumas cidades de três Estados diferentes e, honestamente, acho que a do Entroncamento atende plenamente aos fins a que se destina [Mudei de ideia. Vide a nota abaixo]. Isto é, atenderia, não fosse a verdadeira desgraça com que somos forçados a conviver: o motorista de Belém do Pará. Ô raça!
Outro dia, por exemplo, eu seguia por cima para passar da BR para a Augusto Montenegro e um caminhão, que trafegava rumo à passagem inferior (lembrem-se: não é um túnel!), simplesmente deu uma guinada, passou por cima da área proibida (delimitada com sinalização horizontal branca) e veio para cima de mim, mas teve a misericórdia de parar. Passado o susto, pus o braço para fora e mostrei ao condutor psicopata o dedo médio em riste e ele... se ofendeu! Jogou luz e buzinou. Ou seja, não achava que estava errado.
Desobedecer àquela sinalização horizontal, pelo visto, parece ser a prioridade zero desses motoristas desgraçados. Enquanto eu sigo pela mesma faixa de rolagem até ultrapassar a última tartaruga e só aí mudo a direção, eles são atraídos para cima das faixas brancas. Resultado: em vez de dois fluxos regulares de veículos, temos carros, ônibus e caminhões em todas as direções, avançando uns sobre os outros, numa muvuca que só pode acabar em acidente.
É uma lástima, mas como a suposta campanha educativa não foi levada adiante e a intenção dos condutores locais parece ser, mesmo, levar o Guiness de irresponsabilidade, breve está o dia em que um acidente realmente muito grave acontecerá ali, com generoso número de vítimas fatais e sangue suficiente para o hachurado branco desaparecer. Crônica de uma morte (literalmente) anunciada.
Parem de jogar pedra no governo, falar do PT e de questões secundárias. A verdade é uma só: o complexo funcionará bem quando os motoristas de Belém estiverem dispostos a dirigir dentro das normas de circulação. Aquelas mesmas normas que existem há décadas e que o vigente Código de Trânsito não inventou, apenas sistematizou. E que valem em todo o país — só que, em outros Estados, são espontaneamente cumpridas por motoristas muito melhores do que os conterrâneos.
Enquanto essa raça continuar com a habitual postura de só-eu-estou-certo, ou de eu-quero-fazer-e-farei, ou ainda de danem-se-todos-pois-eu-quero-passar, restará contabilizar os prejuízos materiais e humanos. Depois o patife ainda vai querer reclamar...

(*) Ingenuidade inicial. Depois de um tempo, passei a entender que o complexo foi mal projetado, porque em vez de dar fluidez ao tráfego, força o cruzamento das vias, em X, o que simplesmente não poderia acontecer. A passagem de nível deveria dar acesso da Almirante Barroso à Augusto Montenegro e não ser reta, embora em compreenda os desafios técnicos e os custos de construí-la assim. Seja como for, entendi que o projeto é ruim de fato.

7 comentários:

Ivan Daniel disse...

É uma desgraça mesmo o motorista de Belém! Não é só lá na rotatória do entroncamento que o motorista de Belém dá provas de que não respeita, ou não sabe, regras básicas de trânsito. Na Domingos Marreiros com a 14 de Abril existe uma faixa de pedestres onde por algumas vezes fui xingado com palavras ou com luz alta (sim, jogar luz alta também pode ser um xinagamento) por parar, com o alerta ligado antecipadamente, e dar passagem à pessoas que esperavam uma oportunidade de atravessar a rua com "segurança". Pra isso existe a faixa de pedestres.

Frederico Guerreiro disse...

O "motora" belenense é uma desgraça, mesmo. Pior não há. Mas lembremo-nos de que, em relação ao entroncamento, havia um projeto bem melhor do que este que foi implementado, só que foi impossibilitado pela tal Praça da Bíblia, idéia do... esqueci o nome do meliante. Alguém aí lembra?

Anônimo disse...

É verdade que os motoristas de Belém são adeptos do vale-tudo. Mas nunca vi nenhuma fiscalização sobre isso. Nós não temos um Código de Trânsito rigidíssimo? rsrsrs...

Anônimo disse...

Apoiado. Recentemente, necessitei trafegar por ali e penei. Além dos motoristas, fiquei pensando na incompetência dos nossos engenheiros, a projetar uma rótula tão mal feita, atropelando todos os princípios da lógica.
Abs
Edyr

Anônimo disse...

Yúdice, o trânsito matou (e continua matando) mais gente que o número de americanos que morreram no Vietnã. Agora, o motorista parense é um sujeito muito mal educado. E olha, gente de todo nível social. O que prova que nem sempre educação vem de quem nasce em berço de ouro...

Anônimo disse...

No Entroncamento, a passagem subterrânea direta BR/Almirante, alivia 8o% do tráfego de veículos na área.
O problema fica nos restantes 20%, por conta dos maus motoristas e da falta de passarela Universal/Shopping que acaba embolando todos os acessos à rotatória. O Dudú ficou chupando dedo e até hoje não acertou o "entorno" do Complexo Arahão Reis, nem a aquela passarela provisória de tubos, ele fez!

Yúdice Andrade disse...

Creio não precisar responder a cada comentário. Cada um de vocês identificou o mesmo tipo de problema. O negócio é rezar para não sermos nós os protagonistas dos infortúnios que devem vir por aí.