Pode ser que tenha a ver com os seus projetos pessoais na política, mas definitivamente o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, está disposto a entrar para a história como alguém que não teve medo de ser feliz e meteu a mão na massa, mesmo correndo grandes riscos de execração pública. Vide a polêmica do abortamento, em plena visita do Papa Bento XVI.
Agora, o audacioso ministro mexe em vespeiro que pode lhe render problemas ainda maiores do que o dos católicos: quer a polícia nas ruas fiscalizando e enquadrando os motoristas embriagados.
Argumentos para isso ele tem. "Conduzir veículo automotor, na via pública, sob a influência de álcool ou substância de efeitos análogos, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem" é crime, segundo o Código de Trânsito (Lei n. 9.503, de 1997, art. 306), previstas as penas de 6 meses a 3 anos de detenção, multa e suspensão da permissão ou habilitação, ou proibição de sua obtenção.
Vale lembrar que, no Brasil, o critério de embriaguez é mais rigoroso do que em outros países, admitindo-se uma concentração máxima de 0,6 grama de álcool/litro de sangue. O organismo tolera até 1 grama de álcool/litro de sangue. Acima disso, começam a aparecer os efeitos da embriaguez. Como a condução de veículo exige atenção especial e reflexos em ordem, nada mais natural que o limite fique abaixo. Uma lata de cerveja (350 ml) contém 17 gramas de álcool; um copo de chope, 25. [Claro que você entendeu que precisa dividir esse montante pela quantidade de sangue no corpo para obter o nível de concentração de álcool, certo?]
O ministro certamente será alvo do ódio do brasileiro médio, aquele que acreditou que tudo tem que ser festa e patifaria. Mas ele está correto. Desconheço um país cujo trânsito, proporcionalmente falando, mate e incapacite tantas pessoas por ano como o Brasil. As estatísticas anuais de morte no trânsito brasileiro superam, em números absolutos, os efeitos do câncer e até mesmo de guerras.
Se é feio falar em quanto isso representa de despesas para os cofres públicos, pense no sofrimento das vítima e seus familiares, nos custos humanos, morais e psicológicos disso tudo, que poderiam ser reduzidos — e drasticamente — se ao menos a saideira fosse evitada.
Saúde, ministro. Espero encontrar a polícia nas ruas, de bafômetro na mão.
Adendo às 13h35
Vale a pena ler uma postagem do Blog do Lauande, que acabei de encontrar, e que apresenta alguns dados estatísticos a que me referi.
3 comentários:
Pô, Yúdice, eu me considero "brasileiro médio" - como inclusive disse em comentário ao post "Brasil do futuro" - mas não acho que tudo tenha que ser festa e patifaria...
Bom, festa, tudo bem, mas patifaria?!
Meu caro, é o problema das generalizações. O que eu quis dizer foi que esse ímpeto é por demais generalizado entre os brasileiros, que inclusive apreciam quando o perfil do povo é retratado dessa forma, como se fosse motivo de orgulho.
No mais, convenhamos, neste país quem conclui um curso de nível superior e ingressa numa carreira de Estado não é, exatamente, um cidadão médio, certo?
Concordo contigo que, do ponto de vista econômico e ao menos estatisticamente, não posso me considerar um brasileiro médio, já que a enorme maioria sobrevive com muito menos do que eu.
Mas entendo que estou na média das opiniões nacionais correntes; ademais, na realidade, só quis tirar um sarro...
Abraços!
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