segunda-feira, 28 de maio de 2007

Hai mai fatto niente solo per amore?

O título acima é um dos versos da famosa canção Per amore (*), de Mariella Nava, que aqui no Brasil fez enorme sucesso na voz de Zizi Possi, embalada inclusive por uma novela homônima. A expressão significa "Você já fez alguma coisa apenas por amor?"
Pois o indivíduo identificado somente como J.C.L. (28), sim. Pelo menos, foi o que garantiu à polícia da pequena e pacata cidade de Fernandópolis, interior de São Paulo, que o prendeu em 20 de maio último, acusando-o do delito de subtração de cadáver (**). Ele confessou haver violado a sepultura de sua namorada e retirado parte de seu couro cabeludo, com a intenção de guardá-lo em casa, como recordação da amada morta. Tudo isso sem chamar a atenção de nenhum dos coveiros ou agentes funerários. O criminoso só foi descoberto porque, ao chegar em casa, decidiu queimar as roupas que usara durante o ilícito, chamando assim a atenção de vizinhos, que acionaram a polícia.
O motivo do tresloucado gesto teria sido o desespero de não ter podido se despedir da namorada, morta em 3 de maio ao dar à luz. J.C.L. estava preso nesse dia, sendo liberado depois do enterro. Afirmou que sua intenção era apenas se despedir. Porém, num momento de descontrole, violou o corpo.
Na cidadezinha, claro, o clima é de indignação. Em cidades pequenas, incidentes que mexem com a religiosidade popular abalam mais do que fatos mais graves.
“Cometi esse crime por amor”, jurou o preso apaixonado.
Você manteria esse jovem preso?

(*) Leia a tradução. Exageros do amor romântico.

(**) Art. 211 do Código Penal: "Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos, e multa." Diga-se de passagem, é um crime mais grave do que o homicídio culposo, o abortamento consentido, a lesão corporal leve, o abandono de incapaz, o assédio sexual e a prevaricação. E tão grave quanto o falso testemunho ou falsa perícia.

4 comentários:

Citadino Kane disse...

Yúdice,
Manda liberar o rapaz. Por amor o gesto tresloucado, está explicado.
Põe o "apaixonado" para limpar as lápides de todas as sepulturas de "Fernandópolis", agora tem que ficar brilhando, né?!
Pode peticionar doutor.
Abraços,
Pedro

Yúdice Andrade disse...

Caríssimo Pedro, tua sugestão é irretocável. Quisera que dependesse de mim.

Anônimo disse...

A questão é, por que é crime tão grave assim? E, se é por amor, perdoa-se tudo?

Yúdice Andrade disse...

Amada minha, o sentido da postagem foi justamente demonstrar que o delito em questão não deveria ser tão grave quanto é, face ao tipo de bem jurídico protegido, violando o princípio da proporcionalidade.
Quanto ao fato de se perdoar se a motivação é amor, tecnicamente não. Segundo o Código Penal, a emoção não afeta a responsabilidade penal do agente.